Teresinha era a flor das pequenas lá da fábrica. Todos lhe queriam bem. Ninguém como ela para saber guardar as conveniências e saber cumprir com os seus deveres sem fazer caretas de sacrifício.
Vivia de cara alegre, tocava o seu bocado de piano, sabia arranjar desenhos para os seus bordados, tinha repentes de muita graça, e nunca nenhuma das companheiras lhe apanhara a ponta de um desses escândalos, que são a riqueza das palestras nos lugares em que há muitas raparigas juntas.
Além disso, era de uma economia limpa e natural. Nas suas mãozinhas cor-de-rosa e picadas de agulha o escasso ordenado de costureira parecia transformar-se em moeda forte. Vestido seu nunca ficava fatalmente velho: era já mudar-lhe o feitio; era já trocar-lhe os enfeites, e aí estava Teresinha metendo as outras no chinelo.
– Uma joia! – resumia o gerente da fábrica.
E jurava que, se não fora velho e casado, havia de fazer-lhe a felicidade.
Mas Teresinha, pelo jeito, não queria casar. Por mais de uma vez apareceram-lhe partidos bem aceitáveis, e ela torcera o narizinho a todos, dizendo que ainda era muito cedo para pensar nisso. Um seu vizinho, o Lucas com armarinho de modas e rapaz estimado no comércio, chegou a oferecer-lhe um dote de dez contos de réis; outro, o Cruz também com armarinho e não menos estimado que o primeiro, jurou-lhe numa carta, que faria saltar os miolos, se ela não o tomasse por marido. Teresinha, não quis nenhum dos dois e continuou, muito escorreita no seu vestidinho justo ao corpo, uma flor ao peito, a bolsa de couro na mão, a passar-lhes todos os dias pela porta, no sonoro tique-taque dos seus passos miúdos, indo pela manhã para a fábrica e voltando à tarde para casa, sempre ligeira e saltitante como um pássaro arisco.
Mas, quando lhe morreu a tia com que ela habitava, e a pequena ficou só no mundo, disseram logo:
– Agora é que veremos se ela quebra ou não quebra o capricho!
– Talvez se agregue por aí a qualquer família conhecida… conjecturaram.
– Não! Não será tão tola que se sujeite a isso, podendo dispor de um marido logo que o queira!…
– De um ou de mais!
– Ora! Não falta quem a deseje!
Teresinha, todavia, não se casou, nem foi abrigar-se à sombra de ninguém; ficou morando na mesma casa em que lhe morrera a tia conservando uma criada velha que as acompanhava havia muitos anos. Na fábrica a mesma pontualidade, a mesma linha de conduta, a mesma limpeza e diligência no serviço, na rua – aquele mesmo passinho curto e apressado, que mal deixava aos seus vários pretendentes lobrigar a ponta das suas honestas botinas pretas de salto baixo.
Não obstante, meses depois, principiaram de aparecer-lhe transformações. Notavam todos, lá na fábrica, que a Teresinha já não era aquela rapariga alegre e caprichosa dos primeiros tempos; agora tinha esquisitices de gênio e caía em fundas abstrações, quedando-se horas perdidas a olhar para o espaço, de boca aberta, o trabalho esquecido sobre os joelhos.
– Que terá ela?… – cochichavam as companheiras.
E observavam, com pontinhas de riso brejeiro, que a exemplar Teresinha, – a diligência em pessoa – já não era a primeira a pegar na costura e a última a deixar o serviço.
A partir daí, puseram-se a espreitá-la e a segui-la na rua.
Descobriram logo que Teresinha ao sair do trabalho, em vez de ir para casa, metia-se na Biblioteca Nacional ou nos gabinetes de leitura ou então nas lojas dos livreiros.
E viam-na passar um tempo esquecido a escolher brochuras, a consultar revistas e alfarrábios, fariscando nelas com o nariz enterrado entre as páginas, alguma coisa, que ninguém atinava com o que fosse.
– Querem ver que ela deu para filósofa? – comentaram as outras raparigas.
Uma das mais velhacas da roda afiançou que não seria a primeira Teresa que desse para isso.
E o grande fato é que todo o dinheirinho das economias de Teresinha era lambido pelos vendedores de livros. Já lhe notavam até certa negligência no traje e no penteado.
Uma vez apresentou-se na oficina de sapatos rotos.
– Ó Teresinha! – objurgou-lhe uma amiga. – Tu estás ficando desmazelada!
Por outro lado, o gerente principiava a resmungar: Pois ele queria lá doutoras no estabelecimento!… A senhora dona Teresinha parecia já não ligar a mínima importância ao serviço! O tempo era-lhe pouco para os romances que ela trazia escondidos no bolso! Não! Assim, que tivesse paciência! Mas não havia remédio senão mandá-la passear! Ia-se ali para desunhar na costura e não para contar-se tábuas do teto. E, por isso, que diabo! Pagava-se a todas pontualmente em bom dinheiro! Não se tinha ali ninguém de graça!
Uma ocasião apresentou-se mais tarde, muito pálida, com grandes olheiras. Percebia-se facilmente que passara a noite em claro.
Trazia entre os dedos um volume de Teophile Gautier, marcado em certa página.
Nesse dia trabalhou bastante, com febre. Mal, porém, terminou a obrigação, correu à casa e fechou-se na. sala, defronte do candeeiro de querosene.
Abriu o livro no lugar marcado – Une larme du diable! (uma lágrima do diabo!)
Releu ainda uma vez a singularíssima novela. Aquela extravagante fantasia do rei dos boêmios, a alma doente e sonhadora do eleito da decadência romântica, a imaginação desvairada daquele fumador de ópio, embriagaram-na com uma delícia de vinho traiçoeiro.
Uma lágrima do diabo!
Que haveria verdade nessa lágrima e o que vinha a ser ao certo, esse diabo, de que lhe falavam os poetas, os padres, os professores, as crianças e as velhas?… Já em outros livros encontrara o mesmo que afirmara Gautier: o tal gênio do mal, disfarçado em rapaz bonito, a correr o mundo, para tentar as pobres raparigas. Um alfarrábio religioso de sua tia ensinara-lhe que o maldito andava solto, aí por essas ruas da cidade, janota, barbeado e cheiroso, e que as moças inexperientes precisavam ter todo o cuidado, porque o patife, além de tudo, escondia os cornos e o rabo, e não havia por onde reconhecê-lo.
Definitivamente era muito perigoso para ela arriscar-se sozinha, todos os dias, a cair em semelhante perigo!
E se o encontrasse?…
Santo Deus! Só esta ideia a fazia tremer toda.
E começou a chegar-se muito para os velhos, a afeiçoar-se por eles. Com os moços é que não queria graças; temia-os a todos, principalmente os simpáticos e esmerados na roupa.
– Nada! Nada de imprudências! Pode muito bem ser que eu caia nas mãos do tal!.
Isso, porém, não impediu que a cautelosa Teresinha, um belo dia, ao dobrar uma esquina, desse cara a cara com um belo rapagão louro, de bigodes retorcidos, nariz arrebitado e monóculo.
Cheirava que era um gosto.
– Estou perdida! – balbuciou ela trêmula, estacando defronte do rapaz, sem ânimo de erguer a vista, porque tinha antemão certeza de que o olhar dele havia de cegá-la.
– Desta vez não me escapas! – murmurou o moço.
– Não há dúvida! É ele mesmo! – gaguejou a medrosa, quase a chorar. – Valha-me Nossa Senhora!
E recuou alguns passos.
– Não fujas! – disse o sujeito.
Ela obedeceu logo e até chegou-se mais para o diabo, atraída, presa, vencida, como se aquelas duas palavras fossem as pontas de um tenaz que a segurasse pelas carnes.
Ele passou-lhe o braço na cintura.
– Tenho tanta coisa a dizer-te, minha flor! Se quisesse ouvir-me… Oh! Eu seria o ente mais feliz do mundo! Olha! A tarde está magnífica, vamos nós dar um passeio juntos?
Teresinha não opôs objeção e deixou-se conduzir.
– Mas, Deus! Meu Deus! – lamentava-se ela pelo caminho segurando-se ao braço do demônio. – Estou aqui, estou no inferno!
O demônio levou-a para casa dele e mal entraram, atirou-se-lhe aos pés, cobrindo-a de beijos ardentes.
Ela soluçava.
– Por que choras, meu amor?
Seu hálito queimava. Teresinha via saírem-lhe faíscas dos olhos. E, sempre a tremer, e sem ânimo de recusar nada pedia-lhe compaixão, convencida de que era aquele o último momento da sua vida.
– O diabo não é tão feio como se pinta!… – volveu o moço, afagando-a.
– Ah! Não! Não! Bem o vejo!… – respondeu ela, receosa de contrariá-lo. – Mas, por quem é, não me faça mal!
– Fazer-te mal? Que loucura! Fazer-te mal, eu, que te amo; eu, que há tanto tempo passo horas e horas à espera que saias do serviço para acompanhar-te de longe, sem te perder de vista; o que, sabes? É difícil, porque nunca vi andar tão depressa! Mas esqueçamos tudo! agora és só minha, não é verdade?… Não é verdade que, de hoje em diante me confiarás toda a tua alma e todo o teu coração?…
– Que remédio tenho eu?
– Não imaginas como seremos felizes! Meu ordenado chega perfeitamente para os dois e…
– Quê?… Seu ordenado?…
– Sim, meu amor, eu sou empregado público…
– Empregado? Não é possível!
– Sou, filhinha! Estou a dizer-te! Sou empregado no tesouro; apanhei o lugar por concurso; ganho trezentos mil réis por mês, afora os achegos que aparecem.
– O senhor está gracejando! Diga-me uma coisa, mas não me engane… O senhor não é o diabo?
O rapaz soltou uma risada.
– Pois tu ainda acreditas no diabo? É boa!
– Ora esta!… – murmurou Teresinha. - Se eu desconfiasse!… Agora… paciência! Já não há remédio… Caso-me com o Lucas.
Vivia de cara alegre, tocava o seu bocado de piano, sabia arranjar desenhos para os seus bordados, tinha repentes de muita graça, e nunca nenhuma das companheiras lhe apanhara a ponta de um desses escândalos, que são a riqueza das palestras nos lugares em que há muitas raparigas juntas.
Além disso, era de uma economia limpa e natural. Nas suas mãozinhas cor-de-rosa e picadas de agulha o escasso ordenado de costureira parecia transformar-se em moeda forte. Vestido seu nunca ficava fatalmente velho: era já mudar-lhe o feitio; era já trocar-lhe os enfeites, e aí estava Teresinha metendo as outras no chinelo.
– Uma joia! – resumia o gerente da fábrica.
E jurava que, se não fora velho e casado, havia de fazer-lhe a felicidade.
Mas Teresinha, pelo jeito, não queria casar. Por mais de uma vez apareceram-lhe partidos bem aceitáveis, e ela torcera o narizinho a todos, dizendo que ainda era muito cedo para pensar nisso. Um seu vizinho, o Lucas com armarinho de modas e rapaz estimado no comércio, chegou a oferecer-lhe um dote de dez contos de réis; outro, o Cruz também com armarinho e não menos estimado que o primeiro, jurou-lhe numa carta, que faria saltar os miolos, se ela não o tomasse por marido. Teresinha, não quis nenhum dos dois e continuou, muito escorreita no seu vestidinho justo ao corpo, uma flor ao peito, a bolsa de couro na mão, a passar-lhes todos os dias pela porta, no sonoro tique-taque dos seus passos miúdos, indo pela manhã para a fábrica e voltando à tarde para casa, sempre ligeira e saltitante como um pássaro arisco.
Mas, quando lhe morreu a tia com que ela habitava, e a pequena ficou só no mundo, disseram logo:
– Agora é que veremos se ela quebra ou não quebra o capricho!
– Talvez se agregue por aí a qualquer família conhecida… conjecturaram.
– Não! Não será tão tola que se sujeite a isso, podendo dispor de um marido logo que o queira!…
– De um ou de mais!
– Ora! Não falta quem a deseje!
Teresinha, todavia, não se casou, nem foi abrigar-se à sombra de ninguém; ficou morando na mesma casa em que lhe morrera a tia conservando uma criada velha que as acompanhava havia muitos anos. Na fábrica a mesma pontualidade, a mesma linha de conduta, a mesma limpeza e diligência no serviço, na rua – aquele mesmo passinho curto e apressado, que mal deixava aos seus vários pretendentes lobrigar a ponta das suas honestas botinas pretas de salto baixo.
Não obstante, meses depois, principiaram de aparecer-lhe transformações. Notavam todos, lá na fábrica, que a Teresinha já não era aquela rapariga alegre e caprichosa dos primeiros tempos; agora tinha esquisitices de gênio e caía em fundas abstrações, quedando-se horas perdidas a olhar para o espaço, de boca aberta, o trabalho esquecido sobre os joelhos.
– Que terá ela?… – cochichavam as companheiras.
E observavam, com pontinhas de riso brejeiro, que a exemplar Teresinha, – a diligência em pessoa – já não era a primeira a pegar na costura e a última a deixar o serviço.
A partir daí, puseram-se a espreitá-la e a segui-la na rua.
Descobriram logo que Teresinha ao sair do trabalho, em vez de ir para casa, metia-se na Biblioteca Nacional ou nos gabinetes de leitura ou então nas lojas dos livreiros.
E viam-na passar um tempo esquecido a escolher brochuras, a consultar revistas e alfarrábios, fariscando nelas com o nariz enterrado entre as páginas, alguma coisa, que ninguém atinava com o que fosse.
– Querem ver que ela deu para filósofa? – comentaram as outras raparigas.
Uma das mais velhacas da roda afiançou que não seria a primeira Teresa que desse para isso.
E o grande fato é que todo o dinheirinho das economias de Teresinha era lambido pelos vendedores de livros. Já lhe notavam até certa negligência no traje e no penteado.
Uma vez apresentou-se na oficina de sapatos rotos.
– Ó Teresinha! – objurgou-lhe uma amiga. – Tu estás ficando desmazelada!
Por outro lado, o gerente principiava a resmungar: Pois ele queria lá doutoras no estabelecimento!… A senhora dona Teresinha parecia já não ligar a mínima importância ao serviço! O tempo era-lhe pouco para os romances que ela trazia escondidos no bolso! Não! Assim, que tivesse paciência! Mas não havia remédio senão mandá-la passear! Ia-se ali para desunhar na costura e não para contar-se tábuas do teto. E, por isso, que diabo! Pagava-se a todas pontualmente em bom dinheiro! Não se tinha ali ninguém de graça!
Uma ocasião apresentou-se mais tarde, muito pálida, com grandes olheiras. Percebia-se facilmente que passara a noite em claro.
Trazia entre os dedos um volume de Teophile Gautier, marcado em certa página.
Nesse dia trabalhou bastante, com febre. Mal, porém, terminou a obrigação, correu à casa e fechou-se na. sala, defronte do candeeiro de querosene.
Abriu o livro no lugar marcado – Une larme du diable! (uma lágrima do diabo!)
Releu ainda uma vez a singularíssima novela. Aquela extravagante fantasia do rei dos boêmios, a alma doente e sonhadora do eleito da decadência romântica, a imaginação desvairada daquele fumador de ópio, embriagaram-na com uma delícia de vinho traiçoeiro.
Uma lágrima do diabo!
Que haveria verdade nessa lágrima e o que vinha a ser ao certo, esse diabo, de que lhe falavam os poetas, os padres, os professores, as crianças e as velhas?… Já em outros livros encontrara o mesmo que afirmara Gautier: o tal gênio do mal, disfarçado em rapaz bonito, a correr o mundo, para tentar as pobres raparigas. Um alfarrábio religioso de sua tia ensinara-lhe que o maldito andava solto, aí por essas ruas da cidade, janota, barbeado e cheiroso, e que as moças inexperientes precisavam ter todo o cuidado, porque o patife, além de tudo, escondia os cornos e o rabo, e não havia por onde reconhecê-lo.
Definitivamente era muito perigoso para ela arriscar-se sozinha, todos os dias, a cair em semelhante perigo!
E se o encontrasse?…
Santo Deus! Só esta ideia a fazia tremer toda.
E começou a chegar-se muito para os velhos, a afeiçoar-se por eles. Com os moços é que não queria graças; temia-os a todos, principalmente os simpáticos e esmerados na roupa.
– Nada! Nada de imprudências! Pode muito bem ser que eu caia nas mãos do tal!.
Isso, porém, não impediu que a cautelosa Teresinha, um belo dia, ao dobrar uma esquina, desse cara a cara com um belo rapagão louro, de bigodes retorcidos, nariz arrebitado e monóculo.
Cheirava que era um gosto.
– Estou perdida! – balbuciou ela trêmula, estacando defronte do rapaz, sem ânimo de erguer a vista, porque tinha antemão certeza de que o olhar dele havia de cegá-la.
– Desta vez não me escapas! – murmurou o moço.
– Não há dúvida! É ele mesmo! – gaguejou a medrosa, quase a chorar. – Valha-me Nossa Senhora!
E recuou alguns passos.
– Não fujas! – disse o sujeito.
Ela obedeceu logo e até chegou-se mais para o diabo, atraída, presa, vencida, como se aquelas duas palavras fossem as pontas de um tenaz que a segurasse pelas carnes.
Ele passou-lhe o braço na cintura.
– Tenho tanta coisa a dizer-te, minha flor! Se quisesse ouvir-me… Oh! Eu seria o ente mais feliz do mundo! Olha! A tarde está magnífica, vamos nós dar um passeio juntos?
Teresinha não opôs objeção e deixou-se conduzir.
– Mas, Deus! Meu Deus! – lamentava-se ela pelo caminho segurando-se ao braço do demônio. – Estou aqui, estou no inferno!
O demônio levou-a para casa dele e mal entraram, atirou-se-lhe aos pés, cobrindo-a de beijos ardentes.
Ela soluçava.
– Por que choras, meu amor?
Seu hálito queimava. Teresinha via saírem-lhe faíscas dos olhos. E, sempre a tremer, e sem ânimo de recusar nada pedia-lhe compaixão, convencida de que era aquele o último momento da sua vida.
– O diabo não é tão feio como se pinta!… – volveu o moço, afagando-a.
– Ah! Não! Não! Bem o vejo!… – respondeu ela, receosa de contrariá-lo. – Mas, por quem é, não me faça mal!
– Fazer-te mal? Que loucura! Fazer-te mal, eu, que te amo; eu, que há tanto tempo passo horas e horas à espera que saias do serviço para acompanhar-te de longe, sem te perder de vista; o que, sabes? É difícil, porque nunca vi andar tão depressa! Mas esqueçamos tudo! agora és só minha, não é verdade?… Não é verdade que, de hoje em diante me confiarás toda a tua alma e todo o teu coração?…
– Que remédio tenho eu?
– Não imaginas como seremos felizes! Meu ordenado chega perfeitamente para os dois e…
– Quê?… Seu ordenado?…
– Sim, meu amor, eu sou empregado público…
– Empregado? Não é possível!
– Sou, filhinha! Estou a dizer-te! Sou empregado no tesouro; apanhei o lugar por concurso; ganho trezentos mil réis por mês, afora os achegos que aparecem.
– O senhor está gracejando! Diga-me uma coisa, mas não me engane… O senhor não é o diabo?
O rapaz soltou uma risada.
– Pois tu ainda acreditas no diabo? É boa!
– Ora esta!… – murmurou Teresinha. - Se eu desconfiasse!… Agora… paciência! Já não há remédio… Caso-me com o Lucas.
Fonte:
Aluísio de Azevedo. Demônios (contos) Publicado em 1895.
Aluísio de Azevedo. Demônios (contos) Publicado em 1895.
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