DE REPENTE você se fez real, palpitante, verdadeiro e incontestável. A sua vinda triunfal se misturou ao bulício inquietante de uma espera auspiciosa e vibrou dentro de mim em particular, como uma música suave que encantou o meu espírito e inebriou o que, num piscar de olhos, se tornou imensurável. Por conta de fenomenal milagre, me peguei em transe contínuo. Vibrei o âmago como se estivesse em uma roda da Cumbiamba (*1). E não parei por aí. Vi-me, a partir de regalos auspiciosos, viajando envolto em nuvens sedentas de paz e aconchego, como se devaneasse num sonho fascinante, um embevecimento que nunca antes havia descoberto dentro da minha galopante e tola obscuridade. Pequeno ser recém-chegado de um mundo distante, bem longe da Terra, você se materializou em flor botão.
Se abriu sempiterno e imarcescível, se fez jubiloso, como na reencarnação de um ser engrandecido, se aconchegou de forma magistral em meu peito, se transformou como uma esperança nova a tecer no quadro da minha vida pregressa, caminhos novos, estradas e sendas que até então eu não sabia existirem em meu destino. O seu rostinho moldado nas asas de um amor angelical, se propagou em uma cópia justa e perfeita, tal como se em seu semblante eu revisse, num filme da infância longínqua, a minha Narjara (*2) em melodiosa ascendência no florido trinta de junho de mil novecentos e oitenta e nove.
Faço menção aqui, meu neto Miguel, e quero que você saiba, desde agora, um dia, quando tiver entendimento, a sua mãe, minha filha, quando ainda, na sua inocência mal desabrochada, brincava por ruas descalças nos meus anseios e eu nem sabia direito o que se constituía ser um “pai de verdade”.
Em outras palavras, eu não tinha pontos de referências robustos para entender, em todo o esplendor, o verdadeiro significado do que meus familiares me apontavam como o folguedo da tal Felicidade. Via-me meio sem juízo, como Holden Caulfield (*3) aos dezessete anos. Agora, meu lindo, nada do que ficou na partícula da distância importa. O que faz toda a diferença é que você se fez viçoso e luxuriante, assim do nada, e, agora, descansa envolto em um berço de fronhas e lençóis recheados de muito amor e carinho. Pois é, meu Príncipe! Você veio de mansinho. Viajou nove longos meses agasalhado em um lugarzinho secreto e, ao chegar, me abriu, no âmago do coração despedaçado, lembranças de outros tempos.
Trouxe, na bagagem, ao meu agora, velhos rascunhos amarrotados de um “tenebroso passado” que dormitava quieto e anônimo dentro da minha imaginação sequiosa e à espera do momento certo e oportuno de vingar, coroar e me fazer voltar a ser avô novamente. O milagre, pois, se fez real. Eu não sou mais aquele garoto que conversava com um pé de Laranja Lima e morava num palácio japonês bem longe da terra. Por isso, agora, de fato, vovô (seu avô), me vejo prestigiado e vivo, saudável e de bem com o aconchego dessa exortação, como se renascesse das cinzas, não como a Fênix mitológica, todavia, dentro de uma prerrogativa próriga (*4) e condescendente, tipo um afago inexorável até então acanhado e enlanguescido.
Num passe de mágica vasto e desmedido, enquanto uma música se esvaia no ar, voltei às carreiras e nos solavancos do tempo (do meu tempo) e me restaurei, por inteiro, a alma e todo o meu “eu oculto” aos prazeres indescritíveis da sua apropinquação aos contornos do meu mundo. Por conta de tamanho evento, num instante obumbrado, me faço real. Aliás, me fiz real. Não me vejo sindromeado, como se vivesse às loucuras de Diótrefes (*5). Tenho consciência que me soergui fundido num relicário de poemas novos, atrelado num ofertório agraciado pelas mãos santas do Pai Maior. Talvez, por conta de tamanho segredo, oculte ainda mágoas, sofridas, intempéries possivelmente advindas do meu pretérito trilhado à desvãos da má sorte.
Em paralelo, ao desalinho dos caminhos da fatalidade e, ainda, por via de mãos incertas, me debatia, à deriva, fustigando a vida de maneira errônea, pelejando, porém, para que ela se fizesse, a cada segundo, mais plena e confiável, acordando sempre de uma pasmaceira-letárgica antiga, à chegada nova de um porvir que se aproximou saudável e triunfante. Claro, obviamente, sem me importar com as cores dos matizes que ainda insistem em se manterem espessas, carregadas de incertezas, prontas para turvarem a minha verdadeira realidade dos meus tempos de agora. Por tudo o que acima deixo exposto, você, meu neto, será o meu grito de vitória. Igualmente, a euforia ímpar das boas vindas que circulam dentro das minhas expectativas de um porvindouro repletado de bons presságios.
Sobretudo, meu pequeno Miguel, seja a sua estada em meu trilhar, o curso auspicioso, o reverdejar constante e avigorado de uma condição espiritual que acredite, imaginava degenerada, desfalecida, apesar do meu pedido de socorro “incessantear” (*6) na esfera do meu paroxismo que ainda, neste exato momento, aflora incansável e majestoso, grandiloquente e monumental, como a intensidade febril de uma alma literalmente acampada em benfazejo clima de festa.
Se abriu sempiterno e imarcescível, se fez jubiloso, como na reencarnação de um ser engrandecido, se aconchegou de forma magistral em meu peito, se transformou como uma esperança nova a tecer no quadro da minha vida pregressa, caminhos novos, estradas e sendas que até então eu não sabia existirem em meu destino. O seu rostinho moldado nas asas de um amor angelical, se propagou em uma cópia justa e perfeita, tal como se em seu semblante eu revisse, num filme da infância longínqua, a minha Narjara (*2) em melodiosa ascendência no florido trinta de junho de mil novecentos e oitenta e nove.
Faço menção aqui, meu neto Miguel, e quero que você saiba, desde agora, um dia, quando tiver entendimento, a sua mãe, minha filha, quando ainda, na sua inocência mal desabrochada, brincava por ruas descalças nos meus anseios e eu nem sabia direito o que se constituía ser um “pai de verdade”.
Em outras palavras, eu não tinha pontos de referências robustos para entender, em todo o esplendor, o verdadeiro significado do que meus familiares me apontavam como o folguedo da tal Felicidade. Via-me meio sem juízo, como Holden Caulfield (*3) aos dezessete anos. Agora, meu lindo, nada do que ficou na partícula da distância importa. O que faz toda a diferença é que você se fez viçoso e luxuriante, assim do nada, e, agora, descansa envolto em um berço de fronhas e lençóis recheados de muito amor e carinho. Pois é, meu Príncipe! Você veio de mansinho. Viajou nove longos meses agasalhado em um lugarzinho secreto e, ao chegar, me abriu, no âmago do coração despedaçado, lembranças de outros tempos.
Trouxe, na bagagem, ao meu agora, velhos rascunhos amarrotados de um “tenebroso passado” que dormitava quieto e anônimo dentro da minha imaginação sequiosa e à espera do momento certo e oportuno de vingar, coroar e me fazer voltar a ser avô novamente. O milagre, pois, se fez real. Eu não sou mais aquele garoto que conversava com um pé de Laranja Lima e morava num palácio japonês bem longe da terra. Por isso, agora, de fato, vovô (seu avô), me vejo prestigiado e vivo, saudável e de bem com o aconchego dessa exortação, como se renascesse das cinzas, não como a Fênix mitológica, todavia, dentro de uma prerrogativa próriga (*4) e condescendente, tipo um afago inexorável até então acanhado e enlanguescido.
Num passe de mágica vasto e desmedido, enquanto uma música se esvaia no ar, voltei às carreiras e nos solavancos do tempo (do meu tempo) e me restaurei, por inteiro, a alma e todo o meu “eu oculto” aos prazeres indescritíveis da sua apropinquação aos contornos do meu mundo. Por conta de tamanho evento, num instante obumbrado, me faço real. Aliás, me fiz real. Não me vejo sindromeado, como se vivesse às loucuras de Diótrefes (*5). Tenho consciência que me soergui fundido num relicário de poemas novos, atrelado num ofertório agraciado pelas mãos santas do Pai Maior. Talvez, por conta de tamanho segredo, oculte ainda mágoas, sofridas, intempéries possivelmente advindas do meu pretérito trilhado à desvãos da má sorte.
Em paralelo, ao desalinho dos caminhos da fatalidade e, ainda, por via de mãos incertas, me debatia, à deriva, fustigando a vida de maneira errônea, pelejando, porém, para que ela se fizesse, a cada segundo, mais plena e confiável, acordando sempre de uma pasmaceira-letárgica antiga, à chegada nova de um porvir que se aproximou saudável e triunfante. Claro, obviamente, sem me importar com as cores dos matizes que ainda insistem em se manterem espessas, carregadas de incertezas, prontas para turvarem a minha verdadeira realidade dos meus tempos de agora. Por tudo o que acima deixo exposto, você, meu neto, será o meu grito de vitória. Igualmente, a euforia ímpar das boas vindas que circulam dentro das minhas expectativas de um porvindouro repletado de bons presságios.
Sobretudo, meu pequeno Miguel, seja a sua estada em meu trilhar, o curso auspicioso, o reverdejar constante e avigorado de uma condição espiritual que acredite, imaginava degenerada, desfalecida, apesar do meu pedido de socorro “incessantear” (*6) na esfera do meu paroxismo que ainda, neste exato momento, aflora incansável e majestoso, grandiloquente e monumental, como a intensidade febril de uma alma literalmente acampada em benfazejo clima de festa.
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* Notas de rodapé:
(1) Cumbiamba - dança de roda colombiana, muito popular na costa atlântica.
(2) Narjara - minha filha com Carla Laranja.
(3) Holden Caulfield - personagem do romance “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger, lançado em 1951.
(4) Próriga - sem rodeios ou desvios.
(5) Diótrefes - Homem ambicioso e inóspito, citado na 3ª epístola de João v. 9-11.
(6) Incenssantear – ser esforçado, quase repetitivamente.
Fonte:
Texto, fotos e notas enviadas pelo autor.
Texto, fotos e notas enviadas pelo autor.
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