Há muitos dias que o Dr. Abelardo insistia com a mulher, a encantadora D. Silvia, para que usasse umas camisas de seda cor de rosa, que, na sua opinião, lhe deviam assentar admiravelmente sobre a pele clara, macia, cetinosa. Apaixonada pelo marido, que sabia disputado pela mais íntima das suas amigas, a loura Luizita Corrêa, D. Silvia escancarou, nesse dia, o grande móvel do quarto de vestir, em que guardava as suas roupas de interior e, tirando as dezenas de camisas que ali estavam arrumadas com ordem, ia mostrando-as, uma a uma, ao esposo:
- É assim?
- Não.
- É dessas, de seda, enfiadas de fita?
- Não.
- É assim, apenas com uma fita sobre o ombro?
- Também não!
E como a esposa lhe não mostrasse nenhuma camisa como a que ele desejava acariciar sobre o seu corpo soberbo, convidou-a ele próprio, beijando-a nos olhos.
- Amanhã, na cidade, veremos onde tem. Quero comprar-te uma dúzia. Ouviste, meu amor?
D. Silvia agradeceu, com um sorriso e um beijo, a gentileza amorosa do esposo e, no dia seguinte, à tarde, entravam, os dois, contentes, em uma casa de modas da rua do Ouvidor, onde, tomando a dianteira, o marido pediu:
- Camisas de dia, de seda, para senhora; n. 3.
- Que cor? - indagou, solicita, a moça que o atendeu.
- Cor de rosa.
A empregada subiu ao primeiro andar, trouxe algumas caixas de camisas de seda, mas nenhuma correspondia ao desejo elegante do freguês, que era, de fato, exigente.
- Não são destas? - consultou.
- Não, senhora. São mais finas, mais transparentes, com uma renda de seda até quase à cintura.
- Ah! Já sei! - exclamou a mocinha, sorrindo.
E, levantando os olhos para o andar superior chamou por uma companheira.
- Julieta!
Apareceu, em cima, no balaústre, a cabeça oxigenada de outra caixeira da casa.
- Manda-me dali, por favor - pediu - a caixa de camisas n. 8.645.
E, particularizando, alto:
- Olha! daquelas que D. Luizita Corrêa comprou aqui... Sabes?
Quando as camisas desceram das nuvens, D. Silvia tinha subido.
- É assim?
- Não.
- É dessas, de seda, enfiadas de fita?
- Não.
- É assim, apenas com uma fita sobre o ombro?
- Também não!
E como a esposa lhe não mostrasse nenhuma camisa como a que ele desejava acariciar sobre o seu corpo soberbo, convidou-a ele próprio, beijando-a nos olhos.
- Amanhã, na cidade, veremos onde tem. Quero comprar-te uma dúzia. Ouviste, meu amor?
D. Silvia agradeceu, com um sorriso e um beijo, a gentileza amorosa do esposo e, no dia seguinte, à tarde, entravam, os dois, contentes, em uma casa de modas da rua do Ouvidor, onde, tomando a dianteira, o marido pediu:
- Camisas de dia, de seda, para senhora; n. 3.
- Que cor? - indagou, solicita, a moça que o atendeu.
- Cor de rosa.
A empregada subiu ao primeiro andar, trouxe algumas caixas de camisas de seda, mas nenhuma correspondia ao desejo elegante do freguês, que era, de fato, exigente.
- Não são destas? - consultou.
- Não, senhora. São mais finas, mais transparentes, com uma renda de seda até quase à cintura.
- Ah! Já sei! - exclamou a mocinha, sorrindo.
E, levantando os olhos para o andar superior chamou por uma companheira.
- Julieta!
Apareceu, em cima, no balaústre, a cabeça oxigenada de outra caixeira da casa.
- Manda-me dali, por favor - pediu - a caixa de camisas n. 8.645.
E, particularizando, alto:
- Olha! daquelas que D. Luizita Corrêa comprou aqui... Sabes?
Quando as camisas desceram das nuvens, D. Silvia tinha subido.
Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.
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