quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 12


Alma de sorriso brando,
sua ternura tem alma;
a mãe é santa? até quando,
na aflição seu filho acalma!
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Aqui, quando tu te aqueces,
que a aurora muda de cor...
As nuvens juntam-se em preces,
em preces rubras de amor!
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Cantando vai para a escola,
a criança de pé no chão;
leva a ilusão na sacola
e enche a vida de ilusão!
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Comparo a espuma dançando
nas ondas, sempre a cantar,
a bordadeiras, bordando
as saias brancas do mar!
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Entre os véus da noite escura
e, os lençóis da ingratidão,
dorme a criança de alma pura,
sempre à espera de outra mão!
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Lembrei do altar da capela,
dos ritos de um velho sino,
que unindo o meu peito ao dela
selou o nosso destino!
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Linda trova pequenina,
gigantesca mundo afora...
Tens nesse olhar de menina
centelhas da luz da aurora!
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Logo assim que, o sol se põe,
diz-me o silêncio e acredito,
que sem tinta, alguém compõe
partituras no infinito!
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Meus olhos, cegos sem dor,
teus lábios cegos, sem dono;
somos dois cegos de amor
curtindo o mesmo abandono!
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Minha vida é tão singela,
que a esperança é quem descobre,
que em pobreza de alma bela
há riqueza de alma nobre!
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Na madrugada sem dono,
num silêncio que arrepia,
caem lágrimas sem sono
dos olhos da nostalgia!
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Não lamente os desenganos;
que o tempo com seus desvãos,
vai pondo os calos dos anos
nas rugas de nossas mãos!
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Na voz dos igarapés,
no choro dos manguezais...
Ouve-se a voz das marés
pranteando os seus tristes ais!!!
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No fogão velho apagado,
entre as cinzas do fogão,
vi meus sonhos do passado
soprando a cinza e o carvão!
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No saco de quem mendiga,
sobra o pão que mata a fome;
mas no pão de quem castiga,
falta a massa que se come!
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Num banco velho sem perna,
sobre uma pedra no chão...
Vi nele, a prisão eterna
do mantra da solidão!
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O amor tem tanta ternura,
que às vezes, me causa espanto,
quando uma lágrima pura
vira uma gota de pranto!
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O meu amor mais profundo,
não é por amor qualquer...
Mas pelo amor, que há no mundo,
da esposa, mãe e mulher!
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O rio, a mata, a emoção!
A alvorada e o sol poente,
que preito de gratidão
que Deus nos deu de presente!
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O orvalho que rega a planta,
é o mesmo que me seduz;
minha alma, orvalhada, canta,
e orvalha a vida de luz!
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Prossigo mesmo sozinho,
sem me sentir no abandono;
tendo Deus em meu caminho
não sinto a idade do outono!
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Se a saudade me persegue,
por capricho ou por maldade,
mesmo que tudo me negue,
não sei viver sem saudade!
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Se à tardinha, os versos meus,
revelam triste desgosto,
é a tristeza dando adeus
à solidão do sol posto!
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Se tu crês, abre a janela,
que a luz do sol quer te ver;
é a luz mais forte e mais bela
aos olhos do amanhecer!
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Sou como as flores caídas,
que aos poucos, sendo pisadas,
vâo adubando outras vidas,
à espera de outras floradas!
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Teu peito é um eterno cofre,
ó mãe, com tanta ternura,
que cura a dor de quem sofre
e a dor de quem não tem cura!
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Tomei mil drogas fatais,
fiz sessões de acupuntura...
Saudade - é a dor de meus ais,
que a medicina não cura!
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Tua tristeza parece,
ó, velho mar, dos meus ais,
o choro triste, da prece,
das mães rezando no cais!...
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Varrendo o chão que pisei,
mesmo apesar da distância...
Não tardou, logo encontrei
vestígios de minha infância!
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Vejo em tantas reticências
de um mundo que se desfaz,
que há muitos, temendo ausências,
e há poucos, pedindo paz!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

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