domingo, 18 de setembro de 2022

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XLVII

INSÔNIA

 
MOTE:
Na mais estreita amizade,
sem a menor cerimônia,
à noite, tua saudade
vem deitar com minha insônia!
Edmar Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ


GLOSA:
Na mais estreita amizade,
numa amizade tão pura,
unem-se à minha ansiedade
lembranças só de ternura.
 
E a saudade, de repente,
sem a menor cerimônia,
se coloca em minha frente
como conselheira idônea.
 
Revivo, então, na verdade,
velhos dias de alegria...
À noite, tua saudade
vem me fazer companhia...
 
Sentindo-me, assim, amado,
numa beleza-fitônia,
tua saudade, ao meu lado,
vem deitar com minha insônia!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

   ... SE MORRESSE A SAUDADE?
 
MOTE:
... E se morresse a saudade?
Fatalmente eu morreria...
Pois, é esta doce maldade
o alimento do meu dia!
Fernando Câncio Araújo
Fortaleza/CE, 1922 – 2013

GLOSA:

... E se morresse a saudade?
O que seria de mim?
Acho que a fatalidade
seria mesmo o meu fim!
 
Se a saudade fosse embora,
fatalmente eu morreria...
pois com ela, sem demora,
iria junto a alegria!
 
Amo a saudade, é verdade,
ela faz bem a minha alma,
pois, é esta doce maldade
que me faz feliz e acalma!
 
Hoje, são as esperanças
que mantêm esta utopia...
São minhas doces lembranças,
o alimento do meu dia!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

   POETA FINGIDOR
 
MOTE:
O poeta é um fingidor
finge tão completatente,
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

GLOSA:

O poeta é um fingidor
e tem emoções de artista;
nos seus olhos só de amor
há um fingimento altruísta!
 
Se está triste de verdade,
finge tão completamente,
que mostra felicidade,
sem nem mesmo estar contente!
 
Suspira sem sentir dor,
ou chora e a sente gemendo,
que chega a sentir que é dor
aquela  dor que está tendo!
 
Segue, assim, no seu fingir,
num fingir tão inocente
que,  às vezes, chega a sentir
a dor que deveras sente.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

   SEGUNDA VOZ
 
MOTE:
A vida pôs, por maldade,
tanta distância entre nós,
que, quando eu canto, é a saudade
que faz a segunda voz...
Izo Goldman
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

GLOSA:

A vida pôs, por maldade,
entre nós dois, um adeus...
e nessa triste verdade,
marejam-se  os olhos meus!
 
Eu não consigo aceitar
tanta distância entre nós,
quero e preciso sonhar,
pois nos tornamos dois sós!
 
A nossa realidade
é tão triste, tão sem fim,
que, quando eu canto, é a saudade
que canta dentro de mim!
 
Meu canto é quase um lamento
e é essa saudade atroz,
cantando na voz do vento,
que faz a segunda voz…

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas VII. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Maio 2003.

Nenhum comentário: