ABISSAL
O poema estava ali, entre os destroços,
Intocado, escondido, submerso,
Incompleto de palavras e de versos,
Entre algas e corais e entre ossos...
Visão turva, pouca luz e oxigênio,
Tempo escasso para o mergulhador
Cauteloso, observando cada cor,
Cada letra desenhada por um gênio...
A emoção fluía livre e se perdia
Na corrente abissal dos sentimentos;
Ofegante, triste e só, por uns momentos,
O nadador emocionou-se com o que lia...
Era um trecho tão triste... dizia assim:
Meu amor, de tanta dor de tanto pranto,
Acabei criando um mar, pois chorei tanto
Que afoguei meu próprio amor dentro de mim.
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MINHA SOMBRA
Sob a luz fria da Lua,
minha sombra me seguia.
Estranhei ao vê-la nua
como um flash de poesia.
Tê-la em mim, beijando a rua
era mais que fantasia,
para que meu sonho flua,
minha dor se distancia.
Quando a noite atenua
sua escuridão sombria,
o Sol logo se insinua
E a Lua, por ironia,
some e leva a forma nua
da sombra... que me seguia.
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NUM CLIC
Tu finges que não lês o que eu digito,
Mas guardas meu silêncio no teu peito,
Teu coração que é sempre insatisfeito,
Espera muito mais do que eu não grito.
Teus olhos, entretanto, me percorrem,
Socorrem-te no amor que te provoca,
Teu corpo me procura... quem te toca
São gotas lacrimais que, em vão, escorrem.
Para curtir-me é simples: basta apenas
Um clic e a mensagem é automática:
E chega fria, triste... sintomática,
Mas traz as tuas lágrimas serenas.
Eu sinto o teu sentir... mudo a mensagem
E ao clicar, escolho um coração,
Pois pode ser que minha intenção
Transforme...em emoção... a nova imagem.
Num clic, aciono o celular,
Mas o que eu digitei, por ironia,
Passou a ser um pingo de poesia,
Do tanto que eu queria te falar.
Enfim, busco no meu computador,
Um ícone maior que me permita
Fazer da minha tecla, que te grita,
Só uma frase aflita: Meu amor!
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PERSPECTIVA
Dentro dos olhos que se fecham sobre a vida,
O teu sorriso se condensa em fantasia,
A tua tela é pulsante e colorida
E a tua vida faz da tinta, a poesia.
Tudo é revisto com sutis perspectivas,
E cada traço geométrico que traças,
Longe das frias lentes das objetivas,
É muito mais que imagem fora das vidraças.
Surrealista na intenção, porém real
Na dimensão que a metafísica alcança,
A tinta dança na pureza do vitral
Que o teu olhar vai colorindo de esperança.
O todo é tudo e quando tudo é tempo e pó,
Cada partícula do tempo que se ausenta
Vai transformando a essência de estar só
Na emoção que o teu silêncio experimenta.
E é nessa doce ocasião de libertar
O teu sorriso sobre a mágica das tintas,
Que tu libertas, com teu jeito de sonhar,
No coração, a emoção com que te pintas.
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PÓLEN
Algumas flores antecipam primaveras...
E outras tantas atravessam estações.
São sempre assim, as emoções... como as quimeras,
Que, sem esperas, acalentam corações.
Algumas dores vão e vêm... quem as aguarda,
Nunca se ocupa com as próprias fantasias,
Veste só roupas para guerras, usa a farda
Da amargura e se despe da alegria.
Se a tristeza é uma flor despetalada,
Que ao secar, não poliniza nem produz,
O amor é luz nas mãos sutis de um jardineiro
Tão fascinado com a flor polinizada
Que o enternece, abençoa e seduz
Pois faz, da cor, o seu mais doce mensageiro.
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QUANDO A SAUDADE ME VISITA
A cada dia que a saudade me visita,
não vem sozinha, traz o afeto pela mão,
meu coração acha a saudade tão bonita,
que é incapaz de aceitar a solidão.
O meu sorriso se instala e a dor aflita
não mais se irrita, ao perceber que a suavidade,
de uma lembrança, passa a ser tão irrestrita,
que até se agita dentro da felicidade.
Minha saudade é soberana e infinita ,
ela é que filtra a dor que mora no passado
e o resultado é uma alegria tão bendita,
que o meu amor sempre caminha do seu lado.
E quando a vida que me dão, não me completa,
por ser repleta de arrogância e falsidade,
levo a saudade para dentro do poeta
e deixo o sonho transitar... em liberdade.
Fonte:
Luiz Poeta. Nuvens de Versos. Campo Mourão/PR: Edição JFeldman, 2020.
Luiz Poeta. Nuvens de Versos. Campo Mourão/PR: Edição JFeldman, 2020.
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