sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Filemon Martins (Poemas Escolhidos) XVIII


APÓS A TEMPESTADE


O vento chega e sopra muito forte
anunciando, em trovões, a tempestade,
as folhas arrancadas sem piedade
revoam à mercê da injusta sorte.

Raios cortam o céu de Sul a Norte,
prenúncio de pavor, calamidade,
estrondos são ouvidos na cidade
gerando medo, caos e a própria morte.

Tristonha, a tarde se vestiu de escuro,
e a chuva desabou estrepitosa
como se castigasse o povo impuro.

A noite chega e adentra pela fresta,
céu estrelado e a lua tão formosa
e a Natureza, eu vi, estava em festa!
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CONVERSA NO TREM

- “Esta vida não faz nenhum sentido,”
dizia o passageiro do meu trem,
- “o mundo inteiro, veja, está perdido,
- esperança não há para ninguém.”

Assim falava o homem ressentido
das promessas que, feitas por alguém,
sequer foram cumpridas e incontido
ele se lamentava do desdém.

- “Mas a vida é assim mesmo,” outro dizia,
- “a tristeza anda ao lado da alegria
e a calma vem após a tempestade.”

Por que, então, meu coração sedento
tem que provar a dor e o sofrimento
para alcançar a tal felicidade?
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O MAR

A noite chega e a solidão do mar
vem me trazer, de leve, um vento fino,
a saudade povoa o meu pensar,
enquanto as vagas seguem seu destino.

E o mar, em movimento, quer mostrar
o poder que fascina ao peregrino,
provocador, feliz, quer carregar
dissabores e mágoas... imagino.

E traz em oferenda a tempestade,
fica agitado e cheio de vontade,
erguendo-se em espumas seu furor.

Depois, torna-se calmo e exuberante,
belo e tranquilo, mostra-se pujante,
esquecendo, talvez, da própria dor!
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O PODER DO AMOR

Quanto mais penso no poder que o amor
exerce sobre mim e me fascina,
convenço-me, serás o meu torpor,
não importa o que diz a medicina.

Se estás comigo, sinto o teu calor
e uma paz silenciosa me domina,
o tempo não mais corre com rancor
e o teu olhar, meus olhos, ilumina.

Eu quero me prender neste pecado,
e em teu amor ficar acorrentado
como fiquei nos versos que compus.

E prometo cantar com tal Doçura
uma canção de Paz e de Ventura
que o nosso Amor nos levará à Luz!
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O TEMPO

O tempo não perdoa e passa velozmente
levando de roldão venturas e bonanças,
O sonho, o entusiasmo, a mágoa, o amor ardente
estão presentes, hoje, apenas nas lembranças.

Uma saudade fala ao coração da gente
e promete calar nossas desconfianças
por um momento só, que a vida, certamente,
vai nos cobrar bem caro o fim das esperanças.

E quando a hora chegar, um vulto solitário
há de se aproximar trazendo um vestuário
e sorrindo, dirá; não temas, sejas forte.

E um silêncio trará a sensação terrível:
- a vida chega ao fim sem fazer o impossível,
restando tão somente o fantasma da morte!

Fontes:
- Filemon Francisco Martins. Sonetos & Trovas. RJ: CBJE, 2014.
Livro enviado pelo autor.
- Blog do autor. https://filemon-martins.blogspot.com/

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