terça-feira, 2 de agosto de 2011

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XII – O Planeta Marte


O que lá no sítio Pedrinho ouvira de Dona Benta a respeito de Marte estava bem fresco em sua lembrança.

— Marte é um planeta de volume seis vezes menor que o da Terra — havia dito a boa senhora. — No dia em que houver facilidades de comunicação entre os mundos, Marte há de ser uma estação balneária da Terra. Os homens irão passar lá férias ou temporadas. É pertíssimo.

— A que distância fica?

— A 56 milhões de quilômetros.

— Só? — admirou-se Pedrinho, que já andava tonto com as tremendíssimas distâncias entre a Terra e as estrelas. — Esses 56 milhões de quilômetros a luz vence em 2 minutos e 6 segundos. Sabe, vovó, que a velocidade do nosso pó de pirlimpimpim é a mesma da luz? A Emília até diz que o pirlimpimpim é luz em pó...

Dona Benta riu-se da asneirinha e continuou a falar de Marte.

— As estações lá — disse ela — correspondem às daqui, com as mesmas temperaturas. As condições de Marte assemelham-se muito às nossas, mas o ano de lá tem 687 dias.

— Que “anão”! — exclamou Pedrinho admirado. — E o peso?

— Menor que aqui. Um quilo nosso pesa 374 gramas em Marte.

— Ótimo! Quem vai para Marte deve sentir-se leve como rolha. Para corridas e pulos deve ser o planeta ideal.

Houve um ponto em que Dona Benta muito insistiu: os canais que através dos telescópios os astrônomos enxergam nesse planeta. E disse:

— Os astrônomos distinguem em Marte uma verdadeira rede de canais, em linhas retas e curvas, ligando mares; mas não são coisas naturais — parecem artificiais, ou feitas pelos homens de lá.

— Como sabem? — duvidou Pedrinho.

— Porque parecem traçados a compasso e régua, que são invenções dos homens. A natureza tem o bom gosto de não usar esses instrumentos. Já reparou que ela nada faz perfeitamente reto ou perfeitamente curvo, como as linhas e círculos traçados pela régua e o compasso?

— Isso não, vovó! — contestou o menino. — Certas palmeiras têm o tronco em linha reta, e o maracujá e outras frutas são bem redondinhos.

— Se com a régua e o compasso você conferir a linha reta duma palmeira ou o redondo de qualquer fruta, verificará que são mais ou menos — nunca exatamente. A natureza tem horror à precisão da régua e do compasso.

— Eu sei — disse Pedrinho pensativo. — O instrumento que a natureza usa é o mesmo daquele Zé Caolho que esteve consertando a casa do Elias Turco: o olhômetro! O Zé Caolho mede tudo com aquele olho torto, a que Emília deu o nome de “olhômetro”. Ele não usa régua, nem compasso, nem trena, nem nível, nem prumo. É tudo ali na “batata do olhômetro”, como diz a Emília.

— Pois a natureza é assim, meu filho. Parece que tem horror à geometria. Faz tudo mais ou menos — e por isso são tão belas as coisas naturais. Se você mandar a geometria fazer uma árvore, ela faz uma árvore toda cheia de linhas retas e curvas, de elipses, espirais e triângulos, tudo de uma “precisão geométrica” — e fica a feiúra das feiúras. Mas com o seu olhômetro a natureza produz belezas como aquela — e apontou para o cedrão do pasto. — Veja. Não há naquela árvore nenhuma regularidade geométrica, e vem daí a beleza do nosso velho cedro. Pois os canais de Marte são assim — são duma regularidade que não é própria da natureza. Ora, se não são naturais, são artificiais.

Pedrinho admirava-se duma coisa — que os canais de Marte fossem avistados da Terra.

— Graças a Galileu, meu filho. Graças ao telescópio, filho da luneta que Galileu inventou, nós daqui enxergamos até os canais de Marte, uma coisa que está a 56 milhões de quilômetros de distância... Não é maravilhoso?

— Que quer dizer telescópio, vovó?

— Tele em grego é “longe” e skopeo é “eu examino”. Telescópio quer dizer “eu examino ao longe”.

— Que beleza o grego, hein, vovó? É batatal... Dona Benta estranhou aquele “batatal” que volta e meia vinha à boca de seu neto.

— Que história é essa de batata pra aqui, batata pra ali, que vocês vivem usando agora? Eu já ando abatatada de tanta batata que rola por esta casa.

— É a Emília, vovó — explicou Pedrinho. — Ela inventou a coisa e nós, sem querer, pegamos na mania. Eu bem não quero falar assim, mas sai. Emília inventou até um tal “batatalífero” que é batatal. E também usa o “batatalino”.

— Mas donde veio isso?

— Não sei, vovó. Essas coisas vêm do ar, como os resfriados. Parece que a gente enjoa das velhas palavras e precisa de novas — e vai inventando. Batatal quer dizer ótimo, otimíssimo, bis-ótimo. Mas se a gente diz “isto é ótimo” fica sem força. Parece que essa palavra está muito gasta. E Emília então diz: “Isto é batatal ou batatalino” e a gente arregala o olho.

Dona Benta filosofou sobre o pitoresco da gíria e depois voltou ao planeta Marte.

— O diâmetro de Marte é de 6.870 quilômetros. E o da Terra? Vamos ver se não esqueceu.

— É quase o dobro, vovó.

— Isso mesmo. E a circunferência de Marte também é mais ou menos metade da da Terra. Qual a circunferência da Terra, Senhor Flammarionzinho?

— Quarenta mil quilômetros! — berrou o menino — e Dona Benta deu-lhe grau 10 pela boa memória.

Em seguida contou que Marte era mais velho que a Terra.

— Esse planeta destacou-se do Sol milhões de séculos antes da Terra, de modo que tudo está lá muito mais evoluído que aqui. A vida em Marte deve ser como vai ser a daqui no futuro. Nós nem podemos fazer idéia dos animais de Marte, e muito menos do homem de Marte — o marciano.

— Marciano quer dizer habitante de Marte?

— Sim. E esses marcianos têm o gosto de ver em seu céu duas luas, em vez duma só, como nós aqui.

— Duas luas? Que engraçado...

— Dois satélites, sim, meu filho, aos quais os astrônomos deram os nomes de Deimos (Terror) e Fobos (Medo).

— Por quê? Que é que o Terror e o Medo têm a ver com dois astros do céu?

— Ah, isso é uma recordação duns versos de Homero na llíada. Existe nesse poema um pedacinho assim: Ao Terror e ao Medo ele ordena que atrelem meus corcéis Enquanto de suas cintilantes armas vai se vestindo.

— Mas que têm esses versos com as luas de Marte?

— Nada, meu filho. O astrônomo que deu esses nomes às luas de Marte devia ter lido na véspera a llíada de Homero e estava com as palavras Deimos e Fobos na cabeça. Só isso.

— E essas luas aparecem no céu de Marte do tamanho da nossa Lua aqui?

-— São muito menores. Deimos tem apenas 12 quilômetros de diâmetro.

— Só 12? — admirou-se o menino. — Isso é do tamanho duma cidade como Paris, Buenos Aires, São Paulo...

— Exatamente; mas como Deimos está apenas a 6.000 quilômetros de Marte, aparece grandinho no céu — assim da quarta parte do tamanho da nossa Lua.

— E Fobos?

— Esse está a 20.000 quilômetros de distância e é várias vezes menor que Deimos.

Isso era tudo quanto Pedrinho sabia do planeta Marte, segundo as informações recebidas de sua avó no sítio. Agora que voava para Marte levado pelo pó de pirlimpimpim iria ter ocasião de verificar se aquilo estava certo ou não. O caso dos canais de Marte e dos marcianos era o que mais o interessava.

Logo que chegaram e abriram os olhos, os três aventureiros celestes sentiram-se desnorteados. Tudo muito diferente do que tinham visto na Lua e do que era na Terra. Canais não viram nenhum, porque coisas grandes como canais só são avistáveis de longe. É como quem está dentro duma floresta: só vê galharada e folharada, não vê a floresta em seu conjunto. Eles puseram-se a prestar atenção às coisas próximas — mas não as entendiam.

— Isto aqui devem ser plantas — disse Narizinho. — Só que estou estranhando as formas e a cor.

— Pelo que disse vovó — informou Pedrinho — as plantas daqui são evoluidíssimas — são como vão ser as plantas da Terra daqui a milhões de anos.

Era uma vegetação amarela e avermelhada. Não havia verdes, e as formas não lembravam as plantas da Terra.

— E gente? E bichos? — indagou a menina. — Não vejo nada mexer-se. Será que Marte é desabitado?

Pedrinho também desapontou. Por mais que olhasse e reolhasse, não percebia traço de vida animal. E estavam caminhando por ali, a olharem para a direita e a esquerda, quando Emília os agarrou pelas mãos e os puxou para um lado com toda a força.

— Que há? — perguntaram os dois meninos assustados. A boneca respondeu levando o dedinho à boca em sinal de “bico calado!” e fez que ambos se escondessem atrás duma pedra.

— Agachem-se e não se mexam. Depois explico.

Emília olhava como se estivesse vendo coisas e mais coisas. E assim esteve muito atenta e quietinha, imóvel atrás da pedra, até que afinal desembuchou.

— Uff! Que susto!... — exclamou ela erguendo-se. — Acabamos de passar por um grande perigo. Este astro é mais que habitado — é habitadíssimo. Aquele puxão que dei em vocês foi porque um grupo de marcianos vinha vindo em nossa direção.

Os habitantes de Marte eram invisíveis para os olhos dos meninos, mas visibilíssimos para os olhos da Emília. Ela os tinha decorado e passou a descrevê-los.

— São esquisitíssimos! Parecem grandes morcegos brancos. Em vez de caminharem com dois pés, como nós, deslizam pelo chão e erguem-se nos ares quando querem. O corpo é oval e cheio de crocotós, isto é, de coisas esquisitas que não entendo bem. Parecem ter uma porção de braços e mãos, maiores e menores; e no lugar em que devia ser a cara, há mais crocotós — tudo muito diferente das criaturas da Terra. Nós temos olhos, nariz, boca e orelhas — eles devem ter tudo isso, mas de formas diferentes. São uns seres absurdos...

— E falam?

— Devem falar, mas sem sons, sem palavras, dum modo muito diverso do nosso. Bem no meio da tal coisa que deve ser a cara existe um chicotinho flexível que eles manejam com grande rapidez.

— Antenas, como nos insetos?

— Talvez. É com os movimentos desses chicotinhos no ar que eles se entendem.

Pedrinho e Narizinho ficaram apavorados com a descrição e ansiosos por fugirem daquele misterioso planeta. Pelo que informava a Emília, os marcianos não tinham dado pela presença deles ali. Era provável que não pudessem vê-los. Mas seria realmente assim? Às vezes uma coisa parece, mas não é. Tornava-se indispensável verificar esse ponto — mas como? Emília tomou uma resolução.

— Vou tirar a limpo esse ponto — disse ela. — Se me acontecer qualquer coisa, se eles me pegarem e me comerem, não faz mal. Não sinto dor, sou boneca — e, além disso, Tia Nastácia faz outra ainda melhor que eu... Fiquem caladinhos aqui atrás da pedra. Não se mexam até que eu volte — e foi tirar a limpo aquele ponto.
____________
Continua … XIII – Proezas da Emília em Marte
–––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 280)


Uma Trova Nacional

Tal e qual meu pé de rosa,
que ao ser podado floresce,
esta saudade teimosa,
quanto mais podo, mais cresce!...
CAROLINA RAMOS/SP–

Uma Trova Potiguar

Felicidade é somente
uma visita apressada
que aparece de repente
e parte sem dizer nada.
–APARÍCIO FERNANDES/RN–

Uma Trova Premiada


2010 - São Paulo/SP
Tema - ORVALHO - Venc.

Seria a vida mais doce
e as dores bem mais amenas,
se toda lágrima fosse
um pingo de orvalho apenas...
–JAIME PINA DA SILVEIRA/SP–

Uma Trova de Ademar

Deus fez de mim uma ponte
com pilastras de alegria
e acima dela uma fonte
por onde jorra poesia.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ao lembrar que o teu brinquedo
é decifrar-me, sorrio...
De nada vale o segredo
de um velho cofre vazio.
–ALONSO ROCHA/PA–

Simplesmente Poesia


Insano.
–SERGIO SEVERO/RN–

Se tem razão a loucura,
encontrei a explicação,
para tanta molhação
nesta Terra de Secura:

O Céu, fendeu o seu chão
e Deus chorou, compungido,
pelo Povo desvalido,
pela seca no Sertão.

Dessa água irei beber,
cada gota que chover,
e num total desvario...

... adoçarei as salinas,
e plantarei turmalinas,
na margem central do rio.

Estrofe do Dia

Nunca tive a vida bela
mas mesmo assim não me queixo,
padeço a dor mas não deixo
outro participar dela,
nem sou daqueles que apela
depois da causa perdida,
não vou chorar na subida
nem rir quando estou descendo;
já me acostumei sofrendo,
pra que reclamar da vida?
–MÁRIO LOPES/CE–

Soneto do Dia

Segredo de um Sonho.
–JOSÉ TAVARES DE LIMA/MG–

Afasta esse amargor de tua vida,
e em seu lugar põe mais amor e crença.
Esquece a ingratidão, por mais dorida,
porque lembrar tristezas não compensa...

Deixa o perdão curar a atroz ferida
que te deixou, no peito, alguma ofensa,
e atende àquela voz que te convida
para o exercício bom da benquerença!

Passa a ver a ventura tão distante,
mais perto do que julgas, doravante;
e, diante algum revés, ergue a cabeça,

na esperança de um mundo mais risonho.
Pois o segredo de alcançar um sonho
é saber esperar que ele aconteça!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://www.milassinaturas.blogger.com.br/saudade.html

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 279)


Uma Trova Nacional

Luta inglória é essa nossa,
minha e da enxada, dois loucos,
tudo em nome de uma roça,
que a seca mastiga... Aos poucos!
–DARLY O. BARROS/SP–

Uma Trova Potiguar

Fosse, a seiva, inspiração,
cada árvore, um Trovador,
floresta era a imensidão
de verdes Trovas de amor.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

2005 - Niterói/RJ
Tema - ENCONTRO - Venc.

Na trova e no trovador
é que se encontram, suponho,
Criatura e Criador
unidos num mesmo sonho.
–NÁDIA HUGUENIN/RJ–

Uma Trova de Ademar

Com meus dias já traçados,
o Deus que nos arquiteta,
destinou-me dois legados:
ser Trovador e Poeta.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

A sina dos Trovadores,
– o meu destino também –
é sofrer as próprias dores
e as dores que os outros têm...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

Sempre tive a maior veneração,
por Deus Pai, nosso eterno criador,
que me quis pequenino deste jeito
e me fez seu eterno sonhador;
como quem diz abrace o que te dei,
e a poesia, feliz eu abracei,
me tornando poeta e Trovador.
–PROF. GARCIA/RN–

Estrofe do Dia

O relâmpago se acende pra dá show
Camponês sem castelo vira rei
Quando a voz do trovão diz: eu cheguei!
O fantasma da fome diz: já vou!
Abra a boca de um silo que lacrou
Enche a cuia e não pesa em quilograma,
Põe na cova, com um mês tem folha e grama,
Quem plantou grão por grão colhe de ruma;
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama.
–NONATO COSTA/CE–

Soneto do Dia

A T R O V A.
–Adélia Victória Ferreira/SP–

Quatro versos, apenas, quatro versos!
Sete sílabas, cada. Belas rimas
revesadas. Os temas, os diversos
tesouros de uma língua: Eis obras primas!

Pelos confins deste Brasil, dispersos,
trovadores, versados nos esgrimas
que essa arte exige, em cisma sempre imersos,
apresentam fartíssimas vindimas!

Conhecendo a ciência da poesia,
modelando os versos à perfeição,
quanta beleza o Trovador desfia!

E quando ele se apura e se renova,
lá de cima sorri, com emoção,
Luiz Otávio – o Príncipe da Trova!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://superacao1000.blogspot.com/2011/04/caneta-e-enxada.html

Efigênia Coutinho/Antonio Barroso (Outono)


Efigênia Coutinho
OUTONO


O Verão fez sua despedida devagar,
Como alguém que não queria partir.
O Outono vai tomando seu lugar...
O equinócio manifestou o seu fim.

Que o Outono seja belo e favorável
E traga ao homem Paz e Harmonia.
Que se evada todo fluido indesejável
E permaneça em seu íntimo a alegria!

Aqui na terra, este é o meu desejo
Que do outono, venha a placidez,
Com seus tons de ocaso ao ensejo
De refletir da Mãe Natureza a solidez.

As folhas amareladas cairão devagar...
Dum ciclo, o declínio vão anunciando
E o chão da vida verá o verão se ausentar,
Enquanto as árvores vão se desnudando.

Mas, diante de meus olhos ainda desfilam
Inebriante as brumas do mar de Verão,
Que agora nas lembranças se aconchegam
Para receber o outono com toda emoção!

Balneário Camboriú
2011

António Barroso (Tiago)
OUTONO


Nas brisas de outono, as folhas levitam
Como papagaios em mãos de criança
As ondas começam estranha dança,
E as aves, no céu, já partem, já gritam.

Beijos parados, nas almas, se agitam
E aguardam, calmos, em doce esperança,
Que regresse, depressa, essa bonança
Do calor dos madeiros que crepitam.

Se os dias mais curtos fazem presente
Dum lindo anoitecer, ao sol poente,
Há um mistério que se torna eterno,

É que o aproximar do novo outono
Tem indícios de haver um abandono
Para acolher, por fim, o meu inverno.

Parede - Portugal (29-07-2011)

Fonte:
Textos e imagem enviados por Efigênia Coutinho

Encontro SESC Memórias (em São Paulo)

Clique sobre a imagem para ampliar
SESC Memórias
Rua Dr. Plínio Barreto, 285 - 3º andar (Prédio da Federação do Comércio)
Bela Vista – São Paulo
(11) 3016-1692
(11) 3016-1688

Carolina Ramos (Lurdeca)


Chegou ao novo emprego como um furacão! Pressionou a campainha da área de serviço e, porta aberta, sem esperar pela receptividade, foi logo se identificando.

- Bom dia. Eu sou Maria de Lurdes.

Magra, ágil, descontraída, mostrando disposição para o trabalho, a nova faxineira foi recebida com alívio.

Antes mesmo de qualquer ordem, foi entrando e depositando seus pertences no banheiro central, em desprezo ao que lhe fôra reservado.

Ante o olhar atônito da patroa, acrescentou:

- Já gostei de você! Vou ficar por aqui muito tempo!

Aturdida pela desenvoltura da recém chegada e principalmente pela intimidade do tratamento, a jovem guardou a pose de patroa no bolso do avental, retribuindo na mesma moeda.

- Também gostei de você, Maria de Lurdes.

Um bom começo.

O breve instante, do quebra jejum, foi o bastante para que Maria de Lurdes trocasse informações e saísse inteirada da vida da família que a recebia. Também, foi só. Ao lançar-se à tarefa, fechou-se. Era, apenas, mãos e pés, na mais plena atividade, movidos a pilha ou quem sabe, a corrente elétrica. Com ânimo, subiu pelas paredes - com o auxílio de escada, naturalmente - retirando quadros e tudo o mais que as decorava. O aspirador, puxado pela possante locomotiva humana, arrastou-se pelas dependências, engolindo pó acumulado. As vidraças mostraram um dia mais claro e os quadros voltaram aos lugares, deixando a desejar quanto ao prumo. Lá pelo meio da tarde, metade do apartamento estava um brinco! O restante foi relegado para a semana vindoura, que braços fortes não são de ferro!

De Lurdes continuou voltando, regularmente, toda quinta-feira, como um ciclone sugador de impurezas, levando do além do estipulado pela faxina, roupas, mantimentos, frutas, sapatos, etc., prova evidente do perfeito entrosamento do binômio patroa e empregada.

Com exuberante simpatia, a nova auxiliar conquistou até mesmo as boas graças da Tetê, caçulinha da família, nem sempre aberta à comunicação. Uma simples frase fizera o milagre:

– Você é uma menina linda, sabia?
– Sabia, sim! – resposta pronta, sem auto-censura, da garotinha, que se dignou desviar da TV, por instantes, os olhos deslumbrados pelos monstros apocalípticos, importados do Japão. Num rasgo de generosidade ou inversão de valores, a frase foi completada:

– Você também é linda!

Como exultara De Lurdes, ante a surpresa daquela afirmação! Em toda a sua laboriosa vida, ninguém, jamais, a chamaria de linda e muito menos qualquer espelho, por maior boa vontade tivesse!

Ficaram amigas, Lurdes e Tetê. A tagarelice desta, quebrou o mutismo da outra.

– Menina esperta essa! Muito esperta! Quatro anos? Benza Deus! Ela me bota no chinelo! – fôra a vez da mãe de Tetê exultar.

Dois meses de vai-vens semanais e patroa e criada só trocaram amabilidades, satisfeitas uma com a outra. Até que, um dia, inexplicavelmente, De Lurdes não voltou. Nem telefonou, para justificar a falta. Sumiu em definitivo.

Foi então que, reassumindo as tarefas domésticas, Jurema, a jovem patroa, começou a notar, coisas também desaparecidas. Eram cobertores, roupas, enlatados de estoque, talheres, sabonetes, etc. etc. O beliscão da desconfiança levou-a direto ao cofre de jóias. Praticamente vazio! Não que contivesse, anteriormente, nada de grande valia mas, o peso estimativo era mais do que suficiente para desequilibrar a boa-fé da moça. Jurema sentiu o espinho da desconfiança arranhar-lhe a pele. Ante a filha, indagou alarmada:

– E a sua pulseirinha de ouro, Tetê… onde está?!

A resposta da garota foi reveladora:

– O fecho não tava bom. A Lurdes levou ela, pra consertar.

Se a dúvida já se instalara, a certeza roubou-lhe o lugar.

De Lurdes, inapelavelmente, estava por detrás de todas as ausências constatadas. Como pudera fazer isso?! Como confiar em alguém, dali para frente?!

Embora magoada, a moça sentiu-se gelar quando ouviu, ao telefone, a voz inquiridora:

– Dona Jurema?
– Sim…
– Quem fala é do delegado de polícia, Heitor Lopes. A senhora conhece Maria de Lurdes da Silva?
– Conheço, sim. Foi minha faxineira… está sumida há tres meses, mais ou menos.
– Ela está presa. Sua faxineira é vulgarmente conhecida por Lurdeca, ladra reincidente, vigarista das maiores!

Jurema emudeceu, perplexa!

– A senhora tem alguma queixa? Há falta de provas. Se puder nos ajudar, será muito bom. Ou… logo ela estará livre para novas falcatruas.

Os olhos vivos, as mãos ligeiras da ex-empregada vieram chantagear a mente da patroa. As histórias sobre a família, a luta constante para a manutenção dos filhos sem pai… e outras lembranças pungentes, comoveram o coração sensível da moça.

A resposta veio rápida, sem vacilações:

– Não, Doutor… Eu não tenho queixa alguma da Lurdes. Trabalhou aqui por dois meses, e só posso dizer que foi ótima faxineira, respeitosa e… honesta. Sinto não poder ajudá-lo.

Ao depor o fone, Jurema sentiu-se algo estranha, mas, intimamente, não se arrependia de ter mentido.

Uma semana depois, gratificada, descobriu entre a folhagem do jardim, as jóias desaparecidas, embrulhadas num plástico. Nem um bilhete, nem palavra qualquer que identificasse o remetente.

E o caso morreria anônimo se, entre as jóias recuperadas, não estivesse a pulseirinha de ouro da Tetê…

Fonte:
RAMOS, Carolina. Interlúdio: contos. São Paulo: EditorAção, 1993.
Imagem = O Mascate

Francisco Neves Macedo (A Trova...)


Momento maior de qualquer trovador
é quando ele faz uma trova inspirada,
e evoca a paixão da mulher, a sua amada,
com versos perfeitos falando de amor.

Esteja onde esteja, vá aonde ele for,
a trova será sua luz, sua estrada...
É faixa de luz de si mesmo emanada,
ciência suprema que vem do Senhor!

São só quatro versos com rimas perfeitas
Cruzadas, reais, pelos vates eleitas,
o amor burilado com plena emoção.

Sem trova a poesia seria incompleta,
e o bom trovador tão somente poeta...
Enorme vazio no meu coração!

Fonte:
Soneto enviado pelo Autor

Delasnieve Daspet (Árvore dos Poemas )


Em um mundo cada vez mais agitado, onde não nos sobra tempo para contemplar as coisas simples da vida, onde até mesmo nossa alimentação é em meio ao corre-corre diário, creio que podemos parar e falar de poesia.

Pensei em como chegar a todos com a minha poesia.

Não tenho como enviar por e-mail – afinal Mato Grosso do Sul tem mais de dois milhões de habitantes e não disponho do contato com todos. Foi ai – que me lembrei de um projeto que nasceu lá em Contagem – MG, de autoria de Diovvani Mendonça, e, aqui estou, pois o que é bom merece ser imitado, apreciado e melhorado.

Como eu penso e já saio fazendo - eis a primeira edição da minha ÁRVORE DOS POEMAS.

Foi em Bonito-MS por ocasião do 12º Festival de Inverno de Bonito.

Coloquei meus poemas e, também, os dos escritores de Bonito , a todos os cidadãos que foram ao festival e que apreciam uma boa leitura.

Os poemas foram engarrafados, em garrafas PET, pendurados em árvores das Praça da Liberdade, assim como farei em todo o estado, e, se deixarem, pelo Brasil.

Engarrafo meus poemas e os dos poetas locais e os coloco na ÁRVORE DOS POEMAS. Os frutos-poemas ficam prontos e aptos a serem colhidos por todos os passantes ávidos de um paladar diferenciados!

Em Bonito distribuimos 800 ( oitocentos ) poemas - a espectativa foi superada em muito. Oitocentas pessoas, entre adultos e crianças, tiveram oportunidade de conhecer o trabalho dos poetas da cidade e os meus.

Lembremos que todos gostam de poesia. Todos!

E todos puderam tranqüilamente s-a-b-o-r-e-á-l-o-s, levar para sua casa, passar para outra pessoa, e discutir comigo.

Deixo a todos o meu email da ÁRVORE DOS POEMAS.

Esta é a forma que encontrei de espalhar minhas poesias e letras, e, junto comigo - os que me ajudarem a carregar a mala.

Se quiser fazer contato com a Poeta da ÁRVORE DOS POEMAS escreva para
arvoredopoema.delasnievedaspet @gmail.com

Fonte:
Texto enviado pela autora

Fabiane Ribeiro (Lançamento do Livro “Xadrez”)


Inglaterra, 1947. A Europa encontra-se devastada pela Segunda Guerra Mundial, assim como o coração de Anny. A garota de oito anos vê seu mundo desmoronar ao receber a notícia de que não poderá mais viver com os pais e terá que se mudar de casa levando pouco mais que seu tabuleiro de xadrez. Tudo parecia um pesadelo, até que surge Pepeu, um jovem misterioso que mudará para sempre a vida de Anny, levando-a a aprender sobre o mundo e a viver momentos emocionantes sem sair dos canteiros de seu pequeno jardim. Ao lado de anjos que são colocados em sua jornada, a doce menina aprende a enfrentar as dificuldades através de lições de abnegação, fé e amor verdadeiro.

“O livro é um guia com lições de vida a cada página: e tudo palestrado por uma coisinha tão pequena aos olhos de tantos”. (O. A. Secatto, escritor).

Trecho do livro:

“De um lado, estava o exército preto, e de outro, os súditos de cristal do exército branco. As peças marchavam em direção ao enorme tabuleiro central, tudo era gigante aos olhos de Anny. Os passos coordenados das peças ecoavam por todo o reino, anunciando o duelo de xadrez que se formaria em instantes.

Quando tudo estava organizado, Anny perguntou:

— Com quem irei jogar?

E foi nessa hora que se ouviu o galopar de um cavalo ao longe, e ele surgiu entre as colinas quadriculadas: o cavaleiro bondoso que Anny conhecera na primeira vez em que estivera no reino.

À medida que ele se aproximava, seu rosto se tornava mais familiar. Com suas bochechas rosadas e seu lindo sorriso. Anny sabia que era ele: seu fiel cavaleiro, aquele a quem ela tanto amava. Aquele que a salvou da tristeza e da solidão diversas vezes e a ensinou a ouvir o coração.

Ele fez uma demorada reverência à rainha, dizendo:

— A partida pode começar.”
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Dados sobre a obra:

Título: Xadrez
Autora: Fabiane Ribeiro
Gênero: Romance
Editora: Multifoco
Ano de lançamento: 2011
Páginas: 384

Mais informações:
www.fabianeribeiro.com.br
(o book-trailer e o link de compra estão no site, mas também há links diretos):

Book-trailer: http://www.youtube.com/watch?v=I5ZBo8q2vUE

Fonte:
Dados enviados pela autora

Fabiane Ribeiro (Biografia por Ela Mesmo)


“Nascida em Mogi Mirim, SP, Fabiane Ribeiro tem 23 anos e é Médica Veterinária pela Universidade Federal de Lavras, MG. O amor pelos animais e pelas palavras a completam, e ela não poderia escolher entre eles”

Acredito que devo começar contando sobre a minha mais remota lembrança de como a literatura sempre esteve em mim.

Lembro que, quando muito pequena (com 6 ou 7 anos, acredito), minha distração preferida era escrever histórias. Sempre colecionei adesivos. Minha mãe, então, escolhia um adesivo e o colava em um papel... Eu passava a tarde toda criando uma história a partir daquela figura.

Ler, sempre foi uma das coisas que mais amei fazer. Sempre li de tudo e enumerar livros ou autores favoritos seria uma missão impossível.

Cresci em Mogi Mirim, São Paulo. E, aos 15 anos, passei a estudar em Campinas, onde cursei todo o Ensino Médio. Eu também sempre fui apaixonada pelos animais e, desde os 4 anos, dizia que ia ser “médica de cachorro”. Optei por estudar Medicina Veterinária e, em 2006, passei no vestibular na Universidade Federal de Lavras... Alguns meses depois, lá estava eu: de mudança para Minas Gerais.

Então, no quarto ano de faculdade, em 2009, passei por uma época difícil, principalmente devido a problemas de saúde, e o que me trouxe um pouco de paz foi escrever e resgatar meu sonho de ser escritora. Vontade e ideia não faltavam. Faltava apenas a coragem de passar tudo para o papel.

Então, veio a luta para conseguir uma editora, que nos dias de hoje é muito mais difícil do que as pessoas imaginam. Mas não é impossível e, como sempre lutei pelos meus sonhos, acreditei com toda a força do meu coração que um dia o “sim” chegaria. E ele chegou! Com aquele “sim” da Editora Multifoco, do RJ, eu não sabia quantas outras portas estavam se abrindo...

Era um caminho difícil, árduo e de muitos desafios. Pensar em desistir? Jamais! O caminho também trouxe consigo (e trás, a cada nova curva) tantos momentos lindos e de realização, que só a conquista de um verdadeiro sonho pode trazer.

Fonte:
Biografia enviada pela autora

Ialmar Pio Schneider (Cristais Poéticos)


INGRATIDÃO

Eu andava por todos desprezado,
Minha vida era intenso sofrimento,
Meu coração que procurava alento
Só encontrou o teu olhar irado.

Que tristeza a meu ser desesperado !
Que maldição a meu amor sedento,
Que esperava um alívio pr´o tormento
Que pungia minha vida no passado !

Correu-me o pranto pela face aflita
E ninguém me ajudou nessa ilusão,
Pois os amigos na hora da desdita

Nos deixam na mais negra solidão,
Sofrendo uma tristeza que é infinita,
Morrendo lentamente o coração.

SONETO À CASA DO POETA RIOGRANDENSE
Para o Nelson Fachinelli - In Memoriam

São quarenta e sete anos que a CASA DO POETA RIOGRANDENSE
festeja e comemora.
e será, dia a dia, mais concreta
congregando a Irmandade tempo afora...

Seja a Luz do Ideal a sua meta,
tal como o foi na Fundação outrora,
e que leve a mensagem predileta
ao coração que sofre... ou ama... ou chora...

Vinte e Quatro de Julho marca o início
de uma nova seara da Cultura
cuja semente achou solo propício...

Portanto, levantemos estandartes
p’ra saudar a Entidade que perdura:
A CASA DO POETA em prol das Artes...

SONETO A SÃO CRISTÓVÃO – Dia 25 de julho -

Ó São Cristóvão, Padroeiro forte
dos motoristas que andam pela vida,
assim a percorrer do Sul ao Norte
e vice-versa, a estrada mais comprida...

Dai-nos coragem quando da partida
e ao longo da viagem o suporte,
p´ra que tenhamos sempre nesta lida
vossa bênção que a todos nos conforte.

Vós passastes o rio e o Deus Menino
em vossos ombros já pesava tanto
que quase poderíeis afundar;

porém, Jesus, cumprindo o Seu destino,
vos disse, então, causando-vos espanto,
que era o Senhor do Mundo a carregar...

FELIZ DIA DO(A) AMIGO(A) -

Depois de tantos versos que escrevi
pensando num amor que não havia,
agora cai a ficha e penso em ti,
para te dedicar minha poesia...

Eu sei que vais andando por aí
e sem pensar em mim preenches teu dia,
enquanto vou sofrendo o frenesi
de alimentar-te em minha fantasia...

Preciso te dizer versos antigos,
embora tenham sido revelados
bem antes de te amar e conhecer...

porque eles foram sempre meus amigos
e não podem ser hoje recusados,
pois sei que me ajudaram a viver...

SONETO À CIDADE DE SÃO LEOPOLDO

Bem sei que ali chegaram os Schneider,
que vieram da Alemanha para amar
um magno Novo-Mundo a desvendar,
onde encontrassem a prosperidade...

Trouxeram seu amor e na saudade
ficou a Velha Pátria de Além-Mar,
e todos construíram novo lar
aqui no solo da felicidade...

Tenhamos para sempre em nossa vida,
juntamente com os outros imigrantes,
a doce paz que invade os corações.

A todos a coragem na subida
que leva aos píncaros mais inebriantes,
e vencendo, cultuar as tradições !...

Fonte:
Sonetos enviados pelo autor

Mostra de Literatura de Mulheres (Aconteceu entre 27 e 30 de Julho)


O que há em comum entre Luce Pereira, Jussara Salazar e Elisa Lucinda? Estas e outras escritoras foram destaques da Mostra de Literatura de Mulheres, promovida pelo Sesc Santa Rita, no período de 27 a 30 de julho. O evento, que acontece no Laboratório de Autoria Literária Ascenso Ferreira, irá reunir ícones femininos que fazem, leem e criticam literatura.

Para participar foi preciso levar uma obra literária em bom estado de conservação para garantir a vaga. Além de palestras sobre a influência da mulher na literatura, o público conferiu gratuitamente recitais de poesia, exposição fotográfica, minicursos e cantorias e rodas de conversa.


27 a 30 de julho - Mostra de Literatura de Mulheres

27, quarta-feira

Oficina de Literatura Popular e Crítica Literária
Com Maria Alice Amorim (PE) –

Oficina "Os 5 sentidos de Clarice Lispector',
com a biógrafa de Clarice Lispector e Doutora em Estudos literários pela PUC- RJ, Teresa Montero (RJ) –

28, quinta-feira

Oficina de Literatura Popular e Crítica Literária
Com Maria Alice Amorim (PE) –

Oficina "Os 5 sentidos de Clarice Lispector',
com a biógrafa de Clarice Lispector e Doutora em Estudos literários pela PUC- RJ, Teresa Montero (RJ) –

Abertura da Mostra –
Local: Salão de Festas do SESC Santa Rita
Pinceladas para Ladjane Bandeira–
Récita com Mariane Bigio (PE) e participação especial de Susana Morais (PE).

Literatura substantivo feminino,
conversa com Viviane Mosé (SC/RJ).
Mediação: Luce Pereira (PE)

Vire poesia,
Performance com Silvana Menezes (PB/PE) e
Recital Poético
com Elisa Lucinda (ES/RJ) –

29, sexta-feira

Oficina de Literatura Popular e Crítica Literária
Com Maria Alice Amorim (PE) –

Oficina "Os 5 sentidos de Clarice Lispector',
biógrafa de Clarice Lispector e Doutora em Estudos literários pela PUC- RJ, Teresa Montero (RJ) –

A mulher é do Repente - Cantoria
com Mocinha de Passira (PE) e Santinha Maurício (PE)
Canto do Limite: A poética do Fim,
conversa com Jerusa Pires Ferreira (BA/SP) e Jussara Salazar (PE/PR).
Mediação: Maria Alice Amorim (PE) –

30, sábado

Récita: Procurando Cecé –
Renata Santana (PE) encontra-se com Celina de Holanda

Escrituras de Mulheres,
conversa com Elizabeth Siqueira (MG/PE), Luzilá Gonçalves (PE) e Nelly Carvalho (PE) –

A criação literária,
conversa com Eunice Arruda (SP) e Lucila Nogueira (PE).
Mediação: Cida Pedrosa (PE)

Recital do Sertão ao Mar,
o grupo de poesia Vozes Femininas recebeu 4 recitadoras do Sertão Nordestino: Isabely Moreira, Mariana Teles, Monique D'Angelo e Verônica Sobral.

Editores
Sennor Ramos, Raimundo de Moraes & Cida Pedrosa
Recife, 26 de julho de 2011

Fonte:
Eunice Arruda

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XI – Continua a Viagem


Depois de algumas horas de bem-dormido sono, Pedrinho acordou e viu no relógio Terra, suspenso no céu da Lua, que o continente americano vinha de novo aparecendo — sinal de seis horas da manhã lá no sítio. Pedrinho foi ter com São Jorge, que estava longe dali dando ordens ao dragão. Era um dragão verde, escamudo, com dois tocos de asas nas costas. O gosto dele era enrolar a cauda como saca-rolha, com a ponta de flecha erguida para cima. Volta e meia punha de fora a língua cor de tomate, também com ponta de flecha.

Pedrinho explicou ao santo que iam continuar a viagem pelos domínios celestes, não só porque tinham vindo com esse fim como porque era indispensável descobrirem o paradeiro do Doutor Livingstone e salvarem o Burro Falante, que com certeza andava enroscado na cauda de algum cometa.

— Não sei se poderão salvar o Doutor Livingstone — observou São Jorge. — Se ele foi projetado da Lua pela força do tal pó maravilhoso, o mais certo é estar transformado em satélite da Lua.

— Já pensei nisso — tornou Pedrinho apreensivo. — Vovó diz que a força de atração dos astros puxa todos os corpos para o centro deles. Quando a gente joga para o ar uma laranja, a laranja sobe até certa altura e depois volta. Que é que a faz voltar? Justamente a força de atração que puxa todos os corpos para o centro deles. Enquanto a força que jogou a laranja é maior que a força de atração que puxa a laranja, a laranja sobe; quando a força de atração se torna maior, a laranja cai.

São Jorge admirou-se dos conhecimentos de mecânica daquele menino.

— O pó de pirlimpimpim que o Visconde cheirou — prosseguiu Pedrinho — era muito pouco, não dava nem para levá-lo até à Terra. E como ele não caiu de novo sobre a Lua e não podia ter chegado à Terra, o certo é estar parado na zona em que a força de atração da Terra empata com a força de atração da Lua — e nesse caso não sobe nem desce — fica toda vida girando em redor da Lua como um satélite. Acho que foi o que sucedeu — concluiu Pedrinho com a maior gravidade.

— Também acho — disse Emília.

Pedrinho riu-se com ar desdenhoso.

— A boba! “Também acho!...” Eu acho com base, mas que base tem você para achar?

— Eu acho com base no meu desejo de achar — respondeu Emília.

— Deseja, então, pestinha, que o Visconde fique toda vida como satélite da Lua?

— Desejo, sim. Ando me implicando com esse Doutor Livingstone. É sério demais. Não brinca. Não faz o que eu mando. Está mesmo bom para satélite da Lua. Quando voltarmos à Terra, vou pedir a Tia Nastácia para fazer um Visconde igualzinho ao antigo. Aquele é que era o bom — era o “legímaco”.

Emília não dizia “legítimo”, dizia “legímaco”. Pedrinho e Narizinho também andavam a implicar-se com o Doutor Livingstone, de modo que deram razão à boneca e resolveram deixá-lo como satélite da Lua. Mas o Burro Falante precisava ser salvo.

— Esse, sim — concordou Emília. — Temos de virar de cabo a rabo os mundos celestes até descobri-lo, porque Dona Benta ficará furiosa se o deixarmos enroscado nalguma cauda de cometa. Sabe, São Jorge, que ele é o único burro falante que existe na Terra?

— Burros falantes de dois pés — respondeu o santo — conheci numerosos em minha vida terrena, mas de quatro jamais ouvi falar de algum. Mas se esse precioso burro estiver enganchado num rabo de cometa, como vão fazer vocês para alcançar esse cometa?

Pedrinho embatucou. Não havia pensado naquilo. Mas Emília veio com uma daquelas idéias do tamanho de bondes.

— Nada mais fácil — disse ela. — Basta arranjarmos um cometa mais veloz que o do burro; montamos nele e o tocamos a chicote e espora atrás do cometa do burro.

— Isso é perigoso — declarou São Jorge. — Tudo no espaço está muito bem regulado. Cada astro segue o seu caminho certo, sempre na mesma velocidade. Se um deles se apressasse demais ou diminuísse a marcha, a “harmonia universal” estaria destruída.

— Para nós não há impossíveis — afirmou Pedrinho com orgulho. — Quem tem no bolso este pó mágico, zomba das leis da natureza. Sabe o que podemos fazer? Montar num cometa e esfregar no nariz dele um pouco de pirlimpimpim — e juro que ele alcança o outro num instantinho! Ah, São Jorge, o senhor não faz idéia do que é o pó de pirlimpimpim!...

O santo ficou atrapalhado. Realmente não conhecia o tal pó, mas o fato de o pirlimpimpim ter trazido aquelas crianças à Lua queria dizer que era na verdade o mais mágico de todos os pós existentes, e capaz de outras coisas assombrosas. Por isso não duvidou da possibilidade de caçarem um cometa montados em outro. Apenas insistiu num ponto: que se eles fizessem isso, o mais certo seria atrapalharem a “harmonia universal”, causando os mais sérios transtornos no universo.

— Admito a hipótese — respondeu Pedrinho com a importância dum Bonaparte diante das pirâmides — mas acha então que devemos perder o nosso Burro Falante? A tal “harmonia universal” que me perdoe. Entre ela e o nosso burro, não tenho o direito de escolher.

— Ela que se fomente! — interveio Emília.

São Jorge meditou uns instantes e depois disse:

— Bom, façam lá como quiserem, mas muito receio que por causa desse burro venha a estragar-se o maravilhoso equilíbrio celeste a que chamo “harmonia universal”, e existe desde os começos do mundo. Meu conselho é um só: prudência, prudência e mais prudência.

Pedrinho ficou um tanto abalado com aquelas altíssimas palavras, e Emília de novo meteu o bedelho.

— Senhor capadócio, para nós esse burro vale mais que todas as harmonias do mundo e se o universo ficar atrapalhado, pior para ele. Havemos de pegar o burro, haja o que houver.

São Jorge ainda lembrou uma coisa. Lembrou que como o espaço é infinito, e os cometas não são inúmeros, ninguém vai pegando um cometa com a facilidade com que se pega um animal no pasto.

A discussão estava se prolongando. Por fim Narizinho veio com uma proposta que foi aceita.

— Sabem do que mais? — disse ela. — O verdadeiro é deixarmos isso para depois. Se em nossa viagem pelo espaço encontrarmos algum cometa que sirva, então pularemos nele e sairemos em procura do burro. Se não encontrarmos cometa nenhum, daremos outro jeito qualquer. Agora estou com vontade de ir ao planeta Marte, para ver se realmente existem aqueles canais de que os astrônomos tanto falam. Marte me parece um planeta muito simpático.

Todos aceitaram a idéia e imediatamente começaram os preparativos da viagem. Narizinho foi à cozinha da cratera despedir-se de Tia Nastácia. Encontrou-a de nariz muito comprido, fungando e resmungando enquanto fritava uns bolinhos para São Jorge. A pobre negra nem ânimo de falar tinha. Só suspirava — uns suspiros vindos lá do fundo das crateras de seu coração.

— Pois é, Tia Nastácia — foi dizendo a menina. — Vamos partir para o planeta Marte e você comporte-se, hein? Perigo não há nenhum. São Jorge já levou o dragão para longe daqui, de modo que nem os seus bufos você ouvirá. E não se esqueça de que a maior honra para uma cozinheira como você é ficar fazendo bolinhos para um santo de tanta importância.

— Eu sei, eu sei — soluçou Tia Nastácia. — Vou fazer tudo direitinho. Mas ninguém pode governar o coração — e o meu coração está que é uma pontada atrás da outra. Vai demorar muito essa viagem?

— Não — respondeu a menina. — Vamos apenas dar um pulo até Marte e outros planetas. Quero muito conhecer os anéis de Saturno.

Tia Nastácia benzeu-se.

— Pois até anel esse diabo tem? É algum dragão?

Narizinho, com preguiça de explicar à pobre negra o que era, prometeu contar tudo na volta.

— E agora, adeus! Se você fizer cara triste, isso até ofende ao santo. Mostre-se alegre e de boa vontade. Não desmoralize o Sítio do Pica-Pau Amarelo...

Tia Nastácia arrancou um profundo suspiro; prometeu que sim e voltou à frigideira enquanto a menina saía correndo, leve como pluma, ao encontro dos outros.

— Tudo pronto? — perguntou.

— Sim — respondeu Pedrinho. — Já dividi o pó em pitadas. Tome a sua — e deu-lhe uma pitadinha de pirlimpimpim, dizendo: — Temos todos de aspirá-lo ao mesmo tempo, quando eu disser três. Vamos agora nos despedir de São Jorge.

As despedidas foram quase comoventes. Emília chegou a armar cara de choro, e ao beijar a mão do santo prometeu trazer-lhe um presente lá das regiões estelares.

— Que poderá ser? — indagou São Jorge.

— Um fio da Cabeleira de Berenice serve?

São Jorge, comovido, deu-lhe um beijo na testa. Terminados os adeuses, Pedrinho começou a contar:

— Um... dois... e três! ...

O fiunnn foi agudíssimo — e lá se sumiram todos na imensidão do espaço.
____________
Continua … XII – O Planeta Marte
–––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 278)


Uma Trova Nacional

A paz se faz com amor
e o que mais nos desafia
não é plantar uma flor,
mas regá-la todo dia!
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Uma Trova Potiguar

Eu me curvo ante os conselhos
que recebo todo dia,
quando dobro os meus joelhos
aos pés das Virgem Maria!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema - MADRUGADA - Venc.

Em teus traços eu diviso
a natureza espelhada:
a alvorada em teu sorriso,
e em teus olhos... Madrugada!
–ARLINDO TADEU HAGEN/MG–

Uma Trova de Ademar

A distância nos redime,
nos encanta e não revolta;
ir pra longe é tão sublime
como sublime é a volta!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Que me importa a despedida
dos meus dias mais risonhos.
Eu sinto a aurora da vida,
no que resta dos meus sonhos.
–ADELIR MACHADO/RJ–

Simplesmente Poesia

POR SOBRE AS NUVENS.
–Eduardo Toledo/MG–

Por sobre as nuvens, meu sonho
vai dedilhando, disperso,
as ilusões que componho
na pauta azul do universo.

Por sobre as nuvens me ponho,
preso às estrelas, imerso,
como se fosse um risonho
canteiro cheio de versos.

Por sobre as nuvens, são tantos
devaneios e acalentos,
que o céu parece um coreto

de estrelas doidas, vadias,
declamando poesias
sob as nuvens de um soneto!!!

Estrofe do Dia


Para ser bom Trovador,
inteligência não basta,
que a cabeça se desgasta
e o Q.I. perde o valor!
É preciso estar marcado
com aquele dom sagrado
que em seu coração virá!
Sim, o estudo e a inteligência,
dão-lhe conceitos, fluência,
mas alma à Trova... quem dá?!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Soneto do Dia

SOLIDÃO COMPANHEIRA.
–Alba Christina/SP–

A solidão chegou, sem companhia,
e eu, que já andava triste, e sem motivo,
me enamorei da sua voz macia
que dissolveu as ânsias em que vivo.

Por um momento apenas, a alegria
pareceu se afundar no mesmo crivo
onde a velha e constante nostalgia
tomou lugar da paz da qual me privo.

Num contrastante estilo malfadado,
eu comecei até a enxergar beleza,
onde, de um modo simples e estudado,

a solidão me diz, que com certeza
existe sempre um sol desgovernado
pairando sobre as nuvens da tristeza…

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://minhaconstelacao.blogspot.com/2011/04/aprendendo-regar.html

domingo, 31 de julho de 2011

Retorno das Postagens


VOLTEI!!!

As postagens começarão a se normalizar, com novidades, novos colaboradores assim como velhos colaboradores, Concursos da UBT São Paulo, onde tive o prazer de estar presente e acompanhar a solenidade de entrega de prêmios, a homenagem ao grande Trovador Ademar Macedo (do RN), aquele das mensagens poéticas, uma grande realização da UBT SP sob a batuta de Selma Spinelli, Domitila Beltrame, J B Xavier, Therezinha Brisolla, e outros trovadores de São Paulo. Lançamento de livros, contos, muita poesia, muitas trovas.

José Feldman

Fonte da Imagem:
http://www.senado.gov.br/portaldoservidor/jornal/jornal121/qualidade_vida_paz.aspx

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 277)


Uma Trova Nacional

Na estação do meu anseio,
nos perdemos de nós dois...
-Não foi o trem que não veio:
fui eu que cheguei depois...!
–PEDRO MELO/SP–

Uma Trova Potiguar

A bíblia é minha passagem,
meu porto, minha estação
e o norte em minha viagem
em busca da salvação.
–TARCÍSIO FERNANDES/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Nova Friburgo/RJ
Tema - ESCOLHA - M/H

Estou só... Mas sou feliz;
vou vivendo mesmo assim:
por escolhas que não fiz,
mas a vida fez por mim!
–SELMA PATTI SPINELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

Aos Meus Irmãos Trovadores
e a Selma Patti, Saúdo...
Nestes versos, meus louvores:
Muito Obrigado por Tudo!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Veja, amada companheira,
este quadro, que beleza.
Temos a família inteira
ao redor de nossa mesa.
–ALYDIO C. SILVA/MG–

Simplesmente Poesia

ÓRION.
–Edla Feitosa/PE–

Não está escuro !
Existe um jogo de luz e sombra
E um certo silêncio.
Órion muda de lugar
E me confunde ....
Um cão ladra ao longe
Um gato ágil escala telhados
A taça enche e esvazia
Como a maré que sussurra ao longe.
As nuvens cobrem as estrelas ....
E dói a solidão.

Estrofe do Dia

Roberto é rei da canção
do barro, foi Vitalino,
do cangaço, é Virgulino
o famoso lampião,
Gonzaga, rei do baião
Brasil foi rei do café,
do futebol foi Pelé,
pinto foi rei do repente,
existe um rei entre a gente:
PATATIVA DO ASSARÉ.
–Oliveira de Panelas/PE–

Soneto do Dia

AUSÊNCIA.
–Thalma Tavares/SP–

O teu jardim ainda está florido,
mas não refletem vida as suas flores.
Há um pálido lírio emurchecido
e a velha fonte já não tem rumores...

Há pela casa um pranto mal contido
gritando a tua falta em seus labores.
No quarto o teu retrato colorido
por tua culpa vai perdendo as cores.

No leito que era nosso, em desalinho,
reclamam, como eu, por teu carinho
as fronhas e os lençóis que perfumaste.

E este poema que a compor me atrevo,
no vazio da noite em que te escrevo,
é filho da saudade que deixaste.

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://reikiana.blogs.sapo.pt/arquivo/362362.html

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 276)


Uma Trova Nacional

Brigamos, mas a tormenta
em instantes se desfaz;
um grande amor sempre inventa
um arco-íris de paz!...
–DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP–

Uma Trova Potiguar

A seca nos causa pena,
mas nosso povo se veste
desta saúde morena,
tingida ao sol do nordeste
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada


2005 - Nova Friburgo/RJ
Tema: MOTIVO - M/E

Quando a inspiração vagueia
à procura de um motivo,
o meu passado passeia
em cada verso que eu vivo!
–SELMA PATTY SPNILELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

Sedento dos teus abraços
num desejo que é só nosso,
quero correr pra os teus braços
mas de muletas... Não posso!...
–ADEMAR MACEDO/RN–(PARA MINHA ESTRELA DALVA!)

...E Suas Trovas Ficaram

A chuva que cai serena
quando a seca surge agreste,
faz a ponte de safena
no coração do nordeste.
–HILDEMAR DE ARAÚJO/BA–

Simplesmente Poesia

–SERGIO AUGUSTO SEVERO/RN–
Xaxado

De "Apragatas de Rabicho",
chapéu de Couro e Gibão,
os "Cabras de Lampião",
vão xaxando, "no capricho"!

"Matanto o Bicho", a Cachaça
"Papo-Amarelo" na mão,
e cortando a escuridão,
os lampeões, lá da Praça.

Pé à frente, deslizando,
num vai e vem levantando
a poeira, sem ter medo...

numa Dança, sem Parceira,
vai xaxando a Tropa inteira,
no Nordestino Folguedo !

Estrofe do Dia

Fica triste o cantar dos sabiás,
se a graúna, cantar, canta de dor;
fica mudo o concriz e o beija-flor
de tristeza e de dor não voa mais;
se esta morte abalou os animais
imaginem a dor do seu irmão
ao ensaiar na viola uma canção
que ele fez para o mano Vitorino;
quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
(ADEMAR MACEDO/RN)
(homenagem Póstuma ao Poeta Diniz Vitorino)


Soneto do Dia

–PEDRO ORNELLAS/SP–
Refúgio

Todo poeta tem, por ser poeta,
um mundo à parte, pleno de magia!
Só ele sabe a porta, que é secreta,
fronteira entre o real e a fantasia.

Ali depõe a mágoa que o alfineta,
se o mundo o fere, ali se refugia...
É ali que encontra a paz e se completa
quando conversa, a sós, com a poesia.

Nesse lugar que a mente humana cria
o Amor é a lei, o bem a ordem-do-dia,
o idioma é a Paz e quem governa é a Arte!

Não é um lugar nas dimensões terrenas,
mas um estágio ao qual se eleva apenas
quem da Poesia faz seu mundo à parte!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://gifsj.blogspot.com/2011/01/gifs-arco-iris.html

terça-feira, 19 de julho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 275)



Uma Trova Nacional

Ao vê-la, sente que a odeia,
fica tenso e encolhe a pança...
todo dia a briga é feia
entre um gordo... e uma balança!
–TEREZINHA BRISOLLA/SP–

Uma Trova Potiguar

Eu choro igual Madalena,
pra não perder uma farra.
Mas, pra missa ou pra novena,
eu só vou, se for na marra!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

2003 - Belém/PA
Tema: CORETO - M/E


No coreto, atrapalhado,
o maestro me dá dó:
prometeu tocar dobrado
mas tocou uma vez só...
–MARINA BRUNA/SP–

Uma Trova de Ademar

Pelas “coisas” que fazia,
vive o malandro enjaulado;
usando de noite a dia
o seu “pijama listrado”.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


A solteirona infeliz
viu sua casa assaltada,
ladrão levou o que quis:
menos a pobre coitada.
–GRAZIELA LYDIA MONTEIRO/MG–

Simplesmente Poesia


MOTE:
“Veado” talvez não seja,
mas trejeitos ele tem.

GLOSA:
Em qualquer canto que esteja
quer sentado, quer de pé,
parece mais que é mulher,
“veado”, talvez não seja.
Toda mão que aperta beija,
chama todos de meu bem,
casar, não quer com ninguém
e só fala afeminado;
pode até não ser veado,
mas trejeitos ele tem.
–LUIZ XAVIER/RN–

Estrofe do Dia


Lá em casa a crise é tanta
que eu nem sei como resisto,
a roupa que estou usando
é minha e do Evaristo,
quando em não visto, ele veste;
quando ele não veste, eu visto.
AFONSO PEQUENO/PE–

Soneto do Dia


–LUIZ LEITÃO/PE–
Na Loja

Seguida da vovó, meiga e bonita,
ela entrou numa loja, no armarinho...
– Tem fita de cetim azul-marinho?
Qual o preço? –perguntou ela, catita.

Um beijo cada metro, senhorita!
Respondeu-lhe o caixeiro com carinho.
– É muito caro, mas, enfim, mocinho,
corte-me doze metros desta fita!

Já se sabe: o caixeiro como um raio,
cortava a fita quase num desmaio
sem ter sequer da tesourinha dó.

– Pronto, formosa! O pagamento agora...
E a moça lhe responde sem demora:
– Adeus! Quem paga as compras é a vovó...

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Cesário Verde (Caravelas da Poesia)



EU E ELA

Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavalheiro de Flaublas...

ARROJOS

Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.

Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos "mignonnes" e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.

Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.

Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.

Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.

Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.

Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.

E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.

Cesário Verde
Lisboa, Diário de Notícias, 22 de Março de 1874

O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL

I

Avé-Maria

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinir de louças e talheres
Flamejam, ao jantar alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!

II

Noite Fechada

Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças,
Bem raramente encerra uma mulher de <>!

E eu desconfio, até, de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.

A espaços, iluminam-se os andares,
E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.

Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.

Na parte que abateu no terremoto,
Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
E os sinos dum tanger monástico e devoto.

Mas, num recinto público e vulgar,
Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar!

E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,
Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se um palácio em face de um casebre.

Partem patrulhas de cavalaria
Dos arcos dos quartéis que foram já conventos:
Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se por toda a capital, que esfria.

Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.

E mais: as costureiras, as floristas
Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas.

E eu, de luneta de uma lente só,
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro na brasserie; às mesas de emigrados,
Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.

III

Ao gás

E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arripia os ombros quase nus.

Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.

As burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de histerismo.

Num cutileiro, de avental, ao torno,
Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,
Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.

E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem;
Casas de confecções e modas resplandecem;
Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.

Longas descidas! Não poder pintar
Com versos magistrais, salubres e sinceros,
A esguia difusão dos vossos reverberos,
E a vossa palidez romântica e lunar!

Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.

E aquela velha, de bandós! Por vezes,
A sua trai^ne imita um leque antigo, aberto,
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.

Desdobram-se tecidos estrangeiros;
Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.

Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.

E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!

IV

Horas mortas

O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.

Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!

Ó nossos filhoes! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.

Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!

Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.

E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Manias!

O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada, --
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.

Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

LÚBRICA

Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!

EU, QUE SOU FEIO...

Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa dum café devasso.
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura.
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorreste um miserável,
Eu que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez não o suspeites!-
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.

Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça.
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.

Adorável! Tu muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.

CONTRARIEDADES

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
Ea mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulaçãao repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague",
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
--

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN

Cesário Verde (1855 - 1886)



José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as actividades de comerciante herdadas do pai.

Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas, Nós (1884).

Tenta curar-se da tuberculose, mas sem sucesso, vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da sua poesia publicada em 1901.

No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, que são os seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural.

A DICOTOMIA CIDADE/CAMPO

A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência. Ao contrário de outros poetas anteriores, o campo não tem um aspecto idílico, paradisíaco, bucólico, susceptível de devaneio poético, mas sim um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade. O campo é um espaço de vitalidade, alegria, beleza, vida saudável… Na cidade, o ambiente físico, cheio de contrastes, apresenta ruas macadamizadas/esburacadas, casas apalaçadas (habitadas pelos burgueses e pelos ociosos)/quintalórios velhos, edifícios cinzentos e sujos… O ambiente humano é caracterizado pelos calceteiros, cuja coluna nunca se endireita, pelos padeiros cobertos de farinha, pelas vendedeiras enfezadas, pelas engomadeiras tísicas, pelas burguesinhas… É neste sentido que podemos reconhecer a capacidade de Cesário Verde em trazer para a poesia o real quotidiano do homem citadino.

Ao ler-se o poema "De Tarde", pertencente a "Em Petiz", é visível o tom irónico em relação aos citadinos, mas onde o tom eufórico também sobressai, ao percorrer os lugares campestres ao lado da sua "companheira". A preferência do poeta pelo campo está expressa nos poemas "De Verão" e "Nós" (o mais longo), onde desaparecem a aspereza e a doença ligadas à vida citadina e surge o elogio ao ambiente campesino. A arte de Cesário Verde é, pois, reveladora de uma preocupação social e intervém criticamente. O campo oferece ao poeta uma lição de vida multifacetada (por exemplo, os camponeses são retratados no seu trabalho diário) que ele transmite com objectividade e realismo. Trata-se, pois, de uma visão concreta do campo e não da abstracção da Natureza.

A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, sendo nela que Cesário encontra os seus temas. É por isto que, habitualmente, se associa o poeta ao mito de Anteu.

A mulher em Cesário Verde

Deambulando pelos dois espaços, depara com dois tipos de mulher, que estão articulados com os locais. A cidade maldita surge associada à mulher fatal, frívola, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos. Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino, por exemplo em "A Débil", que é o oposto complementar das esplêndidas aristocráticas, presentes em poemas como "Deslumbramentos" e "Vaidosa". Essa mulher é frágil, terna, ingénua e despretensiosa.

Outra perspectiva nos é mostrada da mulher (desfavorecida) no campo . A vendedora em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo no campo. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objecto da admiração de Cesário.

"Depois de referir o cenário geral da acção em "Num Bairro Moderno", os olhos do sujeito poético retêm, como uma objectiva, um elemento novo - a vendedeira. A sua caracterização é de uma duplicidade contrastante: ela é pobre, anémica, feia, veste mal e tem de trabalhar para sobreviver, mas aparece envolvida numa força quase épica, de "peito erguido" e "pulsos nas ilhargas", encarnando, pela sua castidade, a força genuína do povo trabalhador, que Cesário tão bem defende."

A poética de Cesário e as escolas literárias

Podemos afirmar a sua aproximação a várias estéticas, embora seja visível a proximidade com Baudelaire, por retratar realidades cotidianas, o que o aproxima dos poetas portugueses do século XX e o fez incompreendido em seu tempo.

Embora Cesário Verde não pudesse ser enquadrado em nenhuma das escolas poéticas dos países de língua portuguesa da época podemos dizer que ele não poderia não estar relacionado às estéticas do seu tempo de alguma forma. Se se tiver em conta o interesse pela captação do real, por exemplo, ao considerarmos o tipo de cena a serem retratadas pelas quais o poeta optou, seus quadros e figuras citadinos, concretos, plásticos e coloridos, é fácil detectar aqui a afinidade ao Realismo. A ligação aos ideais do Naturalismo verifica-se na medida em que o meio surge determinante dos comportamentos. Se considerarmos o fato do poeta figurar plasticamente uma cena, poderia aproximá-lo, inclusive, do Parnasianismo. Porém, sua obra ainda tem um certo sentimentalismo que remete ao Romantismo e as imagens retratadas, muitas vezes de personagens doentes ou pobres, jamais poderiam ser retratadas por um parnasiano.

Aproxima-se dos impressionistas que captam a realidade mas que a retratam já filtrada pelas percepções, o que, definitivamente, o inscreve no quadro dos poetas fundadores da modernidade. Ecos de sua obra podem ser vistos nos poemas de Fernando Pessoa, parecendo Cesário Verde o predecessor do heterônimo Álvaro de Campos de Opiário e sendo citado várias vezes por Alberto Caeiro.

Importância da representação do cotidiano na poesia de Cesário Verde

A observação das situações do quotidiano é o ponto de partida preferencial para os poemas de Cesário Verde. É o mundo real, rotineiro, que é retratado e analisado, servindo de suporte às ideias e sentimentos do poeta.

Os sujeitos poéticos criados por Cesário Verde são atentos ao que se passa. Aquilo que para outro transeunte seria uma banalidade é, na perspectiva do poeta, parte de um quadro do real. Veja-se que antes de se focar numa situação particular, que prenda a atenção, o poeta dá-nos uma visão geral do ambiente: "Dez horas da manhã, os transparentes/Matizam uma casa apalaçada(…)E fere a vista, com brancuras quentes, a larga rua macadamizada" (em "Num bairro moderno"). Mas, apesar de existirem situações particulares, estas poderiam ser integradas no movimento quotidiano de uma rua de uma cidade onde "(…) rota, pequenina azafamada,/Notei de costas uma rapariga" (em "Num bairro moderno"), mas que para o sujeito poético tomam uma nova dimensão. Um processo análogo pode verificar-se em "Cristalizações", onde as primeiras estrofes constituem uma visão panorâmica, para se focar mais à frente nos "calceteiros" ou na "actrizita".

É essencialmente destacado o quotidiano urbano, onde o sujeito poético deambula, sendo o poema "O sentimento de um ocidental" aquele em que é mais clara a descrição do dia-a-dia como ponto de partida para a revolta contra a vivência desumana da cidade. Aliás, Cesário Verde está longe de se deixar na passividade da observação casual, e repara naquilo, que tendo-se tornado parte de cada dia, é um factor de animalização e doença. Outras vezes, partindo da realidade, transfigura-a, num impulso salutar, em que tudo parece tomar formas orgânicas e vivas em oposição ao emparedamento das ruas da cidade: "Se eu transformasse os simples vegetais, num ser humano que se mova e exista/Cheio de belas proporções carnais?!".
Linguagem e estilo

Eis algumas das características estilísticas e linguísticas: vocabulário objectivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo (daí poeta-pintor-calceteiro-condutor de metro); pormenor descritivo; mistura o físico e o moral; combina sensações; usa sinestesias, metáforas, comparações, hipálage; emprega dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo; quadras, em versos decassilábicos ou versos alexandrinos.

Fonte:
Wikipedia

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 274)



Uma Trova Nacional

Somente a força divina
promove graças tamanhas:
– o sol remove a neblina...
– a fé remove montanhas...
–ERCY MARIA MARQUES/SP–

Uma Trova Potiguar

Mar adentro, mundo afora,
a distância aumenta mais...
e enquanto a saudade chora,
“um lenço acena no cais”.
–MARA MELINNI/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Ribeirão Preto/SP
Tema : INCLUSÃO - 5º Lugar

Meu Deus, que eu não seja omissa
na luta pela inclusão,
pois quem clama por justiça
é Teu filho...e é meu irmão.
–THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA/SP–

Uma Trova de Ademar

Após causar desencantos
e nos fazer peregrinos,
a seca faz chover prantos
nos olhos dos nordestinos...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

A igreja, as flores e o eleito,
ela de branco e eu tristonho;
foi o cenário perfeito
para o enterro de meu sonho.
–ALONSO ROCHA/PA–

Simplesmente Poesia

–JOMACI DANTAS/PB–
Meu Filho

Vem meu filho, meu amigo
para se banhar na fonte,
depois viajar comigo
nas linhas do horizonte;
vem meu filho ouvir meu verso
que fiz no lindo universo
com inspiração, porque...
Em cada estrofe que faço
sinto por dentro um pedaço
da grandeza de você!...

Vem meu filho, eu quero dar-te
e dizer com fé imensa,
Deus está em toda parte
eu sinto a sua presença,
o sol que revela o brilho
é com certeza, meu filho
o santo olho de Deus;
que em sua plenitude
vem clarear de virtude
os ensinamentos seus.

Estrofe do Dia

Não é para cantador
que se diz bom repentista,
fica para cordelista
que também tem seu valor;
o bom improvisador
não bota papel na mão,
pois da sua inspiração
nasce um verso sem defeito
o verso quando é bem feito
passa pelo coração.
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Soneto do Dia

–DIVENEI BOSELI/SP–
Caminho Amargo

Há tons de dor no por do sol tristonho
(se é que a dor tem, por acaso, cor);
é hora de eu voltar pelo enfadonho
caminho sempre amargo, aonde eu for...

Todos os dias trilho-o com a dor,
e, ao regressar, à dor já não me oponho,
pois trago o pão de cada dia e o amor
por quem, no amanhecer, levo em meu sonho...

Réstias de sol me banham quando venho
ao romper da alva o pão buscar, garrida,
por bem dos “anjos” que em casa deixei.

Ao regressar, o olhar sempre detenho
no ocaso (que reflete a minha vida)
e... ái, que saudade atroz de quando amei...

Fontes:
Textos enviados pelo autor