segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Recordando Velhas Canções (Nós queremos uma valsa)


(valsa/carnaval, 1941) 

Compositores: Eratóstenes Frazão e Antônio Nássara 

Antigamente, uma valsa de roda
Era de fato, o requinte da moda
Já não se dança uma valsa, hoje em dia
Com o mesmo gosto e com tanta alegria!

Mas se a valsa morrer,
Que saudade a gente vai ter,
Mas... se valsa morrer,
Que saudade que a gente vai ter!

Nós queremos uma valsa
Uma valsa para dançar.
Uma valsa que fale de amores,
Como aquela dos patinadores...

Vem, meu amor,
Vem, meu amor
Num passinho de valsa,
Que vem e que vai,
Mamãe quer dançar com papai!

A Nostalgia da Valsa: Um Clamor por Tempos Passados
A música 'Nós Queremos Uma Valsa' é uma ode nostálgica aos tempos em que a valsa era uma dança popular e apreciada. A letra começa refletindo sobre como, antigamente, a valsa de roda era o auge da moda e trazia muita alegria e prazer aos que a dançavam. No entanto, o cantor lamenta que, nos dias atuais, a valsa não é mais dançada com o mesmo entusiasmo e alegria, sugerindo uma perda cultural e emocional significativa.

A repetição da frase 'Mas se a valsa morrer, que saudade, que a gente vai ter' reforça a ideia de que a valsa não é apenas uma dança, mas um símbolo de tempos mais simples e felizes. A saudade mencionada é um sentimento profundo de perda e desejo de reviver esses momentos. A música expressa um desejo coletivo de resgatar essa tradição, de trazer de volta a valsa que falava de amores e que unia as pessoas em um movimento harmonioso e romântico.

No refrão, o pedido por uma valsa que fale de amores, como a dos patinadores, evoca imagens de elegância e romance. A valsa é vista como uma dança que não apenas entretém, mas também conecta emocionalmente as pessoas. A última estrofe, onde se menciona 'Mamãe, quer dançar com papai', traz um toque de ternura e familiaridade, sugerindo que a valsa também tem um papel importante na união familiar e na expressão de afeto entre os entes queridos.

Frazão propôs e Nássara aceitou fazerem os dois uma valsa para o carnaval. Assim nasceu "Nós Queremos Uma Valsa", novidade que agradou plenamente aos foliões de 1941. Na realidade, agradou mais ainda ao jornalista Morais Cardoso, o Rei Momo do Rio na ocasião. Além de muito gordo, como todo Rei Momo, Morais tinha problemas de saúde e vivia com os pés inchados. Para ele era um suplício cumprir as obrigações de rei do carnaval, que incluíam uns passos de samba ou de marcha nas dezenas de bailes a que tinha de comparecer.

Então, ao tomar conhecimento da valsa, adotou-a imediatamente como sua música oficial, que passou a ser executada nos lugares aonde ele ia. Naturalmente, tal resolução amenizou sua tarefa coreográfica, reduzindo-a a suaves passinhos de valsa. "O Morais nunca teve um carnaval tão tranquilo", relembrava Nássara.

Lançada por Carlos Galhardo, "Nós Queremos Uma Valsa" tem melodia calcada na "Valsa dos Patinadores" (de Emil Waldteufel), enquanto a letra evoca os velhos tempos, quando "uma valsa de roda era o requinte da moda". Para caracterizar o clima carnavalesco, a introdução reproduz um tradicional toque de clarim.

Fontes:
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997

domingo, 15 de setembro de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 56

 

Lucília Alzira Trindade Decarli (Trovas em preto e branco)


1
Antes que a vida se acabe,
não seja vão o viver
e aquilo que não se sabe,
que se comece a aprender.
2
Da sua casa ao cartório
apenas um quarteirão...
Dada a preguiça, o casório
se fez por procuração.
3
Desde os tempos mais pagãos,
mulher, revelas quem és...
O mundo sempre nas mãos
e sempre um homem... aos pés!
4
Esta paixão, minha e tua,
transcende em cada arrebol…
Se é noite, ao clarão da lua,
e se é dia, à luz do sol!
5
Levo pela vida afora
este dilema sem fim:
o "sim" que eu neguei outrora
fez mal ou bem para mim?!…
6
Não conhece despedidas,
nem discórdias, nosso teto:
- é que ligam nossas vidas
os laços fortes do afeto!
7
Não sei se todos ponderam
a troca que o livro traz:
- grandes homens o fizeram,
grandes homens ele faz!
8
Nau partindo – céu aberto,–
nas verdes águas do mar;
navega com rumo certo
na incerteza de chegar!…
9
O destino, em nossas vidas
trouxe o reencontro, depois
das distâncias percorridas
nos caminhos de nós dois.
10
Para enxergar a cobiça
e amparar prejudicados,
não deveria, a Justiça,
manter seus olhos vendados!
11
Quando fingir é preciso,
seriamente eu me concentro:
– Levo na face um sorriso,
enquanto eu choro por dentro.
12
Quem julga o seu semelhante
carrega pedras na mão
e o que odeia a todo instante,
as guarda em seu coração!

As Trovas de Lucília em Preto & Branco
por José Feldman

SIGNIFICADO DAS TROVAS; TEMÁTICA E RELAÇÃO COM LITERATOS ARCAICOS E CONTEMPORÂNEOS

1. Reflexão sobre a vida e a importância do aprendizado.
“Antes que a vida se acabe”
A urgência de viver plenamente e a necessidade de buscar conhecimento antes que seja tarde. A ideia de que o aprendizado é uma parte essencial da existência é central.

As poesias de Cecília Meireles frequentemente exploram a efemeridade da vida e a busca pelo conhecimento. Adélia Prado, aborda a importância da experiência de vida e do aprendizado em suas poesias.

2. Preguiça e compromisso. 
“Da sua casa ao cartório”
A ironia do casamento por procuração sugere uma falta de envolvimento emocional. Critica a superficialidade nas relações, onde a comodidade pode prevalecer sobre o verdadeiro compromisso.

Machado de Assis, em suas crônicas, critica a superficialidade nas relações sociais. Marcelino Freire explora a vida cotidiana e suas nuances, refletindo sobre relacionamentos.

3. Papel da mulher na sociedade. 
“Desde os tempos mais pagãos”
A representação da mulher como figura forte, mas ainda assim subjugada. Reflete sobre a desigualdade de gênero através dos tempos, evidenciando a luta pela autonomia feminina.

Florence Nightingale (1890 – 1910), embora não seja poeta, sua influência social é notável, lutou pelos direitos das mulheres na sociedade. Atualmente, as poesias de Tatiana Nascimento abordam a força e a luta das mulheres na sociedade moderna.

4. Amor e sua transcendência. 
“Esta paixão, minha e tua”
O amor é descrito como uma força que se manifesta nas mudanças do dia e da noite, mostrando sua onipresença e a beleza dos sentimentos nas diversas formas de natureza.

Em Vinicius de Moraes, o amor é tema central em sua obra, explorando suas várias facetas. Lígia Fascetti, explora o amor de maneira intensa e poética, refletindo sua profundidade.

5. Dilemas emocionais e arrependimentos. 
“Levo pela vida afora”
O questionamento sobre as escolhas passadas e suas consequências. Reflete a ambiguidade do "sim" e do "não", e como essas decisões moldam nossa vida.

Alfonsina Storni (poetisa argentina, 1892 – 1938) aprofunda-se em questões de amor e arrependimentos em suas obras. Hilda Hilst aborda as complexidades das emoções humanas, incluindo arrependimentos.

6. Laços afetivos. 
“Não conhece despedidas”
A celebração do amor que une as pessoas, sugerindo que o afeto verdadeiro supera desentendimentos e separações. O lar é apresentado como um espaço seguro.

Carlos Drummond de Andrade aprecia o valor das relações humanas e afetos em sua poesia. Martha Medeiros, foca nas relações pessoais e na importância dos laços afetivos em suas crônicas.

7. O valor da literatura. 
“Não sei se todos ponderam”
A troca que o livro proporciona, enfatizando a importância da leitura na formação de grandes indivíduos. Sugere que a literatura molda a sociedade e a cultura.

Fernando Pessoa refletiu sobre a literatura e seu impacto na formação de identidades. Juliana Leite explora o poder transformador da literatura e da escrita em sua poesia.

8. Incertezas da vida. 
“Nau partindo – céu aberto”
A metáfora de uma nau navegando em meio ao desconhecido reflete a jornada da vida, que é marcada por incertezas e desafios, mas também pela esperança de um destino.

Em Fernando Pessoa,  a incerteza e a busca por sentido são temas recorrentes em sua obra. Assim como Rupi Kaur (poetisa canadense) foca nas incertezas e nas transições da vida moderna em seus poemas, usando uma linguagem simples e direta, visando atingir um público amplo e expressar emoções de forma imediata, assim como o poeta cearense Bráulio Bessa. 

9. Reencontro e conexões. 
“O destino, em nossas vidas”
A ideia de que o destino pode unir pessoas após longas distâncias. Destaca a importância das experiências vividas e como elas moldam os reencontros.

Cecília Meireles insere a ideia do reencontro em várias de suas obras. Márcio Aires aborda a conexão entre pessoas e a inevitabilidade dos reencontros.

10. Justiça e imparcialidade. 
“Para enxergar a cobiça”
Critica a figura tradicional da Justiça vendada, questionando a eficácia de uma justiça que não vê. Sugere que a verdadeira justiça deve ser mais atenta aos que necessitam.

Antônio Machado (poeta espanhol, 1875-1939) critica a injustiça social em seus poemas, refletindo sobre a condição humana. Adriana Falcão enfatiza a questão da justiça e seus desdobramentos na sociedade atual.

11. Máscaras sociais. 
“Quando fingir é preciso”
O contraste entre a aparência e a realidade emocional. Reflete sobre a necessidade de ocultar a dor por trás de um sorriso, uma experiência comum em muitas interações sociais.

Fiódor Dostoiévski (escritor e filósofo russo, 1821 – 1881), através de sua prosa analisa a dualidade entre aparência e realidade. Rupi Kaur aborda essa dualidade questionando a pressão para manter uma fachada positiva em meio ao sofrimento. Alice Ruiz, reflete sobre a autenticidade e a necessidade de usar máscaras na sociedade, utilizando versos livres e prosa poética, permitindo maior flexibilidade na expressão.

12. Preconceito e autocrítica. 
“Quem julga o seu semelhante”
A crítica ao julgamento alheio e a hipocrisia que muitas vezes acompanha esse comportamento. Sugere que quem julga carrega seu próprio peso emocional e precisa olhar para si mesmo.

Bertolt Brecht (poeta alemão, 1858 – 1956), critica a hipocrisia e o preconceito em suas obras. Lígia Araújo aborda o preconceito e a autocrítica em sua poesia, promovendo a reflexão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As trovas de Lucília se destacam como uma obra que, embora enraizada em temas clássicos, ressoa com as inquietações da poesia contemporânea. Em suas estrofes, Lucília aborda dilemas emocionais universais que permanecem relevantes na atualidade, como a busca por significado, a complexidade das relações humanas e a luta pela justiça e pela identidade. Faz uso de metáforas e imagens evocativas que capturam a essência dos sentimentos humanos, como a nau navegando em mares desconhecidos.

O convite ao aprendizado e à reflexão sobre as escolhas de vida, presente na primeira e na quinta trova, ecoa na obra de poetas contemporâneos que enfatizam a autodescoberta e a experiência. Esse tema é central em movimentos poéticos atuais que buscam um diálogo sincero entre o eu e o mundo.

A necessidade de esconder a dor sob uma aparência sorridente, explorada na décima primeira trova, reflete um dilema contemporâneo sobre a autenticidade nas interações sociais.

A representação da mulher e suas lutas, especialmente na terceira trova, dialoga com a crescente voz feminista na poesia contemporânea. Poetas como Tatiana Nascimento e Lígia Fascetti abordam questões de gênero e identidade, refletindo sobre a autonomia feminina e a resistência contra normas sociais opressivas.

As trovas que tratam dos laços afetivos e das complexidades das relações humanas, como na sexta e na nona, encontram paralelo em obras contemporâneas que exploram a fragilidade e a força das conexões interpessoais. A poesia atual muitas vezes celebra a intimidade, ao mesmo tempo em que reconhece suas dificuldades.

A crítica à imparcialidade da Justiça, presente na décima trova, é um tema que reverbera fortemente na poesia contemporânea, onde muitos poetas se tornam ativistas sociais, utilizando suas vozes para chamar atenção às injustiças e desigualdades.

A linguagem de Lucília se destaca pela sua musicalidade e clareza, enquanto muitos poetas contemporâneos buscam uma conexão mais direta e emocional com o leitor através de uma linguagem mais coloquial e livre. Ambas as abordagens, no entanto, compartilham o objetivo comum de explorar a condição humana e os dilemas emocionais, mostrando que, apesar das diferenças de estilo e forma, a essência da poesia permanece a mesma: a busca por compreensão e conexão.

Em suma, as Trovas de Lucília oferecem um rico panorama emocional que se harmoniza com as preocupações da poesia contemporânea. Ambas as esferas artísticas exploram a condição humana, as relações interpessoais e a luta por justiça e identidade, demonstrando que, apesar das mudanças sociais e culturais, os dilemas emocionais permanecem atemporais. Lucília, assim, não apenas dialoga com o passado, mas também se coloca de forma significativa nas conversas poéticas do presente, para que novas gerações possam refletir sobre suas próprias experiências e emoções.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Contos e Lendas da África (Angola) O Sogro e o Genro

Um belo dia, um sogro e um genro saíram de casa para um passeio.

Ao anoitecer, o sogro convidou o genro para dormir e disse:

— Esta escuridão parece as trevas da cegueira.

O genro ficou triste porque era cego de uma vista, mas nada respondeu.

Noutra ocasião, de noite, ficaram a conversar. O genro disse;

— O luar está tão brilhante como uma careca luzidia e far-nos-á mal se ficarmos cá fora,

O sogro entrou em casa sem se despedir e o genro também se retirou.

Ao fim de três dias, o sogro consultou seis pessoas de respeito acerca do insulto recebido. Elas mandaram chamar o genro e o sogro.

Na presença de todos, o velho descreveu circunstanciadamente o motivo que originou o conflito. Ao concluir, disse:

— Permito-lhe que continue com a minha filha, mas não o considero mais como amigo. Sei que sou calvo, mas por que é que ele me atirou à cara esse insulto? Portanto, recuso a sua amizade.

O genro, convidado a falar, expôs:

— Eu não teria dito isso se o meu sogro não me tivesse insultado primeiramente. Fi-lo só depois de ele ter feito alusão à cegueira, propositadamente para me magoar, porque ele sabe que eu sou cego de uma vista. Agora os senhores decidam.

Os velhos responderam:

— Realmente foste insultado e não fizeste mais do que retribuir a ofensa. Assim não há motivo de desavença entre sogro e genro. Voltai a ser amigos, esquecendo ressentimentos. Tu, sogro não tens outro filho senão o teu genro e se, como mais velho, foste indelicado, ele como mais novo, seguiu o mau exemplo recebido. Não vale a pena continuarem a discutir por uma coisa já sem importância.

E foram beber à saúde de ambos, que voltaram a ser amigos.

Fonte: José Viale Moutinho (seleção). Contos populares de Angola: folclore Quimbundo. SP: Aquariana, 2012.

Dicas de Escrita (Como escrever em primeira pessoa) – 2

texto por Stephanie Wong Ken

MÉTODO 2 = Usando a primeira pessoa para construir um personagem

1. Dê ao narrador uma voz distinta. 
Narradores em primeira pessoa geralmente têm uma maneira particular de enxergar o mundo, de acordo com o seu passado. Dê ao seu narrador em primeira pessoa uma voz que seja distinta e própria dele. Considere a idade do narrador, classe e história de vida. Use esses elementos para criar a voz em primeira pessoa.

Por exemplo, se o seu narrador é um adolescente que mora na periferia de São Paulo, é bem provável que ele use gírias específicas da região e algumas variações de palavras no português.

2. Filtre as ações da história através do narrador. 
O leitor deve ver o mundo através da perspectiva do narrador em primeira pessoa. Isso significa que é preciso descrever as cenas, outros personagens e os ambientes de acordo com o ponto de vista do narrador. Tente filtrar toda a ação da história através do narrador para que o leitor possa entender sua perspectiva.

Por exemplo, em vez de dizer “Não conseguia acreditar no que estava vendo. Uma aranha assassina desceu em minha direção e logo pensei ‘estou morto’”, se concentre em descrever a ação diretamente do ponto de vista do narrador. Você pode escrever “Eu não acreditava no que estava vendo. Uma aranha descendo em minha direção. Vou morrer”.

3. Use sempre o “eu” para manter o ritmo e a ação sempre seguindo em frente. 
Tente não deixar o narrador em primeira pessoa preso no passado ou em descrições longas, principalmente se estiver escrevendo no presente.

Mantenha o ritmo e a ação seguindo. Concentre-se em manter o narrador em ação a cada cena.

Por exemplo, em vez de escrever “Eu tentei falar com a Sara sobre como eu estava me sentindo, mas ela não queria ouvir o que eu tinha a dizer”, trabalhe as ações e os diálogos. Escreva “‘Sara, por que não quer falar comigo?’ Eu estava determinado a fazê-la ouvir o que eu tinha para dizer”.

4. Leia exemplos de narrativas em primeira pessoa. 
Para ter uma noção melhor da perspectiva em primeira pessoa, leia exemplos da literatura. Observe exemplos no passado e no presente para poder entender como eles são usados. Há diversos exemplos conhecidos de obras escritas em primeira pessoa, incluindo:

- O sol é para todos de Harper Lee;
- Moby Dick de Herman Melville;
- O grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald;
- Lucy de Jamaica Kincaid;
- "Atirando num elefante" um ensaio escrito por George Orwell;
- "A morte da mariposa" um ensaio escrito por Virginia Woolf.
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continua…
Fonte:

Recordando Velhas Canções (Ai, que saudades da Amélia)


(samba, 1942)
Compositor: Ataulfo Alves

Nunca vi fazer tanta exigência 
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai, meu Deus, que saudades da Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Mas quando me via contrariado
Dizia: meu filho, o que se há de fazer ?

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era a mulher de verdade

A Nostalgia de uma Mulher Idealizada em 'Ai, Que Saudades da Amélia'
A música 'Ai, Que Saudades da Amélia', composta por Ataulfo Alves e imortalizada na voz de Mário Lago, é um clássico do samba brasileiro que retrata a figura de uma mulher idealizada, Amélia, em contraste com as mulheres da época em que a canção foi lançada, na década de 1940. A letra expressa a nostalgia de um homem que se ressente das exigências de sua atual companheira, comparando-a com a submissão e simplicidade de Amélia, que ele considera o parâmetro de 'mulher de verdade'.

A canção utiliza a figura de Amélia como uma metáfora para discutir as mudanças nos papéis sociais das mulheres. Amélia é descrita como alguém que aceitava passar necessidades sem reclamar, valorizando a resignação e a falta de vaidade como virtudes femininas. A letra reflete um saudosismo de uma época em que as expectativas em relação às mulheres eram de total dedicação ao lar e ao parceiro, sem aspirações pessoais de luxo ou riqueza. A música, portanto, pode ser vista como um comentário sobre as tensões geradas pelas transformações nos costumes e na dinâmica de relacionamentos.

É importante notar que, apesar de 'Ai, Que Saudades da Amélia' ser frequentemente interpretada como uma ode à mulher tradicional, a canção também pode ser entendida como uma crítica à idealização da mulher e à desvalorização de suas aspirações e necessidades. A Amélia da música é um ideal inatingível e, possivelmente, uma crítica à expectativa irreal que a sociedade impõe sobre o comportamento feminino. A canção se tornou um marco na cultura brasileira, sendo regravada por diversos artistas e permanecendo relevante como um retrato de seu tempo e como ponto de reflexão sobre as relações de gênero.

"Ai Que Saudades da Amélia" tem três personagens: o protagonista, sua mulher e Amélia, a mulher que ele perdeu. O tema é um confronto dos defeitos da mulher atual com as qualidades da mulher anterior. A atual, a quem o protagonista se dirige, é exigente, egoísta, "Só pensa em luxo e riqueza", enquanto a anterior é um exemplo de virtude e resignação - "Amélia não tinha a menor vaidade, (...) achava bonito não ter o que comer... '. Em suma, a primeira é o presente, a realidade incontestável; a segunda é o passado, uma saudade idealizada na figura da mulher perfeita, pelos padrões da época.

Este primoroso poema popular, coloquial espontâneo, escrito por Mário Lago , recebeu de Ataulfo Alves uma de suas melhores melodias, que expressa musicalmente o espírito da letra. E o paradoxal é que não sendo carnavalesco, este samba fez estrondoso sucesso no carnaval.

Segundo Mário Lago, "Amélia nasceu de uma brincadeira de Almeidinha, irmão de Araci de Almeida, que sempre que se falava em mulher costumava brincar - 'Qual nada, Amélia é que era mulher de verdade. Lavava, passava, cozinhava..."'. Então, Mário achou que aquilo dava samba e fez a letra inicial de "Ai Que Saudades da Amélia". Brincadeiras à parte, a verdade é que a Amélia do Almeidinha existiu e, possivelmente, ainda vivia à época da canção. Era uma antiga lavadeira que serviu à sua família. Morava no subúrbio do Encantado (Zona Norte do Rio) e trabalhava para sustentar uma prole de nove ou dez crianças.

Com a letra pronta, Mário pediu a Ataulfo Alves para musica-la. O compositor executou a tarefa, mas alterou algumas palavras e aumentou o número de versos de doze para quatorze. "Isso é natural" - comentava Ataulfo, em depoimento para o MIS do Rio de Janeiro, em 17.11.65 -, "as composições dos parceiros que são letristas sofrem influência minha, que sou autor de letra e música. Mas o Mário não gostou. E não adiantou dizer que a música me obrigara a fazer as modificações". De qualquer maneira, como o samba estava bom, ficaram valendo as alterações.

Começou então a batalha da gravação. Ataulfo ofereceu "Amélia" em vão a vários cantores, inclusive a Orlando Silva. Como ninguém queria gravá-la, gravou-a ele mesmo na Odeon, no dia 27.11.41, acompanhado por um improvisado conjunto, batizado de Academia de Samba. Convidado na hora, Jacó do Bandolim participou dessa gravação, tocando cavaquinho, sendo sua a introdução.

Lançado no suplemento de janeiro de 1942, "Ai Que Saudades da Amélia" foi conquistando aos poucos a preferência do público, graças, principalmente, a uma intensa atuação de Ataulfo junto às rádios. Relembra Mário Lago que o locutor Júlio Louzada chegou a dedicar, na Rádio Educadora, uma tarde inteira de domingo a "Amélia", com entrevistas e o disco tocando dezenas de vezes. O resultado é que às vésperas do carnaval, quando houve o concurso para escolher o melhor samba, "Ai Que Saudades da Amélia" dividia o favoritismo com "Praça Onze", de Herivelto Martins e Grande Otelo. Realizado no estádio do Fluminense, este concurso reuniu uma enorme plateia que, de acordo com o regulamento, elegeria por aplauso os vencedores.

Precedendo "Amélia", apresentou-se "Praça Onze", valorizada por um verdadeiro show, preparado por Herivelto. Primeiro foram mostrados os instrumentos, explicando-se as funções de cada um; em seguida, vieram as passistas, um grupo sensacional de mulatas rebolando; e, finalmente, cantou-se o samba, que levou a platéia ao delírio, dando a impressão de que o certame já estava decidido. Acontece, porém, que "Amélia" também tinha seus trunfos. Tim e Carreiro, amigos de Mário e craques do time do Fluminense, que acabara de ganhar o bicampeonato carioca de futebol, haviam feito um excelente trabalho junto à torcida tricolor.

Para completar, no momento da apresentação, Mário Lago subiu ao palco e, num rasgo de eloquência e demagogia, fez um discurso emocionante, proclamando "Amélia" símbolo da mulher brasileira. Assim, quando Ataulfo e suas pastoras começaram a cantar o estádio veio abaixo, praticamente exigindo a vitória dos dois sambas. Sem a possibilidade de desempatar, o presidente do Fluminense, Marcos Carneiro de Mendonça - por coincidência, casado com uma "Amélia", a poeta Ana Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça - autorizou o pagamento em dobro do prêmio de campeão a "Ai Que Saudades da Amélia" e "Praça Onze", cada um recebendo como se tivesse ganho sozinho.
Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.

sábado, 14 de setembro de 2024

Varal de Trovas n. 611

 

Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho (Trovas em preto e branco)


1
Após a noite que embaça
a janela do viver,
ressurge a luz na vidraça
com um novo amanhecer.
2
Capiau faz dentadura
sem ter o dente frontal,
pois deste modo assegura
um sorriso natural.
3
Dia das Mães! Não se esqueça
dos presentes de ninguém:
por incrível que pareça,
sua sogra é mãe também!
4
Enquanto a gente descansa
na metade de um caminho,
um outro qualquer alcança
a outra metade sozinho.
5
Galopando sem receio
um indomável equino,
vou pela vida em rodeio
no cavalo do destino.
6
Há uma lição que sem cola
pelo estudante é sabida:
– na vida a melhor escola
é a grande escola da vida.
7
Mostra a vida, mostra a história,
que a prática da coerência,
determina a trajetória
de uma correta existência.
8
O amanhecer se vislumbra
quando o sol em sua ida,
se elevando da penumbra
irradia a luz da vida.
9
O migrante em sua andança
parte do amado rincão.
Leva consigo a esperança
mas deixa o seu coração.
10
Pela sua grande crença,
salvou-se, na Arca, Noé:
- não há dilúvio que vença
um homem cheio de fé!
11
Quando me sinto estressado,
fugindo da realidade,
vou do presente ao passado
pelo túnel da saudade.
12
Se alastrando lentamente
qual um glaucoma, o rancor,
impede os olhos da gente
de enxergar a luz do amor.

As Trovas de Dulcídio em Preto & Branco
por José Feldman

As "Trovas de Dulcídio" são uma bela coleção de versos que refletem temas como a vida, a esperança, e as relações humanas. Cada estrofe traz uma mensagem profunda e poética.

SIGNIFICADO DAS TROVAS; TEMÁTICA E RELAÇÃO COM LITERATOS DE DIVERSAS ÉPOCAS

1. Renascimento e Esperança
A imagem da luz que ressurgem após a noite simboliza renovação. A noite representa dificuldades ou desafios, enquanto o amanhecer sugere que sempre há uma nova oportunidade para recomeçar.

William Wordsworth, em poemas como "Daffodils", celebra a beleza da natureza e a esperança que ela traz, mostrando como momentos simples podem rejuvenescer o espírito.

2. Autenticidade e Simplicidade
A figura do capiau que faz dentadura sem o dente frontal reflete a beleza da imperfeição. Isso sugere que um sorriso genuíno, mesmo que não perfeito, é mais valioso e autêntico.

Em "Ode à Simplicidade", Pablo Neruda exalta a beleza nas coisas comuns, destacando a autenticidade que reside na vida cotidiana.

3. Dia das Mães
O tom humorístico destaca a importância de reconhecer todas as figuras maternas em nossas vidas. A sogra, muitas vezes vista com desconfiança, é lembrada como parte da família, enfatizando a necessidade de inclusão e amor.

Adélia Prado frequentemente explora a dinâmica familiar e as relações, revelando a complexidade e a profundidade do amor familiar.

4. Caminhos da Vida
A metáfora de um caminho dividido ilustra a singularidade de cada experiência de vida. Enquanto alguns descansam, outros avançam, ressaltando que cada um tem seu próprio ritmo e jornada.

Rainer Maria Rilke em "Cartas a um Jovem Poeta", discute a importância de seguir o próprio caminho, enfatizando a singularidade da experiência humana. Rafael Cortez aborda questões da vida moderna e as emoções que a cercam, refletindo sobre a condição humana de forma íntima. Marco Antônio Camelo aborda a vida a partir de suas experiências, refletindo sobre a passagem do tempo e as emoções que isso provoca.

5. Cavalo do Destino
A imagem do cavalo indomável simboliza a vida em sua essência selvagem e imprevisível. A ideia de "rodeio" sugere que, apesar dos desafios, devemos abraçar a jornada com coragem e determinação.

Fernando Pessoa, em "Mar Português", a aceitação do destino e a busca pela liberdade são temas centrais, refletindo a luta interna e a busca por significado.

6. Escola da Vida
Esta trova enfatiza que as lições mais valiosas vêm das vivências, não dos livros. A "grande escola da vida" é um convite a aprender com as experiências cotidianas.

Mário Quintana (frequentemente aborda a sabedoria que vem das experiências cotidianas, mostrando que a vida é a melhor professora.

7. Coerência e Existência
A coerência é apresentada como um guia moral. A trajetória de vida de alguém é moldada por suas ações e valores, indicando que viver com integridade é fundamental para uma vida plena.

Cecília Meireles, em seus poemas a busca pela verdade e a integridade moral são temas recorrentes, refletindo a importância de viver de acordo com os próprios valores.

8. Luz e Esperança
Este poema celebra a luz que vem com o amanhecer, simbolizando novas oportunidades e a beleza que surge após tempos difíceis. É uma reflexão sobre a importância da esperança.

Vinicius de Moraes no "Soneto de Separação", fala sobre a luz que traz esperança mesmo em momentos de tristeza, mostrando a dualidade da vida.

9. Migrante e Esperança
O migrante carrega consigo a esperança, mas também a dor da separação. Essa dualidade ilustra os desafios enfrentados por aqueles que buscam novas oportunidades, mas que deixam para trás o que amam.

Alfonsina Storni busca por um lugar no mundo e a nostalgia de laços perdidos, refletindo a experiência da mulher em um mundo em transformação.

10. Fé e Resiliência
A referência a Noé simboliza a força da fé em tempos de adversidade. A mensagem é que a fé pode ser uma âncora em meio a tempestades, permitindo que se supere as dificuldades.

Carlos Drummond de Andrade em poemas como "A Máquina do Mundo", aborda a condição humana e a necessidade de fé para enfrentar as incertezas da vida.

11. Nostalgia e Reflexão
A saudade é vista como um túnel que conecta passado e presente, permitindo ao eu lírico escapar do estresse da realidade. Refere-se ao poder das memórias e como elas nos confortam.

Em Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), a simplicidade e a reflexão sobre a natureza e o tempo trazem uma forte sensação de nostalgia em sua poesia. A obra de Marília Gabriela traz uma profunda reflexão sobre sentimentos e memórias, semelhante à nostalgia presente nas trovas de Dulcídio.

12. Emoções Conflitantes
O rancor é comparado a um glaucoma, que obscurece a visão do amor. Isso sugere que a raiva e o ressentimento podem nos impedir de enxergar a beleza e a luz que o amor oferece.

Sylvia Plath explora emoções profundas e conflitantes, especialmente o amor e a dor, revelando a complexidade da experiência humana. Ana Cristina César explora a complexidade das emoções humanas e a busca por identidade, semelhante à introspecção de Dulcídio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Trovas de Dulcídio dialogam com uma vasta tradição poética, refletindo temas universais que ressoam através dos tempos. A busca pela autenticidade, a reflexão sobre a vida, e a luta entre emoções opostas são comuns a muitos poetas, mostrando que, apesar das diferenças culturais e temporais, a essência da experiência humana permanece constante.

Dulcídio se destaca por sua capacidade de traduzir sentimentos complexos em uma linguagem acessível e direta, o que o torna um precursor da poesia contemporânea que busca conectar-se com o público em um nível mais íntimo. A forma como ele explora a beleza nas imperfeições e nas nuances do cotidiano pode servir de inspiração para poetas atuais adotarem uma abordagem semelhante, celebrando as experiências comuns que, muitas vezes, passam despercebidas.

Além disso, seu uso do humor e da ironia em questões familiares e emocionais permite um espaço de reflexão e leveza, incentivando novos poetas a abordarem temas pesados com um toque de leveza. Essa dualidade de emoção é uma característica marcante da poesia contemporânea, que frequentemente lida com a complexidade das relações humanas.

A influência de Dulcídio também é evidente na valorização da cultura popular e na oralidade, elementos que muitos poetas contemporâneos incorporam em suas obras. Essa conexão com as raízes culturais e a tradição oral enriquece a literatura atual, promovendo uma poesia que é tanto um espelho da sociedade quanto uma celebração das experiências individuais.

Por fim, a reflexão sobre a vida, a busca por sentido e a aceitação das emoções conflituosas, presentes nas trovas de Dulcídio, dialogam diretamente com as inquietações da poesia contemporânea. Poetas atuais continuam a explorar e expandir esses temas, criando uma tapeçaria rica e variada que honra a tradição enquanto se projeta para o futuro.

Assim, ele não apenas deixou um legado significativo, mas também pode ser uma fonte de inspiração para a nova geração de poetas/trovadores, que encontram em suas trovas uma forma de expressar a universalidade da experiência humana em suas próprias vozes. A intertextualidade que surge entre sua obra e a poesia contemporânea reforça a ideia de que a literatura é um diálogo contínuo, onde o passado e o presente se entrelaçam, criando novas significações e possibilidades.
Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. IA Open. vol.1. Maringá/PR: Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Flavius Avianus (O menino e o ladrão)

Ao lado de um poço profundo, um menino fingia que chorava. Derramava, pois, lágrimas de falsa e simulada tristeza.

Um ladrão astuto, vendo-o assim, perguntou-lhe, diligentemente, a causa de sua tristeza, dizendo-lhe:

— Diz-me, belo rapaz, por que com olhos lacrimejantes, choras tão impetuosamente?

Lastimando-se, respondeu o rapaz:

— Aqui vim com um balde de ouro para buscar água. Mas, quando a apanhava, a corda partiu-se, e o balde caiu dentro do poço. É por isso que cheio de tristeza, eu choro.

Ouvindo tais palavras, o ladrão, astuto e ganancioso, tirou a capa e, pondo-a perto do garoto, desceu ao poço à procura do balde.

Depois, tendo já o ladrão chegado ao fundo do poço, o menino tomou-lhe a capa, e com ela fugiu à floresta, onde se escondeu. 

O ladrão demorou-se muito procurando o balde de ouro, mas, vendo que não podia achá-lo, e notando que perdia tempo naquela busca infrutífera, esforçou-se por sair do poço, e começou a procurar pela capa em todos os lugares. Constatando que a capa não estava em lugar algum, porque não caíra inadvertidamente ao chão, disse cheio de tristeza e angústia:

— Ó deuses de todos os povos! O quão justos fostes vós em vossa sentença! Os que como eu — loucamente, com grande cobiça e avareza, atraídos por um engodo — acreditam que vão achar um balde de ouro num poço, devem ser punidos com o infortúnio, e por justa razão.

Ninguém deve, assim, ser tão ganancioso, e nem se deixar atrair pelas coisas alheias, pois corre o risco de perder aquelas que lhe pertencem. Bem-aventurados os que se acautelam das armadilhas alheias.

Fontes: Flavius Avianus. Fábulas. século V. versão em português de Paulo Soriano, a partir de tradução anônima espanhola de 1489.
Imagem, criação por José Feldman com IA Microsoft Bing

Dicas de Escrita (Como escrever em primeira pessoa) – 1


texto por Stephanie Wong Ken

Escrever em primeira pessoa pode ser um desafio divertido, permitindo que você explore o ponto de vista em primeira pessoa na página. Você pode escrever uma história breve, um romance ou um artigo de opinião. Criar uma narrativa eficaz em primeira pessoa requer habilidade e consistência, além de uma boa revisão depois de terminar.


MÉTODO 1 = ESCOLHENDO UM TEMPO VERBAL PARA A NARRATIVA EM PRIMEIRA PESSOA

1. Use o presente para levar a história adiante. 
A perspectiva da primeira pessoa tem dois tempos verbais diferentes, passado e presente. No presente, as ações e pensamentos se concentram no que está se desenvolvendo no momento. Pode ser uma boa opção se você deseja levar a história adiante, carregando o leitor através de uma narrativa com eventos e momentos em progressão.

Por exemplo, a narração da primeira pessoa do presente pode ser:
 “Eu abro a janela e grito para ele me deixar em paz. Eu fecho a janela e tento me concentrar no capítulo novo da novela.”

2. Experimente usar o passado para explorar o histórico do personagem. 
O passado é uma boa opção se você está escrevendo uma história que explora a vida do personagem principal ou narrador. É um tempo verbal mais popular que o presente e geralmente mais fácil de escrever.

Escrever no passado pode dar a entender que a história está sendo contada, em vez de estar acontecendo no momento.

Por exemplo, um narrador em primeira pessoa no passado diria: 
“Eu abri a janela e gritei para ele me deixar em paz. Eu fechei a janela e tentei me concentrar no capítulo novo da novela”.

3. Ao discutir um trabalho, a melhor opção é o presente. 
Na maioria dos casos, a narrativa em primeira pessoa não é a mais recomendada para trabalhos acadêmicos. No entanto, seu instrutor pode permitir que você escreva dessa forma se for falar sobre um trabalho de literatura, por exemplo.

Use o presente para dar à discussão urgência e um tom mais íntimo.

Se for seguir as regras da ABNT, use a perspectiva em primeira pessoa para discutir suas etapas de pesquisa em um artigo. Por exemplo, você pode escrever:
“Eu estudei a amostra A” ou “Eu entrevistei o sujeito B”. 

No geral, o recomendável é evitar a primeira pessoa em um artigo e usá-lo apenas de vez em quando.
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continua…

Fonte:

Recordando Velhas Canções (A Camisola do Dia)


(samba-canção, 1953)

Compositores:  Herivelto Martins e David Nasser 

Amor,       
eu me lembro ainda
Que era linda, muito linda
Um céu azul de organdi

A camisola do dia
Tão transparente e macia
Que eu dei de presente a ti
Tinha rendas de Sevilha
A pequena maravilha
Que o teu corpinho abrigava
E eu, eu era o dono de tudo
Do divino conteúdo
Que a camisola ocultava

A camisola que um dia
Guardou a minha alegria
Desbotou, perdeu a cor
Abandonada no leito
Que nunca mais foi desfeito
Pelas vigílias de amor

A Camisola do Dia: Memórias de um Amor Passado
A música 'A Camisola do Dia', é uma nostálgica e poética reflexão sobre um amor passado. A letra descreve com detalhes a lembrança de uma camisola que simboliza momentos de intimidade e felicidade compartilhados com a amada. A camisola, com suas rendas de Sevilha e tecido macio, é uma metáfora para a beleza e a delicadeza do relacionamento que o eu lírico vivenciou.

Utiliza a camisola como um símbolo de um tempo que não volta mais. A peça de roupa, que antes abrigava o 'divino conteúdo' do corpo da amada, agora está desbotada e abandonada, representando a perda e a passagem do tempo. A música evoca um sentimento de saudade e melancolia, ao mesmo tempo em que celebra a beleza das memórias de um amor que foi intenso e verdadeiro.

A letra também aborda a ideia de que o amor, assim como a camisola, pode perder seu brilho e cor com o tempo. A cama, que nunca mais foi desfeita pelas vigílias de amor, simboliza a ausência e o vazio deixados pelo fim do relacionamento. A música é uma homenagem àqueles momentos preciosos que, embora tenham se desvanecido, continuam a viver na memória do eu lírico. Na interpretação de Nelson Gonçalves, consegue transmitir a profundidade e a complexidade das emoções envolvidas, fazendo com que o ouvinte se conecte com a dor e a beleza da lembrança de um amor perdido.