quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 168 =


Trova de
ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP

Deve-se valorizar
toda forma de inclusão.
Haverá sempre um lugar
para amparar um irmão …
= = = = = =

Soneto de 
ALDO ARRAIS
(Antônio Aldo Arrais Batista Torres de Castro)
Alenquer/PA +

Rio agonizante

Arrastões, malhas finas com pingentes
Depredação total nos rios pequenos
Não mais pescador imprevidente
tantos peixes, com bombas e venenos.

Malhando peixes magros e carnudos
Confinados nos lagos e nos rios
Apanham peixes grandes e miúdos
com tarrafas e redes, nos baixios.

Pingando da folhagem verdejante
O sereno das noites de verão
molha os lábios do Rio Agonizante.

Riozinho condenado, que tristeza
Tuas águas fazem estranha procissão
no triste funeral da natureza.
= = = = = = 

Trova de
PAULO ROBERTO DA SILVA
Caicó/RN

Traçadas pela quimera...
as rugas que hoje pranteio,
são marcas da minha espera
de um amor que nunca veio!
= = = = = = 

Poema de
BENIGNA SAMSELSKI
Belém/PA

Valsa

Pronta para a dança...
Desejando repetir-te;
Na valsa, no tango,
Nos quatro cantos da sala
Do quarto
Da cama,
Do chão
Do tapete
Dos sonhos
E dos voos mais bonitos.
Através do vento
Por entre estrelas,
Rasgando nuvens
No firmamento
Nem sempre firme
Para que possamos passar
Por entre o espaço,
O tempo,
Os sonhos...
E nos agasalharmos
No infinito.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

De falhas ninguém se esquiva,
por isso, afirmo sem susto:
há censura construtiva
e muito elogio injusto!
= = = = = = 

Soneto de
EDITH LOBATO
Itaituba/PA

Ânsia do coração

Desponta o dia e meu olhar perdido,
Esmola tua presença à distância.
E pulsa o coração com total ânsia,
Deseja o teu carinho apetecido.

E ao meio dia o tempo enraivecido,
Meu pensamento em doida eflorescência.
Vagando nos escombros da existência,
Num mundo que parece sem sentido.

E dentre sois e luas, vendavais,
A vida corre afoita e sempre traz,
A força que nos faz seguir sonhando.

Colhendo experiência dos meus ais,
Eu não desisto frente aos temporais,
E vou por insistência labutando.
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Cadeira velha!...Esquecida,
sem dono e sem mais ninguém...
Só a saudade atrevida
reclama a ausência de alguém!
= = = = = = 

Poema de 
FILEMON ASSUNÇÃO
Belém/PA

Remorso

Embora, minha mãe, o teu cabelo
Tome a cor da neblina e do luar,
E os teus olhos, nevoentos e sem brilho,
Sejam fontes de pranto a gotejar,
Continuas a ser para teu filho
Essa mesma boníssima criatura,
Pródiga de cuidados e de zelo.
Tua cabeça vai aos poucos branquejando.
Que pena ver tão branco o teu cabelo!
Minha Nossa Senhora da Amargura,
Rainha incomparável do desvelo,
Mais uma vez teu dúlcido perdão:
Para aumentar a minha desventura,
Não sei porque me diz o coração
Que eu sou unicamente o causador
De ficar teu cabelo dessa cor ...
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Forçada a escolhas na vida
- teatro que não domino
fui marionete movida
pelos cordéis do destino!
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Tiziu

Ouvindo um psiu, psiu...
esta manhã bem cedinho,
me acordei com um passarinho
que nem sei de onde surgiu.

Só sei que, dando pulinho,
a cada psiu, o tiziu
em meu peito descobriu
um lugar para o seu ninho...

E ao ver que eu me levanto
só para vê-lo com apreço
em seu negror reluzente,

Ele mais canta e eu me encanto!
E orando a Deus, agradeço
tão mavioso presente!
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Se a morte não me intimida
e as tristezas não endosso,
eu só quero, havendo vida,
ser eterno enquanto posso!
= = = = = = 

Hino de
CONTENDA/PR

Descendente de audaz imigrante
Que aportou neste lindo rincão,
Nasce a gente altaneira e gigante
Bandeirantes do agreste sertão.
Hoje os filhos da raça pioneira
Trabalhando com força e ardor,
Honram as cores da nossa bandeira
No trabalho, na fé e no amor.

Estribilho:
Foste vila em setembro
E  cidade em novembro
E teu povo sempre ordeiro
Fez de ti grande celeiro,
Trabalhando sem parar,
Nunca deixa de cantar
Contenda amada, Contenda amada,
Terra por Deus abençoada.

Nestes campos e nestas serras,
Onde a vida feliz se refaz
Veio o filho de outras terras
Encontrar o abrigo e a paz.
E a benção de São João teu padroeiro,
Fez brotar as riquezas do chão.
És orgulho do povo brasileiro
Ó Contenda, querido torrão.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Resisto, mas me afrouxando,
revogo a minha sentença.
Quem ama mesmo sangrando
perdoa e renova a crença.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
RECADO 
(samba, 1959) 
Luís Antônio e Djalma Ferreira

Você, errou quando olhou, pra mim
Uma esperança, fez nascer, em mim
Depois levou, pra tão longe de nós
Seu olhar no meu, a sua voz

Você deixou, sem querer deixar
Uma saudade, enorme em seu lugar
Depois nós dois
Cada qual a mercê do seu destino
Você sem mim, eu sem você!

Saudade, meu moleque de recado
Não diga que eu me encontro nesse estado

Você deixou, sem querer deixar
Uma saudade, enorme em seu lugar
Depois nós dois
Cada qual a mercê do seu destino
Você sem mim, eu sem você!
= = = = = = = = = 

Trova de
CAMPOS SALES
Lucélia/SP, 1940 – 2017, São Paulo/SP

Nosso amor foi tão verdade,
que mesmo tendo acabado,
há uma ponte de saudade,
ligando o nosso passado!
= = = = = = = = = 

Estante de Livros (“Coração trovador”, de Giuseppe Paolo Dell’Orso)


Dell’Orso apresenta uma série de poemas que se destacam pela sua profundidade emocional e pela beleza lírica. É uma obra que celebra a poesia e a amizade, mostrando como as tradições literárias podem ser transformadas e renovadas.

TEMÁTICA E ESTRUTURA 

A obra é uma coletânea de poemas que revive o espírito dos trovadores medievais, mas com um toque contemporâneo. Dell’Orso utiliza a forma clássica de versos para expressar sentimentos universais, como amor, saudade e a busca por identidade. Seus poemas muitas vezes fazem alusões a paisagens, sentimentos e experiências vividas tanto na Itália quanto no Brasil, criando um diálogo entre as duas culturas. 

ESTILO POÉTICO 

O estilo é marcado por uma musicalidade delicada e por imagens vívidas. Ele incorpora elementos da natureza e da vida cotidiana, utilizando metáforas que evocam as tradições literárias de ambos os países. Os poemas refletem uma profunda sensibilidade e um olhar atento para as nuances da vida. 

IMPACTO E RECEPÇÃO 

O livro foi bem recebido tanto no Brasil quanto na Itália, sendo elogiado por críticos literários por sua capacidade de fundir tradições e por sua linguagem poética. "Coração Trovador" não apenas resgata uma forma literária histórica, mas também a reinventa, tornando-a acessível e relevante para o público contemporâneo. O engajamento de Dell’Orso com a cultura brasileira foi especialmente destacado, solidificando sua posição como um importante mediador entre as culturas italiana e brasileira. 

Aqui estão alguns dos poemas mais conhecidos da obra: 

"Versos de Outono" 
Este poema evoca a transitoriedade da vida, utilizando imagens da natureza para refletir sobre a passagem do tempo e a saudade. A conexão entre os ciclos naturais e os sentimentos humanos é central nesta composição. 

"Canto da Terra" 
Uma ode à beleza das paisagens brasileiras e italianas, este poema celebra a diversidade natural e a relação íntima que os seres humanos têm com a terra. A musicalidade dos versos cria um ritmo envolvente, típico da tradição trovadoresca. 

"Amor de Trovador" 
Neste poema, Dell’Orso explora o amor romântico, utilizando metáforas inspiradas nos trovadores medievais. A linguagem é rica e evocativa, capturando a intensidade dos sentimentos apaixonados. 

"Saudade de Casa" 
Uma reflexão sobre a nostalgia e a busca por pertencimento. Ele utiliza imagens de sua terra natal na Itália e de sua nova vida no Brasil, mostrando como as memórias moldam nossa identidade. 

"Luz do Amanhã" 
Este poema aborda a esperança e a renovação, utilizando a metáfora da luz que surge após a escuridão. É um chamado à resiliência e à busca por novos começos, resonando com a experiência humana universal. 

"Caminhos Cruzados" 
Uma celebração das amizades e das conexões feitas ao longo da vida. Dell’Orso reflete sobre como as relações moldam nossa trajetória, utilizando uma linguagem calorosa e acolhedora. 

Esses poemas exemplificam a habilidade em unir tradição e modernidade, criando uma obra rica em emoção e significado. "Coração Trovador" não apenas resgata a essência da poesia trovadoresca, mas também a adapta ao contexto contemporâneo, tornando-a acessível e relevante para os leitores de hoje. 

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.

Giuseppe Paolo Dell’Orso, por ele mesmo


Chamo-me Giuseppe Paolo Dell’Orso, nasci em 15 de junho de 1935 em uma pequena cidade chamada Pieve di Soligo, localizada no interior da Itália. Desde jovem, demonstrei um profundo amor pela literatura, influenciado por meu avô, que era um poeta local. Minha infância em meio às montanhas e campos da região moldou minha sensibilidade artística, inspirando as primeiras composições poéticas. 

Após concluir o ensino médio, decidi me mudar para Roma para estudar Literatura Italiana na renomada Universidade La Sapienza. Durante meus anos universitários, me destaquei como um aluno excepcional, recebendo diversos prêmios acadêmicos, dentre os quais se destacam: 

- Prêmio de Excelência Acadêmica (1956) – Reconhecimento por minhas pesquisas inovadoras sobre a poesia moderna. 

- Bolsa de Estudos Michelangelo (1957) – Concedida a alunos com alto desempenho acadêmico, permitindo-me que realizasse um intercâmbio na Universidade de Paris. 

- Prêmio de Melhor Trabalho de Conclusão de Curso (1958) – Por minha tese sobre a influência do Renascimento na poesia contemporânea. 

Após obter meu diploma, busquei novos horizontes e me mudei para a Inglaterra, onde fui aceito no programa de pós-graduação em Literatura Comparada na Universidade de Harvard. Minha pesquisa focou na relação entre a poesia renascentista italiana e a literatura contemporânea, o que me rendeu um doutorado com honras e o prêmio Harvard Literary Fellowship, um reconhecimento pela contribuição significativa ao campo da literatura. 

Em 2001, recebi uma proposta irrecusável: lecionar Literatura Italiana em uma universidade no Brasil, no estado do Paraná. Fascinado pela cultura brasileira e pela rica diversidade literária do país, aceitei o desafio e rapidamente me adaptei à nova realidade. 

No Brasil, me envolvi profundamente com a comunidade literária, fazendo amizade com muitos escritores locais. Organizei encontros literários e oficinas de poesia, promovendo um intercâmbio cultural que unia vozes italianas e brasileiras. 

Além da carreira acadêmica e literária, sou um defensor ativo de causas sociais. Contribui para várias entidades filantrópicas tanto no Brasil quanto na Itália, focando em projetos que promovem a educação e a inclusão social. Meu envolvimento em iniciativas culturais ajudou a criar bibliotecas comunitárias e programas de alfabetização em áreas carentes. 

Apesar de aposentado, continuo a lecionar e criar. Minha jornada, que começou em uma pequena cidade italiana, me levou a se tornar um elo entre duas culturas, inspirando muitos jovens escritores e amantes da poesia. Através de minha obra e de ações, perpetuo a ideia de que a literatura é uma ponte que conecta pessoas, independentemente de fronteiras. 

A amizade que tive com o magnífico poeta José Feldman é uma história de conexão cultural e literária que começou em 2005. Desde o início de minha jornada no país, fui acolhido por Feldman, um gestor cultural reconhecido em todo território brasileiro e no exterior, que se destacou por seu trabalho em promover a literatura nacional e internacional. Conheci sua dedicação pela trova e pela literatura em geral na Biblioteca de Parma, onde há diversas trovas e poemas de sua autoria em revistas da região. Nos conhecemos em um evento literário em Curitiba, onde eu estava estava apresentando minhas obras e minha visão sobre a interseção entre a literatura italiana e brasileira. Feldman, impressionado com a sensibilidade e a musicalidade dos poemas, se aproximou para discutir as possibilidades de colaboração e intercâmbio cultural. A amizade rapidamente se fortaleceu, baseada em uma profunda admiração pelo trabalho um do outro. Fiquei impressionado com o empenho de Feldman em promover a literatura e a cultura, não apenas no Paraná, mas também em um contexto mais amplo, por pura paixão. Mais ainda pelo seu conhecimento ímpar dos poetas de países europeus, africanos e americanos, com quem muitos deles possui contato. José Feldman, além de ser um poeta e escritor talentoso, é um fervoroso defensor da literatura mundial, organizando concursos e oficinas que conectam escritores de diferentes origens. 

Juntos, iniciamos diversos projetos que visavam fomentar a literatura e a troca cultural entre Brasil e Itália. A parceria resultou em oficinas de poesia, leituras públicas e intercâmbios de escritores, permitindo que vozes diversas fossem ouvidas e celebradas. Feldman, como um grande incentivador, sempre me apoiou na divulgação de minhas obras, ajudando a criar um espaço onde a poesia pudesse florescer, com seu blog que existe desde 2007. 

A influência de Feldman na minha carreira literária é inegável. Através de suas iniciativas, não só ajudou a promover minhas obras, mas também contribuiu para a criação de uma comunidade literária vibrante, ao mesmo tempo que eu trazia uma nova perspectiva à cena literária, enriquecendo o diálogo cultural com nossas experiências e visões. 

A nossa amizade é um exemplo de como a literatura pode unir pessoas de diferentes culturas e origens. Juntos, promovemos a poesia e a literatura, mostrando que a arte é uma ponte que conecta corações e mentes, independentemente das fronteiras. A admiração mútua e a colaboração entre nós é um testemunho do poder transformador da amizade na literatura.

Sou autor de diversos livros, tanto em italiano quanto em português, com destaque para a poesia. Meus poemas refletem a fusão entre a tradição literária italiana e as influências culturais brasileiras. 

As publicações são: 

- "Sussurros da Terra": uma coletânea de poesias que explora a beleza natural do Brasil e suas semelhanças com a paisagem italiana. 

- "Coração Trovador": um livro que reúne poemas inspirados na tradição trovadoresca, adaptados ao contexto contemporâneo. 

- "Versos entre Culturas": uma obra que aborda o diálogo entre as literaturas italiana e brasileira. 

– "Fragmentos do Eu": esta coletânea de poemas reflete sobre a busca pela identidade em um mundo multicultural. Utiliza imagens e metáforas para capturar a complexidade das experiências pessoais, abordando como as raízes familiares e as influências culturais moldam quem somos. 

– "Cantos da Terra": neste livro, exploro a conexão entre o ser humano e a natureza, traçando paralelos entre as paisagens italianas e brasileiras. A obra destaca a importância da preservação ambiental e celebra a beleza dos diferentes ecossistemas, refletindo sobre como eles impactam a vida e a cultura. 

– "Ecos de Outras Vozes": uma coletânea que reúne poemas inspirados por poetas de diversas culturas. Homenageio influências literárias de diferentes partes do mundo, mostrando como a poesia pode ser um meio de diálogo entre tradições diversas. 

– "Entre Fronteiras": este livro aborda a experiência de viver entre culturas e os desafios e alegrias que isso traz. Compartilho relatos poéticos sobre minhas vivências no Brasil e na Itália, enfatizando as interações e os aprendizados que surgem dessas experiências. 

– "Sussurros do Coração": uma obra mais introspectiva, onde reflito sobre emoções universais, como amor, perda e esperança. Os poemas abordam a conexão humana, independentemente das diferenças culturais, destacando a empatia como um valor essencial. 

Fonte: Texto enviado pelo autor 

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 66

 

José Feldman (A Biblioteca dos Portais)

No coração da cidade de Elidória, cercada por ruas de paralelepípedos e edifícios antigos, havia uma biblioteca que poucos conheciam. Chamava-se "A Biblioteca dos Portais". Seu exterior era modesto, com uma fachada de tijolos desgastados e janelas empoeiradas, mas aqueles que se aventuravam a entrar descobriam um mundo de maravilhas.

A biblioteca era enorme e labiríntica, com estantes que se estendiam até o teto e escadas que pareciam se mover sozinhas. Mas o que a tornava realmente especial eram as portas. Cada uma delas, de madeira antiga e ornamentos intricados, levava a um mundo completamente diferente.

A Biblioteca possui uma magia própria que a torna única e misteriosa. Sua escolha de visitantes não se baseia em critérios comuns, mas sim em uma conexão íntima entre o coração da pessoa e o espírito da biblioteca. Aqui estão algumas maneiras de como essa seleção ocorre:

Intenção Pura
A biblioteca é sensível às intenções dos visitantes. Aqueles que entram com um desejo genuíno de explorar, aprender ou encontrar respostas são atraídos para dentro. A curiosidade e a abertura de espírito são fundamentais para serem escolhidos.

Sinais e Coincidências
Muitas vezes, os futuros visitantes encontram sinais antes de chegarem à biblioteca. Pode ser um livro esquecido em um banco, uma conversa sobre a biblioteca que escutam ao passar, ou mesmo um sonho recorrente. Esses sinais são como convites sutis que a biblioteca envia para aqueles que estão prontos.

Experiências de Vida
A biblioteca também parece reconhecer a jornada de vida de cada um. Pessoas que passaram por desafios significativos, ou que buscam inspiração após uma perda ou mudança, frequentemente sentem uma atração inexplicável pelo local. A biblioteca se conecta com essas experiências, oferecendo mundos que refletem suas necessidades e anseios.

Escolhas do Coração
Quando um visitante entra, a biblioteca parece avaliar o que está em seu coração. Se alguém está lutando com medos, pode ser levado a um mundo como o das Sombras, onde aprenderá a enfrentar suas inseguranças. Se busca criatividade, pode ser atraído para o Reino dos Sonhos. Essa escolha é feita de maneira quase intuitiva, guiada por uma sabedoria antiga.

O Tempo e o Destino
Por fim, o tempo desempenha um papel crucial. A biblioteca é atemporal, e às vezes, os visitantes chegam em momentos específicos de suas vidas, quando estão mais receptivos a mudanças e descobertas. Essa sincronia entre o momento certo e a pessoa certa é o que torna cada visita especial.

A Biblioteca dos Portais não apenas escolhe seus visitantes; ela os reconhece. Cada pessoa que atravessa suas portas é vista e compreendida, e a magia do lugar oferece experiências que ressoam profundamente com suas almas. Assim, cada visita se torna uma jornada transformadora, onde a biblioteca se revela não apenas como um espaço físico, mas como um guia espiritual na busca pelo autoconhecimento e pela aventura.

A primeira porta que Marla, uma jovem curiosa, decidiu abrir era forrada com um veludo azul profundo. Ao atravessá-la, ela se encontrou no Reino dos Sonhos, onde as nuvens eram feitas de algodão-doce e os rios corriam com néctar. Os habitantes eram criaturas etéreas, feitas de luz e sombra, que podiam transformar pensamentos em realidade.

Ela passou dias explorando esse lugar mágico, aprendendo a moldar seus próprios sonhos. Fez amizade com um pequeno dragão de cristais chamado Lúcio, que a ensinou a voar. Quando decidiu voltar, Lúcio lhe deu uma pena brilhante como lembrança, dizendo que ela poderia usar para lembrar-se sempre de que seus sonhos eram possíveis.

A próxima porta que Marla encontrou era coberta por musgo verde e tinha um som suave como o sussurrar do vento. Ao abri-la, ela entrou na Floresta dos Ecos, onde cada palavra proferida se tornava um eco que dançava entre as árvores. As árvores eram altas e antigas, e as folhas pareciam cantar em harmonia.

Ali, ela conheceu uma sábia coruja chamada Eldrin, que a ensinou sobre o poder das palavras. Também aprendeu que as histórias contadas na floresta se transformavam em vida, e que cada eco era uma memória que moldava o futuro. Ao sair, Eldrin a presenteou com um livro em branco, prometendo que cada história que ela escrevesse teria o poder de ressoar na floresta para sempre.

A terceira porta era feita de um metal brilhante, quente ao toque. Ao cruzá-la, Marla se viu no Deserto da Ilusão, um lugar onde as miragens eram tão reais que poderiam enganar até os mais sábios. As dunas brilhavam sob o sol escaldante, e figuras dançavam à distância, sempre fora de alcance.

Lá, conheceu Zara, uma viajante que havia perdido seu caminho. Juntas, elas enfrentaram as ilusões, aprendendo a distinguir o que era real do que era apenas uma miragem. Zara revelou que o deserto testava a coragem e a determinação de quem passava por ele. Quando finalmente conseguiram encontrar a saída, Zara deu a Marla um espelho, dizendo que ele a ajudaria a ver além das aparências.

A última porta que Marla encontrou era feita de madeira escura e emanava um frio intenso. Ao abri-la, ela se viu no Mundo das Sombras, onde as luzes eram escassas e as criaturas pareciam se esconder nas trevas. Contudo, havia uma beleza estranha nesse lugar, com constelações brilhando em um céu noturno.

Ela conheceu um ser chamado Noctis, que guardava os segredos das sombras. Ele a ensinou que as sombras não eram para ter medo, mas sim para serem compreendidas. Com sua ajuda, Marla aprendeu a dançar com as sombras, a transformar o medo em arte. Quando decidiu voltar, Noctis deu a ela uma pequena lanterna, dizendo que ela nunca deveria esquecer a luz que existe mesmo nas trevas.

Após suas aventuras, Marla retornou à biblioteca, onde as portas agora pareciam mais brilhantes do que antes. Com cada objeto que trazia de seus mundos — a pena, o livro, o espelho e a lanterna — ela percebeu que não só tinha explorado novos lugares, mas também descoberto partes de si mesma.

Ao sair da biblioteca, ela não era mais a mesma. Tinha histórias para contar, experiências para compartilhar e, acima de tudo, um novo entendimento sobre a vida e suas possibilidades. A cada visitante que passava pela porta, ela se tornava uma contadora de histórias, levando um pouco da magia da biblioteca para o mundo real, inspirando outros a explorarem suas próprias portas e a descobrirem os mundos que habitam dentro de si.

Existem várias histórias sobre pessoas que tentaram entrar na Biblioteca dos Portais, mas não conseguiram. Essas experiências muitas vezes se tornam lendas na cidade de Elidória, servindo como avisos e reflexões sobre a natureza da biblioteca e a importância da intenção.

Um homem chamado Artur, conhecido por sua visão pragmática e ceticismo em relação a tudo que era mágico, decidiu que queria provar que a biblioteca era apenas uma fábula. Ao chegar à porta, ele empurrou-a com firmeza, mas, para sua surpresa, a porta não se abriu. Ele tentou novamente, mais insistentemente, mas nada aconteceu. A biblioteca, percebendo sua falta de crença e abertura, decidiu que ele não estava pronto. Artur saiu frustrado, mas a experiência o levou a refletir sobre suas crenças, e, eventualmente, ele se tornou uma pessoa mais receptiva ao mistério da vida.

Um grupo de amigos, animados e ansiosos para explorar, chegou à biblioteca em um dia ensolarado. Eles estavam tão distraídos com suas conversas e risadas que não notaram a aura mágica ao redor do lugar. Quando tentaram abrir a porta, ela parecia selada. Confusos, tentaram várias vezes, mas a porta não se abriu. A biblioteca, percebendo que suas intenções não eram genuínas e que estavam mais interessados na diversão do que na descoberta, decidiu não deixá-los entrar. Deveriam dar importância à calma e a atenção ao momento presente.

Uma mulher chamada Eliana, em busca de respostas para uma tragédia pessoal, chegou à biblioteca com o coração pesado e a mente confusa. Ela queria desesperadamente escapar da dor, mas sua ansiedade e desespero eram tão intensos que a biblioteca não a reconheceu como uma visitante pronta. Ao invés de abrir a porta, uma voz suave ecoou em sua mente, aconselhando-a a encontrar paz dentro de si antes de buscar fora. Ela saiu, não sem dor, mas determinada a trabalhar em seu interior.

Um jovem chamado Leo, cheio de curiosidade, decidiu que queria explorar todos os mundos da biblioteca em uma única visita. Ele se aproximou da porta, mal conseguindo esperar para entrar. Sua impaciência era palpável, e quando tentou abrir a porta, ela permaneceu firmemente fechada. A biblioteca, percebendo sua falta de respeito pelo processo e pela jornada, decidiu que Leo não estava pronto para a profundidade da experiência que oferecia. Grandes descobertas requerem paciência e respeito.

Essas histórias ilustram que a Biblioteca dos Portais não é apenas um lugar físico, mas um espaço que exige introspecção e sinceridade. As portas podem ser fechadas, mas cada tentativa frustrada serve como um aprendizado, preparando os visitantes para a verdadeira magia que aguarda aqueles que entram com o coração aberto e a mente receptiva. Cada história de negação se transforma em uma lição valiosa, guiando as pessoas em suas jornadas pessoais até que estejam prontas para cruzar o limiar da descoberta.

E assim, a Biblioteca dos Portais continuava a ser um lugar onde a imaginação não conhece limites, e onde cada porta abre um novo capítulo na história de quem se atreve a cruzá-la.

Fonte: José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Vereda da Poesia = 167 =


Trova de
SARAH MARIANI KANTER
São Paulo/SP

A saudade é luz de vela
iluminando o que eu sou:
descolorida aquarela
que uma renúncia pintou.
= = = = = =

Poema de 
LUCIANA SOARES CHAGAS
Rio de Janeiro/RJ

A cadeira

Você cria histórias em um lugar só seu 
E tem apenas uma vida para se encontrar. 
São saudades de conversas na varanda, 
Que trazem memórias junto ao mar.

A cadeira na varanda, os quadros na parede, 
As redes balançando, o sol, dias felizes. 
O cheiro de café, o bolo de laranja na mesa, 
Lembranças surgem, uma lágrima escorre...
Ah pai, nosso amor não morre.

Recordo-me de seu carinho, a mão em minha cabeça, 
Um gesto tão seu, cheio de ternura. 
Levantava-se da cadeira, ia à cozinha, 
Para se deliciar com as guloseimas que adorava.

Será que esses tempos bons vão voltar? 
Acredito que sim, de algum jeito, enfim... 
Mesmo que você não esteja mais presente, 
A cadeira de balanço ainda está aqui, 
Permanece no mesmo lugar, junto a mim.
= = = = = = 

Poetrix de
ALICE DANIEL
Porto Alegre/RS

achados & perdidos
 
revirando minha vida
achei alma e coração
ambos feridos
= = = = = = 

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Em vão

Vivo a procura de mim 
dentro de você...
numa busca interminável; 
nunca lhe encontro!

Tenho a impressão
que afinal, 
como se fosse um castigo
chegou de mansinho o  meu fim...

em igual sentido, ingrata reprimenda segue 
aumentando a minha solidão
e me torturando o coração 
simplesmente... simplesmente assim...
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Desta saudade infinita
não guardo mágoas, porque
foi a coisa mais bonita
que me ficou de você!
= = = = = = 

Soneto de
THALMA TAVARES
São Simão/SP

O anjo e o fauno

Por que tenho de ser de dois extremos feito?...
De um extremo, o melhor, vem a luz que me eleva.
Mas se às vezes sou luz, outras vezes sou treva,
que me impede enxergar o que é certo e direito.

Do outro extremo, o pior, eu direi contrafeito
que há um fauno viril que à luxúria me leva,
contra o qual, com razão, a razão se subleva
e me faz explodir a revolta no peito.

Quantas vezes me ergui do meu lado mais nobre
como quem, com a luz, de pureza se cobre
e a seguir, sem razão, deixa tudo sombrio.

Entre um anjo e um fauno eu passo a vida assim
a suplicar aos céus que afugentem de mim
o lascivo animal que anda sempre no cio.
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar.
= = = = = = 

Poema de 
IRENE LISBOA
(Irene do Céu Vieira Lisboa)
Arruda dos Vinhos/Portugal, 1892 – 1958, Lisboa/Portugal

Jeito de Escrever 

Não sei que diga.
 E a quem o dizer?
 Não sei que pense.
 Nada jamais soube.  

 Nem de mim, nem dos outros.
 Nem do tempo, do céu e da terra, das coisas...
 Seja do que for ou do que fosse.
 Não sei que diga, não sei que pense.  

 Ouço os ralos queixosos, arrastados.
 Ralos serão?
 Horas da noite.
 Noite começada ou adiantada, noite.
 Como é bonito escrever!  

 Com este longo aparo, bonitas as letras e o gesto - o jeito.
 Ao acaso, sem âncora, vago no tempo.
 No tempo vago...
 Ele vago e eu sem amparo.
 Piam pássaros, trespassam o luto do espaço, 
este sereno luto das horas. 
Mortas!  

 E por mais não ter que relatar me cerro.
 Expressão antiga, epistolar: me cerro.
 Tão grato é o velho, inopinado e novo.
 Me cerro!

 Assim: uma das mãos no papel, dedos fincados,
 solta a outra, de pena expectante.
 Uma que agarra, a outra que espera...

 Ó ilusão!
 E tudo acabou, acaba.
 Para quê a busca das coisas novas, à toa e à roda?  

 Silêncio.
 Nem pássaros já, noite morta.
 Me cerro.
 Ó minha derradeira composição! 
Do não, do nem, do nada, da ausência e
 solidão.

 Da indiferença.
 Quero eu que o seja! da indiferença ilimitada.
 Noite vasta e contínua, caminha, caminha.
 Alonga-te.
 A ribeira acordou.
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Disse pra linda tainha
o peixe, muito gamado:
– Casa comigo, peixinha,
que eu estou “apeixonado!”
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Seu sorrir

Eu fico tão feliz com seu alô,
por carta, viva voz, ou celular,
que até me esqueço que sou bisavô,
deixo a bengala e quero saltitar!

Do jeito como estou, borocoxô;
só faço versos para me animar,
passo calado o dia em meu bistrô,
bolando assunto para me inspirar...

Assim, quando você reaparece,
com seu alô gostoso de se ouvir,
minha alegria nesse instante cresce!

Sinto a felicidade bem de perto,
pois sei que o seu alô traz seu sorrir,
que é tudo o que eu preciso. Estou bem certo!
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Velho em plena mocidade,
sem alma, sem ideais,
que faço desta saudade,
se nem ela me quer mais?
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Hino de
SANTANA DO SERIDÓ/RN

Santana és orgulho do teu povo
Teus campos e serras me fascinam
Teu céu azul, salpicado de estrelas
Em noites de verão, o luar te ilumina.

Tuas ruas verdejadas de algarobas
Acácias, pés de fícus, flamboyants
A igreja guarda tuas tradições
Que o tempo solidificou.

Eu agradeço a Deus eternamente
Por ter nascido em Santana do Seridó
Pequena mas tão bela, 
Minha terra mãe gentil
De um povo varonil.

Do velho casarão sinto saudades
Perfil de nossa colonização
Do cruzeiro lá no pátio da capela
E dos campos alvejados de algodão.

A agricultura, a mineração e a pecuária
Ajudaram a esculpir a tua história
Desejamos de todo coração
Que o teu futuro seja de vitórias.

Santana do Seridó
Teu pavilhão queremos reverenciar
Teu povo com heroísmo e vigor
Com muita luta o teu solo desbravou
Vamos saudar, 9 de abril 
OH! Terra querida 
Iremos sempre te exaltar.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Quando uma ofensa me oprime
em silêncio enfrento tudo.
Qualquer grito se redime
ante meu protesto mudo.
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Recordando Velhas Canções
NOSSA CANÇÃO 
(canção, jovem guarda, 1966) 
Luiz Ayrão

Olha aqui, preste atenção
essa é a nossa canção
vou cantá-la seja onde for
para nunca esquecer o nosso amor,
nosso amor

Veja bem, foi você
a razão e o porquê
de nascer essa canção assim
pois você é o amor 
que existe em mim    

Você partiu
e me deixou
nunca mais você voltou
pra me tirar da solidão
e até você voltar
meu bem eu vou cantar
essa nossa canção
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Trova de
MANUELLA AJALLA PAZ
Cruz Alta/RS

Verdade da luz de Deus
tão clara aí quanto aqui:
– Quem busca o bem para os seus,
encontra o bem para si!
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Célio Simões* (“A bico de pena”)

No ano 4.000 a.C., o homem já sulcava superfícies rochosas com utensílios de osso ou bronze. No ano 3.000 a.C. egípcios e chineses escreviam com  finíssimos pincéis e canetas feitas de junco. Em 1.300 a.C. romanos, asiáticos e anglo-saxões encontraram formas de escrever na cera, usando estiletes de metal. A pena de ganso e de outras aves (corvo, águia, coruja, ganso e peru) foi o instrumento de escrita mais usado no ocidente desde o século VI até o início do século XIX. A mais comum e fácil de conseguir era a de ganso, animal doméstico. O uso das penas de aves na escrita exigia muito tempo para prepará-las, precisavam ser constantemente apontadas e tinham curta durabilidade. No final do século XVIII finalmente apareceram as penas de metal, que se popularizaram depois de 1850, quando ficaram mais resistentes com a utilização de metais como irídio e ródio.

Desde o século XVII houve várias tentativas de produzir uma caneta que tivesse reservatório de tinta. Embora em 1819 John Scheffer tenha produzido sua primeira caneta tinteiro, e em 1832 John Jacob Parker tenha lançado a primeira caneta auto-recarregável, só em 1884 Lewis Waterman patenteou sua caneta "Ideal", ao produzir um modelo que não vazava. Os sucessivos avanços técnicos encontraram novos materiais e soluções cada vez mais práticas e limpas para encher o reservatório de tinta sendo que,  até a década de 1960, as canetas tinteiro eram instrumentos de uso cotidiano, por profissionais e estudantes, embora seu uso na escola fosse restrito aos alunos de famílias mais abastadas. 

Marcas famosas pontificaram no mercado, como as canetas Sheaffer, Johann Faber, Compactor, Goldem e a cobiçada Parker nas versões 45, 61 e 75, sendo que nenhuma delas foi tão desejada como a Parker 51, considerada verdadeira joia, hoje comparada, guardadas as proporções, à extraordinária e caríssima Montblanc, que dá status social e econômico aos seus donos. Porém, durante a década de 1960, a estudantada carente consagrou as canetas tinteiro Skater, que esteticamente se destacavam por seus coloridos rajados em marrom, azul e verde, afora o preço acessível. Seu caráter utilitário era às vezes desvirtuado pelos jovens estudantes, que empunhando suas canetas, travavam entre si embates com esguichos de tinta na hora do recreio, emporcalhando os uniformes de seus “adversários”, o que lhes rendia a esperada e merecida reprimenda de pais e mestres. 

Em 1938 o jornalista húngaro László Biró, junto com seu irmão György, criou uma caneta recarregável com ponta em forma de esfera móvel que ao girar distribuía tinta de modo uniforme no papel. Biró a patenteou e começou a fabricar esferográfica na Argentina, onde se fixou a partir de 1940. Em 1945 as primeiras esferográficas foram vendidas com muito sucesso no mercado americano, mas como não funcionavam bem logo caíram em desuso. Em 1949 o barão francês Marcel Bich introduziu a esferográfica "Bic" na Europa e em 1958 ele entrou no mercado americano comprando a empresa Waterman Pen Company. Em 1959, com ampla campanha publicitária na TV, a caneta esferográfica Bic foi vendida nos Estados Unidos por apenas 29 centavos de dólar. A Bic chegou ao Brasil em 1961 e seu baixo custo substituiu as de penas metálicas que ainda eram usadas nas escolas. E veio para ficar, pois revolucionou os hábitos de escrita de milhões de pessoas em todo o mundo.

Já o chamado desenho A BICO DE PENA utiliza penas metálicas especiais para criar quadros, cartuns e histórias em quadrinhos. A técnica remonta à Idade Média, quando os monges e escribas copiavam manuscritos à mão. Foi muito utilizada para desenhos no ocidente europeu do século VI até ao século XVIII e até hoje inspira seguidores, como o artista plástico, pesquisador e escritor paraense Sebastião Godinho, membro da Academia Paraense de Letras, que se dedica à produção de belos quadros, retratando monumentos e prédios históricos de Belém, usando essa refinada técnica. 

Na MPB, José Fortuna - cantor, compositor, autor teatral, ator brasileiro e autor de sucessos como a guarânia "Índia", que aparece no disco de "Meu Primeiro Amor" (também de sua versão) gravados originalmente no ano de 1952 - compôs a música que denominou de “BICO DE PENA”, cuja repercussão deve-se ao fato de ser interpretada por Tonico e Tinoco, dupla caipira formada pelos irmãos João Salvador Perez e José Salvador Perez, considerada uma das mais importantes da história da música brasileira, que na primeira estrofe da  extensa letra aborda o tema: 

Com pena peguei na pena
Para com pena escrevê
Alembrando de Ritinha
Que comigo eu vi crescê!
Foi escrevendo estes versos
Comparando meu vivê
Com este bico de pena
Que escreveu o meu padecê...

Atualmente, o computador e os softwares de desenho substituíram o papel, o lápis e a tinta na produção de cartuns e nas histórias em quadrinhos, mas ainda há artistas que preferem a leveza e a sensibilidade do traço manual, minucioso, detalhista e preciso, com que encantam o público mercê do seu grande talento e de sua insuperável arte. (fonte: web)
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(*) O autor é advogado, escritor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Artística e Literária de Óbidos, da Confraria Brasileira de Escritores, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós. 

Fonte: Texto enviado pelo autor 

Francisco Gabriel* (A aurora sobre o mar)


Na década de 1990, tínhamos uma casa de praia, no povoado de Barreta, distante cerca de 50 quilômetros da nossa capital, Natal. Pelo menos uma vez a cada mês, nós frequentávamos esse local. Eu e minha esposa ainda éramos jovens e os meus filhos, André e Aline, ainda eram crianças,

Enquanto estávamos veraneando, o nosso dia era preenchido pelo banho de mar, pelas caminhadas nas areias de um morro que ficava em frente à nossa casa, e pela confraternização com os amigos. Lembro-me muito do meu compadre Antônio Gordo, que não parava de comer e beber, e de diversos familiares da minha esposa, especialmente as suas primas Neta e Marluce.

À noite, juntos com os nativos, liderados por Luiz de Tindor, participávamos da pesca de aratus com facho, além de outras aventuras. Mas o que mais me deslumbrava era ficar contemplando o firmamento; lá não havia iluminação pública, com isso as estrelas pareciam que estavam bem próximas da Terra, formando, simbioticamente, um só véu. A Lua era um espetáculo à parte, parecia uma bola de fogo, saindo de dentro d'água.

Nesse tempo, eu me acostumei a acordar cedo e ficava, ao final de cada madrugada, na varanda, esperando o nascer da aurora. Era de uma beleza indescritível, parecia que o dia estava nascendo do ventre do mar. Nesse período, eu observei também que cada dia a aurora nascia com um colorido diferente, como se dissesse: "Hoje eu estou bela, mas me veja amanhã, que eu estarei ainda mais bela".

Todos os fatos acontecidos naquela praia ou foram sepultados pelo tempo, ou viraram escombros, exceto o deslumbre que eu sentia ao observar a Lua e as estrelas e, especialmente, a beleza da aurora perfumando as minhas madrugadas; isso permanece vivo em um recanto da minha alma.
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* O autor é de Natal/RN

(esta crônica obteve o 5. Lugar no Concurso de Crônicas Adulto Nacional “Foed Castro Chamma”, em 2020, com o tema Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. Livro enviado por Luiza Fillus.
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