segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Entrevista com Isaque de Borba Corrêa


Membro da Academia Desterrense de Letras (Florianópolis) e Academia de Letras de Balneário Camboriú. Escritor, natural de Balneário Camboriú (1960), autor de mais de uma dezena de livros em diversas ciências.

Camboriú Virtual – Como você começou a tomar gosto pela história?

Isaque de Borba Corrêa - Em 1974 o prefeito Gilberto Meirinho propôs aos alunos da rede escolar uma pesquisa sobre a História da cidade. O tema era “Balneário Camboriú – 10 anos de construção” Não consegui terminar em tempo hábil de tanta coisa que arrumei em termos de história oral. Depois descobri os arquivos públicos. Me encantei com a história e pra falar bem a verdade até hoje já vai para 35 anos e ainda não terminei aquela história. Também pela identificação. Sou descendente do primeiro morador da Praia de Camboriú, naquele tempo apenas Camboriú, e recebi de herança documentos, bens que me remetem a história o tempo todo.

Camboriú Virtual – Como está a relação das prefeituras da região com a história de suas cidades? Há uma preocupação no sentido de preservar esses documentos?

Isaque de Borba Corrêa - Muito pouco. Aqui em Balneário Camboriú em termos de arquivo estamos razoavelmente bem, falta inventariar a documentação lá existente. Faltam recursos humanos especializados e um pouco de vontade política de realizar isso. Ainda não existe uma política cultural voltada ao resgate da história como existe em cidades como Joinville, Blumenau, Florianópolis e até Itajaí. Nas demais cidades é uma pena, o que existe são apenas alguns abnegados como eu que solitariamente fazem alguma coisa. E é bom que se frise que a história é fundamental nas cidades turísticas.

Camboriú Virtual – A iniciativa privada tem apoiado projetos voltados para história de nossa cidade?

Isaque de Borba Corrêa - Quando você diz nossa cidade, não sei exatamente qual pois milito nas duas cidades Camboriú e Balneário, e vamos figurar em portais de três cidades, mas posso te garantir que pra história nenhuma empresa até hoje investiu qualquer coisa. Falta uma lei de incentivo, que Itajaí tem faz tempo.

Camboriú Virtual – Quais foram os livros escritos pelo senhor?

Isaque de Borba Corrêa - 1º: HISTÓRIA DE DUAS CIDADES BALNEÁRIO CAMBORIÚ E CAMBORIÚ.
Preparo a 2ª edição. Um best-seller. O livro mais vendido e mais lido em Balneário Camboriú.

2º- DICIONÁRIO PAPA-SIRI. – Acho que foi o primeiro dicionário sociolingüístico do país, não conheço outro mais antigo. Acho que foi eu quem inventou essa história de dicionário (aloletário) regional.

3º A ESCRAVATURA EM CAMBORIÚ. –. Nenhuma cidade do país, tem a sua história demográfica escravagística mais bem documentada que a nossa ( Camboriú e Balneário)

4º DICIONÁRIO CATARINENSE. Um tratado de lingüística, dialetologia, falares e sub-falares de SC.; Fiz em parceria com a RBS e o DC. Possivelmente o mais vendido de santa Catarina. Só num final de semana foram quase 5 mil, no lançamento.

5º JANGA- O PIONEIRO DA FÉ. Biografia encomendada de João Boaventura Caetano – Janga – o Primeiro crente em BC.

6º PORANDUBA PAPA-SIRI – Folclore inédito das duas cidades.
7º SOLILÓQUIO – Memória de um papa-siri com sardade da bera da Praia. Um romance histórico, escrito em linguagem vulgar, memórias póstumas de Manoel Germano Corrêa, o primeiro pesacdor de BC.

8º - COLÓQUIO – Um romance em linguagem vulgar, sugerindo a convivência de uma família dos anos 50 da Praia de Camboriú

9ª PIRÃO COM MILONGAS – Livro é que nem filho, não se sabe qual o melhor, mas acho que esse é o que eu mais gosto. Antropologia social e cultural – do centro do litoral catarinense.

10º-LELA – PRAIANO HERÓI. Biografia encomendada do Lela, o maior contador de histórias que conheço.

11º - UMA TRAMA NO ALTO VALE. Biografia encomendada por Ivo Vanderlind.

12º O ESPATÁRIO – Biografia de Dom Paio Peres Corrêa, herói europeu da Idade Média. Nasceu em 1210 e morreu em 1270. Foi grão-mestre da maior ordem militar da Idade Média, a Ordem de Santiago da Espada, por isso se chama “O Espatário”. Foi ele quem expulsou os mouros do Algarve e Andaluzia, fundou inúmeras cidades cristãs, comandou a 7ª cruzada para resgatar o rei santo Luis IX. Destituiu o rei Sancho II, empossou seu irmão, fez casar reis e rainhas, matou muita gente, nunca perdeu uma guerra, sua naturalidade é disputada por duas cidades e seus restos mortais pelo dois países. Portugal de nascimento e a Espanha onde fez fama. Mesmo sendo português, foi nomeado pelo rei espanhol para representar a Espanha no conflito pela disputa de território entre os dois países. É considerado o homem mais poderoso do mundo, não sendo rei nem papa. Mesmo sendo um dos homens mais conhecidos da Europa, foi biografado por reis e até Luis de Camões, mas eu aqui nesse fim de mundo sou seu maior biógrafo. Consegui isso comprando a história de todas as cidades por onde ele passou. É tido como o 1º Corrêa e o mais famoso deles. Está na iminência de virar filme.

13 º - SÃO TOMÉ - Provas da passagem desse apóstolo de Cristo no continente americano.

14 º - OS ZELOTES – História desse povo religioso muito antes de Cristo. Teve seu auge na era Macabeus e seu trágico fim no governo do General Romano Tito.

Camboriú Virtual – Dentre os livros escritos pelo senhor, qual te chamou mais atenção? E por quê?

Isaque de Borba Corrêa - Diria que o “SÃO TOMÉ – A SAGA DO APÓSTOLO DE CRISTO NA AMÉRICA” uma pesquisa extraordinária que mais de 20 jesuítas contaram durante 100 anos, até que o Papa Urbano VIII proibiu de se falar nessa heresia no continente. Com medo de um processo no Tribunal do Santo Ofício, eles pararam de escrever sobra a passagem do Santo em terras americanas. Em virtude da proibição o mais fanático defensor dessa história o jesuíta Antônio Ruiz de Montoya, encerra sua pesquisa rogando a Deus que um dia alguém encontrasse os seus rascunhos e desse continuidade à sua história com mais fundamente. Mais de 400 anos depois, Deus ouviu o pedido do jesuíta e colocou em minhas mãos o seus rascunhos e eu fiz a continuidade da pesquisa, conforme o desejo daquele jesuíta tão abnegado. É a maior pesquisa já feita na América Latina, uma coisa muito maior que eu. Gastei tudo que tive, entrei em depressão, mas valeu a pena. Hoje o país inteiro está falando nisso, conjuntamente com o elemento principal dessa história que o Caminho do Peabiru, que já foi até tema de carnaval, filmes, documentários etc.

Camboriú Virtual – O senhor está escrevendo um novo livro? Conte-nos sobre este projeto.

Isaque de Borba Corrêa - Estou sempre escrevendo. Agora estou dissertando sobre os zelotes. Lembra que Jesus tinha um discípulo chamado “Simão – o zelote”? Pois é o Zelotismo era um facção da religião dos essênios. Eles começaram lá no princípio com Moisés. Era levitas encarregados de zelar pelo tabernáculo. Com o desenvolvimento e a modernidade eles evoluíram e criaram outras religiões. O auge do sofrimento deles foi durante o domínio selêucida, durante o governo de Antíoco - seleuco, na época dos irmãos Macabeus. Eles se extinguiram no governo de Tito quando houve a grande diáspora no ano 70. Logo em seguida a Igreja Católica os incorporou a todos; e, fariseus, saduceus, essênios, zelotes, sicários, nazirenos, viraram cristãos. Os escribas viram os bispos da Igreja Católica e ali foi o fim desse sofrido povo.

Camboriú Virtual – Como a população poderá ter acesso aos livros do escritor Isaque Borba?

Isaque de Borba Corrêa - Não poderá. Não tenho nenhum livro disponível. Todos foram esgotados por força da miséria. Sempre fiz pequenas tiragens. O único que disponho é sobre a escravatura, daí tem que ligar pra mim, no meu trabalho – GRÁFICA DIGITAL COPYARTE – Rua 300 nº 179 – 33631394 ou no meu imeio – isaqueborba@gmail.com

Camboriú Virtual – O senhor é membro da Academia Desterrense de Letras em Florianópolis e de Balneário Camboriú. Como está sendo esta experiência?

Isaque de Borba Corrêa - É talvez o fato mais positivo na carreira de um escritor. É o sonho de todo escritor fazer parte de alguma academia de letras, receber o titulo de imortal. O fato de eu me eleger em Florianópolis é ainda mais significativo, uma vez que lá as disputas são sempre muito acirradas, sempre tem mais candidatos que vagas e dificilmente se elege alguém do interior. O que me levou à eleição lá, foi o fato de meu excelente relacionamento com os demais escritores da capital e o respeito que eles têm pelo meu trabalho.

Camboriú Virtual – Em seus textos sobre a cultura papa-siri observamos uma forma divertida e única de abordar os fatos. Isso é uma marca pessoal do escritor Isaque Borba?

Isaque de Borba Corrêa - Sim, eu tenho por missão propagar a nossa língua, da mesma forma que os portugueses lutam para ter o idioma português em evidência no mundo. Isso é uma coisa muito valiosa. É só comparar com o inglês, quem não fala essa língua não tem o valor que tem quem a fala. Falar ou escrever nessa linguagem é sempre meio engraçado. Colocamos uma pitada de humor para que seja mais atraente, senão você não atrai as pessoas para essa leitura. Muitos pensam que escrever numa linguagem regional é escrever errado.

Camboriú Virtual – Deixe um recado para os leitores que acompanham os portais virtuais e o trabalho do escritor Isaque de Borba Corrêa.

Isaque de Borba Corrêa - Curtam a cultura da terra que vivam. Eu sempre adotei a cultura dos povos por onde vivi. Isso é uma demonstração de inteligência. Não se repudia a cultura onde se vive. Por isso convoco a todos para colaborar com a nossa cultura, estimular, promover. Precisamos de uma casa de cultura boa, um museu principalmente, pois isso no mínimo aumenta a permanência do turista e eleva a auto-estima do seu povo.

Fonte:
http://www.balneariovirtual.com.br/portal/diaadia_entrevista.php

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