António Joaquim de Castro Feijó (Ponte de Lima, 1 de Junho de 1859 – Estocolmo, 20 de Junho de 1917) foi um poeta e diplomata português.
Fez os estudos liceais em Braga e estudou Direito na Universidade de Coimbra terminando o curso em 1883.
Em 1886 ingressou na carreira diplomática.
Exerceu cargos no Brasil (consulados de Pernambuco e Rio Grande do Sul) e, a partir de 1895, na Suécia, bem como na Noruega e Dinamarca.
Casou em 24 de Setembro de 1900 com a sueca Maria Luisa Carmen Mercedes Joana Lewin (nascida em 19 de Agosto de 1878), cuja morte prematura, em 21 de Setembro de 1915, o viria a influenciar numa temática fúnebre, patente na sua obra
Como poeta, António Feijó é habitualmente ligado ao Parnasianismo.
Principais obras
Transfigurações, 1862
Líricas e Bucólicas, 1884
Cancioneiro Chinês, 1890
Ilha dos Amores, 1897
Bailatas, 1907
Sol de Inverno, 1922
Novas Bailatas, 1926
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Fez os estudos liceais em Braga e estudou Direito na Universidade de Coimbra terminando o curso em 1883.
Em 1886 ingressou na carreira diplomática.
Exerceu cargos no Brasil (consulados de Pernambuco e Rio Grande do Sul) e, a partir de 1895, na Suécia, bem como na Noruega e Dinamarca.
Casou em 24 de Setembro de 1900 com a sueca Maria Luisa Carmen Mercedes Joana Lewin (nascida em 19 de Agosto de 1878), cuja morte prematura, em 21 de Setembro de 1915, o viria a influenciar numa temática fúnebre, patente na sua obra
Como poeta, António Feijó é habitualmente ligado ao Parnasianismo.
Principais obras
Transfigurações, 1862
Líricas e Bucólicas, 1884
Cancioneiro Chinês, 1890
Ilha dos Amores, 1897
Bailatas, 1907
Sol de Inverno, 1922
Novas Bailatas, 1926
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O Lago dos Cisnes (pintura de Elisabete Abreu)
À Julio Dantas
Gedulde Dich, stilles, hoffendes Herze! Was Dir im Leben versagt
ist, weil Du es nicht ertragen könntest, giebt Dir der Augenblick
Deines Todes.
Herder.
-
Gedulde Dich, stilles, hoffendes Herze! Was Dir im Leben versagt
ist, weil Du es nicht ertragen könntest, giebt Dir der Augenblick
Deines Todes.
Herder.
-
Da praia longinqua, na areia doirada,
O Cysne pensava, fitando a Alvorada:
— «Que immensa ventura, na minha mudez,
Se dado me fôsse cantar uma vez!»
— «Meu canto seria, na luz do arrebol,
Dos hymnos mais altos á gloria do Sol...»
Não é das gaivotas e gansos do lago
O canto que em sonhos ardentes afago;
É quando nos bosques as aves escuto
Que a inveja confrange minh'alma de luto.
Se a Aurora se lança do cume dos montes,
Até d'alegria murmuram as fontes;
Só eu, passeando o meu tedio supremo,
Nem rio, nem choro, nem canto, nem gemo.
Oh Sol, que já vejo surgindo do Mar,
Tem dó de quem, mudo, não pode cantar!»--
E o Cysne, em silencio, chorava, escutando
A orchestra das aves que passam em bando.
Das aguas rompia a quadriga d'Apollo,
E o pobre a cabeça escondia no collo...
Mas Phebo detem-se nas nuvens ao vê-lo,
Com feixes de raios no fulvo cabello,
E diz-lhe, sorrindo, n'um halo de fogo:
— «No Olympo sagrado ouviu-se o teu rogo...»--
E nesse momento a Lyra Sem Par,
Da mão luminosa deixou resvalar...
O Cysne, orgulhoso da graça divina,
Da Lyra d'Apollo as cordas afina,
E rompe cantando... Calaram-se as fontes,
Calaram-se as aves... As urzes dos montes
Tremiam de goso a ouvi-lo cantar...
E o vento sonhava na espuma do Mar.
O Cysne cantava, tirando da Lyra
Um hymno que nunca na terra se ouvira;
Não pára, nem sente, na sua emoção,
Que a vida lhe foge naquella canção.
Mas quando, entre nuvens, a tarde cahia
No enlevo do canto que a essa hora gemia,
E Apollo no seio de Thetis desceu,
O pobre do Cysne, cantando, morreu...
Gemeram as aves; choraram as fontes;
Torceu-se nas hastes a giesta dos montes,
E o mar soluçava na tarde sombria,
Que o manto de luto com astros tecia.
Sollicita espera-o, das aguas á beira,
Do Cysne, já morto, fiel companheira;
Espera que o Esposo de prompto regresse,
Mas treme e suspira, que a Noite já desce...
As aguas luzentes parecem-lhe, ao vê-las,
Um panno d'enterro picado d'estrellas.
Então, no seu luto, sentindo que morre,
Oceanos e praias distantes percorre;
Mergulha nas aguas, colleia nas ondas,
Espreita as galeras de velas redondas,
Que ao longe parece que vão a voar...
E o Cysne não volta, não pode voltar!
Chorosa viuva, nas aguas deslisa,
Levada na fresca salsugem da brisa...
No seu abondono nem sente canseira;
Caminha, caminha, fiel companheira,
Chorando o perdido, desfeito casal...
Tão funda era a mágoa, tão grande o seu mal,
Que o peito sentindo de dor estalar,
— De dor e d'angustia começa a cantar!
E canta com tanta ternura e paixão,
Que a Vida lhe foge naquella canção.
As aves despertam; calaram-se as fontes;
Nas hastes tremiam as urzes dos montes;
A Lua escutava; detinha-se a Aurora,
E as vagas gemiam no vento que chora...
Na terra, no espaço, nos astros, no ceu,
Mais alta harmonia ninguem concebeu;
E os Deuses recebem, ouvindo-a, a chorar,
A alma do Cysne que expira a cantar...
Desde esse momento, no Olympo onde entraram,
Em honra dos Cysnes que tanto se amaram,
Das almas que foram leaes e sinceras,
Se Venus se mostra, surgindo da bruma,
São elles que tiram, nas altas espheras,
A concha de nácar, cercada de espuma...
Fonte:
http://pt.wikisource.org/
Pintura = http://www.elisabeteabreuartes.com
O Cysne pensava, fitando a Alvorada:
— «Que immensa ventura, na minha mudez,
Se dado me fôsse cantar uma vez!»
— «Meu canto seria, na luz do arrebol,
Dos hymnos mais altos á gloria do Sol...»
Não é das gaivotas e gansos do lago
O canto que em sonhos ardentes afago;
É quando nos bosques as aves escuto
Que a inveja confrange minh'alma de luto.
Se a Aurora se lança do cume dos montes,
Até d'alegria murmuram as fontes;
Só eu, passeando o meu tedio supremo,
Nem rio, nem choro, nem canto, nem gemo.
Oh Sol, que já vejo surgindo do Mar,
Tem dó de quem, mudo, não pode cantar!»--
E o Cysne, em silencio, chorava, escutando
A orchestra das aves que passam em bando.
Das aguas rompia a quadriga d'Apollo,
E o pobre a cabeça escondia no collo...
Mas Phebo detem-se nas nuvens ao vê-lo,
Com feixes de raios no fulvo cabello,
E diz-lhe, sorrindo, n'um halo de fogo:
— «No Olympo sagrado ouviu-se o teu rogo...»--
E nesse momento a Lyra Sem Par,
Da mão luminosa deixou resvalar...
O Cysne, orgulhoso da graça divina,
Da Lyra d'Apollo as cordas afina,
E rompe cantando... Calaram-se as fontes,
Calaram-se as aves... As urzes dos montes
Tremiam de goso a ouvi-lo cantar...
E o vento sonhava na espuma do Mar.
O Cysne cantava, tirando da Lyra
Um hymno que nunca na terra se ouvira;
Não pára, nem sente, na sua emoção,
Que a vida lhe foge naquella canção.
Mas quando, entre nuvens, a tarde cahia
No enlevo do canto que a essa hora gemia,
E Apollo no seio de Thetis desceu,
O pobre do Cysne, cantando, morreu...
Gemeram as aves; choraram as fontes;
Torceu-se nas hastes a giesta dos montes,
E o mar soluçava na tarde sombria,
Que o manto de luto com astros tecia.
Sollicita espera-o, das aguas á beira,
Do Cysne, já morto, fiel companheira;
Espera que o Esposo de prompto regresse,
Mas treme e suspira, que a Noite já desce...
As aguas luzentes parecem-lhe, ao vê-las,
Um panno d'enterro picado d'estrellas.
Então, no seu luto, sentindo que morre,
Oceanos e praias distantes percorre;
Mergulha nas aguas, colleia nas ondas,
Espreita as galeras de velas redondas,
Que ao longe parece que vão a voar...
E o Cysne não volta, não pode voltar!
Chorosa viuva, nas aguas deslisa,
Levada na fresca salsugem da brisa...
No seu abondono nem sente canseira;
Caminha, caminha, fiel companheira,
Chorando o perdido, desfeito casal...
Tão funda era a mágoa, tão grande o seu mal,
Que o peito sentindo de dor estalar,
— De dor e d'angustia começa a cantar!
E canta com tanta ternura e paixão,
Que a Vida lhe foge naquella canção.
As aves despertam; calaram-se as fontes;
Nas hastes tremiam as urzes dos montes;
A Lua escutava; detinha-se a Aurora,
E as vagas gemiam no vento que chora...
Na terra, no espaço, nos astros, no ceu,
Mais alta harmonia ninguem concebeu;
E os Deuses recebem, ouvindo-a, a chorar,
A alma do Cysne que expira a cantar...
Desde esse momento, no Olympo onde entraram,
Em honra dos Cysnes que tanto se amaram,
Das almas que foram leaes e sinceras,
Se Venus se mostra, surgindo da bruma,
São elles que tiram, nas altas espheras,
A concha de nácar, cercada de espuma...
Fonte:
http://pt.wikisource.org/
Pintura = http://www.elisabeteabreuartes.com
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