Hélio Cunha (O Pescador de Pérolas)
Havia um ambicioso pescador de pérolas que almejava encontrar na ostra solitária a valiosíssima pérola rosada.
Sing era o nome do intrépido oriental, que buscava nas profundezas do oceano a jóia do seu sonho. Cada vez que um outro pescador conseguia a pérola rosada, nele se avivavam as esperanças de um dia encontrar também a sua jóia preferida.
Astuto, jovem, grande mergulhador, e acostumado desde a infância ao manejo do mar, conhecia bem que apenas uma ostra especial, de cor rubra e maior tamanho que as comuns, produz a pérola rosada, mesmo assim, em exígua porcentagem.
Com a modesta máscara de mergulho, o pequeno barco, o arpão que o defendia do ataque feroz dos tubarões, o cesto no ombro para recolher os moluscos, auxiliado pela esposa, aproveitava as tardes de sol para desenvolver o fatigante e perigoso trabalho. Após a colheita marinha, a busca dentro das conchas era cuidadosamente iniciada, como se cada ostra fosse uma caixinha de surpresas.
Muitas pérolas brancas já haviam sido encontradas por Sing e sua esposa, mas nem todas possuíam grande valor. O comércio do produto é exigente, somente as pérolas perfeitamente esféricas, sem máculas, a partir de cem quilates são realmente valiosas; as denominadas “barrocas” por serem irregulares, as “gotas” em forma de pêras, as “sementes”, que são pequenas e planas, não possuem comercialização compensativa.
Eram decorridos cinco anos de mergulhos submarinos, durante os quais o nosso idealista pescador, tinha se desgastado bastante no afã de arrancar das rochas profundas, milhares de moluscos, e a pérola rosada não havia surgido. Aos poucos, a pretensão de encontrar a ambicionada jóia foi se apagando nas esperanças de Sing.
Certa tarde de escassa e desastrosa colheita, resolveu desistir daquela ambição que estava se tornando inútil, já que ele desenvolvia no período da manhã outras atividades que eram rendosas e prioritárias.
Procurou um mergulhador que lhe havia proposto a compra do equipamento, e vendeu-lhe o barco utilizado na pesca. Até o pequeno cesto com os últimos moluscos pescados, ainda intactos, foram negociados. Sing havia definitivamente encerrado suas atividades perolíferas, de encantado pescador de pérolas. Naquela noite dormiu mais tranqüilo. Mas foi só naquela noite.
No dia seguinte, quando um novo dia despontava, talvez para o início de uma nova vida, logo pela manhã ao alvorecer alguém bateu-lhe à porta; era o comprador dos seus apetrechos:
- Olá, como vai, resolveu desistir do nosso negócio?
- Não, Sing. — disse-lhe sorridente o comprador — Vim pagar-lhe em dobro a minha compra.
- Mas por que essa generosidade?
- Porque fui muito feliz! Na única ostra gigante existente no cesto que havia lhe comprado, encontrei a pérola rosada!
Sing empalideceu de dor. A notícia foi como se o oceano imenso que ele tanto amava tivesse se derramado sobre ele. Quando a oportunidade chegou, ele não foi suficientemente perseverante para fazer triunfar o seu sonho.
A sombra desse erro o acompanhou por longos anos de sua existência.
Sempre que se referia à pérola perdida, Sing repetia as mesmas palavras: “Nem a trazendo das profundezas abissais do oceano, consegui possuí-la. Fugiu-me das mãos pela porta do destino. Pescá-la foi como procurar a felicidade pelas estradas íngremes da vida; nem todos conseguem encontrá-la, assim aconteceu comigo”. Mas embora se considerasse cruelmente traído pela sorte, concordava sempre em admitir que tinha valido a perseverança de procurá-la. Não são os sonhos e as esperanças acalentadas os adornos fugazes que embelezam a existência?
Fontes:
http://www.movimentodasartes.com.br/miguelcione/default.htm
Pintura = http://heliocunha.blogspot.com
Sing era o nome do intrépido oriental, que buscava nas profundezas do oceano a jóia do seu sonho. Cada vez que um outro pescador conseguia a pérola rosada, nele se avivavam as esperanças de um dia encontrar também a sua jóia preferida.
Astuto, jovem, grande mergulhador, e acostumado desde a infância ao manejo do mar, conhecia bem que apenas uma ostra especial, de cor rubra e maior tamanho que as comuns, produz a pérola rosada, mesmo assim, em exígua porcentagem.
Com a modesta máscara de mergulho, o pequeno barco, o arpão que o defendia do ataque feroz dos tubarões, o cesto no ombro para recolher os moluscos, auxiliado pela esposa, aproveitava as tardes de sol para desenvolver o fatigante e perigoso trabalho. Após a colheita marinha, a busca dentro das conchas era cuidadosamente iniciada, como se cada ostra fosse uma caixinha de surpresas.
Muitas pérolas brancas já haviam sido encontradas por Sing e sua esposa, mas nem todas possuíam grande valor. O comércio do produto é exigente, somente as pérolas perfeitamente esféricas, sem máculas, a partir de cem quilates são realmente valiosas; as denominadas “barrocas” por serem irregulares, as “gotas” em forma de pêras, as “sementes”, que são pequenas e planas, não possuem comercialização compensativa.
Eram decorridos cinco anos de mergulhos submarinos, durante os quais o nosso idealista pescador, tinha se desgastado bastante no afã de arrancar das rochas profundas, milhares de moluscos, e a pérola rosada não havia surgido. Aos poucos, a pretensão de encontrar a ambicionada jóia foi se apagando nas esperanças de Sing.
Certa tarde de escassa e desastrosa colheita, resolveu desistir daquela ambição que estava se tornando inútil, já que ele desenvolvia no período da manhã outras atividades que eram rendosas e prioritárias.
Procurou um mergulhador que lhe havia proposto a compra do equipamento, e vendeu-lhe o barco utilizado na pesca. Até o pequeno cesto com os últimos moluscos pescados, ainda intactos, foram negociados. Sing havia definitivamente encerrado suas atividades perolíferas, de encantado pescador de pérolas. Naquela noite dormiu mais tranqüilo. Mas foi só naquela noite.
No dia seguinte, quando um novo dia despontava, talvez para o início de uma nova vida, logo pela manhã ao alvorecer alguém bateu-lhe à porta; era o comprador dos seus apetrechos:
- Olá, como vai, resolveu desistir do nosso negócio?
- Não, Sing. — disse-lhe sorridente o comprador — Vim pagar-lhe em dobro a minha compra.
- Mas por que essa generosidade?
- Porque fui muito feliz! Na única ostra gigante existente no cesto que havia lhe comprado, encontrei a pérola rosada!
Sing empalideceu de dor. A notícia foi como se o oceano imenso que ele tanto amava tivesse se derramado sobre ele. Quando a oportunidade chegou, ele não foi suficientemente perseverante para fazer triunfar o seu sonho.
A sombra desse erro o acompanhou por longos anos de sua existência.
Sempre que se referia à pérola perdida, Sing repetia as mesmas palavras: “Nem a trazendo das profundezas abissais do oceano, consegui possuí-la. Fugiu-me das mãos pela porta do destino. Pescá-la foi como procurar a felicidade pelas estradas íngremes da vida; nem todos conseguem encontrá-la, assim aconteceu comigo”. Mas embora se considerasse cruelmente traído pela sorte, concordava sempre em admitir que tinha valido a perseverança de procurá-la. Não são os sonhos e as esperanças acalentadas os adornos fugazes que embelezam a existência?
Fontes:
http://www.movimentodasartes.com.br/miguelcione/default.htm
Pintura = http://heliocunha.blogspot.com
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