(foto: Carrinho de Rolimã)
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No seio de uma família de modestos pescadores ou agricultores, o divertimento provinha única e exclusivamente da capacidade de criatividade das crianças de cada família, pois não se tinha à disposição o consumismo de hoje em dia, nem a fartura comercial que encontramos hoje. Dificilmente um pai fabricava os brinquedos, geralmente eram feitos pela própria criança. É bom lembrar que para este caso e para esta época a criança, ou pelo menos o espírito de criança, alcançava a adolescência e, dependendo da época, poderia atingir a juventude. Era comum ver jovens fazendo algumas das brincadeiras que vamos citar. Cada um se divertia como podia usando da criatividade para fazer brinquedos daquilo que a natureza oferecia.
O menino fazia carrinho de lata de azeite, que na época, era quadrada. Recortava a parte de cima no sentido longitudinal e dobrava para cima, a 90º, como se fosse a caçamba do caminhão. Com alguns pregos na ponta de um pedaço de pau ele fazia uma pequena picareta para brincar de barreirinho com este carrinho, junto a um barranco. Depois, com um toco de pau e meia fatia de um gomo de bambu à guisa de lâmina, se fazia um trator tipo “esteira”.
Existia ainda o pião, carrinho de carretel, arapuca, carrinho de aro de bicicleta, carrinho de rolimã, que se chamava zorra.
De bambu se podia fazer uma pistola e uma atiradeira de flechas. A pistola era um pequeno canudo de bambu, do diâmetro de um centímetro no máximo. Uma das extremidades eram afiadas para cortar a casca da laranja, como se fosse um perfurador. Depois com um outro bastão, se expulsava sob pressão a carga de casca acumulada dentro da taquara.
A atiradeira de flecha era também constituída de uma taquara de bambu, porém com um diâmetro maior, talvez de uns 2 centímetros. Colocava-se um pedaço de elástico na boca desta taquara. A taquara tinha que ter um furo atrás, para engatar a flecha. A flecha também feita de bambu era uma tira de bambu de mais ou menos um cm de largura, com uma extremidade afiada e outra, a parte de trás, com uma saliência pouco maior para engatar no furo atrás. A flecha era introduzida dentro do canudo sobre a pressão da borracha com a ponta afiada para frente e a trava para trás. Para acioná-la bastava empurrar a parte saliente da flecha para baixo, que seria expulsa de dentro do cano pela força da pressão da borracha.
Na falta de rolamentos para se fazer uma zorra, o menino se atracava a uma calha de coqueiro e escorregava da ladeira abaixo, de preferência nos morros engramados. Muito parecido com um surf que se faz nas dunas de areias no nordeste. Um pneu ou um aro de bicicleta para sair batendo, também já dava um brinquedo. Bricáva-se de pegar, de esconder, de polícia e ladrão; caçar de funda, armar uma arapuca, armar um lacinho, armar uma xócha para pegar tatu; jogar quilica na “boca”, no triângulo ou na ronda, eram as principais diversões dos meninos. As meninas não tinham um repertório tão farto, o negócio delas era brincar de boneca que faziam de palha de milho. Jogavam amarelinha, cantigas de rodas e às vezes brincavam com os meninos de pegar ou esconder e até casamento atrás da porta. Existe ainda até hoje a brincadeira de jogar taco.
O Carrinho de bambu era o preferido, por isso resolvi inclusive fazer a ilustração na página seguinte. Quanto aos meus, o máximo de sofisticação que tinha era um volante de tampa de lata de tinta. Mas o Nelinho do Olindino, aliás o doutor Manoel Olindino Domingos funcionário da prefeitura municipal há muitos anos. Nelinho inclusive ainda conserva seu ar de sofisticação, mas desde rapaz pequeno que o Nelinho já botava nós todos no bolso com sua educação refinada e sua inteligência muito mais evoluída que a nossa.
Apesar de toda a seriedade que lhe é peculiar, Nelinho confessou-me que roubava as bóias de cortiça da rede do meu avô para fazer as rodas de seus carrinhos. Cada um exibia a sua criatividade como podia. Nelinho pegava duas latas de “Leite Ninho”, fazia furos, colocava brasas dentro como se fossem dois faróis e à noite, andava ele com aquela coisa que parecia um fantasma "com dois bagos de zólho", esnobando a sua criatividade na frente dos demais rapazes que não tinham tal capacidade nem tamanha inventividade nos seus brinquedos. Nelinho dizia que seu carrinho além de tudo era utilitário, pois muitas vezes era incumbido de carregar balaios de peixes da praia até em casa. Como eram muito pesados, ele pendurava o balaio no seu carrinho estrambólico e os transportava com relativa facilidade. Era criatividade que não acabava mais.
Já que falamos em brasas, só para lembrar de mais um divertimento que a gente fazia para o Sábado de Aleluia: Pegava-se um mamão verde, fazia nele furos semelhantes os olhos, e principalmente as canjicas arreganhadas para parecer uma caveira e colocava brasas dentro, pra parecer um fantasma e assustar os outros. Alguns também sofisticavam com uma vela acesa dentro.
Fontes:
http://www.balneariovirtual.com.br/
Imagem = http://rogeriogalanti.wordpress.com
O menino fazia carrinho de lata de azeite, que na época, era quadrada. Recortava a parte de cima no sentido longitudinal e dobrava para cima, a 90º, como se fosse a caçamba do caminhão. Com alguns pregos na ponta de um pedaço de pau ele fazia uma pequena picareta para brincar de barreirinho com este carrinho, junto a um barranco. Depois, com um toco de pau e meia fatia de um gomo de bambu à guisa de lâmina, se fazia um trator tipo “esteira”.
Existia ainda o pião, carrinho de carretel, arapuca, carrinho de aro de bicicleta, carrinho de rolimã, que se chamava zorra.
De bambu se podia fazer uma pistola e uma atiradeira de flechas. A pistola era um pequeno canudo de bambu, do diâmetro de um centímetro no máximo. Uma das extremidades eram afiadas para cortar a casca da laranja, como se fosse um perfurador. Depois com um outro bastão, se expulsava sob pressão a carga de casca acumulada dentro da taquara.
A atiradeira de flecha era também constituída de uma taquara de bambu, porém com um diâmetro maior, talvez de uns 2 centímetros. Colocava-se um pedaço de elástico na boca desta taquara. A taquara tinha que ter um furo atrás, para engatar a flecha. A flecha também feita de bambu era uma tira de bambu de mais ou menos um cm de largura, com uma extremidade afiada e outra, a parte de trás, com uma saliência pouco maior para engatar no furo atrás. A flecha era introduzida dentro do canudo sobre a pressão da borracha com a ponta afiada para frente e a trava para trás. Para acioná-la bastava empurrar a parte saliente da flecha para baixo, que seria expulsa de dentro do cano pela força da pressão da borracha.
Na falta de rolamentos para se fazer uma zorra, o menino se atracava a uma calha de coqueiro e escorregava da ladeira abaixo, de preferência nos morros engramados. Muito parecido com um surf que se faz nas dunas de areias no nordeste. Um pneu ou um aro de bicicleta para sair batendo, também já dava um brinquedo. Bricáva-se de pegar, de esconder, de polícia e ladrão; caçar de funda, armar uma arapuca, armar um lacinho, armar uma xócha para pegar tatu; jogar quilica na “boca”, no triângulo ou na ronda, eram as principais diversões dos meninos. As meninas não tinham um repertório tão farto, o negócio delas era brincar de boneca que faziam de palha de milho. Jogavam amarelinha, cantigas de rodas e às vezes brincavam com os meninos de pegar ou esconder e até casamento atrás da porta. Existe ainda até hoje a brincadeira de jogar taco.
O Carrinho de bambu era o preferido, por isso resolvi inclusive fazer a ilustração na página seguinte. Quanto aos meus, o máximo de sofisticação que tinha era um volante de tampa de lata de tinta. Mas o Nelinho do Olindino, aliás o doutor Manoel Olindino Domingos funcionário da prefeitura municipal há muitos anos. Nelinho inclusive ainda conserva seu ar de sofisticação, mas desde rapaz pequeno que o Nelinho já botava nós todos no bolso com sua educação refinada e sua inteligência muito mais evoluída que a nossa.
Apesar de toda a seriedade que lhe é peculiar, Nelinho confessou-me que roubava as bóias de cortiça da rede do meu avô para fazer as rodas de seus carrinhos. Cada um exibia a sua criatividade como podia. Nelinho pegava duas latas de “Leite Ninho”, fazia furos, colocava brasas dentro como se fossem dois faróis e à noite, andava ele com aquela coisa que parecia um fantasma "com dois bagos de zólho", esnobando a sua criatividade na frente dos demais rapazes que não tinham tal capacidade nem tamanha inventividade nos seus brinquedos. Nelinho dizia que seu carrinho além de tudo era utilitário, pois muitas vezes era incumbido de carregar balaios de peixes da praia até em casa. Como eram muito pesados, ele pendurava o balaio no seu carrinho estrambólico e os transportava com relativa facilidade. Era criatividade que não acabava mais.
Já que falamos em brasas, só para lembrar de mais um divertimento que a gente fazia para o Sábado de Aleluia: Pegava-se um mamão verde, fazia nele furos semelhantes os olhos, e principalmente as canjicas arreganhadas para parecer uma caveira e colocava brasas dentro, pra parecer um fantasma e assustar os outros. Alguns também sofisticavam com uma vela acesa dentro.
Fontes:
http://www.balneariovirtual.com.br/
Imagem = http://rogeriogalanti.wordpress.com
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