domingo, 1 de agosto de 2010

Arnoldo Pimentel Filho (Poemas Escolhidos)


PÉROLA DE ROSAS

Se abre como pérola
Como pérola perfumada
Seduz como seios
Sonhados no frio da madrugada
Inspira como os olhos
Os olhos da minha amada
No meio do jardim florido
Com flores estreladas
Ilude como o coração
Da mulher apaixonada
Que deseja como uma menina
Ser eternamente amada

ANJO DE VIDRO

Sou um anjo de vidro
Papel rasgado
Caído ao lado
Do armário quebrado
Sou vida sem linha para seguir
Peça abandonada
Pela sucata
Do carro usado em frangalho
Sou um anjo decadente
Sem poder mostrar os dentes
Sem ser sobrevivente
Sem modos aparentes
Sou vida sem anjo
Tronco de árvore caída na brisa
Que respingou na calçada
Que deflorou meus dias de beleza

SOLIDÃO

Eu não queria estar aqui
Caminhando numa pequena rua de chão
Cercada por tapete de neve
Dos dois lados a me observar
Não me sinto tão isolado
Pois a neve que forma o horizonte
Que embranquece a folhagem
Ainda aquece meu olhar
Sinto apenas a solidão que chega com o frio
Que rasga a paisagem
E entoa uma canção triste, tão triste
Que talvez ninguém queira cantar
Meu passado é a sinfonia que rege meu futuro
Meu futuro é escuro
Escuro como a neve sem luz
Que nem fechando bem os olhos se pode enxergar
Meu coração foi atirado na neve
Afundou sem vida durante toda minha vida
Ficou sem pedaços para o sangue poder pulsar
Ficou sem estrelas para na noite se guiar
Ficou sem esperança de um dia poder amar

VERSOS AO VIVO

Versos que escaparam na madrugada
Versos ao vivo
Vivos
Indecisos e aflitos
Versos que se mancharam
Nas esquinas das madrugadas
Nas ilusões das palavras
Que ficaram afastadas
Versos sem vida
Sem ondas
Sem amigas
Sem noites nubladas
Versos sem versos
Juntos e separados
Sempre mutilados
Sempre desamparados

AQUARELA

Eu pinto sonhos que nem sempre têm asas
Sonhos vividos
Sonhos esquecidos
Sonhos que poderão viver na minha tela
Na minha triste aquarela
Minha tela pode estar pintada de vazio
Silêncio vazio
Cores incolores que mostram meu rosto
Tela vazia incolor que inspira minhas cores
Eu pinto meus temores na madrugada
Onde a tempestade é a verdadeira tela
Onde a solidão disfarçada
Invade o meu quarto pela janela
Eu pinto a solidão do meu corpo
Pinto as cores da minha voz nua
Pinto meus olhos perdidos no infinito
Minha tela é meu próprio grito

BORBOLETA

Ainda que eu tiver que ver o crepúsculo
Pelo quadrado da janela
Tendo o chão gélido e molhado como colchão
Não desanimarei
Ainda que eu tiver que imprimir jornais
Na calada da noite
Para ser perseguida na calçada
Eu continuarei a panfletar meus ideais
Ainda que eu tiver que ficar com meu corpo nu
Para ser torturada
Para ser massacrada
Eu serei Minerva e firme ficarei
Ainda que eu tiver que sair do casulo
Para bater asas nas ruas de vidro
E sangrar todos os dias
Eu voarei
Ainda que eu tiver que perder minha vida
Na estrada deserta
Para vidas serem livres
Minha vida eu darei

Fonte:
http://redecultura.ning.com/

Um comentário:

Unknown disse...

Que felicidade ver meu amigo aqui, cada poema uma gota de tristeza e um oceano de beleza.
Obrigada.