sábado, 14 de agosto de 2010

Ialmar Pio Schneider (Baú de Trovas IV)


A manhã surge radiante,
envolvendo de esplendor,
na alegria contagiante
toda a natureza em flor.

Andei por árduo caminho
no qual não quero andar mais;
e voltei para o meu ninho
como voltam os pardais...

Ao tentar criar poemas
para contar minha história,
me deparei com dilemas
na fase contraditória...

Aquela que um dia fez
meu coração palpitar,
hoje não saiba, talvez,
desta saudade sem par.

Busco na trova a harmonia
para equilibrar a vida;
é o resumo da poesia
em quatro linhas contida.

Consegues viver sozinha,
enfrentando a solidão?!
Recorda que “uma andorinha
sozinha não faz verão...”

Contigo no pensamento,
eu vou compondo esta trova,
porque neste sentimento
minha paixão se renova.

Coração aventureiro,
vive sonhando um amor,
que pode ser verdadeiro,
infeliz ou enganador.

Entre amar e ser amado,
eu não sei o que é melhor;
porém, viver desprezado,
é, sem dúvida, o pior!

Eras bonita... Eu tão feio...
mas nos queríamos tanto,
que num mesmo devaneio
nos amamos por encanto...

É tão tarde... a madrugada
daqui a pouco vai raiar;
e pensando em minha amada
quero dormir e sonhar...

Eu já vou me convencendo
que nada sei pra ensinar;
amei tanto e não compreendo
o que significa amar.

Eu te quis com tanto afã,
não pude te conquistar;
pela tentativa vã,
peço perdão por te amar...

Houve sempre um sentimento
que nunca teve igualdade,
pois surge a qualquer momento,
e que se chama saudade.

Mágoas de amor não tem preço:
tudo pode acontecer;
um final sem ter começo,
impossível entender...

Mas antes que a chuva caia,
prefiro sentir o vento
levantando a tua saia
para meu contentamento.

Meu coração se enternece
quando vejo os passarinhos,
no instante que a noite desce,
retornarem aos seus ninhos.

Meu coração treme ainda
ao lembrar-te com saudade,
porque por seres tão linda
eras a felicidade!

Não me compreendes agora
porque no teu lindo rosto
nenhuma lágrima chora
ao saber do meu desgosto.

Neruda... Grande Neruda,
da “Canção Desesperada”,
careço de tua ajuda
pra cantar a minha amada!

No coração de quem ama
não morre nunca a saudade,
porquanto é qual uma chama
com fogo da eternidade...

Nosso amor em decadência
foi findando pouco a pouco;
você com sua demência
e eu me tornando mais louco.

O amor que nasce de um beijo
até pode fracassar,
mas se nasce de um desejo
vai permanecer no olhar...

O amor, sem paz nem sossego,
também merece louvor;
mas se não traz aconchego,
impossível ser amor.

Pelas trovas benfazejas
que solitário componho,
peço que ditosa sejas
e concretizes teu sonho.

Pelos caminhos do amor
quantos sonhos e ilusões;
e o que causa dissabor
são as nossas frustrações.

Pelos momentos vividos
longe de ti que me encanta,
meus soluços reprimidos
vão morrendo na garganta.

Penso em ti de vez em quando
e se não posso te amar,
quero somente, sonhando
teus olhares recordar.

Porque já chegou o outono
e foi embora o verão,
vou ficando no abandono
e minhas folhas cairão...

Por te querer me atormento
e de te amar não desisto;
para tanto sofrimento,
antes não te houvesse visto.

Por viver apaixonado
me chamam de sonhador;
porém, se amar é pecado,
sou o maior pecador.

Quando em pensamento a beijo
não sinto felicidade,
porque, afinal, meu desejo
é beijá-la de verdade.

Quando te vi deslumbrante
com teus olhares fatais,
eu notei naquele instante
que era então tarde demais.

Quantas noites mal dormidas,
pensando em que não me quer;
são as ilusões perdidas
por causa de uma mulher!...

Quem ama por conveniência
não conhece a sensação
que causa em nossa existência
o fogo de uma paixão.

Queres me amar, eu aceito
teu bem-querer de bom grado,
porque vivo insatisfeito
por nunca ter sido amado.

Saudade!... palavra viva
do que ficou no passado;
és o bem que nos cativa
para sempre ser lembrado!

Se eu não sentisse saudade
daquela que tanto quis,
talvez a felicidade
não me fizesse infeliz.

Segura o pouco que tens
e amanhã podes ter mais,
porque de todos teus bens
preponderam ideais.

Se leres os versos soltos
neste livro de lamentos,
que não te assaltem revoltos,
infelizes sentimentos...

Sendo um simples aprendiz
de saber da trova o enredo,
sinto que não sou feliz
e me condeno em segredo.

Se o amor não tem futuro
e vive só da esperança,
é qual um tiro no escuro
e sem querer você “dança”.

Se tens amor não escondas,
muito sofri por contê-los;
ele surge como as ondas
e foge ao não ter desvelo...

Simples trova mensageira
de mil recados de amor;
e por isto a vida inteira
desejo ser trovador.

Sócia de dor é paixão,
sem ter reciprocidade,
porque nos traz ilusão
e nos deixa na orfandade.

Tenho saudade da areia
sob o sol a cintilar
e as noites da lua cheia
clareando as águas do mar...

Tuas mãos nas minhas mãos
numa ternura incontida,
sinto que não foram vãos
esses momentos na vida.

Vai romper a madrugada
neste começo do outono,
e sem pensar mais em nada
quero me entregar ao sono...

Vens à noite de mansinho
e trazes junto contigo
a saudade do carinho
que olvidar eu não consigo.

Vou fazer-lhe uma proposta,
pense bem no que lhe digo:
se disser que não me gosta,
quero ser só seu amigo!

Fonte:
O Autor

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