domingo, 8 de agosto de 2010

Raul Pompéia (A Noite)


... le ciel Se ferme lentement comme une grande alcôve, Et l'homme impatient se change en bête fauve. *
C. BAUDELAIRE

Chamamos treva à noite. A noite vem do Oriente como a luz. Adiante, voam-lhe os gênios da sombra, distribuindo estrelas e pirilampos.

A noite, soberana, desce. Por estranha magia revelam-se os fantasmas de súbito. Saem as paixões más e obscenas; a hipocrisia descasca-se e aparece; levantam-se no escuro as vesgas traições, crispando os punhos ao cabo dos punhais; à sombra do bosque e nas ruas ermas, a alma perversa e a alma bestial encontram-se como amantes apalavrados; tresanda o miasma da orgia e da maldade — suja o ambiente; cada nova lâmpada que se acende, cada lâmpada que expira é um olhar torvo ou um olhar lúbrico; familiares e insolentes, dão-se as mãos o vício e o crime — dois bêbedos.

Longe daí a gemedora maternidade elabora a certeza das orgias vindouras.

E a escuridão, de pudor, cerra-se, mais intensa e mais negra. Chamamos treva à noite — a noite que nos revela a subnatureza dos homens e o espetáculo incomparável das estrelas.
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*... o céu se fecha lentamente como uma grande alcova, e o homem impaciente se transforma em fera. (Tradução por José Feldman)

Fontes:
Portal São Francisco
Imagem = Butterflyz

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