VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
Síntese
A rosa, flor rainha do canteiro,
jamais força a exclusão do rude espinho
que, em vez de ter bem longe o próprio ninho,
da flor se faz constante companheiro.
A luz divide o seu próprio roteiro
com a sombra, que percorre igual caminho,
enquanto o bem consiste em ser vizinho
do mal, no mesmo espaço, o tempo inteiro.
A vida, amplo mosaico deslumbrante,
condensa eternidade em breve instante,
combina em mil nuances tons diversos.
Sem excluir parcelas da verdade,
mas abraçando a vasta humanidade,
o poeta sente... e expõe o mundo, em versos!
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Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Vale a pena valer a pena
Vale a pena ser feliz a cada instante
que se viva, quando a dor não está por perto,
pois se o Sol machuca a pele do deserto,
num oásis, o amor é verdejante.
Quando a lágrima é salgada... e cristalina...
na retina, os sonhos teimam em brilhar
e se há sonhos numa gota pequenina,
é nos sonhos que o amor quer se abrigar.
Vale a pena não ter pena do que é triste,
não existe solidão, se a fantasia
faz poesia com a tristeza, se ela insiste
em matar o amor que existe na alegria.
Vale a pena, entretanto, a esperança
de viver e de sentir felicidade,
resgatando a emoção de uma criança
que carece de um sorriso em liberdade.
Pois se o riso se sublima na alma pura,
cada lágrima constrói seu próprio encanto,
e se o canto não faz coro com a amargura,
a ternura é sempre a voz do acalanto.
Vale a vida... o que é triste, o tempo leva...
se são pétalas, o vento as poliniza,
se são folhas, se desprendem... quando neva...
se são bolhas, duram o tempo da brisa.
Vale a pena eu te amar e tu me amares,
nem que seja por um tempo... vale a pena!
... porque quando eu te deixar... ou me deixares,
a saudade há de brotar sempre serena.
Vale a pena agradecer todos os dias
a alegria de se ter uma história,
pois se a vida se dilui em fantasias,
a poesia se eterniza na memória.
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Glosa de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
MOTE... 
Minha vida é qual navio 
que navega pelo mar... 
Ora contra um mar bravio, 
ora mero devanear. 
José Feldman
Floresta/PR
GLOSA... 
Minha vida é qual navio, 
avião, trem, caminhão; 
porém o meu desafio 
é andar a pé... no chão! 
Se você tem um transporte 
que navega pelo mar... 
digo que você tem sorte 
se o dito nunca afundar! 
Sempre foi um desafio 
para um navio... singrar; 
Ora contra um mar bravio, 
ora ao sabor de um bom mar! 
Pra quem sai ao mar diria: 
é bom, cuidados, tomar; 
pois ora vem ventania, 
ora, mero devanear.
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Trova Popular
Amar e saber amar
são dois pontos delicados:      
os que amam, são sem conta:
os que sabem, são contados.     
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Soneto de
EDUARDO A. O. TOLEDO
Pouso Alegre/MG +
Exclusão
Quando o dia abre o céu e o sol desperta,
dourando as relvas do jardim florido,
em meio a uma esperança descoberta,
às vezes amanheço deprimido...
Já, pela tarde, que se faz aberta
às cigarras em límpido alarido,
onde se afaga uma ilusão incerta,
às vezes entardeço sem sentido...
E quando a noite vem, presa em luares,
na própria exaltação dos avatares,
às vezes anoiteço na exclusão...
No entanto, quando chega a madrugada,
meus sonhos se libertam e , em revoada,
vão desenhando versos na amplidão!!!
= = = = = = 
Décima de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020
Aos Poetas de Caicó
Eu queria escrever meu sentimento
Mas não sai, a não ser este prospecto
Ou sou eu um carente de intelecto
Pra mostrar o meu agradecimento
Pode até ser falta de talento
Pra exprimir o que sinto por vocês
Aturando o Pessoa uma outra vez
Nessa nossa querida Caicó
A rainha de todo Seridó
Quem me dera voltar no outro mês!!!
= = = = = = 
Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Jardim secreto
Eu também tenho o meu jardim secreto,
tal qual o mundo inteiro, com certeza...
Mas só porque não sou nada discreto,
o meu “secreto” some na esperteza...
Quem lê meus versos tudo sabe, exceto,
talvez o que eu não disse por lerdeza,
porque o que escrevo eu mesmo interpreto
no meu viver de inteira singeleza.
Se eu disse que te amei, também te disse
que tudo o mais que eu fiz foi só tolice,
pois nunca mais eu tive um outro amor.
O que faltou dizer, eu digo agora:
eu sonho com teus beijos toda hora;
és a razão de eu ser um sonhador!
= = = = = = 
Poema de
PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR, 1944 – 1989
Dor elegante
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
= = = = = = 
Trova Funerária Cigana
Eu sou a tocha do morto,
com a luz já quase extinta,
ou qual a negra mortalha
que por preta não se pinta.
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Soneto de 
JOSÉ MESSIAS BRAZ
Juiz de Fora/MG
Encantos da tarde
Explode a tarde rubra e refulgente,
na primavera exuberante em cores,
aos olhos do roceiro indiferente
e aos gorjeios dos pássaros cantores...
Alegre, a tarde entrega-se ao poente
abrindo em leque os últimos fulgores
e em seus rastros deixando, lentamente,
que a noite acenda a luz dos refletores.
- Feliz eu morreria à luz da tarde...
espargindo meus versos sem alarde,
no encanto deste adeus crepuscular,
se pudesse voltar em outra vida,
aos braços da pessoa mais querida,
em primorosa noite de luar!..
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Poema de 
ANTONIO CARLOS DE PAULA
São Paulo/SP
Beijo Quebrado!
Já tive sonho perdido,
já tive um amor sonhado,
fui flor de um vaso partido,
cacos de um beijo quebrado,
eu já rimei contra o vento,
versejei contra a maré,
machuquei meus sentimentos,
tropecei na própria fé!
Entreguei-me apaixonado,
quebrei o sonho e a ilusão,
por isso, hoje o cuidado
com o meu pobre coração,
que sobre as ondas do destino
está vacilando outra vez
levando-me ao desatino,
veja o que a vida me fez!
O sol deste teu sorriso
e a ternura em teu olhar,
me dizem que é preciso
perder o medo de amar!
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Soneto de 
MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ
Amor à Vida
Levei uma “palmada”... ao “pôr os pés”... na vida..
E logo desatei um choro alucinante!
Porém, a minha mãe beijou-me – enternecida! – 
e ao seio me achegou! – Sorri no mesmo instante!!!
De barriguinha cheia – e, tendo por guarida
uns braços, e uma voz serena e repousante,
eu me senti – de pronto! – amada e protegida!
E adormeci, pensando: - “A vida é fascinante!!!”
Se é certo que, ao passar por todos estes Anos,
sofri desilusões, desgostos, desenganos,
também usufruí momentos de prazer!!!
Vivendo, eu me apeguei à vida, de tal jeito,
que a Angústia que ora sinto – aqui, dentro do peito,
não é medo da morte! – É pena de morrer!!!...
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Poema de
ANTONIO M. A. SARDENBERG
São Fidélis/RJ +
Alma
Quando a vida vem sussurrar baixinho
Dizendo coisas que se quer ouvir,
Deixe o recado chegar de mansinho,
Que toda a alma também quer sentir.
Prepare o peito para uma festa,
Faça um convite para ela entrar,
Reparta o resto todo que inda resta,
Pois dividir é muito mais que dar.
E deixe o amor enaltecer a vida
Dando guarida ao pobre coração.
Quando chegar a hora da partida,
Que nos sussurre a voz da emoção.
E que o acalanto de linda cantiga
Deixe que venha a paz que tanto acalma
Trazendo junto a esperança antiga
Que ainda vive dentro dessa alma.
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Hino de 
Garanhuns/PE
Filhos da Terra, oh! gente,
Ergam a voz, brilhem as frontes,
cantando com a alma que sente
e que vai nas brisas dos montes.
Salve Garanhuns!
Os jardins, as palmeiras e alguns
pedaços do céu... mão divinas!
Salve as sete colina!
Estribilho
Nos anais, "Florescente e garbosa
Garanhuns", fostes sempre assim.
A elegância, a beleza da rosa,
as paisagens, estesias sem fim.
Os teus vales bravios outrora
esconderam fugitivos de cor...
A liberdade da Terra arvora
Estes homens de novo pendor.
E o lema "Ad Altiora Tendere"
é o mais fervoroso ideal.
A bandeira, sagrada e serena,
e Simôa da história fanal.
Tuas belezas - cidade das flores
e os ares - poema acolhedor...
Ai! Suspiros! Que vida, que amores
neste hino, que fulge esplendor!
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Sonetilho de 
OLIVALDO JUNIOR
Mogi-Guaçu/SP
Tão somente sobre o adeus
De minh’alma preta e branca,
vivo, em cores, surge o adeus,
que a saudade é muito franca
com quem vive sem os seus!...
De uma perna meio manca,
parto sempre em triste adeus,
que essa vida é quem arranca
de um amigo os outros eus.
Hoje o peito já não chora,
choro a seco neste quarto
que a saudade já penhora.
Hoje eu digo adeus, é hora,
pois o tenho quando parto,
quando parte e quando ora.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
A dama desdenhosa
Uma mui nobre — rica donzela,
Airosa e bela,
Fez a cidade — alvoroçar.
Nas sociedades — mui bem cantava,
Mui bem dançava,
Queriam todos — ser o seu par.
As outras damas — ao seu aspeito*,
Cruel despeito
Na alma sentiam — de as eclipsar.
Rica e formosa — nobre e prendada,
Faltava nada,
Para partidos — ter a fartar.
Já dos mancebos — a estreia toda
Dela anda em roda,
Cada um procura — de a desposar!
Mas desdenhosa — dando à cabeça,
«Não tenho pressa —
Dizia ufana — de me casar!»
Depois severa — cada conquista
Passa em revista,
E em todos acha — que censurar,
Um, nímio* branco — outro é trigueiro,
Outro grosseiro,
Outro mui velho — para a igualar.
No entanto os anos — vão de corrida;
Não pressentida,
Sua beleza — entra a baixar.
Roda somenos — de pretendentes,
Ainda decentes,
Os seus obséquios — vem ofertar.
Mas segue a louca — sua mania:
«Ora — dizia —
Se de tais monos — me hei de agradar!
Fidalgos pobres! — ricos plebeus!
Sem tais sandeus,
Posso contente — vida passar».
Os galãs vão-se — dela zombando;
Até que chegando
O seu espelho — a consultar,
Viu, que desgosto! — que entre os cabelos
Louros e belos,
Alguns começam — a branquejar!
Então ansiosa — busca um marido,
Mas um partido
Sequer mediano — não pôde achar.
E quem rendera — cidade e corte,
Por grande sorte,
Com um corcunda — teve o casar.
= = = = = = = 
* Vocabulário:
Aspeito: aspecto
Nímios: demasiados
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