terça-feira, 5 de agosto de 2008

Prosa Literária

O texto em prosa comum é, tradicionalmente, aquele elaborado em parágrafos e um tipo de mensagem composta por signos lingüísticos em sentido denotativo, selecionados e combinados linearmente, de maneira a tornar essa mensagem clara e objetiva e a mais próxima possível da realidade e da verdade. Sendo um trabalho de elaboração artística, a prosa literária, entretanto, é um tipo de mensagem composta por signos lingüísticos selecionados e combinados de maneira que torne tal mensagem diferente, especial, ou seja, dotada de LITERARIEDADE. A literariedade é um ingrediente que só a mensagem literária possui, pois ela é composta de um tipo de linguagem em que predomina a conotação, os efeitos sonoros, a ambigüidade, a polivalência, o neologismo, o rompimento com as normas de usos dos signos lingüísticos e com as normas gramaticais; a literariedade, assim, é tudo o que torna a obra literária um tipo de discurso diferente de todos os demais (por exemplo do científico, do jornalístico, etc.). Além disso, a obra literária é FICÇÃO: tudo que nela existe é INVENÇÃO DO AUTOR, por mais real, por mais verossímil que pareça. A obra literária é um mundo muito parecido com o mundo real: é uma imitação (=representação) da realidade através de palavras, de signos. A palavra rosa, no texto literário, representa a rosa que existe na realidade.

A prosa literária, quanto ao conteúdo e à forma de transmissão da sua mensagem, pode ser uma obra de gênero:

a) DRAMÁTICO, se for uma obra em prosa elaborada com o fito de ser REPRESENTADA num palco. Nessa forma de representação, são as ações (os “fazeres”) das personagens , no decorrer da peça teatral, que “contam” ao receptor a história (o enredo). São de gênero dramático: a comédia, a tragédia, a tragicomédia, a ópera, etc.

b) NARRATIVO, se for uma obra em que alguém (o NARRADOR) conta uma história (ENREDO) ,produto de um conjunto de AÇÕES desempenhadas por pessoas fictícias (PERSONAGENS), num TEMPO, num ESPAÇO e numa SEQÜÊNCIA que dá, a essa história contada, uma idéia de VERACIDADE (= VEROSSIMILHANÇA) por mais mentirosa e impossível que ela seja. São de gênero narrativo as seguintes prosas literárias: o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula (e o apólogo) e a parábola.

A seguir, focalizaremos com detalhes o Gênero Narrativo, já que a maioria das obras literárias brasileiras e portuguesas em prosa pertencem a esse gênero.

A PROSA NARRATIVA

I- ELEMENTOS DA NARRATIVA LITERÁRIA:

1. a AÇÃO: é a soma de gestos e atos desempenhados pelas personagens que compõem o enredo. Ela pode ser:

a) externa = uma viagem, o deslocamento de uma sala para outra, etc.;
b) interna = é toda a ação que se passa na consciência ou inconsciência de quem narra. Esse tipo de ação é própria das narrativas psicológicas ou introspectivas (veremos mais adiante)

As ações, na prosa narrativa de ficção, têm que parecer verdadeiras, mesmo que elas não ocorram na realidade; para isso, é preciso que, desde o início, haja coerência na conduta da personagem. Por exemplo: do início ao fim, o cão Quincas Borba “pensa”, o que faz parecer algo possível e natural para o leitor. Um cão “pensar” seria inverossímil (até numa obra literária) se isso começasse a acontecer de repente, no meio da história, por exemplo.

A ação, em suma, é o “pôr em movimento” personagens que se relacionam entre si. Como na vida, essas relações podem ser de amor, de amizade, de competição, de oposição, etc. A ação é o elemento essencial de toda e qualquer narrativa, pois é o que distingue esse tipo de discurso dos demais ( de uma descrição, de uma dissertação, etc.).

2. o ENREDO: deverbal de “enredar”, prender, colher na rede. É sinônimo de HISTÓRIA, TRAMA, ASSUNTO, INTRIGA.

“É a composição de atos (ações) feitos pelas personagens”(Aristóteles)

“É uma seqüência de acontecimentos encadeados rumo ao desenlace ou epílogo (=final da história)”(Massaud Moisés)

“É uma narrativa de acontecimentos arranjados em sua seqüência temporal”(E.M.Forster)

“É o arranjo de uma história, é o corpo de uma narrativa, é a maneira como a matéria é narrada ao leitor. ”(Samira Nahid de Mesquita)

O enredo pressupõe um nexo de causalidade entre os acontecimentos. Numa narrativa, o que precede o enredo é o PRÓLOGO da narrativa e o desfecho do enredo é o EPÍLOGO. Toda narrativa, portanto, tem um começo, um meio e um fim, ou seja, o PRÓLOGO, a TRAMA ou ENREDO e o EPÍLOGO. Assim , conforme a ordenação dos fatos e situações narradas, o enredo pode apresentar uma organização linear, mais próxima da ordem narrativa oral, da narrativa tradicional (mitos, lendas, casos, contos populares, etc.) em que se respeita a cronologia (narra-se antes o que aconteceu antes), obedece-se à ordem começo, meio e fim, ao princípio da causalidade (fatos ligados pela relação de causa e efeito) e à verossimilhança (procura-se a aparência da verdade, respeita-se a logicidade dos fatos). O enredo é a própria estruturação da narrativa de ficção em prosa. Ele será não o somatório, mas o produto das relações de interdependência entre a sucessão e a transformação de situações e fatos narrados, e a maneira como são dispostos para o ouvinte e o leitor pelo discurso que narra.

3. a PERSONAGEM: do latim “persona” = máscara de ator; atuante, actante.

As personagens , na narrativa literária e no teatro, são os seres fictícios construídos à imagem e semelhança dos seres humanos reais; são os que praticam as ações da narrativa: os agentes, portanto. Animais ou seres inanimados só são personagens quando têm características e ações humanas (personificação). As personagens, por conseguinte, representam PESSOAS : são os habitantes do mundo ficcional, seres que não existem no mundo real e fora das palavras, por isso, elas são um “problema lingüístico”.

Não existe ação sem personagem e personagem sem ação.

As personagens são classificadas quanto às ações que praticam e quanto à sua importância no enredo.

- TIPOS DE PERSONAGENS QUANTO ÀS AÇÕES QUE PRATICAM (Forster):

a) PLANAS: sua personalidade não revela surpresa; são personagens estáticas, infensas à evolução. Subdividem-se em tipos (personagens excêntricas, exageradas, mas sem deformação) e caricaturas ( personagens que tem características que provocam tamanha distorção que chegam a ser ridículas; são personagens cômicas);

b) REDONDAS: apresentam várias qualidades ou tendências, repelindo todo o intuito de simplificação. São as personagens que surpreendem o leitor; são dinâmicas porque evoluem. Subdividem-se em caracteres (quando a complexidade se acentua, a mudança de personalidade é tal que gera no enredo conflitos indissolúveis) e símbolos (quando a complexidade parece ultrapassar a fronteira que separa o humano do mítico, o natural do transcendental. Capitu é um exemplo perfeito).

- TIPOS DE PERSONAGENS QUANTO à IMPORTÂNCIA NO ENREDO:

a) PERSONAGENS PRINCIPAIS:

A1. protagonista: herói ou heroína da trama (ou anti-herói), é aquela que ganha primeiro plano na narrativa;

A2. antagonista: vilão, é o opositor ou oponente da protagonista (é o protagonista às avessas), aquele que cria os obstáculos da trama;

b) PERSONAGENS SECUNDÁRIAS:

B1. adjuvante ou coadjuvante: é a personagem que está atuando ao lado (=aliada) da protagonista ou da antagonista, podendo ser humano ou não (uma fada, um objeto “encantado”, etc.)

B2. auxiliar ou árbitro ou juiz: é a personagem que funciona como um elemento decisivo dentro de um conflito, auxiliando a fazer ou a desfazer os obstáculos da trama, pendendo para a protagonista ou para a antagonista, respectivamente.

B3. figurativa : suas ações ou mera presença no enredo pouco ou em nada alteram os fatos da narrativa.

4. o TEMPO: é o elemento que ordena as ações na narrativa, encadeando-as e produzindo uma relação de causa-efeito entre elas.

O TEMPO CRONOLÓGICO OU HISTÓRICO é o mesmo do relógio, do calendário. É o tempo da NARRATIVA LINEAR (antes/depois), como o do conto, da novela e da maioria dos romances.

O TEMPO PSICOLÓGICO é o infenso a qualquer ordem. Os episódios são apenas justapostos, sem que haja entre eles qualquer vínculo lógico, sintático-semântico. É o tempo da NARRATIVA PSICOLÓGICA OU INTIMISTA.

5. o ESPAÇO: é o lugar, o cenário onde as ações são feitas pelas personagens. Os espaços podem ser urbanos, naturais, o interior de uma casa, de um teatro, etc. Nas narrativas psicológicas, o espaço é a mente do narrador ou de uma personagem.

6. o NARRADOR é quem conta o enredo. Ele pode participar da história ou apenas ser um mero observador. Na verdade, como tudo na narrativa, o narrador é também uma das invenções do autor. Dependendo da posição em que se coloca o narrador para contar a história (da pessoa verbal que narra – 1a ou 3a ), ou seja, do FOCO NARRATIVO ou PONTO DE VISTA, podemos classificar, segundo Friedman, o narrador como:

NARRATIVA EM PRIMEIRA PESSOA :

A) NARRADOR PROTAGONISTA (autodiegético) : é o narrador que é também personagem protagonista da narrativa;

B) B)EU COMO TESTEMUNHA (homodiegético) : é o narrador que também é personagem secundária da narrativa;

C) NARRADOR ONISCIENTE INTRUSO SUBJETIVO: é o narrador que conhece todos os demais elementos da narrativa e que não é personagem; conta a história em primeira pessoa;

NARRATIVA EM TERCEIRA PESSOA:

A) NARRADOR ONISCIENTE INTRUSO OBJETIVO: é o narrador que conhece todos os demais elementos da narrativa e que não é personagem; conta a história em terceira pessoa;

B) NARRADOR ONISCIENTE NEUTRO (heterodiegético): é o narrador observador , que não interfere na história em nenhum momento e que não conhece os fatos com antecedência (conhece no momento em que o fato acontece);

NARRATIVA SEM NARRADOR: as personagens agem por si. (não há ninguém contando a história, só o drama):

. narrativa sem narrador e com apenas uma personagem: ONISCIÊNCIA SELETIVA MÚLTIPLA

. narrativa sem narrador e com várias personagens: ONISCIÊNCIA SELETIVA.

II- TIPOS DE PROSA NARRATIVA

1. ROMANCE: é a obra em prosa narrativa e de ficção mais extensa que existe, por isso contém muitos episódios; é o tipo de narrativa em que várias personagens e ações se interrelacionada e em que os espaços e as personagens são caracterizados mais detalhadamente. O enredo do romance está sempre na íntegra, ou seja, caso o leitor queira ler sem interrupções a história toda contada no romance, ele pode fazê-lo. Há vários tipos de romances: o policial, o sentimental, o psicológico, o experimental, o histórico, o de aventuras, o de “capa e espada”, o cientificista, etc. Podem ser românticos, realistas-naturalistas, modernistas, etc., quanto ao estilo. Quanto ao espaço predominante na narrativa, podem ser urbanos, regionalistas, intimistas, etc.

2. NOVELA: é a obra em prosa narrativa e de ficção um pouco menos extensa e, por isso, seus elementos são mostrados de maneira mais condensada. Caracteriza-se principalmente por ser UMA NARRATIVA EM CAPÍTULOS, ou seja, o enredo é apresentado ao leitor aos poucos, o que significa que ele só conhecerá a história na íntegra no momento em que terminar a leitura do último capítulo da obra. Mesmo que ele tenha tempo para a leitura, ele não tem material de leitura além do(s) capítulo(s) disponível (eis).

3. CONTO: é uma das narrativas menos extensas que existem (normalmente tem, no máximo, dez páginas); é um mini-romance ou um recorte dele: o conto corresponde a UM dos vários episódios de um romance. Por ser uma narrativa muito breve, não há praticamente descrições de espaços e de personagens no conto e seu conteúdo normalmente é a narrativa de um fato ou episódio incomum, curioso e, muitas vezes, sobrenatural ou irreal.

4. CRÔNICA: é a narrativa mais breve que existe; é leve e baseia-se em fatos ou episódios do cotidiano, vistos com humor ou, às vezes, com melancolia.

As outras narrativas que existem, mas em grau de importância menor que as citadas, são:

- A FÁBULA: narrativa literária em que as personagens são seres não humanos personificados e em que o enredo encerra uma “lição de moral”. Normalmente, na fábula, as personagens são animais personificados; quando as personagens são seres inanimados personificados (uma linha e uma agulha, por exemplo), tem-se um APÓLOGO.

- A PARÁBOLA: é uma narrativa que também encerra um ensinamento. As personagens, porém, são humanas. São narrativas comuns às obras religiosas e ao texto bíblico.

Não importa o tipo de narrativa: o que importa é narrar, é levar alguém a viajar para um mundo distante, que não existe nos mapas porque não é real, é ideal. É o mundo onde o impossível é possível, onde nossos defeitos desaparecem, onde nossos sonhos se realizam e de onde não queremos sair. Mas quando saímos desse mundo de fantasia, de mentirinha, de papel, e voltamos à nossa realidade, nosso espírito está tão bem alimentado que somos capazes de perceber que até nele há beleza, há poesia, há amor e há coisas que não conseguíamos captar porque nossa alma estava cega.

Fontes:
http://br.geocities.com/culturauniversalonline/poemas_e_poesias_1.htm

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