sábado, 2 de janeiro de 2010

Jerônimo Mendes (História da Poesia Universal – Breve Relato ) Parte XI – final



CONCLUSÃO

Concluir um trabalho não é tarefa muito fácil, como sugerem os entendidos. As idéias e informações acumuladas ao longo de três meses de trabalho contínuo e árduo ainda me confundem a cabeça, mas trouxeram uma única certeza : apesar do gosto particular pela poesia, nunca pensei em levar o estudo a sério e que acabaria tão envolvido.

Como já vimos anteriormente, a poesia não pode ser feita como se faz um bolo, ou seja, com receita. Parece claro, mas há pessoas que supõem ser suficiente colocar no papel algumas palavras de maneira metrificada, dentro das regras tradicionais, para se ter Poesia.

Outras são ainda mais radicais e acham que, se o poema não está metrificado, ele não pode, simplesmente, conter Poesia. No entanto, a Poesia independe da forma como vem escrita ou falada.

José de Alencar, o genial romancista brasileiro, que hoje é lido tanto ou até mais do que quando era vivo, descobriu isso em 1865. Cansado de tentar produzir um grande poema indianista, Os Filhos de Tupã, descobriu não ser capaz de fazê-lo em versos, pelo menos de maneira satisfatória para sua autocrítica aguçada. Romance era o que ele sabia fazer, por isso atingiu o máximo de sua produção poética com Iracema, um romance-poema que pode ser lido com satisfação e deleite ainda hoje.

Quando estudei os primeiros poetas, de longe comecei a entender todos os mistérios que envolvem a criação poética. Mistérios que tornaram prodigiosos e amados nomes como Homero, Sófocles, Shakespeare e Drummond.

Fui feliz em testemunhar a importância dos poetas para o seu povo, amante do seu lado rebelde, pois os poetas sempre tomaram as rédeas do pensamento popular e não mediram esforços para expressar toda a ironia e descontentamento em relação à opressão dos tiranos em todos os tempos. Mas, nem só de rebeldia viveram os poetas. Foram também a expressão máxima dos sentimentos inerentes a todo ser humano, e como seres humanos, amaram, pecaram, tomaram as dores, indignaram-se e jamais sofreram o desprezo, a não ser dos seus oponentes.

Através de ideais e convicções, materializados em poemas, souberam resistir ao tempo e ao jugo homem. Toda a universidade que se preza dedica um estudo mais que profundo para a história da poesia. Na Universidade de Oxford, em Londres, a cadeira especial de Ensino da Poesia é muito disputada e exige dedicação mais do que simples curiosidade.

Qualquer escola, cidade, estado ou país, tem o seu poeta por excelência. E se os poetas estão em toda parte, quem poderá negar a importância da poesia como arte e instrumento de reflexão ? E dos poetas que já cumpriram o seu papel na face da Terra, mas continuam causando a mesma perplexidade de antes ?

Diante da indiferença dos editores em relação à produção poética de qualquer país, causa-me espanto e indignação quando deparo-me com as barbaridades publicadas e lançadas diariamente nas livrarias. No mundo atribulado de hoje, as divergências religiosas e culturais neutralizam a capacidade de convivência pacífica do homem ao mesmo tempo que elevam-no à condição de predador e ávido por sobrevivência, instinto atribuído, até pouco tempo, exclusivamente aos animais.

O ser humano sustenta uma necessidade desenfreada de acúmulo de poder e dinheiro; é o jogo da sobrevivência, onde tudo converge para o “salve-se quem puder”. A escala de valores foi por água abaixo e o homem já consegue rir da desgraça alheia. Neste caso, a poesia apresenta-se como instrumento de reflexão e os poetas vem cumprindo sua difícil tarefa, a duras penas, numa sociedade cada dia mais inculta.

Por esse motivo penso que a poesia vêm resistindo bravamente, a despeito de todas as anunciações de sua morte e das decadentes produções literárias, onde os repugnantes conquistam a simpatia popular por conta do baixo nível de cultura ou esclarecimento das pessoas.

Todos os concursos literários que conheço incluem e abrem espaço, inevitavelmente, para a poesia, na esfera regional, nacional ou internacional. E se abrem espaço, significa que os estudiosos do assunto não mais podem viver somente de ficção, humor e da violência despejada nos romances e livros de contos, mas suas almas clamam pelo mistério e a sedução da metáfora obrigatória na criação poética.

Os livros de história jamais deixaram de registrar a existência dos poetas em qualquer século da existência humana. Minha pesquisa confirmou o registro inequívoco de poetas e mais poetas em quase todas as fases do desenvolvimento cultural da humanidade, da Grécia Antiga ao mundo contemporâneo. Toda época teve o seu representante.

Por esse motivo, custa-me entender o menosprezo da atualidade em relação ao mundo poético e daí a nossa necessidade e propósito de divulgar sua origem e desenvolvimento como forma de preservar a espécie. Minhas propostas alternativas para o ensino da poesia nas escolas, apesar de soarem humildes, significam a retomada dos valores literários restritos, atualmente, à elite cultural da humanidade.

Salvo um ou outro caso isolado, a poesia é pouco divulgada nas escolas e vai se afunilando em debates de difícil acompanhamento nas universidades e nos encontros culturais promovidos por fundações ou secretarias de educação. É preciso reinventá-la, estimular a criação poética, buscar o prazer da leitura e devolver à poesia o lugar de destaque que lhe pertenceu, desde os tempos de Homero e de Davi. E ninguém melhor do que as crianças, símbolos de pureza e imaginação, para absorver um papel tão importante nos destinos do desenvolvimento cultural da humanidade, para o seu próprio bem.

Tive a infelicidade de encontrar alguns comentários nos livros pesquisados, decretando a poesia como arte ultrapassada e decadente. Quanta pobreza de espírito e falta de percepção ! A poesia é eterna, oscilante, mas eterna. Ao confronto com tamanha heresia, cabe-me confortar a alma na poesia de todos os tempos, deslumbrante, onde Augusto dos Anjos esculpiu a humana mágoa, Baudelaire cultivou as flores do mal, Drummond resistiu a todas as pedras no caminho e João Cabral de Melo Neto ainda cumpre sua sina. Esse trabalho foi realizado em torno de uma necessidade popular. Parafraseando o grande poeta Fernando Pessoa, “ tudo vale a pena quando a alma não é pequena ”.

Pelos versos de Ferreira Gullar, carregaremos a esperança que nunca morre, pois a poesia já é parte integrante da nossa alma :

Como dois e dois são quatro,
sei que a vida vale a pena,
embora o pão se pouco
e a esperança pequena
”.

E viva a poesia, cheia de vida, de encanto e de alegria. E para provar que a poesia vive em mim, deixo aqui, ao final desse humilde trabalho, a poesia que hei de levar comigo até o fim dos meus dias :

Viver em paz comigo mesmo
(ainda que eu morra infeliz)
ser alegre todo dia
(ainda que eu deite triste)
dar amor a vida toda
(ainda que eu fique sozinho)
deixar as águas rolarem
(ainda que eu naufrague)
enfrentar a tempestade
(ainda que o vento me leve)
crer na força das palavras
(ainda que eu morda a língua)
contemplar de frente o sol
(ainda que eu siga no escuro)
esperar pelo possível
(ainda que pareça impossível)
construir a liberdade
(ainda que eu viva preso)
voar alto cada dia
(ainda que eu desça ao abismo)
ser capaz da forma justa
(ainda que eu me faça injusto)
tomar as dores do mundo
(ainda que eu viva de enganos)
crescer segundo a segundo
(ainda que dure mil anos)

BIBLIOGRAFIA

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Fonte:
Monografia feita pelo autor em Curitiba / PR , março de 2001

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