No estudo do Folclore, mitos e lendas são parte da chamada “Literatura Oral”, que compreende também contos, fábulas, poesia, parlendas, provérvios, frases-feitas, etc. Apresentamos, a seguir, uma coletânea de mitos e lendas de diversos pontos do Brasil.
ALAMOA
Belíssima mulher, loura, misteriosa, olhos neons, que podem ser verdes ou azuis, cabelos lisos e compridos, vestida numa túnica muito transparente que chega quase a tocar o chão.
Assim a chamam porque loria é “alamoa” (alemã) para os habitantes de Fernando de Noronha, onde ela reside, nos altos picos dessa ilha.
À noite, surge nas praias, às vezes dança, nua, iluminada pelos raios que coincidem com sua aparição. Deslumbra, fascina, enche de desejo os desavisados que com ela se defrontam – e de medo os pescadores que já a conhecem e dela correm, espavoridos, pois o apaixonado que ao seu namoro não resiste e se põe a segui-la, nunca mais é visto.
Dizem que a Alamoa atrai com seu fascínio os que por ela se apaixonam, guiando-os para os picos da ilha, onde se transforma numa medonha caveira.
(A ela já se referiram como “lenda da Alamoa” e como “mito da Alamoa”, cf. “Alamoa”, Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Casculdo.)
ANA JANSEN
Assombração de uma mulher deformada pelo fogo que aparece de madrugada nas ruas de São Luís do Maranhão, conduzindo velozmente uma carruagem em chamas, puxada por enormes cavalos sem cabeça.
Conta-se que, quando viva, foi uma perversa mulher que sentia prazer ao fazer seviciarem seus escravos. Ela mandava arrancar os dentes e as unhas de crianças, filhos de escravos, que visse apanhando frutas em seus pomares. Ordenava que açoitassem cruelmente os escravos, às vezes por nenhum motivo.
Tendo em vista uma das distinções entre mito e lenda, segundo a qual esta última seria mais localizada – não obstante a dúvida quanto à extensão territorial que um ou outra precisa alcançar para ser classificado como tal ou qual – atrevemo-nos a dizer que se trata de uma lenda a história de Ana Jansen, pois na bibliografia consultada dela não encontramos referência; tomamo-lhe conhecimento por meio de informantes maranhenses por ocasião do Festival do Folclore de Olímpia/SP, realizado anualmente, em Agosto.
ANHANGÁ
Mito geral no Brasil, o Anhangá é criatura assustadora, um grande veado cujos olhos são lança-chamas. Ele representa um grande pesadelo para os caçadores, que, quando com ele se defrontam, ao tentarem baleá-lo, vêem seus tiros serem desviados em direção a entes queridos e pessoas amigas.
Sua fúria contra os caçadores se amplia quando as vítimas são animais lactantes ou filhotes que ainda precisam ser amamentadas.
Conta uma lenda que um índio perseguia implacavelmente uma veada que amamentava seu filhotinho, tendo sido este gravemente ferido por uma certeira flechada, e depois seguro pelo caçador, que a torturava, atrás de uma árvore, para atrair a veada com os gritos do filhote.
Caindo na emboscada, o animal é trespassado por uma mortífera flecha do índio.
No entanto, ao contemplas sua presa, o índio, desesperado, viu-se vítima de uma ilusão engendrada pelo Anhangá. Era o corpo de sua mãe.
ARRANCA-LÍNGUA
Macacão gigante que atacava os gados em Goiás, matando-os a murros e arrancando-lhes somente a língua, com a qual se alimentava.
Câmara Cascudo informa que a imprensa goiana, carioca e mineira registraram esse mito em várias matérias sobre os assombrados depoimentos de fazendeiros.
Regina Lacerda o catalogou como lenda em “Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso”.
BARBA RUIVA
Piauiense dos mais famosos, o Barba Ruiva é um homem encantado, de barba e cabelos ruivos, alto, viril, muito branco, que faz morada na Lagoa do Paranaguá, onde teria sido jogado ao nascer, e salvo por uma mãe d´água, diz a lenda.
À margem da já mencionada lagoa, costuma ser visto a repousar, quando da água se farta, despertando a curiosidade das mulheres que lá vão lavar roupa – a cujas perguntas não responde.
Quando dele se aproximam percebem que, fora da água, sua barba, unhas e peito estão em brasa.
Correm, então, assustadas, enquanto ele as persegue querendo abraçá-las e beijá-las.
À vista disso, nenhuma mulher lava roupa sozinha às margens daquela lagoa.
Algumas gotas de água benta na cabeça do Barba Ruiva poderiam quebrar seu encanto.
Mas, apesar de ser ele inofensivo, ninguém ainda teve coragem.
(Registrado como mito e como lenda)
BICHO-HOMEM
Outro gigantesco antropófago, de um olho só, e que também só tem uma perna, cujo pé tem forma redonda, deixando pegadas que lembram o fundo de uma garrafa.
Pode derrubar até uma montanha com seus possantes murros e é capaz de beber um rio inteiro. Vive oculto nas serranias.
Mito corrente, em variantes, em quase todo o Brasil.
Muito se confunde com o chamado Pé-de-Garrafa. Alguns autores, aliás, registram-nos como sendo manifestações de uma mesma entidade: “o mítico Bicho-Homem é também chamado Pé-de-Garrafa” (Câmara Cascudo, “Dicionário do Folclore Brasileiro”).
Entretanto, alguns relatos sobre o Pé-de-Garrafa (df. p. 47), em que se lhe dão outras características, levam-nos a defender que sua existência, na imaginação do povo, se não era, passou a ser independente da do Bicho-Homem.
BOITATÁ
Um dos primeiros mitos registrados no Brasil, segundo nos informa Câmara Cascudo, é uma grande serpente de fogo que habita as margens dos rios, mata animais e lhes devora os olhos, vindo daí o seu intenso brilho.
Do tupi mboi, cobra, e tatá, fogo: cobra de fogo, o fogo em forma de cobra.
Há versões de que o Boitatá destrói com o fogo dos seus olhos, fazendo arder em combustão, aqueles que incendeiam os campos.
A aparição do Boitatá traz cegueira, loucura ou a morte. Para escapar de seu ataque, é preciso atirar-lhe algum objeto de ferro ou, então, ficar quieto, prender a respiração e fechar os olhos.
Dizem que se transformar nesse monstro é o castigo para purificar as almas dos amantes compadres que em vida traíam seus respectivos cônjuges, e daqueles que mantiveram relações incestuosas.
Explica-nos Theobaldo Miranda dos Santos (em “Lendas e Mitos do Brasil”) que “o mito do Boitatá parece ter se originado do fogo-fátuo ou santelmo, pequeno penacho luminoso, que aparece nos mastros dos navios devido à eletricidade, ou, à noite, sobre os pântanos e cemitérios, e que são apenas emanações de fosfatos e hidrogênios, produtos de decomposição de substâncias animais”.
Alguns autores, a exemplo de Crispim Mira (em “Terra Catarinense”), registram uma variante, dentre as inúmeras desse mito geral no Brasil, segundo a qual o Boitatá é um boi ou um touro “com patas como a dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo”.
Amadeu Amaral (“Tradições Populares”) retrata essa variante como exemplificativa do fenômeno que se convencionou denominar “etimologia popular”, que designa “as alterações dos vocábulos por efeito de uma errôneas e imaginosa compreensão da respectiva origem”.
No caso dessa variante, a palavra “boi” (mboi), segundo o eminente folclorista, representou o elemento transformador do aludido mito.
BOTO SEDUTOR
Costumam dizer que a maior protagonista das lendas sobre a fauna amazonense, famoso em todo o Brasil, “ele, o Boto”, ao chegar a noite, transforma-se num belíssimo rapaz, alto, branco, robusto, bem vestido, mas sempre de chapéu para esconder o orifício que tem na cabeça, através do qual respira.
O Boto, quando toma a forma humana, comparece triunfalmente aos bailes, onde, com as moças ribeirinhas, conversa, bebe, dança, namora.
Conquistador infalível, adivinha os segredos, os pensamentos e desejos de suas “vítimas”.
Antes que amanheça, porém, ele se retira furtivamente, mergulha num rio, e torna-se de novo em boto.
Às vezes é implacavelmente perseguido ou cercado em emboscadas tramadas por homens enciumados, mas ele nunca se deixa apanhar pois tem um faro mais possante que o de cães caçadores e é rápido como um tiro.
Muitas mulheres costumam também a ele atribuir a paternidade de filhos espúrios e naturais, os denominados “filhos do Boto” (muitas vezes injustamente).
Noutras palavras, quando moças solteiras das populações ribeirinhas engravidam, dir-se-á que o filho é do boto.
Para finalizar, dentre algumas superstições acercado boto, lembremos esta: o olho seco de um boto, para os índios é poderoso instrumento de feitiços amorosos, depois de bem preparado, de acordo com os ritos do pajé-a pajelança, a feitiçaria amazônica. “Não há mulher que resista sendo olhada através do olho de um boto”.
(A ele já se referiram classificando-o como lenda e como mito)
CABEÇA-DE-CUIA
Homem magro, alto, que habita o rio Parnaíba, no Piauí. O nome deriva de sua cabeça que lembra o formato de uma cuia. A cada sete anos, devora uma mulher de nome Maria, e também meninos que brincam nas águas daquele rio. As mães, temerosas, proíbem seus filhos de ali nadarem.
Amaldiçoado por sua mãe, a quem muito maltratara, foi condenado a viver no mencionado rio durante 49 anos. Após comer sete Marias, retomaria seu estado natural.
CABOCLO-D´ÁGUA
Homem pequeno, musculoso, sisudo, da cor do cobre, com mãos e pés de pato, ele habita as águas do Rio São Francisco, aparecendo também em outras localidades fluviais. Atormenta os pescadores, vira embarcações, alaga cargas, provoca ondas, atrapalha pescarias, assombra, mata.
Para afugenta-lo é preciso fincar uma faca no fundo da canoa, ou então nela desenhar um signo-de-salomão.
(Vale registrar aqui a figura do CAVALO-DO-RIO, cavalo encantado que também habitaria o Rio São Francisco exercendo efetivamente o mesmo papel do Caboclo-d´água.)
CAIPORA
“É o Curupira tendo os pés normais. De caá, mato, e porá, habitante, morador”, segundo Câmara Cascudo.
Diz-se que é um caboclinho coberto de pêlos que anda sempre montado num porco-do-mato, protetor dos animais e inimigo dos caçadores (descrição mais comum).
As inúmeras versões sobre o Caipora possibilitam que se apresentem ele e o Curupira (sempre associados e confundidos) como manifestações transformadas de uma mesma entidade, ao mesmo tempo que se admite a coexistência de ambos.
Ruth Guimarães, por exemplo, em “Quatro Histórias do Curupira”, acrescente um parêntesis a esse título: “(Ou Caipora ou Caapora, o Pai do Mato)”.
Basílio de Magalhães (“Folclore no Brasil”), diz que o Curupira e o Caipora “constituem a mesma personificação do gênio das florestas.”.
Pessoalmente, acreditamos que quando não se trata de simples diversidade nominal, alguns mitos – se não tinham – passaram a adquirir identidade própria e personalidades distintas.
No presente caso, embora aparentemente se trate de simples diferença de nome, a figura do Caipora tal como aqui descrita já se criou efetivamente no imaginário popular, desvinculada da do Curupira.
CANHAMBORA
Homem negro, grandalhão, feio, com cabelos compridos até os pés. Às vezes é citado como tendo, ao mesmo tempo, forma humana e animal, metade cavalo e metade homem.
Ele é detentor de poderes capazes de ressuscitar os animais mortos pelos homens brancos, a quem persegue e agride.
Diz o povo que o Canhambora é assombração de escravos mortos a pancadas a mando de seus senhores, aos quais, posteriormente, volta para assombrar.
Mais conhecido em Minas Gerais e em São Paulo.
CAPELOBO
Criatura fantástica, com corpo de homem, cabeça de tamanduá ou de anta, é pés redondos.
Cães e gatos recém-nascidos são seu alimento principal. Mas ele também ataca humanos, “chupando-lhes o miolo”, ou seja, sorvendo-lhe a massa cefálica.
O ponto vulnerável desse monstro é o seu umbigo, através do qual pode ser abatido.
Ìndios muito velhos transformar-se-iam nesse monstro a que costumam chamar de Lobisomem dos índios.
Popular no Maranhão e na região do Araguaia.
CAVALO BRANCO
É um fogoso cavalo branco que em noites enluaradas é visto a pastar as relvas marginais do Valo Branco, em Iguape.
As mães sempre advertem suas filhas para não passarem pelas relvas marginais do Valo Grande porque o Cavalo Branco, ao ver uma moça virgem, faz com que ela caia naquelas águas e depois desaparece com ela.
Quando novamente há lua cheia ele volta para buscar outra moça para viver com ele no fundo do Valo Branco.
CAVALO DAS ALMAS
Segundo a Profª Palmira M. Degásperi Rodrigues (em “Mito, Folclore e Filosofia”), “é um animal miraculoso, que percorre as estradas à procura dos mortos recentes, que o esperam nos moirões das porteiras. As almas vão engarupadas nesse cavalo”.
CHIBAMBA
De origem africana, e conhecido em São Paulo e Minas Gerais, é um negro velho que se veste com folhas de bananeira, ronca como um porco e está sempre a dançar, em ritmo compassado.
Ele amedronta crianças choronas:
“Olha esse choro, que a Chibamba vem te pegar; ele papa criança”.
Acredita-se que ele foi um velho escravo que morreu no tronco, de tanto chicotada.
Informa-nos Rossini Tavares de Lima que ao Chibamba também se atribuía a fama de suprimir a dor dos escravos açoitados, atraindo-a toda para si quando o invocaram.
CHUPA-CABRAS
É relevante registrarmos esse, haja vista sua atualidade. “Novo ser mitológico”, segundo Hitochi Nomura.
O Chupa-cabras teria aparecido nas áreas rurais de municípios vizinhos à cidade de Campinas, por volta de 1997. Os habitantes da mencionada região atribuíram súbitas e misteriosas mortes de ovelhas e bois a uma estranha criatura notívaga.
O jornalista Paulo San Martin, na edição de 8 de junho de 1997 do jornal A Tribuna, de Campinas, relata na matéria intitulada “Chupa-cabras: agora ele se tornou histeria coletiva” que as marcas deixadas pelo bicho não se confundem com a de nenhum predador conhecido, não encontrando o seu ataque referência na zoologia e na biologia. “Praticamente todo o sangue é drenado e as feridas são inconfundíveis, como se tivessem sido feitas por garras longas e afiadas, semelhantes a navalhas. Em alguns casos são retirados, com precisão cirúrgica, órgãos e glândulas nobres”.
A história foi, na época, muito divulgada pelos meios de comunicação. Uma babalorixá campinense, que afirma tê-lo visto, o descreve como uma criatura peluda apenas da cintura para cima, com poucos pelos nas pernas, e com focinho semelhante ao de um lobo.
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continua...
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Fontes:
http://www.folcloreolimpia.com.br/?pagina=folclore=mitoselendas
Montagem da trova sobre imagem obtida no site de Rosane Volpatto
ALAMOA
Belíssima mulher, loura, misteriosa, olhos neons, que podem ser verdes ou azuis, cabelos lisos e compridos, vestida numa túnica muito transparente que chega quase a tocar o chão.
Assim a chamam porque loria é “alamoa” (alemã) para os habitantes de Fernando de Noronha, onde ela reside, nos altos picos dessa ilha.
À noite, surge nas praias, às vezes dança, nua, iluminada pelos raios que coincidem com sua aparição. Deslumbra, fascina, enche de desejo os desavisados que com ela se defrontam – e de medo os pescadores que já a conhecem e dela correm, espavoridos, pois o apaixonado que ao seu namoro não resiste e se põe a segui-la, nunca mais é visto.
Dizem que a Alamoa atrai com seu fascínio os que por ela se apaixonam, guiando-os para os picos da ilha, onde se transforma numa medonha caveira.
(A ela já se referiram como “lenda da Alamoa” e como “mito da Alamoa”, cf. “Alamoa”, Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Casculdo.)
ANA JANSEN
Assombração de uma mulher deformada pelo fogo que aparece de madrugada nas ruas de São Luís do Maranhão, conduzindo velozmente uma carruagem em chamas, puxada por enormes cavalos sem cabeça.
Conta-se que, quando viva, foi uma perversa mulher que sentia prazer ao fazer seviciarem seus escravos. Ela mandava arrancar os dentes e as unhas de crianças, filhos de escravos, que visse apanhando frutas em seus pomares. Ordenava que açoitassem cruelmente os escravos, às vezes por nenhum motivo.
Tendo em vista uma das distinções entre mito e lenda, segundo a qual esta última seria mais localizada – não obstante a dúvida quanto à extensão territorial que um ou outra precisa alcançar para ser classificado como tal ou qual – atrevemo-nos a dizer que se trata de uma lenda a história de Ana Jansen, pois na bibliografia consultada dela não encontramos referência; tomamo-lhe conhecimento por meio de informantes maranhenses por ocasião do Festival do Folclore de Olímpia/SP, realizado anualmente, em Agosto.
ANHANGÁ
Mito geral no Brasil, o Anhangá é criatura assustadora, um grande veado cujos olhos são lança-chamas. Ele representa um grande pesadelo para os caçadores, que, quando com ele se defrontam, ao tentarem baleá-lo, vêem seus tiros serem desviados em direção a entes queridos e pessoas amigas.
Sua fúria contra os caçadores se amplia quando as vítimas são animais lactantes ou filhotes que ainda precisam ser amamentadas.
Conta uma lenda que um índio perseguia implacavelmente uma veada que amamentava seu filhotinho, tendo sido este gravemente ferido por uma certeira flechada, e depois seguro pelo caçador, que a torturava, atrás de uma árvore, para atrair a veada com os gritos do filhote.
Caindo na emboscada, o animal é trespassado por uma mortífera flecha do índio.
No entanto, ao contemplas sua presa, o índio, desesperado, viu-se vítima de uma ilusão engendrada pelo Anhangá. Era o corpo de sua mãe.
ARRANCA-LÍNGUA
Macacão gigante que atacava os gados em Goiás, matando-os a murros e arrancando-lhes somente a língua, com a qual se alimentava.
Câmara Cascudo informa que a imprensa goiana, carioca e mineira registraram esse mito em várias matérias sobre os assombrados depoimentos de fazendeiros.
Regina Lacerda o catalogou como lenda em “Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso”.
BARBA RUIVA
Piauiense dos mais famosos, o Barba Ruiva é um homem encantado, de barba e cabelos ruivos, alto, viril, muito branco, que faz morada na Lagoa do Paranaguá, onde teria sido jogado ao nascer, e salvo por uma mãe d´água, diz a lenda.
À margem da já mencionada lagoa, costuma ser visto a repousar, quando da água se farta, despertando a curiosidade das mulheres que lá vão lavar roupa – a cujas perguntas não responde.
Quando dele se aproximam percebem que, fora da água, sua barba, unhas e peito estão em brasa.
Correm, então, assustadas, enquanto ele as persegue querendo abraçá-las e beijá-las.
À vista disso, nenhuma mulher lava roupa sozinha às margens daquela lagoa.
Algumas gotas de água benta na cabeça do Barba Ruiva poderiam quebrar seu encanto.
Mas, apesar de ser ele inofensivo, ninguém ainda teve coragem.
(Registrado como mito e como lenda)
BICHO-HOMEM
Outro gigantesco antropófago, de um olho só, e que também só tem uma perna, cujo pé tem forma redonda, deixando pegadas que lembram o fundo de uma garrafa.
Pode derrubar até uma montanha com seus possantes murros e é capaz de beber um rio inteiro. Vive oculto nas serranias.
Mito corrente, em variantes, em quase todo o Brasil.
Muito se confunde com o chamado Pé-de-Garrafa. Alguns autores, aliás, registram-nos como sendo manifestações de uma mesma entidade: “o mítico Bicho-Homem é também chamado Pé-de-Garrafa” (Câmara Cascudo, “Dicionário do Folclore Brasileiro”).
Entretanto, alguns relatos sobre o Pé-de-Garrafa (df. p. 47), em que se lhe dão outras características, levam-nos a defender que sua existência, na imaginação do povo, se não era, passou a ser independente da do Bicho-Homem.
BOITATÁ
Um dos primeiros mitos registrados no Brasil, segundo nos informa Câmara Cascudo, é uma grande serpente de fogo que habita as margens dos rios, mata animais e lhes devora os olhos, vindo daí o seu intenso brilho.
Do tupi mboi, cobra, e tatá, fogo: cobra de fogo, o fogo em forma de cobra.
Há versões de que o Boitatá destrói com o fogo dos seus olhos, fazendo arder em combustão, aqueles que incendeiam os campos.
A aparição do Boitatá traz cegueira, loucura ou a morte. Para escapar de seu ataque, é preciso atirar-lhe algum objeto de ferro ou, então, ficar quieto, prender a respiração e fechar os olhos.
Dizem que se transformar nesse monstro é o castigo para purificar as almas dos amantes compadres que em vida traíam seus respectivos cônjuges, e daqueles que mantiveram relações incestuosas.
Explica-nos Theobaldo Miranda dos Santos (em “Lendas e Mitos do Brasil”) que “o mito do Boitatá parece ter se originado do fogo-fátuo ou santelmo, pequeno penacho luminoso, que aparece nos mastros dos navios devido à eletricidade, ou, à noite, sobre os pântanos e cemitérios, e que são apenas emanações de fosfatos e hidrogênios, produtos de decomposição de substâncias animais”.
Alguns autores, a exemplo de Crispim Mira (em “Terra Catarinense”), registram uma variante, dentre as inúmeras desse mito geral no Brasil, segundo a qual o Boitatá é um boi ou um touro “com patas como a dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo”.
Amadeu Amaral (“Tradições Populares”) retrata essa variante como exemplificativa do fenômeno que se convencionou denominar “etimologia popular”, que designa “as alterações dos vocábulos por efeito de uma errôneas e imaginosa compreensão da respectiva origem”.
No caso dessa variante, a palavra “boi” (mboi), segundo o eminente folclorista, representou o elemento transformador do aludido mito.
BOTO SEDUTOR
Costumam dizer que a maior protagonista das lendas sobre a fauna amazonense, famoso em todo o Brasil, “ele, o Boto”, ao chegar a noite, transforma-se num belíssimo rapaz, alto, branco, robusto, bem vestido, mas sempre de chapéu para esconder o orifício que tem na cabeça, através do qual respira.
O Boto, quando toma a forma humana, comparece triunfalmente aos bailes, onde, com as moças ribeirinhas, conversa, bebe, dança, namora.
Conquistador infalível, adivinha os segredos, os pensamentos e desejos de suas “vítimas”.
Antes que amanheça, porém, ele se retira furtivamente, mergulha num rio, e torna-se de novo em boto.
Às vezes é implacavelmente perseguido ou cercado em emboscadas tramadas por homens enciumados, mas ele nunca se deixa apanhar pois tem um faro mais possante que o de cães caçadores e é rápido como um tiro.
Muitas mulheres costumam também a ele atribuir a paternidade de filhos espúrios e naturais, os denominados “filhos do Boto” (muitas vezes injustamente).
Noutras palavras, quando moças solteiras das populações ribeirinhas engravidam, dir-se-á que o filho é do boto.
Para finalizar, dentre algumas superstições acercado boto, lembremos esta: o olho seco de um boto, para os índios é poderoso instrumento de feitiços amorosos, depois de bem preparado, de acordo com os ritos do pajé-a pajelança, a feitiçaria amazônica. “Não há mulher que resista sendo olhada através do olho de um boto”.
(A ele já se referiram classificando-o como lenda e como mito)
CABEÇA-DE-CUIA
Homem magro, alto, que habita o rio Parnaíba, no Piauí. O nome deriva de sua cabeça que lembra o formato de uma cuia. A cada sete anos, devora uma mulher de nome Maria, e também meninos que brincam nas águas daquele rio. As mães, temerosas, proíbem seus filhos de ali nadarem.
Amaldiçoado por sua mãe, a quem muito maltratara, foi condenado a viver no mencionado rio durante 49 anos. Após comer sete Marias, retomaria seu estado natural.
CABOCLO-D´ÁGUA
Homem pequeno, musculoso, sisudo, da cor do cobre, com mãos e pés de pato, ele habita as águas do Rio São Francisco, aparecendo também em outras localidades fluviais. Atormenta os pescadores, vira embarcações, alaga cargas, provoca ondas, atrapalha pescarias, assombra, mata.
Para afugenta-lo é preciso fincar uma faca no fundo da canoa, ou então nela desenhar um signo-de-salomão.
(Vale registrar aqui a figura do CAVALO-DO-RIO, cavalo encantado que também habitaria o Rio São Francisco exercendo efetivamente o mesmo papel do Caboclo-d´água.)
CAIPORA
“É o Curupira tendo os pés normais. De caá, mato, e porá, habitante, morador”, segundo Câmara Cascudo.
Diz-se que é um caboclinho coberto de pêlos que anda sempre montado num porco-do-mato, protetor dos animais e inimigo dos caçadores (descrição mais comum).
As inúmeras versões sobre o Caipora possibilitam que se apresentem ele e o Curupira (sempre associados e confundidos) como manifestações transformadas de uma mesma entidade, ao mesmo tempo que se admite a coexistência de ambos.
Ruth Guimarães, por exemplo, em “Quatro Histórias do Curupira”, acrescente um parêntesis a esse título: “(Ou Caipora ou Caapora, o Pai do Mato)”.
Basílio de Magalhães (“Folclore no Brasil”), diz que o Curupira e o Caipora “constituem a mesma personificação do gênio das florestas.”.
Pessoalmente, acreditamos que quando não se trata de simples diversidade nominal, alguns mitos – se não tinham – passaram a adquirir identidade própria e personalidades distintas.
No presente caso, embora aparentemente se trate de simples diferença de nome, a figura do Caipora tal como aqui descrita já se criou efetivamente no imaginário popular, desvinculada da do Curupira.
CANHAMBORA
Homem negro, grandalhão, feio, com cabelos compridos até os pés. Às vezes é citado como tendo, ao mesmo tempo, forma humana e animal, metade cavalo e metade homem.
Ele é detentor de poderes capazes de ressuscitar os animais mortos pelos homens brancos, a quem persegue e agride.
Diz o povo que o Canhambora é assombração de escravos mortos a pancadas a mando de seus senhores, aos quais, posteriormente, volta para assombrar.
Mais conhecido em Minas Gerais e em São Paulo.
CAPELOBO
Criatura fantástica, com corpo de homem, cabeça de tamanduá ou de anta, é pés redondos.
Cães e gatos recém-nascidos são seu alimento principal. Mas ele também ataca humanos, “chupando-lhes o miolo”, ou seja, sorvendo-lhe a massa cefálica.
O ponto vulnerável desse monstro é o seu umbigo, através do qual pode ser abatido.
Ìndios muito velhos transformar-se-iam nesse monstro a que costumam chamar de Lobisomem dos índios.
Popular no Maranhão e na região do Araguaia.
CAVALO BRANCO
É um fogoso cavalo branco que em noites enluaradas é visto a pastar as relvas marginais do Valo Branco, em Iguape.
As mães sempre advertem suas filhas para não passarem pelas relvas marginais do Valo Grande porque o Cavalo Branco, ao ver uma moça virgem, faz com que ela caia naquelas águas e depois desaparece com ela.
Quando novamente há lua cheia ele volta para buscar outra moça para viver com ele no fundo do Valo Branco.
CAVALO DAS ALMAS
Segundo a Profª Palmira M. Degásperi Rodrigues (em “Mito, Folclore e Filosofia”), “é um animal miraculoso, que percorre as estradas à procura dos mortos recentes, que o esperam nos moirões das porteiras. As almas vão engarupadas nesse cavalo”.
CHIBAMBA
De origem africana, e conhecido em São Paulo e Minas Gerais, é um negro velho que se veste com folhas de bananeira, ronca como um porco e está sempre a dançar, em ritmo compassado.
Ele amedronta crianças choronas:
“Olha esse choro, que a Chibamba vem te pegar; ele papa criança”.
Acredita-se que ele foi um velho escravo que morreu no tronco, de tanto chicotada.
Informa-nos Rossini Tavares de Lima que ao Chibamba também se atribuía a fama de suprimir a dor dos escravos açoitados, atraindo-a toda para si quando o invocaram.
CHUPA-CABRAS
É relevante registrarmos esse, haja vista sua atualidade. “Novo ser mitológico”, segundo Hitochi Nomura.
O Chupa-cabras teria aparecido nas áreas rurais de municípios vizinhos à cidade de Campinas, por volta de 1997. Os habitantes da mencionada região atribuíram súbitas e misteriosas mortes de ovelhas e bois a uma estranha criatura notívaga.
O jornalista Paulo San Martin, na edição de 8 de junho de 1997 do jornal A Tribuna, de Campinas, relata na matéria intitulada “Chupa-cabras: agora ele se tornou histeria coletiva” que as marcas deixadas pelo bicho não se confundem com a de nenhum predador conhecido, não encontrando o seu ataque referência na zoologia e na biologia. “Praticamente todo o sangue é drenado e as feridas são inconfundíveis, como se tivessem sido feitas por garras longas e afiadas, semelhantes a navalhas. Em alguns casos são retirados, com precisão cirúrgica, órgãos e glândulas nobres”.
A história foi, na época, muito divulgada pelos meios de comunicação. Uma babalorixá campinense, que afirma tê-lo visto, o descreve como uma criatura peluda apenas da cintura para cima, com poucos pelos nas pernas, e com focinho semelhante ao de um lobo.
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Fontes:
http://www.folcloreolimpia.com.br/?pagina=folclore=mitoselendas
Montagem da trova sobre imagem obtida no site de Rosane Volpatto
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