domingo, 16 de janeiro de 2011

Nilton Manoel (Haicai - O Poema de Três Versos)


Aproveitei-me deste final de semana chuvoso, para colocar em ordem minha estante de arte-poética, separando os volumes que me servirão de ponto de referência no correr deste ano ímpar. Em meio desta tarefa encontrei o “Itinerário” – livro de autoria de Jacy Pacheco, premiado em 1.972, pela secretaria da Cultura,Esporte e Turismo da Guanabara e, editado no ano seguinte elo Instituto Niteroiense de Cultura. O volume foi-me ofertado pelo autor, durante a minha estada em Nova Friburgo –RJ, participando dos Jogos Florais da localidade. O Itinerário tem 66 páginas, sendo que 51 estão divididas entre trovas, sonetos, poemas e haicais. No verso de uma das páginas de apresentação, encontrei um haicai de Luiz Antônio Pimentel;

“ Que é um haicai?
É o cintilar das estrelas,
Num pingo de orvalho!”

Daí resolvi envolver-me um pouco mais neste poema e parti para a mineração da arte indo até Hêni Tavares ( Teoria Literária, Ed. Itatiaia, BH,1971) onde consegui a afirmação de que “ poema é o nome gerérico de toda composição com intenção poética”. Folheando Aurélio B. Holanda encontrei: “ Haicai – poema japonês formado de três versos dos quais dois de cinco sílabas e um ( o 2º ) de sete sílabas poéticas. Além, na Antologia Luso Brasileira de Wagner Ribeiro- FTD, Adelino R. Ricciardi (irmão do Sílvio Ricciardi, da ARL) diz-me que Guilherme de Almeida jurava que esse gênero tinha sido criado especialmente para nós. Eis um exemplo:

“ Noite. Um silvo no ar;
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar” ( Guilherme)

Na mesma antologia, em crônica extraída do jornal dos Municípios, 1959, Altino de Castro informa que, coube a Guilherme de Almeida, a introduzir rimas (1º e 3º) na composição. Adiante escreve: “ Quando foi eleita em Long Beach, miss Universo, a japonesa Akiko Kojima – nome que significa “ alegre pequena ilha, eu me lembrei que não existia melhor modo de homenageá-la, do que compondo, à feição do Oriente, um colar de haicais, para o seu lindo pescoço pagão”. Do colar prendo-me em duas das sete contas:

“Agora são ricos
quimponos, leques, o sonho,
os olhos oblíquos...”

“Na concha do verso
alegre pequena ilha,
o sol do Universo.”

Voltando ao Itinerário de Jacy Pacheco releio alguns deles com rimas ou sem elas:

“Livre é o pensamento,
é porém à flor dos lábios
pássaro detento”.

No exemplo acima o primeiro verso rima com o terceiro e, neste outro, há rima paralela no primeiro com o segundo verso:

“ Com sabedoria,
tu pouparás alegria,
para as horas más”.

Já este outro não tem rimas:

“ Lagartas e tanques,
apagam sulcos de arados
e semeiam sangue”.

Finalmente, no Pequeno Dicionário de Arte Poética de Geir Campos, entre os 618 verbetes, encontro uma definição mais ampla:”Haicai – tipo de poema japonês (Hokku) de forma fixa, formado de 17 sílabas, distribuídas em três versos ( 5-7-5) sem rima como toda poesia nipônica. Em princípio, o haicai deve sugerir uma das estações do ano, e o gênero foi imortalizado por Bachô. Na segunda metade do século XVII. No Brasil Guilherme de Almeida, houve por bem fazer rimarem os versos 1 e 3 e introduzindo a rima leonina no segundo, como este exemplo do livro Poesias Várias:

“ Uma folha morta,
um galho no céu grisalho.
Fecho a minha porta”.

O verso leonino, como o segundo deste haicai, é o que tem rima nos hemistíquios ou nos membros métricos. Sendo o haicai pequeníssimo poema, o poeta se obriga a um grande poder de síntese para que dentro dessa forma possa revelar com originalidade, mensagem poética que cative o leitor e, perpetue-se através dos tempos.
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DIARIO DA MANHÃ 6/1/83

Fonte:
O Autor

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