Silviah Carvalho
SONETO AO SOPRO DO SEU CARINHO
Traz no seu olhar um ar de menino ausente
Que me faz viajar por outros ares
Ao encontro de algo desejado, um presente
Como as águas dos rios encontram seus mares
O vento que toca de leve em meu rosto
É o sopro do seu meigo e doce carinho
Essa paz que recebo de bom gosto
Que vem e ilumina o meu caminho
Eu faria mornar o vento marinho pra você
Eu daria a brisa da noite por seu calor
Aquela que sopra a doçura e exala amor
Eu te daria a lua e a luz do amanhecer
Provaria no inverno o calor do seu verão
No cio eterno do amor na propicia estação
José Rainho Caldeira
ESPLENDOR
O azul que se confunde seja da água ou do céu.
Leva-nos à plenitude, da beleza natural,
Que só a sensibilidade, de um olhar sereno,
Consegue achar normal.
Este olhar, ainda que belo,
Remete-nos pra pequenez
Do humano Ser, perante a grandeza
Do mar imenso, do Céu pleno de incenso.
Cores várias, Arco-íris incendiado,
No negrume das nuvens, de gotículas de água,
Em Céu carregado, que se transforma em chuva,
Que rega os campos floresce a primavera,
De um coração atribulado.
Depende do ângulo de visão e dos olhos de quem vê.
Pode ser de mansidão ou, quem sabe?
De olhares perdidos, pra lá do horizonte,
Sem esperança e com revolta, pela triste vida,
Que de fronte, lhe aparece pela frente.
É, talvez, pela injustiça que sente no coração.
Pela vaidade, luxo, devassidão,
Paredes meias co'a pobreza,
A fome, a miséria, a falta de pão.
Só olhos limpos e claros, livres de todos os apegos,
Poderão sentir prazer, neste olhar de mar e céu,
Onde consegue vislumbrar
Obra magnífica de Deus.
Quem assim consegue olhar, ver, apreciar, beleza, enfim.
Talvez possa dar ao Mundo, a idéia de que é possível
Viver em harmonia, Criador e criaturas,
Natureza e seus elementos, floresta, arbustos e capim.
Álvares de Azevedo
SONETO
Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós - e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela...
Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!
Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!
Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando...
Cheio de amores! E dormir solteiro!
Antero de Quental
MORS - AMOR
Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,
Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?
Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,
Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"
Florbela Espanca
EM BUSCA DO AMOR
O meu Destino disse-me a chorar:
"Pela estrada da Vida vai andando,
E, aos que vires passar, interrogando
Acerca do Amor, que hás-de encontrar."
Fui pela estrada a rir e a cantar
As contas do meu sonho desfiando...
E a noite e dia, à chuva e ao luar,
Fui sempre caminhando e perguntando...
Mesmo a um velho eu perguntei: "Velhinho,
Viste o Amor acaso em teu caminho?"
E o velho estremeceu... olhou...e riu...
Agora pela estrada, já cansados,
Voltam todos pra trás desanimados...
E eu paro a murmurar: "Ninguém o viu!”…
Guilherme de Almeida
SONETO XXV
O nosso ninho, a nossa casa, aquela
nossa despretensiosa água-furtada,
tinha sempre gerânios na sacada
e cortinas de tule na janela.
Dentro, rendas, cristais, flores... Em cada
canto, a mão da mulher amada e bela
punha um riso de graça. Tagarela,
teu cenário cantava à minha entrada.
Cantava... E eu te entrevia, à luz incerta,
braços cruzados, muito branca, ao fundo,
no quadro claro da janela aberta.
Vias-me. E então, num súbito tremor,
fechavas a janela para o mundo
e me abrias os braços para o amor!
J. G. De Araújo Jorge
CARTAS
Vou correndo buscá-las - são tão leves!
mas trazem a minha alma um grande encanto,
- por que as cartas que escreves custam tanto?
- por que demora tanto o que me escreves?
Não deves torturar-me assim, não deves!
- Do teu silêncio muita vez me espanto...
Mando-te longas cartas - e entretanto
como tuas respostas são tão breves!...
Recebes cartas minhas todo dia,
e elas não dizem tudo o que eu queria
mas falam-te de amor... de coisas belas!
Tuas cartas... Mas dou-te o meu perdão,
- que me importa afinal ter razão,
se gosto tanto de esperar por elas!
Martins Fontes
O QUE SE ESCUTA NUMA VELHA CAIXA DE MÚSICA
Nunca roubei um beijo. O beijo dá-se,
ou permuta-se, mas naturalmente.
Em seu sabor seria diferente
se, em vez de ser trocado, se furtasse.
Todo beijo de amor, longo ou fugace,
deve ser u prazer que a ambos contente.
Quando, encantado, o coração consente,
beija-se a boca, não se beija a face.
Não toquemos na flor maravilhosa,
seja qual for a sedução do ensejo,
vendo-a ofertar-se, fácil e formosa.
Como os árabes, loucos de desejo,
amemos a roseira, olhando a rosa,
roubemos a mulher e não o beijo.
SONETO AO SOPRO DO SEU CARINHO
Traz no seu olhar um ar de menino ausente
Que me faz viajar por outros ares
Ao encontro de algo desejado, um presente
Como as águas dos rios encontram seus mares
O vento que toca de leve em meu rosto
É o sopro do seu meigo e doce carinho
Essa paz que recebo de bom gosto
Que vem e ilumina o meu caminho
Eu faria mornar o vento marinho pra você
Eu daria a brisa da noite por seu calor
Aquela que sopra a doçura e exala amor
Eu te daria a lua e a luz do amanhecer
Provaria no inverno o calor do seu verão
No cio eterno do amor na propicia estação
José Rainho Caldeira
ESPLENDOR
O azul que se confunde seja da água ou do céu.
Leva-nos à plenitude, da beleza natural,
Que só a sensibilidade, de um olhar sereno,
Consegue achar normal.
Este olhar, ainda que belo,
Remete-nos pra pequenez
Do humano Ser, perante a grandeza
Do mar imenso, do Céu pleno de incenso.
Cores várias, Arco-íris incendiado,
No negrume das nuvens, de gotículas de água,
Em Céu carregado, que se transforma em chuva,
Que rega os campos floresce a primavera,
De um coração atribulado.
Depende do ângulo de visão e dos olhos de quem vê.
Pode ser de mansidão ou, quem sabe?
De olhares perdidos, pra lá do horizonte,
Sem esperança e com revolta, pela triste vida,
Que de fronte, lhe aparece pela frente.
É, talvez, pela injustiça que sente no coração.
Pela vaidade, luxo, devassidão,
Paredes meias co'a pobreza,
A fome, a miséria, a falta de pão.
Só olhos limpos e claros, livres de todos os apegos,
Poderão sentir prazer, neste olhar de mar e céu,
Onde consegue vislumbrar
Obra magnífica de Deus.
Quem assim consegue olhar, ver, apreciar, beleza, enfim.
Talvez possa dar ao Mundo, a idéia de que é possível
Viver em harmonia, Criador e criaturas,
Natureza e seus elementos, floresta, arbustos e capim.
Álvares de Azevedo
SONETO
Passei ontem a noite junto dela.
Do camarote a divisão se erguia
Apenas entre nós - e eu vivia
No doce alento dessa virgem bela...
Tanto amor, tanto fogo se revela
Naqueles olhos negros! Só a via!
Música mais do céu, mais harmonia
Aspirando nessa alma de donzela!
Como era doce aquele seio arfando!
Nos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas lembro-me chorando!
Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É sentir todo o seio palpitando...
Cheio de amores! E dormir solteiro!
Antero de Quental
MORS - AMOR
Esse negro corcel, cujas passadas
Escuto em sonhos, quando a sombra desce,
E, passando a galope, me aparece
Da noite nas fantásticas estradas,
Donde vem ele? Que regiões sagradas
E terríveis cruzou, que assim parece
Tenebroso e sublime, e lhe estremece
Não sei que horror nas crinas agitadas?
Um cavaleiro de expressão potente,
Formidável, mas plácido, no porte,
Vestido de armadura reluzente,
Cavalga a fera estranha sem temor:
E o corcel negro diz: "Eu sou a morte!"
Responde o cavaleiro: "Eu sou o Amor!"
Florbela Espanca
EM BUSCA DO AMOR
O meu Destino disse-me a chorar:
"Pela estrada da Vida vai andando,
E, aos que vires passar, interrogando
Acerca do Amor, que hás-de encontrar."
Fui pela estrada a rir e a cantar
As contas do meu sonho desfiando...
E a noite e dia, à chuva e ao luar,
Fui sempre caminhando e perguntando...
Mesmo a um velho eu perguntei: "Velhinho,
Viste o Amor acaso em teu caminho?"
E o velho estremeceu... olhou...e riu...
Agora pela estrada, já cansados,
Voltam todos pra trás desanimados...
E eu paro a murmurar: "Ninguém o viu!”…
Guilherme de Almeida
SONETO XXV
O nosso ninho, a nossa casa, aquela
nossa despretensiosa água-furtada,
tinha sempre gerânios na sacada
e cortinas de tule na janela.
Dentro, rendas, cristais, flores... Em cada
canto, a mão da mulher amada e bela
punha um riso de graça. Tagarela,
teu cenário cantava à minha entrada.
Cantava... E eu te entrevia, à luz incerta,
braços cruzados, muito branca, ao fundo,
no quadro claro da janela aberta.
Vias-me. E então, num súbito tremor,
fechavas a janela para o mundo
e me abrias os braços para o amor!
J. G. De Araújo Jorge
CARTAS
Vou correndo buscá-las - são tão leves!
mas trazem a minha alma um grande encanto,
- por que as cartas que escreves custam tanto?
- por que demora tanto o que me escreves?
Não deves torturar-me assim, não deves!
- Do teu silêncio muita vez me espanto...
Mando-te longas cartas - e entretanto
como tuas respostas são tão breves!...
Recebes cartas minhas todo dia,
e elas não dizem tudo o que eu queria
mas falam-te de amor... de coisas belas!
Tuas cartas... Mas dou-te o meu perdão,
- que me importa afinal ter razão,
se gosto tanto de esperar por elas!
Martins Fontes
O QUE SE ESCUTA NUMA VELHA CAIXA DE MÚSICA
Nunca roubei um beijo. O beijo dá-se,
ou permuta-se, mas naturalmente.
Em seu sabor seria diferente
se, em vez de ser trocado, se furtasse.
Todo beijo de amor, longo ou fugace,
deve ser u prazer que a ambos contente.
Quando, encantado, o coração consente,
beija-se a boca, não se beija a face.
Não toquemos na flor maravilhosa,
seja qual for a sedução do ensejo,
vendo-a ofertar-se, fácil e formosa.
Como os árabes, loucos de desejo,
amemos a roseira, olhando a rosa,
roubemos a mulher e não o beijo.
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