quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Cornélio Pires (Livro de Trovas)


A bica do maldizente
Que vive de reprovar;
É igual à boca da noite,
Que ninguém pode fechar.

Afirmação que interessa
Tanto ao fraco quanto ao forte:
Quem açambarca a fortuna,
Desconhece a lei da morte.

Ante a Lei de Causa e Efeito
Que nos libera ou detém,
Há muito bem que faz mal,
Muito mal produz o Bem.

A pessoa ponderada
Aceita o dever, age e pensa;
Não exagera perguntas,
Falar demais é doença.

As minhas trovas de agora;
Não guardam nada de novo,
São pensamentos dos sábios;
Com pensamentos do povo.

Até que haja na Terra
Limpeza de alma segura,
Todos nós carregaremos
Um pouco de loucura.

Computador é progresso,
Facilidade de ação,
Prodígio da inteligência,
Mas precisa direção.

Convidado para a festa
Não se adianta, nem demora,
Nunca surge tarde ou cedo,
Dará presença na hora.

Da multidão dos enfermos
Que sempre busco rever
O doente mais doente
É o que não sabe sofrer.

Diz o mundo que a nobreza
Nasce de berço opulento,
Mas qualquer pessoa é nobre,
Conforme o procedimento.

Em questões de livre-arbítrio,
Discernimento é preciso;
Todos temos liberdade,
O que nos falta é juízo.

Eis uma dupla correta
Que na vida é sempre clara:
O sofrimento nos une,
A opinião nos separa.

Estes versos me nasceram
Na intimidade do peito,
Se alguém lhes der atenção;
Fico grato e satisfeito.

Existem casos ocultos
Nos corações intranqüilos
Que, a benefício dos outros,
Não se deve descobri-los.

Existem homens famosos,
E muitos deles ateus,
Esquecidos de que moram
No grande Mundo de Deus.

Fenômeno admirável
Para os crentes e os ateus;
Notar em cada pessoa
A paciência de Deus.

Não te irrites, nem fraquejes;
Quando mais te desconfortas,
A tua vida é uma casa
Com saída de cem portas.

Não te revoltes se levas
Uma existência sofrida,
A provação, quando chega,
Age em defesa da vida.

No corre-corre dos homens
Há quadros fenomenais.
Anota: Quem sabe menos;
É fala muito mais.

No que fazer e fizeste
Registra em paz o que tens;
Há muitos bens que são males,
Muitos males que são bens

Observando a mim mesmo,
Anoto em linhas gerais;
Os nossos irmãos mais loucos
Estão fora de hospitais.

O orgulho é uma enfermidade
Na pessoa o que se aferra,
Doença que a vida cura
Usando emplastros de terra.

Provérbio antigo que achei,
Entre nobres companheiros:
"O avarento passa fome
Para luxo dos herdeiros ".

Quem quiser auxiliar
De qualquer modo auxilia;
Quem não quer, manda fazer
Ou deixa para outro dia.

Quem quiser saber o início
Das grandes obras do Bem,
Procure ajudar aos outros,
Nem fale mal de ninguém.

Sabedoria só age
No que for justo e preciso;
Mas a Ciência, por vezes,
Age fora do juízo.

Sem sofrimento em nós mesmos,
Não se sabe o que se é,
Não se sabe da ingenuidade
Nem se sabe se tem fé.

Silêncio é um amigo certo,
Guardando virtudes raras,
No entanto, a palavra livre,
Às vezes, tem muitas caras.

Sociedade é um jardim
De expressão risonha e bela;
Entretanto, a convivência
Exige muita cautela.

Vinha do enterro do avô,
Mas jogou na loteria;
Ganhando cem mil reais,
Antônio chorava e ria.

Fonte:
PIRES, Cornélio. "Alma Do Povo" – Médium: Francisco Cândido Xavier, 1995.

Um comentário:

Tubias disse...


Na verdade o poeta depois que morre fica melhor ainda. Tubias. Paaso Fundo. RS.