A Tartaruga e o Gavião
Contam que, nos tempos primitivos, uma tartaruga matara um gavião, que deixou mulher e um filho pequeno. Sempre que o filho ia caçar camaleões, achava penas de pássaros. Chegando em casa perguntou à sua mãe:
- De quem são as penas que acho sempre no mato, quando vou caçar?
- Meu filho, são de teu pai, que morreu.
Calou-se ele e concentrou-se. Cresceu e estava quase moço.
Um dia foi caçar e encontrou umas tartaruguinhas. Estas disseram-lhe:
- Vamos nos banhar?
Ele disse:
- Vamos.
Dizem que se banharam e no banho, ele queria pegá-las com as unhas. Então elas disseram-lhe:
- Por isso minha avó matou teu pai.
– Agora sei quem verdadeiramente matou meu pai.
Cresceu e, quando já grande disse:
- Vou experimentar minhas forças.
Dizem que experimentou-as no grelo do meriti. Chegou e meteu as unhas para o arrancar. Experimentou, puxou e não o arrancou. Disse:
- Não tenho ainda forças.
Foi outra vez experimentá-las. Então arrancou o grelo e disse:
- Agora já tenho força. Agora vou deveras vingar meu defunto pai. Esperarei a saída da avó das tartarugas.
Dizem que um dia, aquela espalhou paracá em cima de uma esteira. Houve depois chuva com vento, e ela disse às netas:
- Vocês vão ajuntar para recolher da chuva o paracá.
As tartaruguinhas não foram, por ser aquele pesado, e por isso chamaram:
- Minha avó, venha ajudar-nos.
A avó subiu e foi ajudar as netas.
O gavião estava vigiando e, vendo-a sair, saltou-lhe em cima e a carregou para um galho de piquiá.
Então a velha tartaruga disse ao gavião:
- Como vou morrer agora, manda chamar teus parentes para que venham me ver morrer.
Vieram, então, todos os parentes do gavião. Chegaram todos os pássaros e ajudaram a matar a velha tartaruga. Os pássaros que a mataram ficaram sarapintados. Outros ficaram vermelhos. Aqueles que beliscaram o casco ficaram com o bico preto; outros que beliscaram o fígado ficaram verdes.
Assim acabaram as tartarugas assassinas; assim se acabaram.
Desde então os pássaros ficaram pintados.
Fontes:
Barbosa Rodrigues. Revista Selva. Rio de Janeiro, nº 1, setembro de 1946. In MELO, Anísio (org.). Estórias e lendas da Amazônia. São Paulo, Livraria Literat Editora, 1962. Antologia ilustrada do folclore brasileiro. Disponível em Jangada Brasil.
Contam que, nos tempos primitivos, uma tartaruga matara um gavião, que deixou mulher e um filho pequeno. Sempre que o filho ia caçar camaleões, achava penas de pássaros. Chegando em casa perguntou à sua mãe:
- De quem são as penas que acho sempre no mato, quando vou caçar?
- Meu filho, são de teu pai, que morreu.
Calou-se ele e concentrou-se. Cresceu e estava quase moço.
Um dia foi caçar e encontrou umas tartaruguinhas. Estas disseram-lhe:
- Vamos nos banhar?
Ele disse:
- Vamos.
Dizem que se banharam e no banho, ele queria pegá-las com as unhas. Então elas disseram-lhe:
- Por isso minha avó matou teu pai.
– Agora sei quem verdadeiramente matou meu pai.
Cresceu e, quando já grande disse:
- Vou experimentar minhas forças.
Dizem que experimentou-as no grelo do meriti. Chegou e meteu as unhas para o arrancar. Experimentou, puxou e não o arrancou. Disse:
- Não tenho ainda forças.
Foi outra vez experimentá-las. Então arrancou o grelo e disse:
- Agora já tenho força. Agora vou deveras vingar meu defunto pai. Esperarei a saída da avó das tartarugas.
Dizem que um dia, aquela espalhou paracá em cima de uma esteira. Houve depois chuva com vento, e ela disse às netas:
- Vocês vão ajuntar para recolher da chuva o paracá.
As tartaruguinhas não foram, por ser aquele pesado, e por isso chamaram:
- Minha avó, venha ajudar-nos.
A avó subiu e foi ajudar as netas.
O gavião estava vigiando e, vendo-a sair, saltou-lhe em cima e a carregou para um galho de piquiá.
Então a velha tartaruga disse ao gavião:
- Como vou morrer agora, manda chamar teus parentes para que venham me ver morrer.
Vieram, então, todos os parentes do gavião. Chegaram todos os pássaros e ajudaram a matar a velha tartaruga. Os pássaros que a mataram ficaram sarapintados. Outros ficaram vermelhos. Aqueles que beliscaram o casco ficaram com o bico preto; outros que beliscaram o fígado ficaram verdes.
Assim acabaram as tartarugas assassinas; assim se acabaram.
Desde então os pássaros ficaram pintados.
Fontes:
Barbosa Rodrigues. Revista Selva. Rio de Janeiro, nº 1, setembro de 1946. In MELO, Anísio (org.). Estórias e lendas da Amazônia. São Paulo, Livraria Literat Editora, 1962. Antologia ilustrada do folclore brasileiro. Disponível em Jangada Brasil.
Pintura = http://marlondesign.arteblog.com.br/
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