domingo, 2 de janeiro de 2011

Pedro Du Bois (Poemas Inéditos)


FINAL

No final do dia
aproximado ao cansaço
trazido dos ofícios
não estou
presente. Ausentado ao tempo
não traduzido, esmaecido
nos alvoreceres da noite

amanhecido em finais
de tardes recompostas

minha ausência despercebida
em minúcias: a estrada
bloqueando a entrada.

TRANSFORMAR

Sobre o despovoado: tapera

(rancho espalhado
ao mar, barco
encalhado em areias
límpidas, peixe
saciado em vontades)

sobre a beleza
paira: Itapema

(rancho desconsiderado
em altos prédios, carro
congestionando ruas,
peixe desesperado
em águas impuras).

ESTAR

Não estamos, minha senhora,
à espera do despropositado;
as vírgulas assinalam distanciamento;
estamos, minha senhora, a praticar atos
necessários no encaminhamento
da história aos primórdios: cada fato
se reporta em cadeia
ao fato inicial; minha senhora,
o esforço finda o caminhar
e do início sentimos
o ordenar das coisas;
ao primeiro soprar da vela
em chama, minha senhora,
o despertar do monstro
se apresenta: assim a espera
e a entrega.

CONSTRUIR

O telhado impede
a natureza

o piso
concede aos pés
a maciez

as portas, bifurcações
do acaso: entrar
sair
ficar na soleira
voltado ao tempo
original da hora

janelas permitem observar
a rua pelo lado de fora.

REINSTALAR

Reinstalo a vida
e a remeto ao final:
o mágico e o profeta
duelam crenças

a carta marcada
indica a morte
reinventada: vida
na sucessão
da hora
induzida
ao desconhecimento

a vida se distancia
no espaço em acreditar
e descobrir do truque
a artimanha: desvanecer
em barulhos diários de antigas
reconstruções.

ESQUECER

Inolvidável: a lembrança se aventura
em paralisações faciais

o medo
transparece
o suor
do corpo

sou o mesmo
em cabelos ralos
em cabelos brancos
em olhos ansiosos

com que procuro
na memória o inolvidável
fazer de conta.

Fonte:
O Autor

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