terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lila Ripoll (1905 – 1967)


Nascida a 12 de agosto de 1905 em Quaraí (RS), e falecida a 7 de fevereiro de 1967 em Porto Alegre - vítima do câncer - Lila Ripoll percorre caminhos já conhecidos pela poesia ocidental contemporânea: o confessionalismo, o intimismo, a investigação lírica de temas como a morte e o amor, as reminiscências ligadas à infância e às perdas, e a lírica socialmente engajada. Essa diversidade de vertentes poéticas praticadas pela escritora filia sua obra aos mesmos caminhos percorridos por Cecília Meireles e Mario Quintana.

Formou-se em Piano no Conservatório de Música, atual Instituto de Artes da UFRGS, em Porto Alegre.

Em 1930, ela se tornou professora de Canto Orfeônico no Grupo Escolar Venezuela, hoje Escola Estadual Venezuela, no bairro Medianeira. Foi nesse período que se aproximou de escritores e intelectuais gaúchos como Reinaldo Moura, Manuelito de Ornelas, Dyonélio Machado, Carlos Reverbel e Cyro Martins, os quais compõem a chamada Geração de 30.

Em 1934, com o assassinato de seu primo Waldemar Ripoll, jornalista e membro do Partido Libertador, por ordem de pessoas ligadas a Flores da Cunha, Lila Ripoll decidiu se engajar na luta política e na causa comunista. Ela participou da Frente Intelectual do Partido Comunista e do Sindicato dos Metalúrgicos, de cujo departamento cultural foi diretora.

Em 1938, Ripoll publicou seu livro de estreia, De Mãos Postas, o qual foi bem recebido pela crítica. Três anos depois, veio Céu Vazio, vencedor do Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras. Em 1944, Lila desposou Alfredo Luís Guedes, também militante político. Com a legalização do Partido Comunista, no ano seguinte, passou a lutar mais ativamente pelas reivindicações dos operários e, simultaneamente, publicou textos na revista A Província de São Pedro.

Em 1949, Lila Ripoll ficou viúva e, mesmo deprimida, continuou a se engajar na militância política e em campanhas pacifistas. Foi candidata a deputada pelo Partido Comunista em 1950, mas não foi eleita.

Em 1951, colaborou na revista Horizonte publicando poetas latino-americanos como Pablo Neruda e Gabriela Mistral. No mesmo ano, publicou Novos Poemas, que lhe outorgou o Prêmio Pablo Neruda da Paz, em Praga, na Tchecoslováquia.

Participou, em 1951, no grupo Partidários da Paz, vinculado ao Conselho Mundial da Paz, com Graciliano Ramos, Dyonelio Machado e Laci Osório.

Em 1954, o longo poema Primeiro de Maio, que tem como tema o massacre ocorrido no Dia do Trabalhador na cidade de Rio Grande, foi publicado. Em 1958, sua única peça teatral, Um Colar de Vidro, foi apresentada no Theatro São Pedro.

Em 1964, logo após o golpe militar, Lila Ripoll foi presa, mas rapidamente libertada em função de sua saúde — sofria de um estado avançado de câncer. Sua última obra poética foi Águas Móveis (1965). Faleceu em Porto Alegre, aos sessenta e um anos, e seu corpo foi enterrado por seus companheiros partidários no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia.

Sua obra poética inclui os livros Por quê? (1947), Primeiro de Maio (1954), O Coração Descoberto (1961) e Águas Móveis (1967), entre outros.

A poesia de Lila Ripoll vincula-se à segunda geração do modernismo e é profundamente marcada pelo engajamento político. No entanto, segundo o crítico Cyro Martins, ela "soube preservar o seu lirismo, as suas cismas de poeta autêntico, mesmo quando seu estro serviu a motivos de civismo heróico como no longo poema 'Primeiro de Maio', em que chama pelos nomes os operários que caíram chacinados durante uma passeata dissolvida a bala.”

A poesia de Ripoll nasce entre a perda e a transcendência, onde o amor brota como um tema em excesso, que vem somente a ser compreedido entre os oprimidos. A escritora alcança o clímax de sua produção quando trabalha a condição feminina na sua lírica quando (em suas últimas obras), ao invés da plenitude da existência, admite a degradação das coisas e do outro. Nesse ponto de sua produção poética, tudo desaba, sedimenta-se, fossiliza-se.

Tal como os neo-simbolistas do sul nos anos 30 e 40, Ripoll privilegia o Eu em relação ao mundo. A impossibilidade de uma convivência harmônica com aquilo que é transitório e as perdas que a todos os homens afligem levam o eu-lírico a uma identificação com os despossuídos, em virtude da glorificação das angústias existenciais dos mesmos; assim, ao compartilhar o sofrer, a autora vê-se liberta do ensimesmamento, buscando a compreensão da própria dor.

Em homenagem à poetisa, criou-se em 2005 o Prêmio Lila Ripoll de Poesia, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O prêmio é aberto a todas as pessoas que desejarem se expressar sobre temas vinculados às causas sociais e ao gênero.

OBRAS

De mãos postas (poesia). Porto Alegre: Livraria do Globo, 1938.

Céu vazio (poesia). Porto Alegre: Livraria do Globo, 1941 (Obra vencedora do prêmio Olavo Bilac Da Academia Brasileira de Letras).

Por quê? (poesia). Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.

Novos poemas (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1951 (Obra vencedora do prêmio Pablo Neruda da Paz).

Primeiro de maio (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1954.

Poemas e canções (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1957.

Um colar de vidro (peça teatral inédita). Porto Alegre: s/ed., 1958.

O coração descoberto (poesia). Rio de Janeiro: Vitória, 1961.

Águas móveis (poesia). Inédito de 1965.

“Poesias”. In: Cadernos do extremo sul. Alegrete: s/ed., 1967.

Antologia poética Rio de Janeiro: Leitura; Instituto Nacional do Livro / MEC, 1968 (edição póstuma organizada por Walmyr Ayala).

Ilha difícil: antologia poética. Porto Alegre: Editora da Universidade / UFRGS, 1987 (organizado por Maria da Glória Bordini).

Fontes:
http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Lila+Ripoll
http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/lila_vida.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lila_Ripoll

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