quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Lairton Trovão de Andrade (Panaceia de Trovas) 1



A joana do joão-de-barro
sofreu crime passional;
teve um fim muito bizarro,
por causa do pica-pau.

Aquele gato é baiano,
assim nos diz o Lalau;
ouça o miado do bichano:
"Me-au, me-au, me-au, meau!"

Brada o gaúcho pampeiro:
- "Nos pampas, tchê, só tem macho!...
E o que tem Minas, mineiro?"
- "Uai!... tem macho e fêmea, diacho!"

Depois de muito ovo pôr,
a angola* aguça a matraca
e, festejando com suor,
canta: "tô fraca, tô fraca!"  

Diz a crença popular:
Não há coisa que enlouqueça
mais que a boca a relinchar
de uma mula-sem-cabeça!

É, na internet o namoro
paixão que "dá choque"... e muito:
A cada abraço - um suadouro...
e ao beijar - curto-circuito!

Era boa caipirinha
de esquentar qualquer "moringa"**.
- O que de bom é que tinha?
- "Açúcar, limão e pinga".

Foi assim que aconteceu
entre o meu tio e o Mansur:
- Você, meu filho, é ateu?!
- Não, senhor, eu sou Artur!

Há coisa que não te explico
na desditosa paixão:
Com quem me quer, eu não fico,
com quem quero me diz "não".

- Masculino ou feminino?
Perguntou o frei José;
- "Marculino ou Felisbino
não, não! É Zé que o pai qué"!

Nas matas de Pirapora,
já reinou o curupira;
o curupira é o caipora
do rude interior caipira.

Nos horários de verão,
os galos em trapalhada,
sem saber que horas são,
cantam sempre em hora errada.

No velório do riquinho,
há, no íntimo, festança:
"Choro sim, por meu padrinho
(mas que venha logo a herança)".

Ninguém é tão educado
como o fino do Joaquim;
nas lojas, mesmo calado,
saúda até manequim.

O plagiário é caricato
que no mundo se repete;
é escritor co'a mão do gato
e pintor que pinta o sete.

O pobre incauto eleitor
ficou feliz na procura;
diz que o voto é do doutor
que lhe deu uma dentadura.

O símio, bem natural,
exclama ao réptil, de pé:
"Oh, que boquinha sensual
tem o amigo jacaré!"

Quanta gente cuja obra
é cheia de desatino!
- Tem no cérebro de sobra,
o que é próprio do intestino.

Quem fala de mim é mico.
Minha vida é transparência.
Nasci pobre, fiquei rico...
- Milagre da "Presidência" ...

Só de ver a sucuri,
adoentou-se a saracura;
com licor de licuri***
nada sara, nada cura.
______________
Notas:
* angola: galinha d' Angola
** moringa: orelha, ouvido (expressão regional)
*** licuri: coquinho

Fonte:
Lairton Trovão de Andrade. Perene alvorecer. 2016.
livro gentilmente enviado pelo autor.

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