quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Professor Garcia (Trovas que sonhei cantar) 1



Amor de mãe, não se encerra,
nem jamais pode acabar!...
Sem seu amor sobre a terra,
tem sentido o verbo amar?...

Aos pés da antiga cascata,
a lua em jura secreta,
derrama gotas de prata
nas mãos do velho poeta!

A vida não se resume
aos ingratos sonhos vãos...
Fica sempre algum perfume
na mão que incensa outras mãos!

Foi diante do altar, meu filho,
que em preces, caindo aos molhos...
Vi luzes perdendo o brilho,
ante o brilho de teus olhos!

Foi contra a franga, a disputa,
que o frango "naquele" embalo...
Depois que perdeu a luta,
nunca mais cantou de galo! 

Foram-se os dias... Os anos...
E as lembranças desse adeus,
trago dos beijos profanos
que roubei dos lábios teus!

Gigantesco, o mar se alteia,
e sem ter vergonha alguma...
Cochila e dorme na areia
sobre arabescos de espuma!

Lágrima na despedida,
que embarga a voz e não sai;
a dor, é bem mais sentida,
quando em silêncio ela cai!

Não sou barão, nem sou nobre,
sou mendigo e viajor...
Minha riqueza é ser pobre
entre os mais ricos de amor!

Na parede, um quadro lindo,
antigo e tão sedutor...
Mostra-me meus pais sorrindo
na adolescência do amor!

Se o pôr do sol desconforta,
e a saudade é um desconforto,
mais triste é a saudade morta,
aos pés do seu dono morto!

Se tens tanto, e és indeciso
e crês, que o mal te consome,
busca a paz que há no sorriso
do rosto de quem tem fome!

Fonte:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar. vol.2. Caicó: Ed. do Autor, 2018.  Livro gentilmente enviado pelo autor, recebido ontem (02 jan) à tarde.

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