Assim que entro num táxi acendo um cigarro. Acho que é pra me desforrar de quando entro num elevador e fico a viagem toda sem fumar. Antes de tirar um cigarro estendi o maço aberto para o motorista. Ele fez que não com a cabeça e vi um cigarro no outro canto da boca.
— Não reparei que já estava fumando.
— O cigarro está apagado.
Estendi o isqueiro.
— Obrigado. Deixei de fumar.
Quase guardei o isqueiro aceso no bolso.
— Fumar cigarro apagado não prejudica a saúde — ele explicou.
— Rê rê — eu ri com toda a naturalidade. E quantos cigarros apagados o sr. fuma por dia?
— Três ou quatro.
— Poucos, não?
— Quando eu fumava cigarro aceso eram dois três maços.
— É preciso muita força de vontade pra jogar fora um cigarro apagado.
— Isso é verdade.
— E quando é que um cigarro apagado acaba?
— Quando molha.
— Igual um cigarro aceso.
— Não, é quando molha a ponta que tá na boca. Aí eu jogo o cigarro apagado molhado fora e pego um cigarro apagado seco.
Acendi o meu cigarro e depois é que me lembrei de perguntar:
— A fumaça não incomoda?
— Pelo contrário, até me dá vontade de experimentar dessa marca. Agora aceito um cigarro apagado dos seus.
— Cigarro apagado com filtro deve prejudicar ainda menos a saúde, não?
Ele pegou um cigarro do maço e botou na boca, sem tirar o outro. Dois cigarros apagados com filtro devem fazer menos mal ainda.
Fonte:
Reginaldo Fortuna. Acho tudo muito estranho (já o prof. Reginaldo, não).
São Paulo: Ed. Anita Garibaldi, 1992.
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