Ah, se eu pudesse saber
qual a mulher que ele quer...
Que não iria eu fazer
para ser essa mulher?!...
Amei. Era sede e fome
o amor que me torturou.
Quem ama assim, sempre come
o pão que o diabo amassou.
A mulher é imponderável,
instável, imprevisível,
indócil, imperscrutável...
Não se esqueça: imprescindível.
Aprendeu logo o Zezinho,
Depois que foi baleado,
Que é melhor amar sozinho
Do que bem acompanhado.
Com firmeza e tolerância
educa em justa medida.
São as feridas da infância
que nos marcam para a vida.
Convenções? Que um tolo as ouça!
pois mulher – o mundo zurra –
deve ser sempre mais moça,
mais baixa e também mais burra.
Desculpe-me quem puder,
mas a História se enganou:
depois que fez a mulher,
nunca mais Deus descansou!...
Distraída, distraída,
é a mulher do Januário;
ouve à porta uma batida,
tranca o marido no armário!
É a vida, em seu poder,
requintada em crueldade:
nasce a gente sem querer,
e morre sem ter vontade.
Embora sem alegria
vou cantando nos caminhos.
- Foi essa a filosofia
que aprendi com os passarinhos.
Em vossos olhos nublados,
velhinhos de longas vidas,
há prantos cristalizados
de todas as despedidas.
Em zigue-zague na estrada,
guia um “cara” no pileque.
- A curva multiplicada
dividiu seu calhambeque.
É nos elos que nós vemos
união e força patentes,
porque é que não aprendemos
esta lição das correntes.
Fazer plástica é bobagem.
Se o tempo nos vai minando...
- Dar brilho na lanternagem
com este motor rateando?
Foi tão engraçada a piada
que a dentadura da zinha,
em tremenda gargalhada,
cai no chão rindo sozinha.
Hei de te amar – ele jura –
até velhinho – que lindo!
e ver nossa dentadura
no mesmo copo... sorrindo.
Inflação! Que mais eu posso
senão rir dessa desgraça?
Pois rir é o único troço
que a gente ainda faz... de graça.
Mentes tanto, e nem presumes
que um dia ainda te firas
nestas armas de dois gumes
que são as tuas mentiras?
Mesmo em sonhos são fracassos
meus encontros fugidios:
cerro os olhos, abro os braços
e fecho os braços vazios.
Meu amor, que mais desejo?
Eu só desejo, na vida,
beijar-te e, acabado um beijo,
Começar outro em seguida.
Meu bebê vai caminhar,
estendo as mãos comovida.
Ah! se eu pudesse guiar
seus passos por toda a vida.
Minha alegria, querido,
por certo não adivinhas:
foi o teres esquecido
tuas mãos dentro das minhas.
Minhas lágrimas contive
naquele instante preciso.
Foi então... então que tive
a bravura de um sorriso.
Minha sogra, aquela bruxa,
num fusca mandando brasa,
e eu fico pensando: – puxa!
com tanta vassoura em casa!
Na educação dos pequenos,
belos frutos colherás,
censurando muito menos,
elogiando muito mais.
O amor que teimo ocultar,
sem dizer nada a ninguém,
pudesse te confessar
e apenas diria – vem!
Ó realidade, não fira
quem sonha e vive contente.
Se uma ilusão é mentida,
enfeita a vida da gente.
Para cumprir seu destino
parte meu filho, homem feito.
- E eu guardarei, meu menino,
tua infância no meu peito.
Perdoa. Eu também sofri
se briguei contigo assim...
Eu gosto muito de ti,
mas... gosto também de mim!
Porque teme envelhecer?
Envelheça, a fronte erguida.
Um ano mais quer dizer
que a vida lhe dá mais vida!
Preso tu sempre hás de ser,
nem creias na liberdade.
Quando nada te prender
estarás preso à saudade.
Quando o sol é brasa ardendo
nas terras secas crestadas,
pingo no zinco batendo
é a mais bela das toadas.
Quando vejo um assassino,
um viciado, um ladrão,
eu adivinho um menino
a quem ninguém deu a mão.
Quando volto ao meu rincão
piso a terra comovida.
- Cada pedaço de chão
conta um pedaço de vida.
Quem dentadura precisa
cuidado com a gargalhada.
Faça que nem Monalisa
que ri de boca fechada.
Seria desoladora
a vida, se, lá na frente,
a esperança enganadora
não acenasse pra gente.
Só te peço amor sincero,
e o céu será todo nosso.
Se sou tua - que mais quero?
Se sou mulher - que mais posso?
Tendo ao seio o meu menino,
tudo em volta é luz e brilho.
Nem sei mesmo onde termino
e onde começa o meu filho.
Toda mulher que é gorducha
tem um recurso só seu:
ao vestir-se grita – “Puxa!
como este troço encolheu!!!”
Tudo sinto na alma, o enlevo
das histórias infantis.
- Lobato, quanto te devo
da minha infância feliz!
Vão-se os anos. Iludida,
nesta angústia de retê-los,
vejo que a chama da vida
se faz cinza em meus cabelos.
Vi-te em menina e, talvez,
nem me notaste, sequer...
Pois foi a primeira vez
Em que eu me senti mulher.
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