segunda-feira, 4 de abril de 2011

Caravelas da Poesia I


MARIA CLARA SEGOBIA
Janela do futuro


Tento não pensar no amanhã
nem me culpar pelo passado
em suas consequências.
Tento viver o hoje
mas o medo
de não abrir a janela do futuro
ver o sol nascer
as vozes amigas
o canto dos pássaros.
A certeza de que um dia
o hoje acaba sem futuro.
Tento não sentir medo
na coragem que finjo ter.

WILSON DE JESUS COSTA
Verso Triste


Quando rolam lágrimas em meu rosto
São como gotas de orvalho a cair das flores;
Enquanto as gotas se esparramam pelo chão
Lágrimas encharcam minh’alma... e o coração
Quando a madrugada fria me maltrata o corpo
Eis aí uma chuva invernal a me envolver a vida.
Quando a saudade em meu peito aperta
Enxugo as lágrimas, disfarço, sorrio e apenas canto
Mas se minha casa está vazia, e a saudade açoita
É por falta dos gritos das crianças,
……. que hoje não mais são crianças!
Então sento e abro o livro com estórias do passado
Estórias tão presentes no meu triste presente e,
……. no entanto, eis o futuro!

Quando rolam lágrimas em meu rosto
São como gotas de orvalho a cair das flores
Olho decidido para esse meu futuro
…… e parto sem medo em sua direção.
E vou vivendo a vida como deve ser vivida
Na fantasia do tudo vai bem, nada vai mal
Aí eu vejo como passou o tempo, e as horas voaram
Sinto um vazio, meu verso fica triste, tudo é silêncio
Mas eu canto, embora cante um melancólico canto
E me sinto mais isolado desse meu triste mundo,
…… e é indolente esse meu novo canto
No ver cair nas flores as gotas do orvalho
E enquanto mais saudades sinto, mais saudades canto
Canto no meu verso triste o antes, o agora e o depois

Enquanto lágrimas rolam em meu rosto
Enxugo as lágrimas, disfarço a tristeza
Ao sentir a dor cruel e sinistra de cruel saudade
…. Enquanto...

MARISA CAJADO
Versos na Madrugada


Há pouco foste embora...
Pouco tempo pra tanta demora
Em te encontrar novamente.
Deixastes impregnado levemente
Teu cheiro, tua lembrança
No quarto, na cama, no travesseiro
Na gama da química do amor.

Deitei-me no leito de forro marinho
E cobri-me com o lençol branco
O mesmo que nos cobriu e se fez ninho
Nestes dias de amar aberto e franco.
E tenho que calar no peito este afeto
Que teima em explodir, enquanto calas
O que por certo, não quer dizer teu ser inquieto.

E eu diria: _ Por que não falas?
Por que o silêncio que te distancia
Mais que os quilômetros que nos separam?
Dúvidas, anseios, que no ser resvalam
Em meio as recordações que já passaram
Tiram-me o sono, em nascente de poesia.
Pelas doces impressões que aqui ficaram

Como entender a química do sentimento
Que se expressa de modo tão diverso
Deixando adverso o pensamento
Sem resposta na tônica do meu verso?
Talvez o inverso deste verso que componho
Seja o teu verso, o teu testemunho
Deste querer que não trazes imerso,
Por não ser eu, a musa do teu sonho.

ERON FREITAS
Garimpando Versos


a imaginação... garimpando versos ao luar,
sinto a brisa a chorar enquanto acaricio
teus cabelos revoltos, sedosos, macios,
sem me preocupar com o que vou rimar!

Deita no meu peito ao luar do sertão,
fecha os olhos e escuta quieta, embevecida,
o som mágico que dá força à vida,
extraído com firmeza do meu violão!

Voa... voa... montada no teu pensamento,
livre, leve e solta singrando o firmamento
como uma pena levada por um furacão...

Depois... retorna à vida bem energizada,
acordando com a batida forte e ritmada
de meu carente e solitário coração!

PLÍNIO DRÁUSIO
Cavaleiro errante


Serei seu amigo nas dimensões que ela quiser.
Nos sonhos, nas quimeras, nos anseios...
Em pálidos outonos — em viçosas primaveras.

Serei relento, rebento — serei abrigo.
Trarei alimento — cevada e trigo — pão e vinho.
Serei casto e servil, a cortejarei com minha fama de varão!
Sem detrimento da inocência de um pequeno infante.... pueril...

Amigo — digo amante — cujo destino reserva cetro de rei,
ou espada de cavaleiro andante, errado, errante — adelante!
Breve empreenderei jornada, na mira do rastro excrucitante
da dulce nobre princesa plebéia.

Ei de encontrá-la numa torre, numa corte ou na taberna.
Ora Sigo.
Eia! Rocinante.

SONIA CANCINE
Narciso, a flor que me atraiu


Como se fosse ave precursora da primavera
Ofuscando lágrimas da chuva que me inunda
Conduzo-me aos jardins do Sol
Esquadrinhando regozijo e vigor.

Fecho os olhos e deixo-me abduzir
Pelos acordes suaves dos sons ao longe...

(que se transformam em sonhos multicores).

Colhia flores de raríssima beleza e sensualidade
Colhia narcisos e de repente abriu-se uma cortina
A natureza florida por inteiro me sorria e
- Tornei-me a vigilante das almas vencidas –

Era um deleite vê-las além do mundo dos prantos
Agraciavam as vivas nuances e o encanto da fina flor
Reluzia o rosicler d'aurora no murmurinho da chuva
Num mundo entre céus, mares e montanhas.

Tão distante deste mundo atuante encantava-me fenecer.

Após a primavera fez-se o inverno

(desapareciam-se as flores).

E o verde da natureza brotava vivo da terra...
Símbolos de fertilidade: romã, o grão, o milho
- E ainda, o narciso, a flor que me atraiu.

Em devaneios ao abrir os olhos...
Acordei assustada a luz do alvorecer.

ROLDÃO AIRES
Coincidência


Sinto a tua ausência,
Aperta-me, a saudade.
Não sei se te mando
Rosas,para veres
Que meu amor,é verdade.
Quando, a estes versos
Escrevia,
Ouço baterem à porta.
Levantei-me para abri-lá
Eras tu com um ramalhete.
Pensastes como eu pensei,
Sentistes a mesma dor,
Que só quem ama sente.
Viestes com rosas.
Prá mim bastava,
Só um bilhete.

EDSON C CONTAR
Náufrago


sou náufrago....
naveguei pelo mar da desilusão...
perdido,
eu vaguei no oceano da ingratidão...
ferido...
busquei forças nas velas do acreditar ,
vencido...
naufraguei na ilusão do oceano amar....

Sou naufrago,
que não quer o resgate pelo perdão,
prefiro,
meu retiro distante, na solidão

esqueça....
sou ilha flutuante, distante do amar...
mesmo que tempestades me levem de volta,
no teu cais, coração, não vou mais atracar.

AMANDA LEMOS
Ida Sem Volta


Ele a viu, mesmo não querendo ver.
Ele a sentiu, como se lembrasse do primeiro beijo selado dos dois.
Ele sentiu seu aroma, como se houvesse entrado em meio a um campo sublime de rosas.
Ele viu, mesmo parecendo não crer.

Ele se lembrou da melodia inspirada em Mozart que se fez compor e soar para ela,
Ele se viu em um espelho como se não houvesse nada,
Ele mastigou-se dentro de si, como quem se petrifica.
Ele se foi, mesmo com um sorriso torto de quem fica.

Ele lhe acariciou como se fosse a primeira vez dos dois,
Ele lhe sussurrou aos ouvidos as mais belas melodias e versos feitos as pressas,
Ele lhe tocou como ninguém à havia tocado daquela maneira,
Eles se deleitaram como quem não espera o futuro, o depois.

O que resta dele agora Meu senhor ?

Apenas às sombras de quem se decepciona,
Apenas as lágrimas de quem não chora,
Apenas os sorrisos cativantes de que não sorri,
Apenas o singelo Adeus de quem lhe diz por mero desdém.
Lhe restou a alma, se é que não a levaram também.

Ele se apaixonou, mesmo se forçando a seguir a razão.
Ele se queixa pela falta de explicação.
Ele ainda não sabe o que é amar,
Mas ele se foi, como quem vai, para nunca mais voltar.,

ROBSON AMANO
Moça Rendeira


Moça rendeira quando vi ocê rendá
Eu nao sabia se isso era renda inglesa,
se era filé ou qualquer coisa que há.

Quando te vi sentada naquele banquinho
O açaizeiro com sua sombra a protegia
O vento forte soprava em seus cabelos
e o seu cheiro vinha com a maresia

Linda morena do vestidinho rodado
Seu rebolado tem o balanço da canoa
Quando ocê passa eu tropeço em seu gingado
Enfeitiçado com teu corpo de leoa.

Com teus carinhos oce me afaga o ego
Teu doce beijo tem melaço de caju
Em sua rede do sertão eu me despeço
das carapaças, casacas de couro cru.

Moça rendeira vou perder-me em seus rendados
Embaraçado nas teias do teu amor
Ocê é o remédio deste corpo judiado
Que é viciado no teu gosto e seu calor.

Moça rendeira quando vi ocê rendá
Eu nao sabia se isso era renda inglesa,
se era filé ou qualquer coisa que há.

Fontes: Colaboração de Poetas del Mundo
http://www.bardoescritor.net/

http://www.fanzineepisodiocultural.blogspot.com/

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