terça-feira, 4 de novembro de 2008

Alcione Araújo (Lançamento de "Pássaros de Vôo Curto)


O livro Pássaros de vôo curto, de Alcione Araújo, será lançado durante a 22ª Feira do Livro, que vai do dia 5 ao dia 10 de novembro de 2008, e será realizada na praça Marechal Floriano.

Alcione Araújo nasceu em 1945, na cidade de Januária, Minas Gerais. É formado em engenharia e já foi professor na Universidade de Minas Gerais. Estreou no teatro com a peça Há vagas para moças de fino trato, em 1974. São de sua autoria também peças teatrais consagradas, como Doce deleite e A caravana da ilusão. Alcione também é cronista do jornal Estado de Minas e Pássaros de vôo curto é seu segundo romance. Ainda, o autor faz parte dos Três Tenores (coordenadores de debates) das Jornadas Nacionais de Literatura.

O lançamento do livro está marcado para três datas: 5 de novembro para a comunidade em geral e o público acadêmico, às 19h30min, no auditório do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas); 6 de novembro, às 18h30min na praça Marechal Floriano, para o público da feira; e 7 de novembro, em Carazinho, na UPF campus Carazinho, às 19h30min, para escolas públicas e particulares da cidade.

Resenha

Um grande quebra-cabeça, com peças extremamente coloridas por personagens humanos e muita história do Brasil, com encaixes criados pelo leitor na hora de sua leitura. Eis uma boa definição visual do novo livro do dramaturgo, diretor e professor Alcione Araújo, chamado Pássaros de vôo curto.

A obra pode parecer, no início da leitura, uma seqüência de enredos independentes, por se passarem em épocas distintas e terem personagens diversos. Apesar disso, à medida que o leitor vai conhecendo as personagens e ambientando-se com cada cenário, percebe que todos estão interligados, como diz a teoria dos seis graus de separação, recentemente transposta para a televisão na série Six degrees, de um dos criadores do famoso Lost, que também explora o tema. De acordo com a teoria do psicólogo americano Stanley Milgram, são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas.

Tal teoria concretiza-se em Pássaros de vôo curto e é o que consegue unir os três eixos narrativos iniciais, que não estão dispostos em ordem cronológica e alternam-se a cada página, fazendo o leitor construir um verdadeiro mapa mental (ou físico, em uma folha de papel, no meu caso...) do enredo para melhor apreciá-lo. Um exemplo simples e rápido desse fato é que na obra de Alcione Araújo, a mundialmente famosa cantora lírica grega, Maria Callas, está a somente dois graus de separação do garimpeiro Orlando, morador da interiorana cidade mineira de Galiléia.

Assim, o livro consegue descrever um grande pedaço da história de Minas Gerais e do Brasil, desde a exploração do ouro mineiro no século XIX por companhias inglesas, passando pela participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, culminando no fim da ditadura militar, configurando-se em uma verdadeira saga de mais de 100 anos.

Vários sub-temas são recorrentes na obra, como estribilhos que ecoam por toda a história, ora explícitos, ora ocultos em histórias secundárias. O principal deles é a música lírica e a ópera. A cantora Diva Bustamante é quem personifica tal aspecto, em seu sonho quixotesco de levar tal repertório pelo Brasil afora, dentro de um antigo carro blindado (veterano da Segunda Guerra mundial) transformado em ônibus, batizado 14 Bis. Nesse estranho veículo; pilotado pelo motorista, mecânico e assistente de palco, Zé Bolero; a cantora se apresenta com o pianista americano Ralph Conway, levando a ópera a uma, em suas palavras, “terra de botocudos.” Entre seu repertório, merece destaque a ópera de Giuseppe Verdi, La Traviata, muito significativa na trama: histórias paralelas de personagens como Ralph ou a camareira de Diva, Orlanda, são variações sobre o tema da prostituta que se apaixona e deve deixar o homem que ama, mesmo a contragosto, pensando no bem do amado.

Outro tema recorrente e que pode dar pistas sobre o título da obra é a aviação. Exemplo disso é a paixão que Zé Bolero e Vittorio Emanuelle Sbravatti Chalmers têm por voar. Mas, infelizmente, como retrata muito bem o romance, a satisfação pessoal depende de dinheiro. Assim, este foi piloto de avião da Força Expedicionária Brasileira, enquanto aquele, por ter nascido pobre e filho de mecânico, chegou mais perto do céu subindo em árvores e nomeando o veículo por ele reformado como 14 Bis.

Com personagens cativantes e muito humanos, que vivem situações ora cômicas, ora trágicas, e trazem reflexões profundas, mas simples, sobre arte, política, vida, morte, etc., Pássaros de vôo curto é uma obra que deve ser lida não só pelos interessados em história, que a verão de forma totalmente natural neste romance, mas por todos que apreciam uma grande obra de arte.

Fontes:
E-mail enviado pelo Boletim Jornada
Artigo por PHILIPPSEN, Bruno. Pássaros a seis graus de separação.
Boletim Eletronico Jornadas Literárias de Passo Fundo - n. 74

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