sábado, 1 de maio de 2010

Durval Mendonça (Trovas que eu Dou à Vida !) Parte Final


Pensa na areia da praia
que o vento eleva e, em seguida,
deixa, de novo, que caia
no mesmo chão da subida.

Não tendo tua ternura,
mesmo assim, na solidão,
bendigo a luz que mistura
as nossas sombras no chão.

Desce a noite de mansinho,
vai a lua andando ao léu,
e eu, no céu do teu carinho,
nem sei se existe outro céu.

Rosa rubra, que extasia
pelo aroma e pela cor,
como pode, sendo fria,
transmitir tanto calor ?

Pede a esposa, de manhã,
quando sai o esposo cedo:
- Traze um novelo de lã
e eu vou contar-te um segredo.

Em desforra merecida,
porque me dá muitas sovas,
atiro pedras na vida
e minhas pedras são trovas.

No tempo do pelourinho,
da senzala e da tortura,
um artista, o Aleijadinho,
dava à pedra alma e ternura.

Um canário, engaiolado,
parece dizer, trinando:
- Abre isto aqui, desalmado,
eu não canto, estou chorando...

Quanta alegria me veio
em meu divagar tristonho,
ao vislumbrar o teu seio
por entre as rendas do sonho.

Entrei nas lojas da vida,
quis comprar felicidade;
fui lesado na medida,
no preço e na qualidade.

Descrente, em meu infortúnio,
quando a esperança ainda insiste,
eu faço do plenilúnio
a fantasia de um triste...

Gosto de ouvir as cigarras
pelas tardes estivais,
como se fossem guitarras
acompanhando meus ais.

Quanto parvo não se cansa
de inventar as próprias glórias
e procura um Sancho Pança
para aplaudir-lhe as vitórias.

Por temor à solidão,
em sua humildade impura,
a poça dágua no chão
guarda estrelas com ternura.

Se o mar, em fúria bravia,
se arremessa contra a praia,
o vento corre e assovia,
cobrindo o bruto de vaia.

Se acaso o amor se embaraça
na armadilha do ciúme,
vê presença de fumaça
em fogo de vagalume.

Quem seus segredos revela,
sem pensar, a qualquer um,
é porteira sem tramela,
não tem segredo nenhum

Lembra o céu, que a noite enleia
com silêncios inquietantes,
praia estranha, escura e cheia
de conchinhas cintilantes.

Mercadora de ternuras,
vendes, dourando o sorriso,
em teu balcão de amarguras,
fatias dá paraíso.

Apitos... último trem
cortando a minha cidade.
E esta lágrima que vem,
antecipando a saudade,.

Ternura! Quanta em meu peito,
sinto agora deslumbrado,
quando meu f ilho, homem f eito,
beija meu rosto cansado.

A justiça com brandura
nosso bom senso bendiz;
também pode haver ternura
na mão firme de um juiz .

Uma lágrima em teu rosto
traz- me, de pronto, o desejo
de amenizar teu desgosto,
enxugando-a no meu beijo.

Chego ao fim, devagarinho,
-e, uma a uma, as pedras somo;
foram muitas no caminho...
e as transpus sem saber como.

Papai Noel - o segredo
mais risonho da Esperança;
o mais bonito brinquedo
no sonho azul da criança.

Minha vida, trajetória
de uma lágrima perdida,
foi apenas uma estória
tentando imitar a vida.

Eu vi a Felicidade,
toquei-a até com meus dedos...
Vi, sim, mamãe, é verdade,
numa loja de brinquedos!...

Surge o sol, compondo o jogo
das manhãs iluminadas...
Imenso rubi de fogo
no engaste das alvoradas,

Estas lágrimas que choro,
e você faz que não vê.
são tudo o que mais deploro,
porque as choro por você.

Tenho lágrimas rolando
em dolorosas reprises...
Reticências terminando
alguns momentos felizes..

Emocionado e feliz,
ao vê-Ia altiva e formosa,
tenho pena da raiz
que não pode ver a rosa.

0 mundo lança-te apodos
e te aponta com desdém,
porque teu beijo é de todos
e tu não és de ninguém.

Receio a felicidade,
não quero ter as estrelas,
sofreria de ansiedade
pelo temor de perde-las.

Quantas lágrimas vertidas,
por motivos sem motivos,
transformaram tantas vidas
em vidas de mortos-vivos.

Eu penso, quando tu passas,
alegre, de manhãzinha,
Nossa Senhora das Graças
deve ser sua madrinha.

Teus olhos cheios de enganos,
de promessas, de meiguice,
são mensageiros profanos
na paz de minha velhice.

Eu fiquei penalizado,
ao ver-te passar, depois,
sem viço, de olhar cansado,
com saudade de nós dois.

Eis o fim, penoso... amargo...
que eu tanto e tanto temia.
Indiferença... letargo...
nosso amor em agonia.

Andando por entre escombros
dos meus sonhos - os mais belos -
vou levando sobre os ombros
as pedras dos meus castelos.

Vendo a praia enluarada,
eu paro e penso contrito:
Uma concha nacarada
guardando a luz do Infinito!

Vou por aí à procura
- quem sabe alguém a perdeu?
de um pouquinho de ternura
que a vida nunca me deu...

Minhas penas são apenas
simples calvários sem cruz;
penas leves como penas,
se as comparo às de Jesus.

... e sigo a vida cantando
cantigas da minha vida,
cantigas que vou cantando
para encanto desta vida...
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Fontes:
– UBT Juiz de Fora
– Imagem = http://mensagensemppszelia.blogspot.com/

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