sexta-feira, 4 de junho de 2010

A. A. de Assis (A Língua da Gente) Parte 16


15. Sinônimos (I)

Tomemos, por exemplo, a frase “Quem com ferro fere com ferro será ferido”. A esse tipo de frase dá-se o nome de provérbio – palavra cujo significado é “breve sentença que expressa a sabedoria popular”. Poderíamos dizer a mesma coisa, isto é, indicar o mesmo significado, escolhendo, entre outras, uma das seguintes palavras: adágio, aforismo, anexim, apotegma, brocardo, ditado, dito, máxima, preceito, prolóquio, rifão... A isso chamamos sinonímia – vários significantes para o mesmo significado.

Nem sempre, entretanto, a coincidência de significado é perfeita; por isso é importante, em benefício da clareza e da expressividade, escolher o sinônimo que melhor se encaixe no contexto. Em vez de aeroplano, você dirá avião, por ser palavra mais moderna; ou aeronave, para indicar maior intimidade com esse meio de transporte. Alencar não descreveu Iracema como a que tinha beiços açucarados; deu-lhe lábios de mel. Um beijo fica muito melhor no rosto ou na face do que na cara. Seca e enxuta podem ser sinônimos, no entanto é mais prudente chamar uma garota de enxuta do que de seca...

A linguagem, em sua função expressiva, estabelece para os sinônimos uma espécie de hierarquia social, que parte do cerimonioso ou científico, passa pelo afetivo ou familiar e chega até o rústico ou vulgar. Nessa ordem temos, por exemplo, abdome-barriga-pança; urina-xixi-mijo; fezes-cocô-merda; indelicado-grosseiro-cavalo; nádegas-bumbum-bunda; tedioso-enfadonho-chato...

Geram-se os sinônimos mediante processos vários. Veremos alguns dos mais frequentes:

Eufemismo ou disfemismo, que consistem em amenizar ou embrutecer a manifestação de uma ideia. Por exemplo: para substituir morrer, temos, entre outros, os eufemismos descansar, falecer, faltar, partir, dormir nos braços do Senhor; entregar a alma a Deus; ir desta para melhor, ir para a eternidade, mudar-se para o andar de cima... ou disfemismos tais como bater as botas, esticar as canelas, ir para a cidade dos pés juntos... Em vez de velhice, muitos preferem dizer idade avançada, idade da sabedoria, idade madura, idade provecta, outono da vida, terceira idade... E o velho, embora comumente chamado ancião, idoso, vetusto, é dito por outros coroa, gagá... O povo é fértil também na criação de eufemismos “folclóricos”: cachaça = água que passarinho não bebe; defecar = exonerar o ventre; gravidez = estado interessante; menstruação = lua; penico = vaso da noite; urinar = verter água...
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Fonte:
A. A. de Assis. A Língua da Gente. Maringá: Edição do Autor, 2010

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