sábado, 7 de agosto de 2010

Pedro César Batista (Poemas ao Anoitecer)


CANDEEIRO DO TEMPO

Olhos cerrados não veem a manhã
Sustentam-se na escuridão do medo e do passado
Bocas enganam ouvidos
Alegram fantasmas que submergem em mentes
Bailam em cantos iludidos com o brilho das luzes
Voos arrastam almas em frágeis desejos supérfluos
Ouvidos se animam ao tilintar de 30 moedas
Falam em suas crenças
Cantam desilusões e dores
Nada crêem no amor e em Iris brilhantes
Acham que todos os olhares são cinzentos
Todos os abraços falsos
A manhã se suicida com medo do dia
Prefere a escuridão da solidão do poder
Desiste de receber a luz das flores e dos pássaros
O dia se vai
Nem noite vem
Deixa-se inebriar no tempo de dor
Onde estou que ainda sonho
Preciso acordar e voar ao infinito
Retirar as folhas que abafam meu canto
Pássaros não alimentam mais sonhos
A dor de quem não sonha
Passos sobrevoa oceanos
Desejam ser brilho nessa escuridão

MINHA JANELA

Foi muito rápido
logo as folhas verdes voltaram
suas flores roxas se foram
deixaram a saudade
das poucas palavras que trocamos
poucas vezes ela falou
todo tempo me encantando
enquanto da janela
continuava lhe mirando
junto ao luar
ou na manhã ensolarada de domingo
enquanto ouvia Bob Dylan

CONTROLE REMOTO

Passos rumos ao sol,
Molham-se em lágrimas às escuras
Diante de pedras caminhantes
Fugindo do calor
Tão frias que se tornaram.

Olhares que não vêem,
Observam o lado,
Nem parece sexta-feira,
Os tamborins ainda tocam
Espalhando fagulhas na escuridão.

Mãos estão trêmulas
Abraços desapertados
Frouxos não levantam vôo,
Rastejam na esplanada.

Gritos são sufocados,
Aparelhos de TV dominam,
Medos despontam
De controles remotos
Em cabeças, mentes e corações.

O sol quer ver flores,
Flutuar a beira-mar
Em corpos sepultados
Para semear manhãs.

Passos encharcados na escuridão
Brilham contra o vento,
Querem o tempo que não quer chegar
Risos nascendo em flores pelas avenidas.

POUSO NOTURNO

A noite é uma fornalha,
O sangue fervilha em busca do mar,
Que me chama em movimentos
Universais de flores, rochas e ventania.

Quem não me quer?
Quem não ouve meus reclamos?
Quem me deixa sozinho à beira da estrada?

Meus passos travam pesados como planetas,
Circulam em universos sem deixar lágrimas borbulharem
na luz cósmica transformada em semente de alegria.

Tropeçar faz animar as nuvens em seu vôo,
As águas ficam mais puras e ensaguinoladas
Repletas de gritos de êxtase sufocados.

As estrelas pululam nas entranhas da floresta,
Vagalumes festejam o breu da existência
Cheia de cantos, desencantos e encantos.

A noite chamusca a dor do abandono,
Da descrença e das sementes murchas
Em crianças vendidas em bordéis na esplanada.

O sangue precisa navegar,
Voar alto,
Ser gaivota
Pousando na areia.

CHAMADO

Quem me chama?
Sou um ser humano?
Não moro sob marquises,
nem sou o bicho de Bandeira.
Quem sou?
Ouço o canto dos pássaros,
alimento a vida dos príncipes,
moro como um general.
Quem sou?
Tenho minhas crias felizes,
tenho um amor,
tenho sonhos.
Quem sou?
Não desejo ouro,
nem pastores ou padres,
nem castelos,
nem ações na bolsa.
Canto o vento que me escuta,
as flores que me encantam,
as luzes que brilham.
Quem me chama?
Não desejo esse tempo,
com sabedores de tudo,
dos caminhos
das alquimias da felicidade,
dos conhecimentos científicos,
sem pés no chão nem amor.
Quero um abraço,
um sorriso de uma flor,
um canto de uma onda no mar,
chamando-me para ir ao seu encontro.
Se lá ficarei não sei.
Quero saber onde estou,
onde pousarei de meus passos
combatendo a fome,
as mentiras,
as dores,
os exploradores,
saqueadores de almas livres.
Não quero o lucro,
nem o mercado,
nem o cercado do consumo.
Quero voar ao infinito.
Quero companhia nas noites frias,
onde os estômagos não reclamem
da falta de alimentos,
saboreando a plena existência,
nem precisa ser humana,
mas viva como todos os seres.
Quero saber onde estou?
Meu tempo finda,
não resiste ao chamado do mar.

Fonte:
http://pedrocesarbatista.blogspot.com/

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