quarta-feira, 23 de março de 2011

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Entre Amigos II)


ESTAÇÕES
Antonio Manoel Abreu Sardenberg

Chuva fina e persistente,
O céu cinzento de inverno,
Faz frio dentro da gente,
E essa saudade latente
Faz o tempo quase eterno.

Chuva forte e passageira,
Céu brilhante de verão...
No meu ninho, a companheira
Quer amor a noite inteira
Num frenesi de paixão!

Chuva miúda de outono,
A natureza despida...
Depois do amor vem o sono
Para dar vigor à vida
Que desperta soluçando
No momento da partida.

Chuva branda e colorida,
Arco – íris, aquarela.
Nos campos flores sortidas
São pincéis tingindo a vida
Com as cores da primavera.

QUEM SOU
Eliane Couto Triska

Sou a pobre... a pequena cantareja
De desejos e amor sobrepujantes
Sou começo do que há, a que flameja
Dos acenos que saúdam visitantes.

Pergunto-me: sou encontro ou partida?
Se poema, se um conto ou uma prosa
Quando escrevo o meu nome com a rosa
Do perfume que te trago à minha vida.

Compreender-me é fugir do igual conceito
Das métricas do soneto quando eleito
Que proíbem o verso à compaixão.

E tu que me lês.. sou como escrevo
Um sonho que liberto no relevo
Das letras como bolhas de sabão.

CONCEPÇÃO
Marise Ribeiro

Acordei com desejos,
desejos insaciáveis de copular.
Copular com o sol,
transgredir com o tempo,
deitar-me com o vento
e me sentir rodopiar num frenesi
até o firmamento.
Quero me deixar penetrar pela chuva
e num gozo intenso perceber
que não me protegi com o preservativo da ignorância.
Vestida com o lingerie transparente da saudade,
me excitarei com os contornos eróticos das montanhas.
Quero disputar com as flores
a atenção do orvalho.
Depois, em um ninho de pétalas,
acasalar-me com os pássaros.
Dormir agarrada com a terra
até o pôr-do-sol sair envergonhado
e voltar a me saciar com as cores do infinito.
Rolar na areia voluptuosamente
e cavalgar no mar morno do entardecer.
Quando a noite chegar,
quero namorar com a lua
e traí-la com as estrelas.
Quero perambular pelos becos desertos
descobrindo todos os prazeres da escuridão.
Como uma mariposa,
voar em círculos lascivos
e me entregar à chama do lampião.
Cair então saciada, plena;
plena no ventre, com a semente do Universo.
... E parir, tempos depois,
com gemidos de intensa alegria,
a bela e tão sonhada poesia!

DISTÂNCIA
José Ernesto Ferraresso

Se essa distância for constante
A tristeza provocará a dor,
e junto a dor chegará a lágrima...
Outono é frio,
folhas caem, e a brisa,
molha as folhas
e o vento as levam...
Esse frio cala na pele ,
que a resseca,
como folhas que se desfazem...
Eu ainda me lembro de você.
Éramos felizes...

DONO DA MINHA PAIXÃO
Sônia Salete

Amanhece...
A claridade penetra pelas transparentes cortinas…
Os sons de vida se espalham pelo ar...
A brisa matinal refresca meu corpo
Você está aqui,
Comigo...
O dia se transforma então ,
Num momento mágico
Onde estrelas explodem no meu coração!
Dia de luz...
Dia de sol...
Vou te prender sempre bem dentro da minha ilusão...
Até você dizer:
“Tu és a dona da minha paixão

MILAGRE DO AMOR
Graça Ribeiro

Na memória de um tempo azul
dentro de um templo de anjos
construíamos fios de sonhos

Apenas a presença do amor
esculpia beijos de eternidade
dentro dos sussurros do silêncio

A vida fluía como água de rio
na claridade do cotidiano
onde não havia espaço vazio

Havia "sementes de estrelas"
entrelace de dedos e agulhas
tecendo vida em meus cabelos

Havia o gozo, o desejo de plenitude
naquela hora em que o céu fomos nós
na ternura de um amor sem ponteiros

RETRATO
Hilda Persiani

Hoje, revendo o seu retrato,
Que o tempo impiedoso desbotou,
Constatei, com tristeza, que de fato,
Da mocidade só a saudade me restou.

Por um momento tive a ilusão
Que o seu retrato criou vida,
Sorriu, chamou-me de querida
E fez acelerar meu coração...

De repente o sonho se desfez...
Ele novamente foi descorando
Voltando a ser só um retrato outra vez.

Mas nesse breve sonho de momento,
Eu me senti feliz e então chorando
O seu retrato beijei com sentimento!...

Extraído do Livro Só Poesias de Hilda Persiani
Editora Celeiro de Escritores

FUGA
Zena Maciel

Eu queria dormir e não pensar em nada,
Apagar os pensamentos,
Descansar nas asas do vento,
Fechar as portas do coração,
Não saber quando acordar.

Estou cansada de mim!
Quero entender as dores,
Aceitar suas imposições,
Sorrir da falta do meu sorriso,
Driblar a infelicidade...

Viajar à toa pelo infinito,
Descansar nos travesseiros
macios dos querubins,
Brincar com meus fantasmas,
Conviver com o silêncio dos mortos...

Não pensar no ontem, nem no hoje
e tampouco no amanhã...
Navegar pelo paraíso perdido,
onde o desejo estivesse
ao meu alcance, sem precisar
ficar à procura de nada...

Vagar por entre as nuvens,
Sem nada querer e sem nada perder...
Diluir-me nas asas do tempo,
Encontrar-me com fadas e duendes...

Não me preocupar em saber o que sou,
o que fui ou o que poderei vir a ser...
Queria voar, voar, voar,
até fugir de mim...
Perder -me no infinito de um
sonho e ficar lá para sempre!

Fonte:
Antonio Manoel Abreu Sardenberg

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