Rio Limpopo, Moçambique
À Paulina Chiziane
A Provincia dos meus olhos é uma flor que nunca murcha, as suas folhas estão pintadas de variadas cores, cores que refletem vários sentimentos, sentimentos que nos tranquilizam, carregados de tanta emoção, fazendo-nos re(viver) nesta ponte de afetos que liga-nos de um passado glorioso a um presente nostálgico.
Nestes ultimamentes a minha querida Gaza anda desalmada, carece de amor, falta-lhe uma voz amiga, pois Os Ventos do Apocalipse abocanharam a sua felicidade e o medo cobriu-lhe o teto. Dorme um sono secular, vive um pesadelo milenar, a natureza trancou-lhe as portas, e ela aceitou estar encarcerada em Mabalane. Não se interessou em contratar um advogado, muito menos procurar ajuda dos amigos, ficou no silêncio das grades da sua angústia, nem a mim que num passado não muito distante juntos plantamos coqueirais de amor.
Quando cheguei a Provincia que tanto me esperava, constatei que algo mudou, o casebre transformado em Castelo, repleto de seguranças, empregados domésticos ,etc., uma prisão domiciliar, creio que ela conseguia me ver, daí descobri a 8ª Cor do Arco Irís.
Bati a porta a 1ª, 2ª, 3ª vez. Ninguém respondeu, mas de longe via-se um monte de gente a circular no quintal. O meu último sentido despertou-me da letargia que me assombrava.
Oh, pobre de mim! Nas grandes casas já não se bate a porta, toca-se a campainha. A resposta veio a uma velocidade da luz, em seguida vieram os serviçais atenderam-me.
-Com quem o senhor deseja falar? – perguntaram-me.
Arrepiado de medo, e a tremelicar de incerteza, dei a seguinte resposta: – Com a dona da casa.
– Quem é o senhor? Pois a senhora está a dormir. Ela quando encontra-se neste estado não gosta de ser incomodada. Espero que entendas, podes vir mais tarde? Se assim o achar conveniente, mas contudo deixe-nos com o seu nome.
De longe ouvia-se uma voz feminina a perguntar: – Oh José! - creio que era o nome do homem que estava a me atender, – não veio alguém me precisar?
– Tem aqui um senhor que precisa da senhora – respondeu o José
– Manda-o entrar – disse ela.
A sua voz planta respeito e felicidade no povo que a circunda, apesar dela não desfrutar dos mesmos. O corpo dela guarda segredos milenares tal como As mumias, os seus olhos são uma verdadeira caixa de surpresas. Sei que quando cruzarem-se com os meus explodirão como a bomba atômica que destruiu Hiroshima e Nagasaki. e os seus estilhaços irão cair nas mãos da potência do nosso amor. Sobrevoarão a caminho do futuro nas asas das Andorinhas. Tenho comigo uma pá para poder cavar os compartimentos do seu coração. Bem sei que Gaza é de poucas palavras e muitas ações, diferente de outras mulheres que sonham, Gaza vive, idealiza e concretiza.
Chegando à sala de visita onde ela estava sentada: – Pode sentar – disse ela, com olhos boquiabertos. Em seguida aproximou-se de mim e deu-me um abraço do tamanho do mundo. Os empregados domésticos ficaram bastante surpresos , pois nunca tinham visto O Alegre Canto da Perdiz. Instalou-se o silêncio, a realidade tinha traços de ficção,.
– Sabes! Hà muito que preciso de conversar consigo. Volvidos 12 anos tive a oportunidade de estar perto de ti, dada as circunstâncias desta auto-estrada da vida, ora quando vinhas ao meu encontro não me encontravas e quando fazia o mesmo você estava em constantes viagens, e neste instante nos encontramos.
A sociedade em que estou inserida nela está contra a nossa relação amorosa, agitava-me para te deixar, te esquecer, cortar os laços que nos une.
– Aquela provinciana não é digna do seu amor – diziam eles
Davam-me dissolventes e eu resistia sempre, tal como fez o ngungunhane, assim transformei a minha palavra em flecha e o amor que uiva dentro de mim num arco. Saiamos deste lugar, pois algo diz de mansinho que este lugar tem alguma coisa de nefasto, caso continuemos sentados nesta mesa onde estamos sentados com os garfos e as facas que mal sabem dançar Niketche e muito menos sabem falar a nossa língua, o nosso changana. Creio que de tanta inveja este lugar pode vir a restaurar estes nossos sentimentos ambulantes dando-lhes um outro ar.
– Princesa, vamos! – disse eu.
– Para onde, meu amor? – respondeu ela
Vamos sentar na esteira do rio Limpopo a sós, para melhor escutarmos A Balada do Amor ao vento.
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Nota: em negrito são nomes de livros de Paulina
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Fontes:
Texto enviado pelo autor
Rio Limpopo = http://devitz.blogspot.com/2010/07/arvore-misteriosa-no-rio-limpopo.html
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