sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Nilton Manoel (Didática da Trova) Parte 2

A poesia hoje tem maior espaço no ensino fundamental e plenitude no ensino médio. No curso de Formação de Professores de Educação Básica, nos jornais e revistas, nos livros didáticos, nas videoconferências, encontramos  textos em literatura de cordel, haicai e soneto. Entretanto, mesmo antiga e dinamizada por dezenas de concursos anuais, a trova literária, mantém-se distante do quotidiano pedagógico. Cremos que a maioria  dos  professores desconhece como se produz poemas de forma fixa. É preciso investir mais no professor, propiciando-lhe meios para aplicar em suas aulas, a poesia presente em todas as áreas do conhecimento. Sabemos que a arte poética requer estudos, é útil e agradável. A trova é um poema de quatro versos em redondilha maior, rimas ABAB e de sentido completo. Neste imenso clamor contra a violência, escolas gastam mais com ferragens do que com bibliotecas.              

Esperamos que se invista em arte-poética e que recordemos em salas-de-aula, trovas populares e literárias. Os jornais não trazem espaços para os poetas da terra editarem suas produções. Têm de tudo; menos a poesia que, busca oralidade e vida cidadã. Isto tem deixado nos últimos anos, imensa lacuna histórica. O malefício tem sido amenizado com o pluralismo da internet.

Luiz Otávio, príncipe dos trovadores brasileiros, diz:

Haveria paz na terra
não seria a vida inquieta
se a criança em vez de guerra
brincasse de ser poeta.


 As crianças não brincam mais de guerra, mas também não brincam de ser poetas. Na mensagem popularizada de Agmar  Murgel Dutra  sentimos as mudanças da vida;

Criança – brinquei de guerra
com bonecos e confeitos...
mas, hoje, por toda a terra
brincam de guerra homens feitos...


A definição de Trova, bem como a de Trovador, vêm da Idade Média. O Trovadorismo é a primeira escola literária de Portugal. A trova como forma fixa mantém-se através dos tempos, como esta do português Antônio Correia de Oliveira:

Sino, coração da aldeia,
coração, sino da gente.
Um a sentir quando bate.
outro a bater quando sente
. (CRUZ,1944, p.77)

 Nesta conceituação, a Trova é responsável pela  animação social, cultural e turística promovida  há mais cinqüenta anos pelos trovadores brasileiros e consagra Nova Friburgo, (RJ.) o título de berço dos Jogos Florais Brasileiros. O escritor Jorge Amado define: Não pode haver criação literária mais popular, que fale mais diretamente ao coração do povo do que a trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a trova e o trovador são imortais. (JFRP,2008,p.3),Judith Coelho Maciel reforça: A trova é uma epopéia em quatro versos (BELTRÃO,1975,17). Nilton da Costa Teixeira conclui “Quem faz trovas não vive só, tem a alma repleta de ilusões”.

   Trova é poesia!

 POESIA: Arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados. Composição poética de pouca extensão. Caráter do que emociona, toca na sensibilidade. POEMA: Obra em verso ou não, em que há poesia. Composição poética de certa extensão, com enredo.  ( FERREIRA,2001,p. 541, )

Sabemos que literatura é o conjunto de produções intelectuais de um povo com finalidade de educar, como “arte literária é o conjunto de preceitos que regulamentam a expressão artística do pensamento” (TORRES,1951, p.15).  Procuramos aqui revelar a importância da trova literária e como motivar textos poéticos em salas de aula.

Na antiguidade havia um significado entre trovador e  segrel. Na atualidade temos: “todo trovador é poeta, mas nem todo poeta é trovador. Quanto ao gênero as trovas podem ser: líricas, filosóficas, promocionais, formativas, humorísticas, sarcásticas ...
 
Filosófica, de A A Assis, Maringá (PR), colhida na revista Trevo na Trova, nº 107, 2008, p.18, Ano XIII, UBT de Taubaté,SP:

Trate o velho com respeito;
dê-lhe o amor que possa dar,
mas não lhe roube o direito
de a si mesmo governar. 


Formativa, de Cláudio de Cápua, Santos (SP) colhida na revista Trevo na  Trova, nº 107, 2008, p 04, Ano XIII, UBT, seção de Taubaté,SP:

Jovem... tenha fé na terra,
seja valente e viril,
Suba monte, desça serra,
Não desista do Brasil!


Promocionais: do trovador José Maria Morgade de Miranda, em agradecimento a um dos patrocinadores do livro Jogos Florais em Quatro Tempos,1978, p.51, Ribeirão Preto (SP).

Um  terno bom não tem preço
e valoriza você;
anote aqui o endereço:
Magazine J.B.


Humorística: O trovador Ivan Augusto, nos XIII Jogos Florais de  Ribeirão Preto (SP) 1996 pegou a 4º menção especial, glosando o tema “

A vida é mesmo um sabão,
tendo o perigo da morte;
médico, às vezes lambão...
ao paciente pede sorte.


Lírica: Juliana Bossu Martins, classificada em terceiro lugar nos Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto (SP),1996, com a trova:

Queria te dar a flor,
mas a flor tem muito espinho;
então te dou muito amor
e também muito carinho.


Fundo metafísico: Na coluna Pif-Paf de Péricles e Vão Gogo da revista O Cruzeiro de 3/10/1953, colhemos esta trova:

As quatro letras da Vida,
são de seu mistério a escolta,
três delas soletram ida,
mas o V será de volta.


Homenagem:  O trovador Helvécio Barros, Bauru (SP), durante os II Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP) à despedida, emocionado declamou trova a seguir que, passou a ser editada em diplomas de vencedores.
                                  
Ribeirão Preto é sucesso
é vida que se renova;
se canta ao sol do progresso,
vibra na festa da trova.


Em Poesia do Tempo – memórias, Herman de Lima, Livraria  José Olympio Editora,RJ. 1967, encontramos este epigrama do poeta Antônio Sales:

A fealdade é um direito,
por isso ninguém a acusa,
mas, ser feia deste jeito...
perdão, a senhora abusa 
(p.108) 

Quanto às trovas promocionais, Raimundo de Menezes, em Emílio de Menezes, o último boêmio, 1945, 3ª ed. da Livraria Martins Editora - SP,  publica:

Bilac chegou a receber cem mil réis dos industriais dos “Fósforos Brilhante”, por esta quadrinha, diz Luiz Edmundo:

Aviso a quem é fumante:
Tanto o Príncipe de Gales,
Como o dr. Campos Sales
Usam “Fósforos Brilhante”!
  (p. 114)

 Relendo Emílio de Menezes - o último boêmio, no prefácio da primeira edição,assinado por Davi Carneiro, 18 de junho de 1945, Curitiba (PR), encontramos na p.10:

Quando escreveu e publicou “A vida boêmia de Paula Nei” ainda morava em Ribeirão Preto. Aí, longe do bulício excessivo, tomou gosto pelas pesquisas, fez-se historiador e recebeu aplausos calorosos que lhe mandavam os grandes centros  pela obra perfeita que lhe havia saído a historia dessa vida.  Foi ainda em Ribeirão Preto, que começou a pensar neste outro livro, nesta outra biografia que é o Emílio de Menezes – o último boêmio.

O que levou-nos a essa obra foram as diversas trovas circunstanciais de Emílio, como esta:
                             
    A laranja é fruta fraca,
não sustenta como a canja,
mas em dia de ressaca,
até Deus chupa laranja.
( p. 180)

 No opúsculo  Trovas de Graça, FERREIRA, revela-se  humorista:

Tanta ambição por dinheiro!
Somos, na Terra, turistas
e aqui tudo é passageiro...
-bem... exceto os motoristas!
(p.41)

Continua…

Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.

Nenhum comentário: