terça-feira, 18 de dezembro de 2012

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 4


Antônio Mariano Alberto de Oliveira
(Palmital de Saquarema/ RJ, 28 de Abril de 1857 – Niterói/RJ, 19 de Janeiro de 1937 )

" PRIMEIRO CANTO "
( Soneto III  )
                                                           

Que ânsia de amar, E tudo me ensina;
a fecunda lição decoro atento,
já com liames de fogo ao pensamento
incoercível desejo ata e domina.

Em vão procuro espairecer ao vento,
olhando o céu, os morros, a campina,
escalda-me o coração coo em tormento.

E à noite, ai! com em mal sofreado anseio,
por ela, a ainda velada, a misteriosa
mulher, que nem conheço, aflito chamo!

E sorrindo-me, ardente e vaporosa
sinto-a vir (vem em sonho) une-me ao seio,
junta o rosto ao meu rosto e diz-me: eu te amo!

" ALMA EM FLOR "
( Soneto IV )
        
Vem! Se ao meu peito alguém colasse o ouvido,
isto ouviria então como uma prece
lá sussurrando : - sonho meu querido,
vem! abre as alas! mostra-te, aparece!

Queima-me a fronte, a vista se amortece,
aflui-me o sangue ao cérebro incendido.
Oh! vem! não tardes, que me desfalece
o coração gemido por gemido.

Vem, que eu não posso mais. Olha, o que vejo
em derredor de mim, é tudo afeto,
amor, núpcias, carícia, enlace, beijo . . .

Paira por tudo uma volúpia infinda
une-se flor a flor, inseto a inseto . . .
E eu até quando hei de esperar ainda?

" EXCELSITUDE "
                                                           
Chegaste onde chegar nem pode o pensamento.
Eu que te vi partir, eu me deixei sozinho
ficar, amando ainda este chão de caminho,
onde há a pedra, onde há a serpe, o tojo, a chuva e o vento.

Prenda-me agora, mais que a terra, o firmamento;
o que inda há por sofrer, sofra, a falar baixinho
com as estrelas; rasteje humilhado e mesquinho
aos pés de cada altar; só meu gozo e alimento

seja o coração; deserte o mundo; ermado e triste,
viva só para a Fé, e ai! só para a Saudade;
nunca me hei de elevar à altura a que subiste!

Nunca mais te hei de ver! Entre nós ambos corre,
a extremar-te de mim, a tua eternidade,
a extremar-me de ti, tudo o que é humano e morre.
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Alberto Ruiz
Soneto retirado a coletânea: "O amor, na Poesia Brasileira", de Olegário Mariano. 
Sem indicações biográficas.

" DESENGANO "

Eu bem sei que este amor não foi mais do que um sonho,
sonho que se desfez como as nuvens ao vento.
Amor que só me trouxe um viver enfadonho,
alto preço a que pago a ilusão de um momento.. .

E nem, por meu pesar, me vale o esquecimento:
o remédio melhor ao mal a que me exponho.
Vejo continuamente o seu olhar tristonho
dentro do meu olhar e do meu pensamento.

Ah! não sossega mais esta minha alma inquieta,
cheia de tédio e de descrenças já repleta. . .
Um desengano a mais a entristecer-me a vida...

E por que não sofrer? Vê-la e depois de vê-la,
em êxtase adorá-la e traze-la escondida
dentro do coração para depois perdê-la. . .
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Alceu de Freitas Wamosy
(1Uruguaiana/RS, 14 de fevereiro de 1895 – Livramento/RS, 13 de setembro de 1923)


 " DUAS ALMAS "
                                                A Coelho da Costa

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...

" ÚLTIMA PÁGINA "

Todo este grande amor que nasceu em segredo,
e cresceu e floriu na humildade mais pura,
teve o encanto pueril desses contos de enredo
quase ingênuo, onde a graça ao candor se mistura.

Entrou nos nossos corações como a brancura
de uma réstia de luar numa alcova entra a medo.
Nunca teve esse fogo intenso de loucura,
que há em todo amor que nasce tarde e morre cedo.

E quando ele aflorou tímido e pequenino,
como uma estrela azul no meu, no teu destino,
não sei que estranha voz ao coração me disse,

que este amor suave e bom, de pureza e lealdade,
sendo o primeiro amor da tua meninice,
era o último amor da minha mocidade.

Fonte:
J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

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