quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Monteiro Lobato (O Presidente Negro) XI – No Ano 2228


CAPITULO XI
No Ano 2228


Voltei ao castelo e minha amiga deu começo enfim as suas revelações sobre o choque das raças.

— Decifrou o quebra-cabeças? perguntou-me logo que entrei.

— É dos indecifráveis, respondi — dos indecifráveis para quem não inventou nenhum porviroscópio. Um ponto, entretanto, me intriga. Acho que a população negra da América é muito pequena em relação á branca para que possa jamais constituir perigo.

– Seria assim, de fato, emendou a moça, se com o crescer do país a proporção se conservasse sempre a mesma. Não foi exatamente isso o que se deu. Enquanto a corrente imigratória europeia trazia ondas e mais ondas de brancos a somarem-se aos já estabelecidos no país, nada alarmava, nem deixava vislumbrar um futuro agravamento da situação. Mas essas ondas foram diminuindo em virtude dos obstáculos opostos á entrada de imigrantes, e por fim sobreveio um maquiavélico sistema de drenagem. Em vez de entrada franca a quem quisesse vir localizar-se no país, organizou o governo americano em todas as nações do velho mundo um serviço de importação de valores humanos, consistente em atrair para lá a fina flor eugênica das melhores raças europeias. Já aliviada do seu ouro em favor da América, viu-se a Europa tambem aliviada da sua elite.

– Desnataram a pobre Europa! Só deixaram no velho mundo o soro…

– Isso mesmo. Daí a qualificação de maquiavélico dada ao sistema. Os mais perfeitos tipos de beleza plástica, as mais fortes inteligências, os mais puros valores morais, eram descobertos onde quer que florescessem e seduzidos, de modo a, mais cedo ou mais tarde, se localizarem na Canaã americana. Por fim achou-se o
país bastante povoado; e a mentalidade proibicionista, assustada com o espectro do super-povoamento, suplantou a imigracionista. Fecharam-se todas as portas ao fluxo europeu e a nação passou a crescer vegetativamente apenas. Data daí a "inflação do pigmento".

Até essa época a população negra representava um sexto da população total do país. A predominância do branco era pois esmagadora e de molde a não arrastar o americano a ver no negro um perigo sério. Mas com o proibicionismo coincidiu o surto das ideias eugenisticas de Francis Galton. As elites pensantes convenceram-se de que a restrição da natalidade se impunha por mil e uma razões, resumíveis no velho truismo: qualidade vale mais que quantidade. Deu-se então a ruptura da balança. Os brancos entraram a primar em qualidade, enquanto os negros persistiam em avultar em quantidade. Foi a maré montante do pigmento. Mais tarde, quando a eugenia venceu em toda a linha e se criou o Ministerio da Seleção Artificial, o surto negro já era imenso.

– Ministerio da Seleção Artificial?

– Sim. O grande Ministerio, o verdadeiro fator da espantosa transformação sofrida pelo povo americano. O seu espirito criador, a coragem de enveredar por sendas novas sem esperar que outros o fizessem primeiro, deu àquele povo um enorme avanço sobre os demais.

Essas restrições melhoraram de maneira impressionante a qualidade do homem. O numero dos malformados no físico desceu a proporções. mínimas — sobretudo depois do ressurgimento da sabia lei espartana.

— A que matava no nascedouro as crianças defeituosas? exclamei arrepiado. Tiveram eles a coragem de fazer isso?

– Se o senhor Ayrton visse, como eu vi, o resultado dessa e de outras leis semelhantes, só se admiraria da estupidez do homem em retardar por tanto tempo a adoção de normas tão fecundas. Entre cortar no inicio o fio da vida a uma posta de carne sem sombra de
consciência e deixar que dela saia o ser consciente que vai vegetar anos e anos na horrível categoria dos "desgraçados", a crueldade está no segundo processo. A lei espartana reduziu praticamente a zero o numero dos desgraçados por defeito físico. Restavam os desgraçados por defeito mental.

– De numero infinito…

– Esses foram impedidos de se reproduzirem pela Lei Owen, fruto das grandes ideias pregadas por Walter Owen. Walter Owen foi o verdadeiro remodelador da raça branca na América. Apareceu cento e poucos anos antes do choque das raças com o seu famoso livro O Direito de Procriar, onde lançava os fundamentos do Código da Raça, conjunto de leis tão sabias e fecundas em resultados que, podemos dizer, a Era Nova da raça humana datou da sua promulgação. A lei Owen, como era chamado esse Código da Raça, promoveu a esterilização dos tarados, dos malformados mentais, de todos os indivíduos em suma capazes de prejudicar com má progenie o futuro da espécie. Só depois da aplicação de tais leis é que foi possível realizar o grandioso programa de seleção que já havia empolgado todos os espíritos. Os admiráveis processos hoje em emprego na criação dos belos cavalos puro-sangue passaram a reger a criação do homem na América.

– E lá se foram os peludos!…

– Exatissimamente... Desapareceram os peludos — os surdos-mudos, os aleijados, os loucos, os morféticos, os histéricos, os criminosos natos, os fanáticos, os gramáticos, os místicos, os retóricos, os vigaristas, os corruptores de donzelas, as prostitutas, a legião inteira de malformados no físico e no moral, causadores de todas as perturbações da sociedade humana. Essas leis está claro que eram fortemente restritivas da natalidade, sobretudo, no começo, quando havia quasi tanto joio quanto trigo. Crescer para a América não equivalia mais a avultar ás tontas em numero, como hoje, e sim a elevar o indice mental e físico dos seus habitantes. Os Estados Unidos (e o Canadá, que já se fundira neles) cresciam dessa maneira admirável, se bem que incompreensível para nós hoje, que vivemos em plena licenciosa anarquia procriadora.

Miss Jane tomou fôlego e prosseguiu:

— Mas... o "mas" perturbador de todos os cálculos humanos surgiu. Apesar de submetida aos mesmos processos restritivos dos brancos, a raça negra começou desde logo a apresentar um indice mais alto de crescimento. A proporção do negro puro relativa ao branco subiu a um quinto, a um quarto, a um terço, e por fim chegou á metade... Quer dizer que o binômio racial, desprezado na era do crescimento imigratório e descurado no inicio do regime seletivo, passou a entrar na fase aguda do "resolve-me ou devoro-te".

— Em quantos eram calculados os negros nesse momento?

– Na era em que tomamos este corte anatômico do futuro, ano 2228, as estatísticas apresentavam dados alarmantes. Negros, 108 milhões; brancos, 206 milhões. E como o coeficiente da natalidade negra acusasse uma nova subida, o instinto de conservação dos brancos eriçou-se nos primeiros arrepios da legitima defesa. Dos muitos alvitres propostos para de uma vez por todas arrancar a América do seu beco sem saída predominavam duas correntes de ideias contrarias, conhecidas por "solução branca" e "solução negra". A solução branca…

– Já sei! exclamei aflito por acertar uma só vez que fosse. A solução branca era expatriar o negro!…

– Muito bem! confirmou miss Jane, alegre de ter-me proporcionado um inocente prazer mental. Queriam os brancos a expatriação dos negros para o…

– Vale do Amazonas! exclamei de novo, radiante do meu sucesso anterior e esperançoso de segunda vitoria. Dias antes eu lera não sei onde uma qualquer coisa que me deixara entrever isso.

– Bravos! Nesse andar vai o senhor Ayrton substituir com vantagem o nosso porviroscópio perdido. Para esse vale, sim. O antigo Brasil cindira-se em dois países, um centralizador de toda a grandeza sul-americana, filho que era do imenso foco industrial surgido ás margens do rio Paraná. Com as cataratas gigantescas ao longo do seu curso, acabou esse fecundo Nilo da América transformado na espinha dorsal do país que em eficiencia ocupava no mundo o lugar imediato aos Estados Unidos. O outro, uma republica tropical, agitava-se ainda nas velhas convulsões políticas e filológicas. Discutiam sistemas de voto e a colocação dos pronomes da semimorta lingua portuguesa. Os sociólogos viam nisso o reflexo do desequilíbrio sanguíneo consequente á fusão de quatro raças distintas, o branco, o negro, o vermelho e o amarelo, este ultimo predominante no vale do Amazonas.

Não pude deixar de estremecer diante das revelações de miss Jane sobre o futuro do meu país.

– Que tristeza, miss Jane! exclamei compungido. Pois vai dar-se isso então?

– Não vejo motivos para a sua tristeza, respondeu ela. Acho até que a divisão do país constitui uma solução ótima, a melhor possível, dado o erro inicial da mistura das raças. A parte quente ficou a sofrer o erro e suas consequências; mas a parte temperada salvou-se e pode seguir o caminho certo. A sua tristeza vem da ilusão territorial. Mas reflita que a muita terra não é que faz a grandeza de um povo e sim a qualidade dos seus habitantes. O Brasil temperado, além disso, continuou a ser um dos grandes paises do mundo em território, visto como fundia no mesmo bloco a Argentina, o Uruguai e o Paraguai.

Enchi-me de orgulho patriótico e sem querer levantei-me da cadeira com um hurrah entalado na garganta.

– Vencemos a Argentina, então? Conquistamos todo o Prata?

– Errou desta vez, senhor Ayrton. Não houve guerra, nem conquista de qualquer espécie. Os povos deste sul abriram os olhos a tempo, viram que a espinha dorsal da zona era o rio Paraná e foram-se arrumando ao longo das suas quedas como costelas, formando um todo único, mais ligados pelos interesses econômicos e geográficos do que por vinculas de sangue.

– Mas a velha rivalidade entre brasileiros e argentinos?

– Não passava de uma ingênua voz de sangue. Brasileiros e argentinos, descendentes de lusos e espanhóis, encampavam sem o saber o velho antagonismo que sempre dividiu a península ibérica. Mas tantas ondas de sangue novo despejou cá a imigração, que o
elemento inicial luso-espanhol foi suplantado e não teve forças para perpetuar a ingênua rivalidade hereditaria

– Mas por que dividiram o Brasil? perguntei ainda mal consolado. Era só povoar o norte da mesma maneira que o sul…

– Um país não é povoado como se quer, senhor Ayrton, ou como apraz aos idealistas. Um país povoa-se como pode. No nosso caso foi o clima que estabeleceu a separação. Dos europeus só os portugueses se aclimavam na zona quente, onde, graças ás afinidades com o negro, continuaram o velho processo de mestiçamento, acabando por formar um povo de mentalidade incompatível com a do sul.
Mas voltemos á América do Norte. O nosso caso é o americano. Mais tarde revelarei ao senhor Ayrton o que se passou no Brasil e como surgiu a grande Republica do Paraná. Estávamos na solução branca, e direi que todos os brancos americanos só queriam uma coisa: exportar, despejar os cem milhões de negros americanos no vale do Amazonas. Isso, entretanto, constituia uma empresa formidável ou, melhor, impraticável, não só em virtude de tremendas dificuldades materiais como por ferir de face a Constituição Americana. O pacto fundamental do grande povo era profundamente sábio, tão sábio que conseguira elevar a antiga colônia inglesa á liderança universal e, pois, gozava de um respeito na verdade supersticioso. Essa carta impedia uma duplicidade de tratamento para cidadãos iguais entre si perante a sua serena majestade de lei substantiva.
Já os negros se batiam por uma solução muito mais viável e justa. Queriam a divisão do país em duas partes, o sul para os negros e o norte para os brancos. Alegavam que era a América tanto de uma raça como de outra, visto como saíra do esforço de ambas; e já que não podiam gozar juntas da obra feita em comum, o razoável seria dividir-se o território em dois pedaços. Mas como os brancos preferiam continuar no status-quo a resolver o caso por esse processo, o problema racial permanecia de pé, cada vez mais ameaçador.
Dez anos antes começara a aparecer na cena americana um vulto de excepcional envergadura: Jim Roy, o negro de gênio. Tinha a figura atlética do senegalês dos nossos tempos, apesar da modificação craniana sofrida por influencia do meio. Tal modificação o aproximava do tipo dos antigos aborígines encontrados por Colombo. Era esse, aliás, o tipo predominante no país inteiro, e cada vez mais acentuado depois que a interrupção da corrente imigratória permitiu um evoluir étnico não perturbado por injeções estranhas. Até na tez levemente acobreada começava a transparecer nos americanos a misteriosa influencia do ambiente geográfico.

– Engraçado! Quer dizer que com o tempo todos iam virando indios…

– Não quer dizem bem isso, e sim que se aproximavam um pouco do tipo ameríndio, no que pude observar. Talvez que dentro de vinte ou trinta mil anos a sua hipótese esteja realizada. Infelizmente o aparelho que meu pai construiu não ia além do ano 3257.
Em Jim Roy a sua semelhança com um mestiço de senegalês e pele-vermelha (coisa impossível, pois de há muito já não existia um só indio na América) acentuava-se pela cor da pele, nada relembrativa da cor clássica dos pretos de hoje.

– Influencia do meio?

– Não. Não foi isso milagre da influencia do meio, nem era coisa singular, privativa de Jim Roy. Quasi toda a população negra da América apresentava pele igual á sua. A ciência havia resolvido o caso de cor pela destruição do pigmento. De modo que se Jim Roy aparecesse diante de nós hoje, surpreenderia da maneira mais desconcertante, visto como esse negro de raça puríssima, sem uma só gota de sangue branco nas veias, era, apesar de ter o cabelo carapinha, horrivelmente esbranquiçado.

– Albino?

– Não albino. Esbranquiçado — um pouco desse tom duvidoso das mulatas de hoje que borram a cara de creme e pó de arroz…

– Barata descascada, sei.

– Mas nem eliminando com os recursos da ciência o característico essencial da raça deixavam os negros de ser negros na América. Antes agravavam a sua situação social, porque os brancos, orgulhosos da pureza étnica e do privilegio da cor branca ingenita, não lhes podiam perdoar aquela camouflage da despigmentação.
Era Jim Roy na realidade um homem de imenso valor. Nascera fadado a altos destinos, com a marca dos condutores de povos impressa em todas as facetas da sua individualidade. Como organizador e menear talvez superasse os mais famosos organizadores surgidos entre os brancos. A história da humanidade poucos exemplos apresentava de uma eficiencia igual á sua. Consagrara-se desde muito jovem á execução dum plano de gênio, traçado nas linhas mestras com a mais perfeita compreensão do material humano sobre que pretendia agir.

– Está me lembrando o velho Moisés…

– Jim Roy conseguira o milagre da associação integral da população negra sob a bandeira dum partido político cujas forças, coletadas por extensa cadeia de agentes distritais, vinham, como fios telefônicos, ter á estação central da sua chefia suprema. Sempre sabias e construtoras, suas instruções desciam com autoridade de dogmas sobre todas as células da Associação Negra (era o nome do partido) e as fazia moverem-se como puros autômatos. Esta abdicação, ou melhor, esta sujeição consciente e consentida de todas as vontades a uma vontade única aperfeiçoara-se de tal modo que no ano da tragédia a situação politica dos Estados Unidos passou de fato a depender do lider negro.

– Passou a depender dele como? Pois não eram os negros apenas cem para duzentos milhões de brancos?

– Não se impaciente, senhor Ayrton. Temos que ir por partes. Disse eu que a situação politica da América passou a depender de Jim Roy e foi fato. Mas antes de lá chegarmos temos que fazer um rodeio politico. Gosta de politica, senhor Ayrton?

– Nem eleitor sou, miss Jane.

– E da politica feminina?

– Essa desconheço. Suponho, entretanto, que ha de ser mais felina que a dos homens...
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continua… XII – A Simbiose Desmascarada

Fonte:
Monteiro Lobato. O Presidente Negro. Editora Brasiliense, 1979.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

4 de Outubro (Dia de São Francisco de Assis)


Fonte:
http://kipasa.com/pt/dia-de-sao-francisco-de-assis/

A. A. de Assis (Francisco, o Poeta)


Gosto muito de Francisco, um santo e tanto, o bom Francisco de Assis. Não somente por ser ele santo, e santo forte e alegre e sábio; mas sobretudo porque além de santo soube Francisco ser poeta, e máximo.

Poeta mesmo, de entender e amar integralmente a gente e o mundo e a vida. Poeta da ternura e da partilha. Poeta do amor valente e generoso e da coragem de doar-se. Poeta do não-ter, por lhe bastar o ser. Santo-poeta da total pureza.

Francisco vem há oitocentos anos tentando convencer a humanidade de que a alegria está nas coisas simples. Na festa dos lírios, que não tecem nem bordam, e no entanto se vestem mais belamente do que Salomão. Na traquinice dos pássaros, que não plantam nem ceifam, e no entanto jamais sofreram privações.

Poucos souberam viver tão assumidamente a poesia da fraternidade. Levando paz aos corações tumultuados pela violência. Levando esperança às almas sufocadas pela angústia. Levando luz às mentes perturbadas pelo medo e pela dúvida. Disposto sempre a perdoar antes mesmo de ser perdoado, a amar antes mesmo de ser amado. E ensinando a gente a aceitar a chamada para o céu como aurora da eterna graça.

Francisco foi um descomplicador da vida, virtude própria do poeta intrínseco. Despojou-se de toda coisa inútil, para ser somente um homem bom.

Hoje Francisco seria um dos grandes líderes na luta contra a fome, contra a doença e contra a indigência cultural. Seria um vigoroso apóstolo da natureza, pedindo aos povos que sujem menos o ar e as águas, que usem com mais prudência os defensivos agrícolas, que parem de derrubar os bosques e as florestas. Seria um incansável militante das entidades protetoras dos animais. E por certo encontraria tempo e fôlego para ser também o de que tanto gosta: um entusiasmado animador de todos os grupos empenhados em semear e manter viva a poesia na face da Terra.

Francisco, o poeta. O nosso poeta. O santo da bondade, irmão querido de cada um de nós, irmão do sol, da lua e de cada uma das estrelas, irmão das plantas, irmão das aves, irmão dos peixes, irmão de todos os bichos de todas as matas, e das borboletas que brincam de flores nos jardins. Francisco, irmão da natureza inteira, irmão de tudo quanto Deus criou.

A bênção, meu São Francisco. Me ensine a ser poeta um pouquinho assim como você. O mundo precisa muito de uma urgente franciscanização.

Fonte:
O Autor

Carolina Ramos (Esperança)


Que falta faz a mão do Poverello,
mão chagada, que lembra o Salvador!
Mão que outras mãos unia, como um elo,,,
elo de luz fraterna, elo de Amor!

Que falta faz o ardor do seu anelo,
quando tentava unir a um só Pastor
as ovelhas dispersas – sonho belo,
que a vida se compraz em decompor!

E a vida o quanto vale?! – Um quase nada!
Por todo o lado, há só gente empenhada
em fazer gente ser mais infeliz!

...Quem sabe ainda houvesse uma esperança
se o mundo ouvisse a voz, humilde e mansa,
do bom Francisco...nosso Irmão de Assis!
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Fonte:
Soneto enviado pela autora
Montagem da Trova por José Feldman, com trova enviada pelo autor.

Vinicius de Moraes (A Espantosa Ode a São Francisco de Assis)


1
Meu são Francisco de Assis, Francisco de Assim, poverello, ou como te chame a sabedoria dos povos e dos homens
Este é Vinicius de Moraes, de quem se podia dizer - o poeta - se jamais alguém o pudesse ser depois de ti.

2
Este é o impuro, o inconstante, o trágico, o leproso e possivelmente o morto
Que vem a ti o fiel, o calmo, o humano, o constante.

3
Este é o que sacrifica a vida pelo prazer da hora, e se desgraça
Que vem a ti que sacrificaste a vida pela eternidade e pela graça.

4
Este é o homem da mulher, o homem da carne, o homem da terra
E que te ama santo da Mulher, santo da Carne, santo da Terra.

5
Este é o que peca e não se arrepende, o supliciador e o criador do espasmo
E que te exalta irmão humilde e louco, confidente, e inventor do êxtase.

6
Este é o mágico do desespero, o inquisidor e o sedutor, o poeta triste
Que te proclama o rei, entre todos, amante sem mácula.

7
Meu são Francisco de Assis! acolhe teu amigo e teu criado
Que partiu para sempre e se perdeu, e nunca mais foi encontrado.

8
Tenho um mistério a te dizer, mas quem sabe não o ouvirias
Vendo-me criança - se é que eu fui criança um dia!

9
Ó dá-me teu sorriso, são Francisco, e me purifica
E liberta-me da vã palavra de sonho que me impurifica!

10
Eis que converti meu demônio a mim e meu anjo a mim
E me sinto demais em mim mesmo e quisera me despedaçar em ti.

11
Porque me sinto covarde de não poder dormir e precisar fechar a porta
Ao vento frio ou ao chamado sombrio da pureza morta.

12
És tu um dom da minha miséria e serias o mesmo
Se eu fosse como tu mesmo? - e te proclamaria?

13
E [...] porque amo a miséria em mim que me deposita em ti
Porque não fosse eu sombra não serias sol nem pensarias em mim.

14
E [ ... ] porque aceito minha depravação e faço a minha queixa sem piedade
E de todos tenho piedade menos de mim - e não há salvação para minha piedade

15
Sou digno como o animal nobre que morre em silêncio e sem lágrimas
E não tem limbo ou purgatório, céu ou inferno para a sua alma.

16
Mas sou impuro como a terra que recebe a consumação da carne
E astuto como o fogo e plástico como a água.

17
Meu são Francisco, ouve o meu voto e compreende o meu vazio
E me aquece do frio, e me protege do sonho sombrio.

18
Tu és a Palavra - a palavra inexistente - a poesia
Que eu busco sem tréguas, que busco de noite e que busco de dia.

19
Não creio em Deus mas creio em ti - Deus é minha melancolia
Tu és minha poesia - ou quando não seja o amor que ela se deseja

20
Tenho o lar e tenho o mar, e nada tenho
Tenho a emoção - tenho-a? - nem pranto mais blues.

21
Na verdade muitas coisas eu tenho, e muita razão de ser feliz
Se não existisses talvez - mas exististe, São Francisco de Assis!

22
És a infância não vivida, és a mocidade não merecida
És tudo de justo feito injusto pela catástrofe da vida.

23
Ninguém o sabe senão tu - nem mesmo eu sei! nesse momento
Meu pensamento é tédio mas amanhã pode ser contentamento.

24
Porque há em mim uma fonte pura de mal que me embriaga
De bem, mas que subitamente me estanca o que me falta.

25
É a mulher, essa que me suporta e que me acaricia
E a quem acaricio, e a quem eu rio e que se ri.

26
Não fosse ela, e eu estaria como Jó te mentindo,
Porque o poeta é a semente da mentira se, no desespero, só.

27
Dou-te meu voto além da mulher! é a criança que te fala
Quando subitamente se conheceu menino no grande silêncio de uma sala.

28
Quando brincando com o próprio sexo o surpreendeu sensível
E o viu inteligente e emocionado e não compreendeu.

29
E que criou sozinho a primeira forma nua para o prazer contemplativo E que se deu a ela desvairado do mistério de se saber vivo.

30
E que a transportou na memória em amor e que foi traído
Pelo toque de outra mão menos pura e mais desmerecida.

31
E que foi seviciado antes do sêmen pela desventura
Feito mulher, e a perdoou, e a amou, e a fez sua criatura.

32
E que foi iniciado nos prazeres da carne como o inocente aprendiz
A quem a mulher diz - Faz! e ele faz, tal como eu fiz.

33
Antes do sêmen! e não morri - e bela fiz minha criatura
Eis por que não há salvação e eu amo a minha degradação e impostura.

34
Porque eu sou o sedutor, se seduzido, e o erótico, se seviciado
E o amante, se querido, e o perdido, se privilegiado.

35
Porque fazemos um - eu e a mulher - e não há dois arrependimentos
Para um só corpo - nem duas salvações para um só sentimento.

36
E se alguém não vem comigo eu não quero ir, porque não sou sozinho
E se eu fosse sozinho não estava nesse momento clamando de ti

37
Meu são Francisco de Assis! ouve tu ao menos a minha inefável miséria
Sem perdão e sem consolação e sem fim nos caminhos da Terra.

38
Ouve o apelo mais íntimo, o que não está nas minhas palavras
E que está no meu ser infeliz e no ser infeliz que eu crio à minha passagem.

39
O santo, o herói e o poeta - três penitências do mundo
Tu, santo, herói e poeta - uma penitência em mim.

40
Nunca te verei no céu, nem nunca me verás no inferno
Mas hei de te escutar no estio, e tu me escutarás no inverno.

41
Não me verás no céu porque não há paixão para a serenidade
Nem no inferno porque não há castigo para a fatalidade.

42
Mas eu te escutarei aqui na Terra, entre as grandes árvores
A cabeça no seio da amiga, e a quem eu falo como ao pássaro.

43
Um dia deixarei a cidade da minha angústia e sua torre
E irei a Assis entre colinas me abandonar à tua saudade.

44
E dá-me nesse dia de chorar todas as lágrimas contidas
E de me perder em mim o pranto e de me ajoelhar no teu sepulcro.

45
Ó grande santo louco, meu irmão, taumaturgo em minha alma
Taumaturgo - palavra que contém silêncio e que me acalma!

46
Just now I have been in a [ ... ] party in the Magdalen's cloister
And there was an Armenian [ ... ] all the others.

47
Good inocent peopte [ ... ] some liquor in their rooms
But was a bloody phantom between them, so help me God!

48
Eu sou o conhecimento perfeito das coisas e dos homens
Linchai-me! eu sei todos os segredos, e eu me abandono.

49
Nunca criatura criada foi tão pagã como eu, so help me God!
Arrastando meu ser à execração e à contemplação quieta da morte.

50
Em vão te direi - ou não? - porque não vens beber meu vinho
Na minha mesa, e poderíamos falar com mais carinho.

51
São Francisco de Assis! meu irmão, meu único inimigo
No céu, eu te maldigo, eu te bendigo. Eu me persigno!

52
Tive uma jetatura: a mulher; uma aventura: a poesia
Uma desventura: a delicadeza. Sou delicado, não peço, mendigo!

53
Mendigo: mendigo o pão de meus pais, o amor de meus amigos
Mas só a mulher me persegue e só à mulher eu persigo.

54
Santo! tenho gana de te dizer: foge de mim! evita o meu contato escuro
Porque eu sou puro na maldade e puro na sinceridade e impuro.

55
Quatro livros escrevi - e sou tão moço! e nada compreendo de mim
Senão que sou cruel com a mulher, e que minha angústia não tem fim.

56
Fui buscado, também. Buscou-me a sociedade, o anfitrião
E eu fui mendigo em meu salão e me desprezei e disse não.

57
E me mandaram a Oxford, e eu disse não, e vi jovens viscondes
Que temeram meu pudor, e eu disse não, e me persigno!

58
Tudo é magia! Lembras-te? o silêncio fantástico das noites
E a alma bêbada de emoção? e nenhum pouso.

59
Ah, que a vida não tem solução. Muitos o disseram em vão
E o direi em vão, e morrerei, e os que me virem, sorrirão.

Fonte:
http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/

Olivaldo Junior (Francisco (ou Poema a São Francisco de Assis))


Não quero o Francisco de altares,
que os altares que tenho são trovas,
pequenos versos e rimas
que lhes deixo aos pés.

Não quero o Francisco de alturas,
que as alturas que tenho são rosas,
pequenas petalazinhas
que lhes deixo à mão.

Não quero o Francisco de altezas,
que as altezas que tenho são pobres,
pequenos sóis, luazinhas
e estrelinhas quaisquer.

Não quero o Francisco sem Clara,
sem as aves, sem os animais...
Eu quero o Francisco de cara,

com altares de alturas, altezas
que têm os servos, acima,
bem acima, em paz.

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 354)


Uma Trova Nacional

São Francisco te amo tanto...
Temos algo igual, porém,
estou longe de ser santo
mas sou Francisco também!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova Potiguar

Com sua fé inaudita,
São Francisco, na verdade,
fez a prece mais bonita
pela Paz da humanidade!
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2001 - Intersedes/SP
Tema: SÃO FRANCISCO - M/H

Entendo agora a grandeza
de São Francisco de Assis,
pois vivo em meio à pobreza
e, mesmo assim... sou feliz!
–MARIA MADALENA FERREIRA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Fazer o mal, não me arrisco,
porque Deus logo percebe.
Penso igual a São Francisco:
é dando que se recebe!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Bendigo a pessoa honrada
que guarda, na alma, a raiz
da humildade ilimitada
de São Francisco de Assis.
–JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO/RJ–

Simplesmente Poesia

Creio, pensando em Jesus,
e em são Francisco também,
que existe um arco de luz
ligando Assis a Belém...
–DAVID DE ARAÚJO/SP–

Estrofe do Dia

Sobre São Francisco, esse santo e mito,
muito já foi dito, e, tudo é verdade,
trocou riqueza, pela santidade,
renunciou aos bens, sem nenhum conflito,
mas, muita coisa, inda não foi escrito,
o exemplo de luta, a lição de amor
a cada exegeta, eu peço um favor,
se aprofunde mais e diga a razão
porque São Francisco, esse santo irmão,
se fez padroeiro do Trovador...
–FRANCISCO MACEDO/RN –

Soneto do Dia

Francisco de Assis
–MARIA DE LOURDES CAMPOS/SP–

Deixando atrás o fausto, a riqueza
e o sonho de tornar-se um cavaleiro,
abraçaste a evangélica pobreza,
na caridade e amor foste o primeiro!

No ardor da fé venceste a vil fraqueza,
do Cristo foste humilde mensageiro,
no afã de amenizar toda a aspereza
da trilha incerta e rude do viajeiro...

Assim sendo dos pobres o mais pobre,
– quando bem poderias ser um nobre,
na alegria de dar foste feliz!

Teu nome é nota no esplendor das claves,
falando às feras, encantando as aves,
Ó São Francisco, Universal, de Assis!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Wagner Marques Lopes (Trova Ecológica 25)

Hermoclydes S. Franco (Proposições a um Vocabulário em Trovas) Letras “G”, “H” e “I”


LETRA “G”

GETÚLIO VARGAS: Legenda;
Petrobrás – grande momento!
Leis Trabalhistas, na agenda
E na Carta-Testamento.

GORILA: Grande macaco
Que jamais andou fardado.
GOSTO: O que tantos têm fraco.
GOTEIRA: Pingo-pingado...

GRAMÁTICA: Rege a língua.
Tanta gente descompassa
Que certas trovas, à mingua
Das regras, perdem a graça.

GRAMPO: Peça de metal,
Com várias aplicações.
No telefone é ilegal
Vigia das ligações.

GUARATINGUETÁ: “Guará”
Bem simplesmente à paulista.
Deixei emoções por lá;
Trouxe a saudade sulista!

GUERRILHA: Guerra entre irmãos,
Em ataques de emboscada.
Se os povos dessem as mãos
Seria a paz conquistada!

GUARDA-COSTAS: É patrulha;
Marinha no litoral;
O truculento que empulha,
Em troca do vil metal...

LETRA “H”

HABANERA: Lembra a Espanha;
Dança e musica de escol.
HABEAS-CORPUS: Não se ganha
De juiz de futebol...

HORACIO: Poeta latino,
De estilo “enxuto” (bem seco?);
Em Niterói – que homem fino
E nobre: Horácio Pacheco!

HORTO: Arvoredo; Floresta;
O Jardim das Oliveiras.
HOSANA: É louvor; É festa
Nas comunhões domingueiras...

LETRA “I”

IANQUE: Norte-americano.
IARA: Senhora mãe d’água.
IATAGÃ: Sabre otomano
IATE: Cura qualquer mágoa...

IDEALISTA: Sonhador.
IDILIO: Romance suave.
IEMANJÁ: Deusa do amor
Que protege qualquer nave...

IRÔNICO: Zombeteiro.
IRRACIONAL: Sem razão.
ISCA: Pavio de isqueiro;
Comida de tubarão...

ITAIPAVA: Clima frio.
Arvoredo... Rios claros...
Flores que, em tardes de estio,
Recendem perfumes raros!

ITAPOÃ: Praia linda
E famosa, na Bahia.
Por ali, ressoa, ainda,
De Vinicius a elegia.

Fontes:
Trovas enviadas pelo autor
Imagem = montagem por José Feldman

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 353)


Uma Trova Nacional

Tentei fugir de mansinho...
devagar, romper os laços...
Desisti : qualquer caminho
sempre me leva aos teus braços...
–WILMA MELLO CAVALHEIRO/RS–

Uma Trova Potiguar

Quando o vaqueiro valente
se encontra longe de casa,
no seu aboio plangente
toda a saudade extravasa.
–REINALDO AGUIAR/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - ATRN-Natal/RN
Tema: INSPIRAÇÃO - 11º Lugar

“Bate” a inspiração na gente...
Verso nenhum se aquieta,
quando Deus, onipotente,
nos permite ser poeta!
–ROBERTO TCHEPELENTYKY/SP–

Uma Trova de Ademar

O tempo mostrou-me enfim,
sem regras e sem medida,
que a poesia é para mim
uma opção real de vida.
ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Não paras quase ao meu lado ...!
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

Mote:
Toda casa de taipa abandonada,
Guarda um grito de fome dentro dela.

Glosa:
Tapera velha na beira da estrada
Onde mora o fantasma da maldade
É o retrato da tristeza que invade
Toda casa de taipa abandonada.
Foi projeto de vida inacabada
Triste, morreu insepulto e sem vela
Sem porta sem tramela e sem janela
É um retalho de vida mal vivida
Como um brado de revolta incontida
Guarda um grito de fome dentro dela.
–MARIVA/PB–

Estrofe do Dia

Eu não vou debruçar-me na janela
e nem vou conversar com as vizinhas,
porém através das preces minhas
me inspiro ao reflexo de uma vela,
se me chamam pra ver uma novela
eu recuso o convite e digo não;
para mim a maior televisão
é pensar em “Chudu” eternamente,
acredito que Deus está presente
no silencio da minha solidão.
–DINALVA/PB–
(VIÚVA DE MANOEL CHUDU - POETA VIOLEIRO)

Soneto do Dia

Tenho Pena
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–

Tenho pena dos que sofrem na vida,
neste mundo tão mau tão inclemente,
dos que morrem sem culpa, do inocente
que sozinho, nem sabe o que é guarida.

Da montanha calada e soerguida
que altiva enfrenta as águas da vertente,
do mar, enfurecido de repente,
das ondas que se curvam na descida.

Tenho pena do brilho das estrelas,
dos cegos, que jamais poderão vê-las
e do tempo que mostra a realidade.

Tenho pena das lágrimas vertidas,
da ilusão cujas asas são partidas
e de um sonho que deixou tanta saudade.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ivan Carlo (Manual de Redação Jornalística) Parte 1


“O jornalismo não é um gênero literário a mais. Enquanto, na literatura, a forma é compreendida como portadora, em si, de informação estética, em jornalismo a ênfase desloca-se para os conteúdos, para o que é informado. O jornalismo se propõe processar informação em escala industrial e para consumo imediato”
LAGE, Nilson. Linguagem Jornalística. São Paulo, Ática, 35

“Surpresa agradável: cientistas confirmam que o cérebro adora o inesperado Nada mais chato que a rotina e os acontecimentos absolutamente previsíveis, certo? Isso mesmo. A mente humana gosta é de ser surpreendida. Essa foi a conclusão a que chegaram neurologistas da Emory University Health Sciences Center, nos Estados Unidos. Por diversas vezes, os médicos pingaram gotas de suco de frutas ou de água em voluntários monitorados por ressonância magnética. A escolha da bebida era aleatória, ou seja, foram testadas diversas seqüências que podiam ser quebradas a qualquer momento. Quando a bebida era trocada – o que pegava o cérebro de surpresa –, a atividade dos neurônios ficava mais intensa. De tão entusiasmada, essa resposta chegava a ser mais forte do que aquelas causadas pela sensação de prazer. "A mente humana é atraída por estímulos inusitados. Quando um evento foge do esperado, o cérebro mobiliza mais células para gravar o acontecimento", explica o neurologista Paulo Henrique Bertolucci, professor de Neurologia do Comportamento da Universidade Federal de São Paulo”. (Priscila Boccia. Revista Saúde, abril de 2001)

APRESENTAÇÃO

Este texto é resultado de minhas aulas como professor de cursos seqüenciais e de graduação na área de comunicação. Ele foi feito com o objetivo de solucionar as principais dúvidas que eu encontrava em meus alunos quando estes começavam a escrever jornalisticamente.

Embora haja manuais de redação dos principais jornais do país, eles são visivelmente feitos para pessoas graduadas. A bibliografia de iniciação ao texto jornalístico é totalmente deficiente. O objetivo deste trabalho é, portanto, abrir caminho para a realização de um trabalho desse tipo, que sirva de guia para quem não conhece ainda nem mesmo os conceitos básicos de jornalismo, tais como pauta e lide. Sendo um texto experimental, eu ficaria muito satisfeito ao receber críticas e comentários que possam enriquecê-lo.

INTRODUÇÃO

Seja uma senhora perguntando sobre seus novo vizinhos, um homem do campo ouvindo um radinho de pilha ou um executivo lendo um jornal, todos atualmente estão muito interessados em um produto chamado informação. A necessidade de informação, de novidade, é tão antiga quanto o homem. Os nossos antepassados que se aproximavam cuidadosos de uma árvore em chamas após um relâmpago estavam curiosos com o fenômeno e queriam conhecê-lo melhor.

Da mesma forma, uma criança que coloca um objeto na boca está querendo informações sobre ele. A curiosidade e a necessidade de informações movem o mundo.

Mas o que é, exatamente, informação?

Leia a matéria abaixo e tente responder porque ela configura informação:

Pedreiro morde cachorro e quase é linchado

O pedreiro Jair Rodrigues da Silva, 32 anos, escapou de um linchamento em Americana (133 km de São Paulo), depois de morder o focinho de um cachorro vira-lata que o atacou, no bairro Antônio Zanaga, periferia da cidade.

O fato ocorreu quando Silva amarrou uma corda de nailon no pescoço do cachorro e saiu para passear. Como o animal não andava, o pedreiro resolveu empurrá-lo com um chute. O cachorro o mordeu e o pedreiro revidou, primeiro com pauladas, depois a dentadas, que feriram gravemente o animal.

Moradores do bairro que assistiram a cena ficaram revoltados e passaram a perseguir o pedreiro, que só foi salvo graças à intervenção da Guarda Municipal de Americana. O cachorro foi levado para o Centro de Zoonoze da cidade. Silva foi para o Hospital Municipal de Americana, onde foi medicado e liberado. Os dois passam bem. A polícia registrou boletim de ocorrência contra o pedreiro por maus tratos a animais.

Cachorros mordendo homens são muito comuns e, portanto, não dão notícia. Entretanto, um homem mordendo um cachorro é um evento que foge do normal e, portanto, configura informação. Já temos, portanto, uma indicação do que seria informação: tudo aquilo que foge do normal, que é novo, diferente.

Esse conceito está intimamente relacionado ao de redundância. Redundância é repetição. Se escrevo duas vezes a mesma palavra, estou sendo redundante. Se levo meia-hora para dizer algo que poderia ser dito em dois minutos, estou sendo redundante.

A redundância é um conceito oposto ao de informação. O que é redundante não é informação, e o que é informação não é redundante. Um cachorro mordendo um homem é redundância, pois diariamente milhares de cachorros mordem humanos. Mas um homem mordendo um cachorro é um evento com baixa probabilidade de ocorrer, sendo, portanto, informativo.

As pessoas costumam ter certa ojeriza à redundância. Pessoas que falam muito e dizem pouco costumam ser evitadas e chamadas de chatas. O indivíduo chato é, na verdade, um tremendo redundante. Nosso cérebro tem tanta necessidade de informação que, quando o estímulo é muito redundante, ele simplesmente apaga. Esse é o princípio da hipnose. O hipnotizador balança um pêndulo monotonamente na frente do hipnotizado e repete sempre as mesmas palavras, no mesmo tom. Como defesa, o cérebro entra em estado hipnótico.

O mesmo ocorre com aquelas aulas chatas, em que todo mundo dorme. O estímulo é tão redundante que o cérebro se nega a continuar prestando atenção. Se quisermos uma definição um pouco mais científica de informação, podemos recorrer ao conceito emitido pelo matemático Claude Shannon, criador da teoria da informação. Ele diz que informação é a diminuição da quantidade de incerteza quando se recebe uma resposta a uma pergunta.

Vamos imaginar uma situação. Eu recebo meus proventos por um determinado banco e ligo para o mesmo, perguntando se o dinheiro já saiu. Se o funcionário responder “sim”, a minha quantidade de incerteza diminuiu, não é mesmo? O mesmo ocorre se ele responder “não”. Nos dois casos, a minha dúvida está sendo respondida de forma que eu tenha mais informações do que antes.

Entretanto, se o funcionário me der respostas como “Não sei” ou “talvez”, eu vou continuar com a mesma dúvida de antes. Assim, a mensagem é de nível informacional baixíssima.

A mesma situação pode ser aplicada a uma eleição. Temos dois candidatos, A e B, ambos com chance de serem eleitos. Se o jornal me diz: “A venceu”, ele estará, certamente, repassando uma informação. Quanto maior a quantidade de respostas possíveis, maior a quantidade de informação da mensagem. E a mensagem será mais informativa se a resposta for a menos provável. A manchete “A e B empataram” tem muito mais informação do “A venceu”. Primeiro, porque agora o leque de respostas foi aumentado (antes eram apenas duas possibilidades, agora são três), segundo porque a resposta dada foi justamente a mais improvável. É muito pouco provável que dois candidatos tenham exatamente o mesmo número de votos.

Portanto, quanto maior a quantidade de respostas possíveis, maior a carga de informação da mensagem. E quanto mais improvável a mensagem, mais informativa ela será.

A mensagem “A venceu” terá mais informações, quanto maior for a quantidade de candidatos com chances reais de serem eleitos. E a mensagem terá ainda mais informação se “A” for justamente o candidato que se achava ter menores chances de vitória.

Um jornalista se vê diariamente diante de vários fatos e acontecimentos. Alguns devem ser enunciados, outros não. A escolha entre um e outro ficará a cargo da quantidade de informação desses eventos.

Isso fica bem claro no caso das pessoas vitimadas por balas perdidas no Rio de Janeiro. No começo a imprensa noticiou muito esses fatos, e agora parece ter se esquecido deles. O que aconteceu? As pessoas deixaram de ser atingidas por balas perdidas? Não. Simplesmente a coisa se tornou tão redundante que perdeu toda a carga de informação. A primeira pessoa acertada por uma bala perdida é um novidade. A centésima já é redundância.

O jornalista estará sempre em busca de eventos novos, improváveis. Não é à toa que uma das perguntas prediletas de todo repórter é “O que aconteceu de diferente?”.

Ao fazer uma matéria sobre vigilantes noturnos, o jornalista procurará retirar do entrevistado casos e histórias que saiam do normal e, portanto, tenham interesse para o leitor. Por outro lado, uma notícia que já tenha sido veiculada dificilmente vai voltar a ter interesse para o receptor.

Há um conto de Cortazar que mostra bem isso.

Um homem senta-se em um banco de praça e começa a ler um jornal. À medida em que lê, as páginas vão ficando em branco, demonstrando que aquilo já não é mais informação para ele. O homem termina de ler e deixa as folhas em branco sobre o banco. Passa uma outra pessoa e vê um jornal normal. Afinal, como ela ainda não leu o jornal, ele ainda traz informações para ela. A pessoa começa a ler e as páginas vão ficando em branco, como ocorrera com o outro.

O processo continua por todo o dia, até a meia-noite, quando o jornal fica definitivamente em branco, ou seja, ele deixa de ser informativo e passa a ser, definitivamente, redundante.

Lembre-se: o jornalismo lida com o diferente, improvável, com fatos que fogem do normal.
––––––––––-
continua…

Fonte:
Virtualbooks

Ialmar Pio Schneider (Amor Antigo)

Tela de Glaucia Scherer


Eu quis fazer um verso de saudade
que me trouxesse os dias já vividos;
e pensei nos caminhos percorridos
quando te amei demais, na mocidade.

Mas, hoje mergulhado na ansiedade,
só me atormentam sonhos reprimidos,
como se fossem cânticos perdidos
que me negaram a felicidade.

Aquela que cruzou o meu destino
e só me fez cantar inutilmente
os seus dotes de rara exuberância,

matou pra sempre os sonhos de menino
que povoavam então a minha mente
de todos os amores sem constância...

Porto Alegre - RS, 26 de maio de 2002
---

Fontes:
Soneto e Imagem enviados pelo autor

Olavo Bilac (Almas Inquietas: poesias) Parte 6


BALADAS ROMÂNTICAS

I
Branca...

Vi-te pequena: ias rezando
Para a primeira comunhão:
Toda de branco, murmurando,
Na fronte o véu, rosas na mão.
Não ias só: grande era o bando...
Mas entre todas te escolhi:
Minh’alma foi te acompanhando,
A vez primeira em que te vi.

Tão branca e moça! o olhar tão brando!
Tão inocente o coração!
Toda de branco, fulgurando,
Mulher em flor! flor em botão!
Inda, ao lembra-lo, a mágoa abrando,
Esqueço o mal que vem de ti,
E, o meu ranços estrangulando,
Bendigo o dia em que te vi!

Rosas na mão, brancas... E, quando
Te vi passar, branca visão,
Vi, com espanto, palpitando
Dentro de mim, esta paixão...
O coração pus ao teu mando...
E, porque escrevo me rendi,
Ando gemendo, aos gritos ando,
- Porque te amei! porque te vi!

Depois fugiste... E, inda te amando,
Nem te odiei, nem te esqueci:
- Toda de branco... Ias rezando...
Maldito o dia em que te vi!

II
Azul...

Lembra-te bem! Azul-celeste
Era essa alcova em que amei.
O último beijo que me deste
Foi nessa alcova que o tomei!
É o firmamento que a reveste
Toda de um cálido fulgor:
- Um firmamento, em que puseste
Como uma estrela, o teu amor.

Lembras-te? Um dia me disseste:
“Tudo acabou!” E eu exclamei:
“Se vais partir, por que vieste?”
E às tuas plantas me arrastei...
Beijei a fímbria à tua veste,
Gritei de espanto, uivei de dor:
“Quem há que te ame e te requeste
Com febre igual ao meu amor?”

Por todo o mal que me fizeste,
Por todo o pranto que chorei,
- Como uma casa em que entra a peste,
Fecha essa casa em que fui rei!
Que nada mais perdure e reste
Desse passado embriagador:
E cubra a sombra de um cipreste
A sepultura deste amor!

Desbote-a o inverno! o estio a creste!
Abale-a o vento com fragor!
- Desabe a igreja azul-celeste
Em que oficiava o meu amor!

III
Verde...

Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!...
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho...
Como me pesa a solidão!

Órfão de amor e de carinho,
Órfão da luz do teu olhar,
- Verde também, verde-marinho,
Que eu nunca mais hei de olvidar!
Sob a camisa, alva de linho,
Ta palpitava o coração...
Ai! coração! peno e definho,
Longe de ti, na solidão!

Oh! tu, mais branca do que o arminho,
Mais pálida do que o luar!
- Da sepultura me avizinho,
Sempre que volto a este lugar...
E digo a cada passarinho:
“Não cantes mais! que essa canção
Vem me lembrar que estou sozinho,
No exílio desta solidão!”

No teu jardim, que desalinho!
Que falta faz a tua mão!
Como inda é verde este caminho...
Mas como o afeia a solidão!

IV
Negra...

Possas chorar, arrependida,
Vendo a saudade que aqui vai!
Vê que linda, negro, da ferida
Aos borbotões o sangue cai...
Que a nossa história, assim relida,
O nosso amor, lembrado assim,
Possam fazer-te, comovida,
Inda uma vez pensar em mim!

Minh’alma pobre e desvalida,
Órfã de mãe, órfã de pai,
Na escuridão vaga perdida,
De queda em queda e de ai em ai!
E ando a buscar-te. E a minha lida
Não tem descanso, não tem fim:
Quanto mais longe andas fugida,
Mais te vejo eu perto de mim!

Louco! e que lúgubre a descida
Para a loucura que me atrai!
- Terríveis páginas da vida,
Escuras páginas, - cantai!
Vim, ermitão, da minha ermida,
Morto, do meu sepulcro vim,
Erguer a lápida caída
Sobre a esperança que houve em mim!

Revivo a mágoa já vivida
E as velhas lágrimas... a fim
De que chorando, arrependida,
Possas lembrar-te inda de mim!

VELHA PÁGINA

Chove. Que mágoa lá fora!
Que mágoa! Embruscam-se os ares
Sobre este rio que chora
Velhos e eternos pesares.

E sinto o que a terra sente
E a tristeza que diviso,
Eu, de teus olhos ausente,
Ausente de teu sorriso...

As asas loucas abrindo,
Meus versos, num longo anseio,
Morrerão, sem que, sorrindo,
Possa acolhe-los teu seio!

Ah! quem mandou que fizesses
Minh’alma da tua escrava,
E ouvisses as minhas preces,
Chorando como eu chorava?

Por que é que um dia me ouviste,
Tão pálida e alvoroçada,
E, como quem ama, triste,
Como quem ama, calada?

Tu tens um nome celeste...
Quem é do céu é sensível!
Por que é que me não disseste
Toda a verdade terrível?

Por que, fugindo impiedosa,
Desertas o nosso ninho?
- Era tão bela esta rosa!...
Já me tardava este espinho!

Fora melhor, porventura,
Ficar no antigo degredo
Que conhecer a ventura
Para perde-lo tão cedo!

Por que me ouviste, enxugando
O pranto das minhas faces?
Viste que eu vinha chorando...
Antes assim me deixasses!

Antes! Menor me seria
O sofrimento, querida!
Antes! a mão que alivia
A dor, e cura a ferida.

Não deve depois, tranqüila,
Vendo sufocada a mágoa,
Encher de sangue a pupila
Que já vira cheia de água...

Mas junto a mim que te falta?
Que glória maior te chama?
Não sei de glória mais alta
Do que a glória de quem ama!

Talvez te chame a riqueza...
Despreza-a, beija-me, e fica!
Verás que assim, com certeza,
Não há quem seja mais rica!

Como é que quebras os laços
Com que prendi o universo,
Entre os nossos quatro braços,
Na jaula azul do meu verso?

Como hei de eu, de hoje em diante,
Viver, depois que partires?
Como queres tu que eu cante
No dia em que não me ouvires?

Tem pena de mim! tem pena
De alma tão fraca! Como há de
Minh’alma, que é tão pequena,
Poder com tanta saudade?!

VILFREDO
LENDA DO RENO, GRANDMOUGIN

I
O castelo

Sobre os rochedos, longe, o castelo aparece,
Dominando a extensão das florestas sombrias.
A tarde cai. O vento abranda. O ar escurece.
E Vilfredo caminha entre as neblinas frias.

Vai vê-la... E estuga o passo. Alto e silencioso,
Abre o castelo, em fogo, os vitrais das janelas.
Nas ameias, manchando o céu caliginoso,
Aprumam-se perfis de imóveis sentinelas.

Vilfredo vai ouvir a voz da sua Dama...
Mas, no seu coração perturbado, parece
Que vive, em vez do amor, essa ligeira chama,
Que arde apenas um dia, arde e desaparece...

E o arruinado solar, refletido no Reno,
Sobre o qual paira e pesa um sonho sobre-humano,
Sobe, entre os astros, só, furando o céu sereno,
Com a calma e o esplendor de um velho soberano.

II
As fadas da lagoa

Vilfredo conheceu o amor nos braços d’Ela...
Teve-a nua, a tremer, nos braços, nua e fria!
Teve-a nos braços, louca, apaixonada e bela!
Mas parte, alucinado, antes que aponte o dia...

É que uma outra paixão o descuidado peito
Lhe entrou. Paixão cruel, loucura que o atordoa,
Desde o momento em que, formosas, sobre o leito
Das águas calmas, viu as fadas da lagoa.

Parte... À margem fatal da lagoa das fadas
Chega, e em êxtase fica, a riba em flor mirando.
Um ligeiro rumor de vozes abafadas
Aumenta... E exsurge da água o apaixonado bando.

Corre Vilfredo, em febre, a aperta-las ao seio,
E despreza o passado e esquece o juramento:
Beija-as, e, na expansão do carinhoso anseio,
Imola toda a vida aos beijos de um momento.

Para os seus corpos ter, toda a alma lhes entrega:
E, na alucinação do gozo em que se inflama,
Por esse amor, por essa embriaguez renega
O Deus dos seus avós, o amor da sua Dama...

III
O remorso

Delira. Mas, depois do delírio sublime,
O remorso, imortal, nasce com o arrebol.
E ele mede a extensão do seu monstruoso crime,
E esconde a face à luz vingadora do sol.

Busca assustado a paz, busca chorando o olvido...
Á volúpia infernal o coração vendeu,
E o inferno lhe reclama o coração vendido,
Cobrando em sangue e pranto o gozo que lhe deu.

Quer rezar, quer voltar ao seu fervor primeiro,
Quer nas lajes, de rojo, abominando o mal,
Ser de novo Cristão, Fiel e Cavaleiro:
Mas não encontra paz na paz da catedral.

Pobre! até no palor das faces maceradas
Das monjas, cuida ver as faces que beijou;
Ah! seios de marfim! ah! bocas perfumadas!
Recordação cruel de um Éden que acabou!

Parte só, sem destino, errando, a passo incerto,
Por montes e rechãs, no inverno e no verão,
E por anos sem conta habitando o deserto,
Sem lágrimas no olhar, sem fé no coração.

Das florestas sem fim sob a abóbada escura
Ouve, nos alcantis de em torno, a água rolar;
Sobre ele, a longa voz das árvores murmura,
E o vendaval retorce os ramos negros no ar.

Mas à fera, ao inseto, ao limo verde, ao vento,
Ao sol, ao rio, ao vale, à rocha, à serpe, à flor
É em vão que Vilfredo implora o esquecimento
Do seu amor cruel, do seu horrendo amor...

IV
O Castigo

Volta... Nem luta já contra o crime que o atrai...
Velho e trôpego vem, mendigo esfarrapado,
E examine, por fim, num calefrio, cai
Sem consciência, ao pé das águas do Pecado.

Calma. A noite caiu. Nem um pássaro voa.
Não piam no silêncio as aves agoireiras.
Mas palpitam, luzindo, à beira da lagoa,
Fogos-fátuos subtis sobre as ervas rasteiras.

E, então, Vilfredo vê, presa de um medo
Do denso turbilhão dos fogos repentinos,
Com tentações no olhar e convites na voz
Surgirem turbilhões de corpos femininos.

E o Inferno pela voz dos fogos-fátuos fala!
Vilfredo foge. O horror vai com ele, inclemente!
Foge. E corre, e vacila, e tropeça, e resvala,
E levanta-se, e foge alucinadamente...

Em vão! pesa sobre ele um destino fatal:
E o louco, em todo o horror dos campos tenebrosos,
Vê fechar-se e prende-lo a cadeira infernal
Das infernal multidão dos Elfos amorosos...
---

Fonte:
BILAC, Olavo. Antologia : Poesias. São Paulo : Martin Claret, 2002. Alma Inquieta. (Coleção a obra-prima de cada autor). Digitalizado por Anamaria Grunfeld Villaça Koch – São Paulo/SP

Monteiro Lobato (O Presidente Negro) X – Céu e Purgatório


CAPÍTULO X
Céu e Purgatório


Regressei á cidade alegre como um pardal depois da chuva. As palavras de miss Jane valeram-me pela abertura do céu. Com que prazer não trabalharia a semana toda estimulado pela perspectiva de ve-la cada domingo! A firma chegou a notar o meu assanhamento. O senhor Sá olhou-me de soslaio e murmurou para o socio de fraque:

— Parece que o seresma viu passarinho verde...

Custou a passar o tempo, tanto a minha impaciência alongava as horas. Mas passou e no domingo, depois de apurar-me na toalete como nunca, e lançar ao pescoço uma gravata nova verde-oliva com pintas de tom mais sombrio, voei, positivamente voei, ao castelo dos meus sonhos.

Já mais senhora de si, nesse dia miss Jane não falou tão exclusivamente de seu pai. Muito falou dele ainda, mas tambem discorreu de outros assuntos, dando começo afinal ás revelações que me serviram de base á novela.

Antes de mais nada externou-se quanto á situação presente do povo americano — e com palavras que me derrancaram as ideias. Sim, porque eu tinha a ingenuidade de possuir ideias assentes sobre o povo americano, apesar da mais absoluta ignorância da psíquica e rumos que levava esse povo. Ideias pegadas no ar do escritório, nas palestras dos cafés, na leitura de jornais redigidos por criaturas tão ignaras como eu, ideias que se nos grudam ao cérebro como o pó do asfalto nos adere ao rosto nos dias de calor. Do senhor Sá, por exemplo, ouvi dizer do americano (não a mim, está claro, que me não daria esta honra, mas ao senhor Pato): "Povo sem ideais, o mais materialão da terra. A gente do the biggest..."

Era Sá quem o dizia e pois a afirmação me penetrou nos miolos como a própria Certeza. Nesse mesmo dia, num café, como na roda em que me achava se falasse da América, repeti a esmo, entre duas baforadas de um cigarro:

— Povo sem ideais, o mais materialão da terra. A gente do the biggest...

Causou sensação, e é provável que algum dos presentes fosse repetir alem, a bela síntese dos meus patrões — e por aqui se vê como certas ideias circulam á maneira de moeda e vão enriquecer o patrimonio ideológico de um povo...

Quando miss Jane abordou o assunto e de chofre perguntou-me que é que eu pensava do americano, imediatamente a bela síntese sapatesca me veio aos lábios:

— Povo sem ideais, o mais materialão da terra, a gente do the biggest... murmurei com ênfase.

O efeito, porém, falhou. Pela primeira vez não vi na cara de um interlocutor a expressão aprovativa a que eu já me afizera. Miss Jane, ao contrario, sorriu com o inesquecível sorriso do professor Benson e disse:

— Essa ideia não pode ser sua, senhor Ayrton. Soa-me a frase feita, das que se recebem no ar sem exame. A um povo que tenta romper com o álcool acha sem ideias? Poderá haver maior idealismo que o sacrifício de formidáveis interesses materiais do presente em vista de benefícios que só as gerações futuras poderão recolher? Se o senhor Ayrton observar um pouco a psique americana verá, ao contrario, que é o único povo idealista que floresce hoje no mundo. Único, vê? Apenas se dá o seguinte: o idealismo dos americanos não é o idealismo latino que recebemos com o sangue. Possuem-no de forma especifica, próprio, e de implantação impossível em povos não dotados do mesmo caráter racial. Possuem o idealismo orgânico. Nós temos o utópico. Veja a França. Estude a Convenção Francesa. Sessão permanente de utopismo furioso — e a resultar em que calamidades! Por que? Porque irrealizável, contrario á natureza humana. Veja agora a América. Em todos os grandes momentos da sua história, sempre vencedor o idealismo orgânico, o idealismo pragmático, a programação das possibilidades que se ajeitam dentro da natureza humana. Leia Emerson e leia Rousseau. Terá os expoentes de duas mentalidades polares. Não acha o senhor Ayrton que é assim?

Apressei-me em achar, se não de todo convencido ao menos vencido por tão ardorosos argumentos. Espantaram-me a fluidez, a clareza, o ímpeto com que miss Jane discordara. Vi bem clara a diferença que existe entre ter ideias próprias, frutos fáceis e lógicos de uma árvore nascida de boa semente e desenvolvida sem peias ou imposições externas — ser "árvore de natal", museu de ideias alheias pegadas daqui e dali, sem ligação orgânica com os galhos, donde não pendem de pedúnculos naturais e sim de ganchinhos de arame. E comecei a aprender a tambem ser árvore como as que crescem no campo, e a deixar-me engalhar, enfolhar e frutificar livremente por mim próprio. Sinto hoje que a minha árvore mental cresce desafogada no sítio tanto tempo ocupado por uma árvore-cabide, onde Sás, Patos et caterva penduravam papel-ideias, coisa pior que o papel-moeda. Foi com miss Jane que aprendi a pensar.

— Idealista como nenhum outro povo, prosseguiu ela, e do único idealismo verdadeiramente construtor da atualidade. Acompanhe a vida de Henry Ford, por exemplo, estude-lhe as ideias. Verá que nelas estão todas as soluções que no seu desvario de doida a Europa procura no despotismo. Por mais audacioso que nos pareça o pensamento de Henry Ford, que é ele senão o reflexo do mais elementar bom senso? Todos nós, creia, senhor Ayrton, temos conosco essas ideias, á primeira vista tão novas. No entanto, tamanha é a crosta que nos recobre o bom senso natural que Ford nos parece um messias da Ideia Nova. Há um aparelho de limpar os tubos das caldeiras por onde passa a chama vinda da fornalha. Esses tubos, com o tempo, vão se encrostando de resíduos carbônicos e acabam por se obstruírem. É necessário a espaços proceder-se a uma limpeza. Embora o uso das maquinas de vapor já seja bem velho, só recentemente se inventou o meio pratico de desencrosta-las: o martelo trepidante. Ford me dá a sensação desse instrumento. É o martelo trepidante que nos desencrosta os tubos do cérebro, obstruídos pela fuligem das ideias falsas. Ninguém melhor do que eu poderá dizer isto de Henry Ford, porquanto devassei o futuro e por toda parte vi reflexos do seu pensamento. É pois o melhor tipo atual do idealista orgânico. Sonha, mas sonha a realidade de amanhã. A desaglomeração da industria urbana, por exemplo, a estandardização de todos os produtos, a industria posta na base de uma associação de três sócios — trem abrange todas as classes sociais, a simplificação da vida pela eliminação dos milhares de coisas inúteis que hoje consomem tanto material e energia, tudo isso vai realizado no futuro e, no meu entender, com ponto de partida no idealismo pragmático de Henry Ford.

— Realmente!... exclamei. Agora vejo que fazemos cá uma ideia apressada desse povo.

Eu me sentia cada vez mais desencrostado das minhas ideias falsas ante a vibração do gentil martelinho trepidante que era miss Jane...

— E o mundo americano não podia deixar de ser assim, senhor Ayrton, continuou ela. Note apenas: que é a América, senão a feliz zona que desde o inicio atraiu os elementos mais eugenicos das melhores raças europeias? Onde a força vital da raça branca, se não lá? Já a origem do americano entusiasma. Os primeiros colonos, quais foram eles? A gente do Mayflower, quem era ela? Homens de tal tempera, caracteres tão shakespearianos, que entre abjurar das convicções e emigrar para o deserto, para a terra vazia e selvagem onde tudo era inhospitalidade e dureza, não vacilaram um segundo. Emigrar ainda hoje vale por alto expoente de audácia, de elevação do tonus vital. Deixar sua terra, seu lar, seus amigos, sua língua, cortar as raízes todas que desde a infância nos prendem ao solo pátrio, haverá maior heroísmo? Quem o faz é um forte, e só com esse fato já revela um belo índice de energia. Mas emigrar para o deserto, deixar a pátria pelo desconhecido, isto é formidável!

– Realmente, realmente...

– Pois bem, continuou miss Jane, o processo inicial da América tornou-se o processo normal do seu acrescentamento no decorrer da história. Ondas sucessivas dos melhores elementos europeus para lá se transportaram. Depois vieram as leis seletivas da emigração, e as massas que a procuravam, já de si boas, viram--se peneiradas ao chegar. Ficava a flor. O restolho voltava... Note o enriquecimento de valores humanos que isso representou para aquela nação.

Miss Jane falava com tanta alma, havia em suas palavras tal força persuasiva, que senti um ímpeto de revolta contra o senhor Sá. Se esse homem me aparece naquele momento, eu era capaz de erguer contra ele a minha outrora tão humilde mão!

— E hoje, prosseguiu miss Jane, hoje que se deslocou para lá o centro economico do mundo? Reflita um bocado na significação, não digo do povo americano, mas do fenômeno americano — o fenômeno eugenico americano. Estados Unidos querem hoje dizer um imenso foco luminoso num mundo de candieiros de azeite e velas de sebo. Todas as mariposas da terra têm os olhos fixos no deslumbrante foco — todos os artistas, todos os sábios, todos os espíritos animados da
centelha criadora, que na sua pátria não encontram condições propicias de desenvolvimento. Lá, a manhã radiosa de sol. No resto do mundo, varias especies de crepúsculos... Cada vez mais vai sendo a Europa drenada de seus melhores elementos — as suas mariposas, e a Europa acabará amarelada pela pigmentação mongólica. Isso vi eu já bem denunciado nos cortes feitos no século 25.

– Mas, miss Jane, atrevi-me a dizer, não é lógico que tambem invada a América esse asiatismo entrevisto?

– Lógico por que? O lógico é que da semente da couve nasça o pé de couve e da do jequitibá nasça o jequitibá. A semente americana lançada em Plymouth era sã e era de jequitibá. O espirito de casta matou a Asia — do espirito de classe morrerá a Europa. A semente de que nasceu a América não continha em seus
cotiledones essas venenosas toxinas.

– Mas deu origem a classes, tambem…

– Deu origem a classes, é certo, e os interesses das classes se tornaram antagônicos. Mas o espirito de exame dos fatos — e outra coisa não quer dizer o idealismo orgânico — interveio a tempo e harmonizou tais interesses. Quando Ford provou que não há hostilidade entre o capital e o trabalho e sim mal-entendido — e o
provou com o fato da sua formidável realização, todos os olhos se abriram, e a industria, até ali Moloch devorador da classe que produz e da que consome em proveito da que detém os meios de produção, passou a ser a mais harmonizada das associações. Esse maravilhoso remédio criou a grande barreira contra o asiatismo invasor e ergueu a América do século 25 á posição de um mundo sadio e vivo dentro de um marasmo fatalista.

– Está tudo muito bem, adverti eu, mas nos Estados Unidos não penetraram apenas os elementos espontâneos que miss Jane aponta. Entrou ainda, á força, arrancado da Africa, o negro.

– Lá ia chegar. Entrou o negro e foi esse o único erro inicial cometido naquela feliz composição.

– Erro impossível de ser corrigido, aventurei. Tambem aqui arrostamos com igual problema, mas a tempo acudimos com a solução pratica — e por isso penso que ainda somos mais pragmáticos do que os americanos. A nossa solução foi admirável. Dentro de cem ou duzentos anos terá desaparecido por completo o nosso negro em virtude de cruzamentos sucessivos com o branco. Não acha que fomos felicíssimos na nossa solução?

Miss Jane sorriu de novo com o meigo e enigmático sorriso do professor Benson.

– Não acho, disse ela. A nossa solução foi medíocre. Estragou as duas raças, fundindo-as. O negro perdeu as suas admiráveis qualidades físicas de selvagem e o branco sofreu a inevitável piora de caráter, consequente a todos os cruzamentos entre raças dispares. Caráter racial é uma cristalização que ás lentas se vai operando através dos séculos. O cruzamento perturba essa cristalização, liquefa-la, torna-a instâvel. A nossa solução deu mau resultado.

– Quer dizer que prefere a solução americana, que não foi solução de coisa nenhuma, já que deixou as duas raças a se desenvolverem paralelas dentro do mesmo território separadas por uma barreira de ódio? Aprova então o horror desse ódio e todas as suas tristes consequências?

— Esse ódio, ou melhor, esse orgulho, respondeu miss Jane, serena como se a própria Minerva falasse pela sua boca, foi a mais fecunda das profilaxias. Impediu que uma raça desnaturasse descristalizasse a outra, e conservou a ambas em estado de relativa pureza. Esse orgulho foi o criador do mais belo fenômeno da eclosão étnica que vi em meus cortes do futuro.

— Mas é horrível isso! exclamei revoltado, Miss Jane, um anjo de bondade, defende o mal...

Pela terceira vez a moça sorriu com o sorriso do professor Benson.

— Não há mal nem bem no jogo das forças cósmicas. O ódio desabrocha tantas maravilhas quanto o amor. O amor matou no Brasil a possibilidade de uma suprema expressão biológica. O ódio criou na América a glória do eugenismo humano...

Como era forte o pensamento de miss Jane! Dava-me a sensação dos fenômenos naturais, ora da brisa que passa e treme a folha das árvores, ora do jorro de sol que tudo ilumina. Seus olhos fulguravam e por vezes eu sentia neles o impeto sereno que os poetas gregos atribuíam a Palas. Meu sentimentalismo sofria com isso. "Poderia vir a amar-me uma criatura assim, tão alta de cérebro?". Tudo me levava a crer que não, e apesar disso eu esperava...

— Entre dar uma solução inepta e não dar solução nenhuma, o americano optou pela ultima alternativa, continuou miss Jane.

— Quer dizer que eternizou o problema, conclui vitorioso.

– A sua eternidade, senhor Ayrton, é bem precária. Durará apenas mais 302 anos. O inevitável choque das duas raças dar-se-á em 2228, e a solução…

– Já sei qual será! exclamei muito lampeiro. Um massacre em massa, uma chacina horrorosa!…

– Nada disso.

– Expulsam os negros de lá, então! adverti apressadamente, na minha ânsia de adivinhar.

– Nada, nada disso.

Parei atrapalhado, mas num clarão apresentou-se-me a terceira hipótese.

– Dividem o país em duas partes, a negra e a branca!

– Nada, ainda. Creio que por mais esforços que o senhor Ayrton faça não adivinhará.

Refleti alguns instantes a ver se me ocorria uma quarta hipótese. Não ocorreu coisa nenhuma e confessei-me vencido.

– Se a solução não vai ser alguma destas, quer dizer que o caso fica insolúvel, rematei.

– Ao contrario. Será solvido da maneira mais completa, sem sacrifício dos negros existentes e sem transigência dos brancos. O orgulho é criador, senhor Ayrton e além disso, extremamente engenhoso...

Era hora de retirar-me.
Beijei a mão de miss Jane e saí pela estrada afora a parafusar no tremendo quebra-cabeça. Depois volvi para ela os meus pensamentos e passei a semana inteira a recordar as suas palavras e gestos, num grande enlevo d'alma. O senhor Sá notou-o e disse ao socio:

— Isto ou é amor ou é espinhela caída.

Era amor. Em tudo eu via miss Jane. Nas moças que se cruzavam por mim nas ruas eu só via os traços que tinham de comum com miss Jane — esta a linha dos ombros; aquela o tom dos cabelos. Meus sonhos se complicavam estranhamente, mas neles Freud leria claro como numa cartilha infantil. O mundo futuro me surgia caótico, informe, com chins em Paris e homens sem pressa em New York, a conversarem sentados no meio das ruas — e que ruas! Wall Street, Broadway... Depois surgia miss Jane como o Tudo e eu mergulhava em êxtase.

Amor! Amor!
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continua… XI – O Ano 2228

Fonte:
Monteiro Lobato. O Presidente Negro. Editora Brasiliense, 1979.

domingo, 2 de outubro de 2011

Trova 198 - Francisco José Pessoa (Fortaleza/CE)

Hermoclydes S. Franco (Proposições a um Vocabulário em Trovas) Letras “D”, “E” e “F”


LETRA “D”

DANAÇÃO: Condenação
(já dizia o velho Dante).
DECATLETA: Um campeão.
DÉBIL: Insignificante.

DELICADO: Suave; Meigo.
DELÍCIA: Uma gostosura.
DELITO: Sendo de leigo
Torna fácil a “soltura”.

DEZEMBRO: Mês do Natal,
Dos presépios, de Jesus...
Tem riqueza emocional
Que fala de amor e luz!

LETRA “E”

ECLUSA: Comporta; Dique.
ECO: É o som repetido
Até do sino em repique
ÉDEN: Paraíso perdido.

ELÁSTICO: Que se estica;
É prodígio verdadeiro.
Quem sabe, um dia, se aplica
Na fábrica de dinheiro?...

ELEIÇÃO: Arbítrio; Escolha.
“Queremos Constituinte”.
Outra lei, novinha em folha,
Surgirá, por conseguinte...

ELENCO: Grupo de artistas.
ELETRICIDADE: Luz.
ELOGIO: Aos gabolistas.
EMA: Pernalta; Avestruz.

LETRA “F”

FÁBULA: É a bicharada
Dando lições de moral.
FACA: Quem tem, amolada,
Lá no norte é “maioral”...

FACE: Rosto; Vulto; Cara.
FALHA: Defeito; Omissão.
Para alguns é muito rara;
Eu as tenho, em profusão...

FALIDO: É o vulgar “quebrado”
Que gastou mesmo sem ter.
FAMILIA: Unida, ao seu lado,
Consequências a sofrer.

FANTASMA: Visão; Imagem
Que é, simplesmente, ilusória;
E vibrante personagem,
Herói de infantil estória...

FAROFA: Dom domingueiro
- melhor quando de peru -
Orgulho do “farofeiro”
Da praia de Itaipu.

FASCINAÇÃO: Atração;
Valsa de muito bom gosto
Que dancei, numa paixão,
Na base do rosto-a-rosto...
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Fonte:

Trovas enviadas pelo autor

Varal de Poesias da UNIFAMMA, de Maringá (Poesias Finalistas)


1. lugar:

PATCHWORK
Perpétua Conceição da Cunha Amorim (Franca, SP)


Cá com os meus botões
Alinhavo sentimentos rotos
Num emaranhado de cores
Desafiando o tempo e as diretrizes
Abarrotados de promessas descumpridas
Cinzas de um carnaval vencido
Sem data
Sem valia

Com linha de cor forte
Cirzo as emendas do ontem
Num tecido fino de espera.
Desenho arabescos
E sigo o ponto atrás das correntes
Sem nó
Sem dó

Cá com as minha dúvidas
Teço os dias e desfaço as noites
Com agulhas impiedosamente cegas.
A rotina sangra-me as mãos
Sangrando continuo
Sem prumo
Sem rumo

2º lugar

DICIONÁRIO
Lucas Corrêa Mendes (Araguaína To)


Vindo da uva, vinho tinto,
Quebra do ovo, vida do pinto,
Busca do álcool, alcance da fuga,
Sina do copo, bebida à culpa.

O risco que desce o rapel,
O risco que mancha o papel,
O que descreve o próprio umbigo,
O que escreve o ambíguo.

A pele da presa na unha do predador,
A fé presa na palavra do pregador,
O peso da amizade que se preza,
O preço da novidade que prega peça.

A venda que cobre os olhos do vendado,
A venda que cobra o valor do vendido,
A escolha que provoca o rejeitado,
A escola que promove o escolhido.

Ter sorte pra ser mais amado,
Ser forte pra ter menos risco,
A fala que manifesta o falado,
A falha responsável pelo falido.

O freio da beleza, baque da imagem,
O feio da leveza, peso sem gravidade,
O feito certeiro e ultrapassado virou “ex-ato”,
O defeito, eterno condenado, foi humanizado.

O desejo tímido é “sub-atração”,
A antipatia em demasia é “multi-implicação”,
A atitude, nua, sem endereço, não alcançada,
A altitude do baixo da rua pro tropeço no engano da calçada.

A palavra que, distraída, emudece o ato,
A razão, que se diz traída, muda o que falo,
O som da palavra que combina...
Equivale ao poder da rima.

3º lugar

POEMINHA PRA QUEM TEM MEDO DE AMAR
Andréa Cristina Francisco (Mogi das Cruzes, SP)


Quem tem medo de amar
tem coração que nem coração de passarinho
que se assusta fácil
e sai voando fugido

É menino triste
que pensa que Amor é gaiola

- Amor é gaiola não, menino,
gaiola é medo
Respira firme
que Amor é ipê!

4º lugar

FANTASMAS
Simone Alves Pedersen (Vinhedo, SP)


Com o passar dos anos:
A minha biografia amarelou
Como meus dentes;
A memória embranqueceu
Como meus cabelos;
O passado escureceu
Como o futuro.
Os filhos cresceram
Casaram-se e mudaram-se.
O cachorro morreu.
O gato também.
Até o pó se retirou
Para lugares onde abrem as janelas.
A televisão antes me incomodava,
Agora preciso de aparelho para ouvi-la,
Minha única companhia.
Não tenho mais bagunça para organizar,
Não recebo visitas para me estressar,
Não gasto com pizzas nem refrigerantes,
Que sumiam nas mãos dos adolescentes.
Nem o telefone toca.
O despertador sim! Faço questão de saber que horas são...
Apesar de dormir menos com o passar dos anos
E estar acordada quando o galo acorda o relógio,
Tenho um rádio que fica ligado o dia todo.
As vozes dos radialistas afastam os meus fantasmas,
Que ficam espreitando, esperando,
A hora que me deito...
É quando eles se aproximam.
Sentam-se na minha cama,
Seguram a minha mão e choram comigo.
O nome deles?
Arrependimento, fracasso e solidão.

5º lugar

DE SECAS E VERDES
Francisco Ferreira (Betim, MG)


Cantador, se quiseres cantar;
vê que te não aconselho,
os tempos são difíceis!
Mas se imperativo for,
que cantes aleluias
às alegrias da chuva nova
na poeira velha e o cheiro bom
do bom barro de telha branco.
Ou o ocre dos ceramistas,
o branco das terracotas
e o ocre dos santeiros
nos cheiros molhados dos terreiros.

Não é que te queira ensinar
o ofício – de padre dizer missa –
(longe de mim).
É que os tempos são de seca,
são difíceis.
O mundo está sinistro.
Digo isto só para parecer mais jovial.

Mas se quiseres calar
(veja que não te censuro)
se acaso, porém, insistires,
que cantes a paz.
As harmonias de abelhas e vespas
e formigas em seu fatigar
– operárias em construção –
na produção de alimentos
e no tornar fronteiras mais seguras.
Vidas mais úteis, vidinhas miúdas...
Ah, cantador, se os governos
fossem assim, tão eficientes!
Seríamos formigas maiores
e mais úteis, te garanto!
E nossas vidas, melhores.

Não que me queira queixar
é que a seca destes tempos sombrios
tornou agreste a minha alma
e desertificou o meu espírito.
O nosso destino de veredas
é alimentar rios.

Se, calado, quiseres cantar e depois emudecer,
(veja que não te pressiono, nem apresso),
já que, por ti, tenho tanto apreço.
É que nestes tempos secos
de dificuldades, cantar é dorido.

Mas se, de todo, quiseres te expressar,
que cantes jardins
belezas de moral em cachos,
canteiros floridos de ética,
floradas de justiça
e leiras e leiras de democracia.

Não é que te queira
dizer o que dizer.
É que aqui, ao sul do equador,
são tempos de seca,
qualquer fagulha pode atear incêndios
e tiranias.

6º lugar

CENA MUDA
Nelsi Inês Urnau (Canoas, RS)



Século vinte e um
Família – pedaços. Laços... nenhum!
Às vezes, tantas, se amedrontam...
Não se reúnem, nem unem,
se encontram, se defrontam
conhecidos, estranhos... e a televisão.
Chiclete, bocejo, silêncio, tensão...

Olhos furtivos, lampejos, desejos
pescando imagens. Vidas em conflito,
entre cifras e delitos
de vazios, brios sem fulgor,
incertezas, tristezas e dor...
Em histórias tão banais, tão iguais!

Ceia muda... não há o que dizer.
Ora! Hora assim, tudo perde o sentido.
Qualquer palavra diz pouco
qualquer gesto, risco torto
que inflama a chama
vulcão ambulante morto...

A cena muda
adormece ao cair da chuva.
Enquanto à massa os corpos se reduzem,
as mentes se acalmam e se esquecem...
enquanto a vida continua
disparada na luta crua
em contínua cena muda.
É século vinte e um.

7º lugar

FÚRIA ESCREVINA
Rômulo César Lapenda Rodrigues de Melo (Joinville, SC)


Escrever, escrever furiosamente como quem tem um dragão no intestino, cheio de dor de dente, escrever silenciosamente no silêncio que só o solitário sente, com torpor, com loucura e escrever, escrever, e só depois pensar em viver, a sorrir, a chorar, a sofrer, usar a borracha para morrer no silêncio temente, acordar para escrever, beber, cheirar letras em pó, escrever com a sede dos bêbados, com as ideias dos loucos, com a exata amoralidade dos psicopatas, dormir só para poder não morrer e morrendo de escrever vencer a próxima página, com a imprecisão desconcertante dos gênios, a pureza dos gentios, a safadeza das diabas, a podridão dos vermes, com a segurança dos equilibristas cegos, a pujança dos halterofilistas magros, escrever, escrever e depois apagar, rasgar folhas, costurá-las, remontá-las e escrever, e se for só a escrever, é depois remoer, ver as folhas voarem ao cesto sepulcro, regurgitar a bile no fundo da posta dormente do fígado, escrever feito demente e apagar, rasgar, escrever até o calo do dedo sangrar, escrever feito doente querendo remédio urgente, escrever sem nem pensar, roubando o dízimo da boca do crente, escrever suicidamente, feito cervo na beira do rio, esperando a bocada do crocodilo, escrever mesmo sem pé, nem cabeça doida fervente, os pensamentos dessa nossa gente, escrever, apagar, escrever, mais tarde refogar no caldeirão dos inconsequentes, ser canibal da própria mente, exorcista da alma, pinça em bicho de pé, ataque de tubarão branco, escrever desavisadamente, como quem anda à beira do precipício, cai e na queda, sem suplício, escreve o cair na poeira, e parado ao chão cansado da madrugada inteira, quando nada restar, nem a sobrancelha, há de haver uma letra brilhando pungente.

8º lugar

AH! MAR
Hernany Luiz Tafuri Ferreira Júnior (Juiz de Fora, MG)


ah! mar
inunda-me sem limites
sê céu
sê água
horizonte bem ali adiante.

ah! mar
falta-me coragem
para ser pirata
nesta viagem
hastear bandeira –
busca certeira por teus tesouros –
intenso aceno com lenço
imagem de que não me esqueço
oh! mar imenso
em terra firme permaneço.

mineiro desconfiado
contento-me com água de coco
enquanto contemplo
mar em tudo quanto é lado.

e de sereia em sereia
serei sempre um bobo
que não sairá da areia!

9º lugar

PÉS
Hernany Luiz Tafuri Ferreira Júnior (Juiz de Fora, MG)


Alumbrado,
calado,
caminho apoiado
na palavra
pé:
pé direito à frente
do esquerdo, depois
atrás do pé de
vento que
balança o pé
de fruta: pé
de moleque
descalço, no
encalço da ilusão:
em pé de guerra,
pede para amarrar
o cadarço e continua,
passo a passo,
a subir o pé
de feijão.

10º lugar

MEMÓRIAS
Denivaldo Piaia (Campinas, SP)


O quadro-negro da memória
Guarda frases rabiscadas:
Não pode...
Não deve...
Educação cercada de muros,
Tranca nas portas, vidraças opacas,
Medo.
Incoerentes correntes
Aprisionam sonhos e voos,
Pés pretos de branco jugo
E as porteiras.
Atam mãos sossegadas às suas almas mortas,
Janelas bocejando ao sol fresquinho da manhã.
E o vento venta,
Sopra segredos,
Range lamentos.
Revela histórias e lendas,
Esparrama glória pelas sendas
Assoviando em quinas,
Indiferente, nas esquinas.
Venta vento, ventania,
Em desbocada poesia.
Que leve tudo para bem longe
Soprando nuvens para reinventar formas.
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Fonte:
Simone Pedersen

Florbela Espanca (Mensageira das Violetas) Parte final




FRÊMITO DO MEU CORPO A PROCURAR-TE

Frêmito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...

DIZE-ME, AMOR, COMO TE SOU QUERIDA

Dize-me, amor, como te sou querida,
Conta-me a glória do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pântanos da vida.

Embriagada numa estranha lida,
Trago nas mãos o coração desfeito,
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito
Que me salve e levante redimida!

Nesta negra cisterna em que me afundo,
Sem quimeras, sem crenças, sem turnura,
Agonia sem fé dum moribundo,

Grito o teu nome numa sede estranha,
Como se fosse, amor, toda a frescura
Das cristalinas águas da montanha!

FALO DE TI ÀS PEDRAS DAS ESTRADAS

Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que e louro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de princesas e de fadas;

Falo às gaivotas de asas desdobradas,
Lembrando lenços brancos a acenar,
E aos mastros que apunhalam o luar
Na solidão das noites consteladas;

Digo os anseios, os sonhos, os desejos
Donde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!

PERDI OS MEUS FANTÁSTICOS CASTELOS

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? –
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...

O TEU OLHAR

Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas, pendões ao vento sobranceiros,
Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,

Mares onde não cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros,
Todo um povo de heróis e marinheiros,
Lanças nuas em rútilos lampejos;

Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!

O MAIOR BEM

Este querer-te bem sem me quereres,
Este sofrer por ti constantemente,
Andar atrás de ti sem tu me veres
Faria piedade a toda a gente.

Mesmo a beijar-me a tua boca mente...
Quantos sangrentos beijos de mulheres
Pousa na minha a tua boca ardente,
E quanto engano nos seus vãos dizeres!...

Mas que me importa a mim que me não queiras,
Se esta pena, esta dor, estas canseiras,
Este mísero pungir, árduo e profundo,

Do teu frio desamor, dos teus desdéns,
É, na vida, o mais alto dos meus bens?
É tudo quanto eu tenho neste mundo?

OS MEUS VERSOS

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...

O MEU SONETO

Em atitudes e em ritmos fleugmáticos,
Erguendo as mãos em gestos recolhidos,
Todos brocados fúlgidos, hieráticos,
Em ti andam bailando os meus sentidos...

E os meus olhos serenos, enigmáticos
Meninos que na estrada andam perdidos,
Dolorosos, tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos...

As magnólias abertas dos meus dedos
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d´amor trazem de rastros...

E a minha boca, a rútila manhã,
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!...
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Fonte:
ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999. (Pocket).

Antonio Brás Constante (Miss Creve - A Musa dos Escritores (e outras misses))



Outro dia escutei algumas pessoas comentando sobre o Miss universo 2011, onde diziam que havia ficado estranha a sonoridade da junção das palavras “Miss” e “Angola”, visto que a ganhadora do concurso foi a Miss Angolana, a bela Leila Lopes. A partir daí resolvi pesquisar sobre localidades que causassem um efeito similar, o resultado da pesquisa e outras maluquices seguem abaixo para o seu deleite (se não gostar, por favor, reclame... Para sua querida Mãe):

Miss Cabella – Itália, Miss Thupra – Índia, Miss Tragha – Reino Unido, Miss Buraka – Paquistão, Miss Quessy – França, Miss Tura – Rússia, Miss Seul – Coréia do sul e Miss Gana – África.

Além das combinações formadas por locais que existem neste nosso, mais ou menos, redondo mundo, eu também inventei e encontrei na internet outras combinações interessantes:

Miss Plode e Miss Toura – Primeira dupla de candidatas terroristas e suicidas da história de nossa (des) humanidade, que chegaram arrasando literalmente no evento.
Miss Quenta – Candidata considerada como “pé frio” entre as concorrentes.
Miss Sá – Candidata devota e religiosa que tinha muita fé em sua vitória.
Miss Comunga – Concorrente e rival de Miss Sá, totalmente incrédula sobre as chances da rival.
Miss Noba – Patricinha de nariz empinado, chegou ao concurso se achando a bolachinha mais recheada do pacote.
Miss Pera - Candidata que perdeu o táxi e quase perdeu o horário do desfile. Representante das mulheres frutas no concurso.
Miss Corre – Participante com problemas de corrimento nasal.
Miss Correga – Caiu três vezes durante o desfile e botou a culpa no piso, dizendo que estava liso.
Miss Tatela – Também escorregou e acabou caindo da passarela e quebrando o tornozelo.
Miss Craviza – Concorrente Sado masoquista
Miss Peta – Antes de ser candidata trabalhava como bonequinha de vodu.
Miss Creve – Candidata e musa dos escritores no concurso de Miss.
Miss Cuta – Concorrente com problemas nas cordas vocais, de voz baixa, quase inaudível.
Miss Goela – Ao contrário da Miss Cuta, essa candidata falava sempre gritando.
Miss Trepa – Ninfomaníaca que se deu bem em todos os sentidos para poder participar do concurso de Miss.
Miss Frega – Trabalhava como faxineira antes de ser descoberta para participar do concurso de Miss.
Miss Guicha – Única mãe do concurso, que nas horas vagas amamentava a filha recém-nascida com fartura de leite materno.
Miss Miúça, Miss Pecifica, Miss Plica e Miss Clarece – Irmãs quadrigêmeas e concorrentes com os mesmos problemas de entendimento sobre as regras do concurso.
Miss Palha – Concorrente a Miss e fofoqueira de plantão.
Miss Parrama – Candidata espaçosa que queria a passarela todinha só para ela.
Miss Panta – Adorava assustar suas concorrentes com histórias de terror sobre os bastidores do concurso.
Miss Põe – a Candidata mais exibida do desfile
Miss Pressa – Só não foi eleita como oradora oficial do concurso por ser afobada e gostar de falar muito rápido.
Miss Prime – Tagarela que gostava de falar pelos cotovelos. Acabou sendo ela a oradora do desfile.
Miss Preita – Candidata que sempre olhava para trás ao desfilar achando que alguém estava seguindo-a na passarela.
Miss Taciona – Trabalhava antes do concurso como manobrista em um badalado restaurante da capital
Miss Tica – Fez cirurgia para aumentar sua estatura e conseguir participar do concurso de Miss.
Miss Timula – Candidata com problemas de depressão e baixa auto-estima ou alta baixa-estima, ela não soube explicar.
Miss Corraça – Expulsa três vezes de concursos de beleza por ser muito inconveniente e extremamente irritante.
Miss Conde – Candidata extremamente tímida e encabulada.
Miss Panca, Miss Bofeteia e Miss Tapeia – Apanharam muito para conseguir entrar para o concurso de Miss.
Miss Balda – Baladeira de plantão, vive no cheque-especial por conta de suas contas.
Miss Tremece – Considerada como o tipo de concorrente que chega abalando as estruturas do concurso.
Miss Culhamba – Miss metida a engraçada que ficava o tempo todo fazendo piadinhas de si mesma.
Miss Traçalha – Candidata de estilo selvagem e arrasador.
Miss Ericórdia – A Miss mais assustadora, horripilante e tenebrosa do evento.

Por hoje é só, até a próxima semana e que a Miss Trepa ou Miss Sá (ou outra qualquer, dependendo dos gostos de cada um) povoe os sonhos dos amigos e que a Miss Ericórdia agracie os sonhos de todos os chatos que perambulam por aí.

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