Maria Clara Jacob Machado (Rio de Janeiro RJ 1921 - idem 2001). Autora, diretora e professora. Dramaturga que renova a literatura teatral voltada para o público infantil, Maria Clara Machado dirige O Tablado, escola de formação e de produção de espetáculos, por onde passam várias gerações de teatro.
Forma-se em Paris, no curso Education par Les Jeux Dramatiques, em 1951, e no ano seguinte faz especialização em mímica com Etienne Decroux. Nos primeiros anos da década de 50, mantém simultaneamente as atividades de atriz e de diretora. Seu primeiro trabalho para crianças, O Boi e o Burro a Caminho de Belém, é encenado por ela própria, em 1953, contando a história do nascimento de Cristo de um ponto de vista inusitado. Sua terceira história, Pluft, o Fantasminha, lançada em 1955, lhe vale os prêmios Saci e Associação de Críticos de São Paulo e torna-se um dos maiores sucessos de sua carreira. O texto se serve de uma pequena intriga policialesca para contar, com um humor lírico e muita magia, a amizade que surge entre uma menina e um fantasma. Mas o tema que se constrói durante a narrativa é a possibilidade de vencer o medo: no início da peça, depois de perguntar "mamãe, gente existe?", ele confidencia "eu tenho tanto medo de gente!"; no final, ao unir humanos e fantasmas na luta contra o vilão, ele descobre: "Está me nascendo uma coragem..."
Sua versão de O Chapeuzinho Vermelho, 1956, traz um lobo ao mesmo tempo perverso e medroso, que termina reconduzido ao zoológico; uma avó saltitante; árvores que comentam, bisbilhotam, mudam de lugar, fazem ciranda em torno de Chapeuzinho.
Depois de A Bruxinha Que Era Boa, de 1958, que fala às crianças sobre a vontade de ser livre, nasce, em 1960, um novo sucesso - O Cavalinho Azul, história de um menino que sai pelo mundo em busca do amigo de seus sonhos, um cavalo todo azul. Durante toda a década de 50, Maria Clara também dirige e atua em espetáculos adultos como A Sapateira Prodigiosa, de Federico García Lorca, também dirigido por ela, 1953; e Nossa Cidade, de Thornton Wilder, com direção de João Bethencourt, 1954.
No início dos anos 60, O Tablado começa a criar em torno de si um público cativo, formado por adultos e crianças que esperam ansiosos pelo próximo lançamento da autora e que será sempre renovado a cada geração. Em 1961, o teatro da escola encena Maroquinhas Fru-Fru e, no ano seguinte, A Gata Borralheira. Em 1963, A Menina e O Vento fala da fúria pela liberdade. Seguem-se O Diamante do Grão-Mogol, 1965, Maria Minhoca, 1968, e Camaleão na Lua, 1969. Recebe os prêmios Golfinho de Ouro e Molière por Aprendiz de Feiticeiro e Maria Minhoca, 1968.
Como atriz, protagoniza D. Rosita, a Solteira, de Federico García Lorca, com direção de Sérgio Viotti, 1960; e O Mal-Entendido, de Albert Camus, dirigido por Yan Michalski, 1961. Encena, seguindo a coerência das dramaturgias clássicas de forte teatralidade, Molière, Carlo Goldoni, William Shakespeare, Michel de Ghelderode e uma farsa medieval.
Nos anos 70, a autora cria e dirige, sempre com a equipe de seu teatro, Tribobó City, 1971 - musical bem-humorado e dinâmico inspirado na estética do faroeste americano -, Um Tango Argentino, 1972, O Patinho Feio, 1976, e Quem Matou o Leão?, 1978. Em 1974, recebe o prêmio Personalidade da editora Global. Seus textos são traduzidos em diversas línguas e encenados da Alemanha aos Estados Unidos.
No teatro para adultos, opta pelos formadores do realismo e encena Máximo Gorki e Anton Tchekhov.
Na década de 80, apresenta João e Maria, 1980, As Cigarras e as Formigas e O Dragão Verde, 1984, e O Gato de Botas, 1987. Esses dois últimos lhe valem, em seus respectivos anos, o Prêmio Mambembe de melhor autor. Em 1983, O Tablado recebe o Prêmio Molière de incentivo ao teatro infantil. Em Aprendiz de Feiticeiro, encenado em 1986, Maria Clara lança mão de efeitos cênicos e técnicas aproveitadas de outros universos, como a luz negra, para criar a ilusão de uma casa de mágico onde os objetos tornam-se animados. A partir dessa década, a autora recebe diversos prêmios de personalidade, de contribuição ao teatro infantil, de hors-concours. É convidada a atuar em Ensina-me a Viver, 1981, de Colin Higgins, substituindo Henriette Morineau, na direção de Domingos Oliveira. Atua também em Este Mundo é um Hospício, de Joseph Kesselring, 1985.
No anos 90, Maria Clara passa a entregar a direção de seus textos a Cacá Mourthé: Passo a Passo no Paço Imperial, 1992, A Coruja Sofia e Tudo por um Fio, 1994, Bela Adormecida, 1996, Jonas e a Baleia, 2000.
Carlos Drummond de Andrade define a linguagem da escritora e diretora: "(...) em Maria Clara a escritora e a diretora coincidem com uma riquíssima organização humana, onde o fantástico janta na mesa do real, e se comunicam naturalmente. No que ela faz, o fantástico fica plausível, é um dado cotidiano, até corriqueiro. E o real surge desligado de seu peso tantas vezes incômodo, desvendando-nos uma graça intrínseca, que nele estávamos longe de pressentir".
O jornalista e especialista em produção cultural para crianças, Ricardo Voltolini, avalia a contribuição de Maria Clara Machado para o teatro infantil: "Maria Clara não inventou o teatro infantil, mas é como se tivesse inventado. Pelo menos no Brasil, o gênero lhe deve a posição de pioneirismo no respeito à inteligência, à sensibilidade e à capacidade de deslumbramento do pequeno espectador. (...) No Rio, como de resto em todo o país, a regra eram espetáculos infantis grosseiros e mal produzidos, que limitavam-se a incentivar a gritaria, a invasão do palco e a troca da atenção por balinhas de aniz. Maria Clara sempre preferiu educar suas platéias para a importância da história. Como se a história fosse um ritual para os pequenos iniciados".
Obras
O rapto das Cebolinhas
A Bruxinha Que Era Boa
O Aprendiz de Feiticeiro
A Menina e o Vento
O Boi e o Burro No Caminho de Belém
Maroquinhas Fru-Fru
Pluft, o Fantasminha
O Cavalinho Azul
Os Cigarras e os Formigas
O Dragão Verde
Quem Matou o Leão
O Embarque de Nóe
Um Tango Argentino
Tribobó City
Os Embrulhos
Camaleão na Lua
Maria Minhoca
O Diamante do Grão Mongol
As Interferências
A Volta de Camaleão Alface
Meloso e Maroquinhas
O chapeuzinho vermelho
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Forma-se em Paris, no curso Education par Les Jeux Dramatiques, em 1951, e no ano seguinte faz especialização em mímica com Etienne Decroux. Nos primeiros anos da década de 50, mantém simultaneamente as atividades de atriz e de diretora. Seu primeiro trabalho para crianças, O Boi e o Burro a Caminho de Belém, é encenado por ela própria, em 1953, contando a história do nascimento de Cristo de um ponto de vista inusitado. Sua terceira história, Pluft, o Fantasminha, lançada em 1955, lhe vale os prêmios Saci e Associação de Críticos de São Paulo e torna-se um dos maiores sucessos de sua carreira. O texto se serve de uma pequena intriga policialesca para contar, com um humor lírico e muita magia, a amizade que surge entre uma menina e um fantasma. Mas o tema que se constrói durante a narrativa é a possibilidade de vencer o medo: no início da peça, depois de perguntar "mamãe, gente existe?", ele confidencia "eu tenho tanto medo de gente!"; no final, ao unir humanos e fantasmas na luta contra o vilão, ele descobre: "Está me nascendo uma coragem..."
Sua versão de O Chapeuzinho Vermelho, 1956, traz um lobo ao mesmo tempo perverso e medroso, que termina reconduzido ao zoológico; uma avó saltitante; árvores que comentam, bisbilhotam, mudam de lugar, fazem ciranda em torno de Chapeuzinho.
Depois de A Bruxinha Que Era Boa, de 1958, que fala às crianças sobre a vontade de ser livre, nasce, em 1960, um novo sucesso - O Cavalinho Azul, história de um menino que sai pelo mundo em busca do amigo de seus sonhos, um cavalo todo azul. Durante toda a década de 50, Maria Clara também dirige e atua em espetáculos adultos como A Sapateira Prodigiosa, de Federico García Lorca, também dirigido por ela, 1953; e Nossa Cidade, de Thornton Wilder, com direção de João Bethencourt, 1954.
No início dos anos 60, O Tablado começa a criar em torno de si um público cativo, formado por adultos e crianças que esperam ansiosos pelo próximo lançamento da autora e que será sempre renovado a cada geração. Em 1961, o teatro da escola encena Maroquinhas Fru-Fru e, no ano seguinte, A Gata Borralheira. Em 1963, A Menina e O Vento fala da fúria pela liberdade. Seguem-se O Diamante do Grão-Mogol, 1965, Maria Minhoca, 1968, e Camaleão na Lua, 1969. Recebe os prêmios Golfinho de Ouro e Molière por Aprendiz de Feiticeiro e Maria Minhoca, 1968.
Como atriz, protagoniza D. Rosita, a Solteira, de Federico García Lorca, com direção de Sérgio Viotti, 1960; e O Mal-Entendido, de Albert Camus, dirigido por Yan Michalski, 1961. Encena, seguindo a coerência das dramaturgias clássicas de forte teatralidade, Molière, Carlo Goldoni, William Shakespeare, Michel de Ghelderode e uma farsa medieval.
Nos anos 70, a autora cria e dirige, sempre com a equipe de seu teatro, Tribobó City, 1971 - musical bem-humorado e dinâmico inspirado na estética do faroeste americano -, Um Tango Argentino, 1972, O Patinho Feio, 1976, e Quem Matou o Leão?, 1978. Em 1974, recebe o prêmio Personalidade da editora Global. Seus textos são traduzidos em diversas línguas e encenados da Alemanha aos Estados Unidos.
No teatro para adultos, opta pelos formadores do realismo e encena Máximo Gorki e Anton Tchekhov.
Na década de 80, apresenta João e Maria, 1980, As Cigarras e as Formigas e O Dragão Verde, 1984, e O Gato de Botas, 1987. Esses dois últimos lhe valem, em seus respectivos anos, o Prêmio Mambembe de melhor autor. Em 1983, O Tablado recebe o Prêmio Molière de incentivo ao teatro infantil. Em Aprendiz de Feiticeiro, encenado em 1986, Maria Clara lança mão de efeitos cênicos e técnicas aproveitadas de outros universos, como a luz negra, para criar a ilusão de uma casa de mágico onde os objetos tornam-se animados. A partir dessa década, a autora recebe diversos prêmios de personalidade, de contribuição ao teatro infantil, de hors-concours. É convidada a atuar em Ensina-me a Viver, 1981, de Colin Higgins, substituindo Henriette Morineau, na direção de Domingos Oliveira. Atua também em Este Mundo é um Hospício, de Joseph Kesselring, 1985.
No anos 90, Maria Clara passa a entregar a direção de seus textos a Cacá Mourthé: Passo a Passo no Paço Imperial, 1992, A Coruja Sofia e Tudo por um Fio, 1994, Bela Adormecida, 1996, Jonas e a Baleia, 2000.
Carlos Drummond de Andrade define a linguagem da escritora e diretora: "(...) em Maria Clara a escritora e a diretora coincidem com uma riquíssima organização humana, onde o fantástico janta na mesa do real, e se comunicam naturalmente. No que ela faz, o fantástico fica plausível, é um dado cotidiano, até corriqueiro. E o real surge desligado de seu peso tantas vezes incômodo, desvendando-nos uma graça intrínseca, que nele estávamos longe de pressentir".
O jornalista e especialista em produção cultural para crianças, Ricardo Voltolini, avalia a contribuição de Maria Clara Machado para o teatro infantil: "Maria Clara não inventou o teatro infantil, mas é como se tivesse inventado. Pelo menos no Brasil, o gênero lhe deve a posição de pioneirismo no respeito à inteligência, à sensibilidade e à capacidade de deslumbramento do pequeno espectador. (...) No Rio, como de resto em todo o país, a regra eram espetáculos infantis grosseiros e mal produzidos, que limitavam-se a incentivar a gritaria, a invasão do palco e a troca da atenção por balinhas de aniz. Maria Clara sempre preferiu educar suas platéias para a importância da história. Como se a história fosse um ritual para os pequenos iniciados".
Obras
O rapto das Cebolinhas
A Bruxinha Que Era Boa
O Aprendiz de Feiticeiro
A Menina e o Vento
O Boi e o Burro No Caminho de Belém
Maroquinhas Fru-Fru
Pluft, o Fantasminha
O Cavalinho Azul
Os Cigarras e os Formigas
O Dragão Verde
Quem Matou o Leão
O Embarque de Nóe
Um Tango Argentino
Tribobó City
Os Embrulhos
Camaleão na Lua
Maria Minhoca
O Diamante do Grão Mongol
As Interferências
A Volta de Camaleão Alface
Meloso e Maroquinhas
O chapeuzinho vermelho
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Veja fragmento da peça A Menina e o Vento, no canto esquerdo do Blog
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