terça-feira, 9 de março de 2010

Emilio Germani (Folhas Esparsas)


SENTIMENTOS IMORTAIS

Nas andanças de minha longa existência,
Escutei de sábios amigos ancestrais
A lenda que guardei na consciência.
Da remota ilha dos sentimentos imortais.

Quase todos lá viviam, inclusive o Amor,
Numa vida calma, tranqüila e paradisíaca.
Mas o prenúncio de um furacão trouxe o terror,
Com medo da destruição o pânico ataca.

Cada sentimento tratou de fugir.
Ao fim deixaram apenas o Amor,
Que não teve como com eles partir;
Negaram-lhe carona com muita dor.

A Tristeza estava com o barco pleno de aflição,
No barco da Alegria nada mais cabia de contente,
A Avareza com o barco cheio com sua coleção.
Se o Amor ficasse, morreria certamente.

No desespero, um barco no horizonte apareceu,
Um velho ao leme aportou na ilha mansamente;
A esperança do Amor de repente renasceu,
Talvez pudesse se salvar finalmente.

Aproximando-se cansado e olhar cristalino,
Viu que o velho era o Tempo salvador,
Compreendeu a mensagem do destino
Que o Tempo jamais esquece um grande Amor.

PRECE PREVENTIVA

Só o Senhor sabe quando vai me chamar;
Ainda com tempo de lembrar minhas ilusões,
Enquanto sinto a beleza e o amor de aqui estar,
Vivendo as amizades da vida e as satisfações.

Dá-me ainda a oportunidade de fazer esta prece,
Na esperança de aplacar as culpas que cometi,
E alcançar o lugar que minha alma merece,
Grato pela misericórdia dos benefícios que recebi.

Senhor!
Agora que anotaste todos os erros meus,
Que extingui da juventude as ilusões.
Em Tua onipotência espero a graça de Deus,
Conservando toda a confiança e disposições.

Senhor!
Neste tempo de tantos desenganos que presenciei,
Ceticismos e desprezos dos valores morais,
Da boa fé e formação que da família herdei,
Deixo em Tuas Excelsas mãos meus instantes finais.

Senhor!
Agora que as forças começam a falhar,
Alerto o meu espírito e começo a raciocinar,
Embora me arrepie só de pensar,
Sei que quando Tu queres, a hora vai chegar,

Senhor!
Agora que aprendi a precariedade das coisas,
O limite das ambições e das lutas que vivera,
Reconheço minha pequenez e no meu ser sinto as brisas
Aguardando tranqüilo o destino que me espera.

Senhor!
Agora que já alcancei da vida o ponto audaz,
Com Elza constituí a família mais linda e querida,
Ajuda a mim e a ela envelhecermos em paz.
Suportar tudo, e receber de Ti a melhor acolhida.

Senhor!
Agora aumentam os cuidados ao meu redor
O constante zelo, o carinho e toda a atenção.
Advertindo sutilmente a minha consciência, o terror,
Que fatalmente meus derradeiros dias chegarão.

Senhor!
Agora com a vista turva e degenerada,
Pernas trôpegas, ouvidos moucos e vida dura,
Redobra minha força ao imprevisto dessa parada,
Ajuda-me tolerar com serenidade e fé segura.

Senhor!
Conceda-me a graça de não cair em atitudes avessas,
Não chorar o passado, nem duvidar do futuro,
Não perder o ânimo nem descrer de Tuas promessas,
Chegar digno e altivo ao termo que procuro.

Senhor!
Agora, sem saber quando e quem vai partir primeiro,
Entrego à Tua guarda meus amados familiares,
Bem assim cada confrade e confreira, amigos e companheiros,
A quem desejo felicidade total em suas ações e seus lares.

SEXAGENÁRIA MARINGÁ

Quando te conheci, cidade menina,
Engatinhavas com cara suja e poeirenta,
Bem diferente de agora, vencedora heroína,
Formosa, grávida de vida, completando sessenta.

Foram os pioneiros, homens e mulheres,
que gente forte e corajosa que era aquela!
Com eles ganhaste beleza para seres
Adulta e altaneira e linda, não mais donzela.

Muitas pessoas valorosas deram a vida,
Cessaram as forças, tombaram em pplena jornada,
Pioneiros valentes que tiveram honrosa caída,
Criaram com amor esta terra bela e amada.

Ainda estão na lembrança de alguns remanescentes
O primeiro cinema, o primeiro hospital, a primeira venda,
A primeira casa, a primeira igreja, os primeiros crentes.
O primeiro colégio, os primeiros alunos e primeiro estudo.
O primeiro Rotary, a primeira história e a primeira lenda.
O primeiro hotel, o primeiro prédio, o primeiro tudo.

Não foi milagre e nem magia, foi trabalho duro,
Gente jovem e forte, cheia de fé e vontade.
Com esperança e visão fizeram do nada, para o futuro
Esta cidade que deixam ao cuidado da posteridade
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Fonte:
Emílio Germani. Folhas Esparsas. Maringá: Edição do Autor, 2009.

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