Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -
Levando apenas na tumbal carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
(Augusto dos Anjos)
–––––––––––-
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -
Levando apenas na tumbal carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
(Augusto dos Anjos)
–––––––––––-
O homem
anda,
procura, procura,
indaga...
E ninguém sabe dizer onde encontrar a mulher dos seus sonhos. Todos negam com a cabeça. Uns nem respondem. Outros viram-lhe o rosto em sinal de pouco caso. Alguns posicionam-se indiferentes e alheios à sua presença. Na verdade, a multidão o trata como se o pobre não existisse. A maioria daquela escumalha o considera um estróina, a julgar por seus modos estranhos, pelo seu vestir e até pelo falar.
E o coitado, o infeliz, parece mesmo apalermado, furioso, louco. E como um doidivanas,
Portanto,
segue adiante...
persegue
imagens distantes, figuras indistintas que nada têm a ver com a amada. Perdido e só, esse caminhante não vive. Vegeta um tempo obumbrado, esquecido no espaço irrecuperável do compasso inconseqüente dos dias que passam um após outro, como se para o mundo todas as coisas tivessem morrido ha séculos. É o destino imprecativo que manipula seus desejos e ansiedades como melhor agrada. A esperança, aquela esperança ambígua de outrora retirou-se, às pressas, de seu peito, tal como quem foge de algo ruim e prestes a acontecer. Tudo isso, porém, tem uma causa: sua outra metade que busca incansavelmente. O efeito, sente agora, abraçado à ausência da saudade que domina toda a mente, transformando o pensamento num redemoinho de idéias confusas. Afinal, onde está, por Deus, onde está a figura que coloriu seus devaneios? Sem ela e seus aconchegos é um homem vazio de vida, de cores, e de esperanças. A partida da jovem doeu-lhe muito. Feriu de tal forma que até o coração bate descompassado, numa atitude convulsiva de sofrimentos embaraçosos. Em seu peito uma ferida imensa abriu feio à flor da pele, e desde então não cicatriza.
Enquanto anda e procura, indaga e persegue, recorda o passado...
Lembra a vida à dois; os verdes anos de prosperidade e fortuna como dádivas caídas do firmamento. Que belos e maravilhosos momentos de ternura e enlevo desfrutaram!...
No entanto, o copo do destino transbordou o licor amargo. O céu tingiu-se de nuvens negras e um vendaval inesperado fez-se forte, muito poderoso e intransponível. Suas idéias e ideais, a partir daí, entraram em parafuso, como um avião desgovernado e tudo o que era bom voltou-se, de repente, para o nada. Toda aquela plebe ao seu redor deve estar com razão. Ele é mesmo, sem sombra de dúvidas, um alienado mental. Sente que as pernas bambeiam a carcaça. Em derredor de si, coisas, pessoas, casas...giram, e a medida que entram nesse movimento rotatório, as vistas turvam-se por completo e quedam-se, em seguida, em pesadas brumas de solidão.
Está, pois, tolhido,
indefeso,
vencido...vencido e
sem forças para soerguer o nariz, levantar a moral, dar a volta por cima e berrar. Na verdade, quer gritar que está vivo, carente, dependente do amor dessa deusa que enfeitiçou sua alma e, no final das contas, o abandonou ao grotesco mais iracundo do ridículo.
- Te amo, te amo – grita o pobre infeliz olhando para um pequeno retrato três por quatro. - Te amo, porque tu te escondestes de mim?
Seria esse homem um louco?
Como louco? Se o mísero só quer saber onde está a autora dos seus sonhos?
Fonte:
Para Ler e Pensar.
anda,
procura, procura,
indaga...
E ninguém sabe dizer onde encontrar a mulher dos seus sonhos. Todos negam com a cabeça. Uns nem respondem. Outros viram-lhe o rosto em sinal de pouco caso. Alguns posicionam-se indiferentes e alheios à sua presença. Na verdade, a multidão o trata como se o pobre não existisse. A maioria daquela escumalha o considera um estróina, a julgar por seus modos estranhos, pelo seu vestir e até pelo falar.
E o coitado, o infeliz, parece mesmo apalermado, furioso, louco. E como um doidivanas,
Portanto,
segue adiante...
persegue
imagens distantes, figuras indistintas que nada têm a ver com a amada. Perdido e só, esse caminhante não vive. Vegeta um tempo obumbrado, esquecido no espaço irrecuperável do compasso inconseqüente dos dias que passam um após outro, como se para o mundo todas as coisas tivessem morrido ha séculos. É o destino imprecativo que manipula seus desejos e ansiedades como melhor agrada. A esperança, aquela esperança ambígua de outrora retirou-se, às pressas, de seu peito, tal como quem foge de algo ruim e prestes a acontecer. Tudo isso, porém, tem uma causa: sua outra metade que busca incansavelmente. O efeito, sente agora, abraçado à ausência da saudade que domina toda a mente, transformando o pensamento num redemoinho de idéias confusas. Afinal, onde está, por Deus, onde está a figura que coloriu seus devaneios? Sem ela e seus aconchegos é um homem vazio de vida, de cores, e de esperanças. A partida da jovem doeu-lhe muito. Feriu de tal forma que até o coração bate descompassado, numa atitude convulsiva de sofrimentos embaraçosos. Em seu peito uma ferida imensa abriu feio à flor da pele, e desde então não cicatriza.
Enquanto anda e procura, indaga e persegue, recorda o passado...
Lembra a vida à dois; os verdes anos de prosperidade e fortuna como dádivas caídas do firmamento. Que belos e maravilhosos momentos de ternura e enlevo desfrutaram!...
No entanto, o copo do destino transbordou o licor amargo. O céu tingiu-se de nuvens negras e um vendaval inesperado fez-se forte, muito poderoso e intransponível. Suas idéias e ideais, a partir daí, entraram em parafuso, como um avião desgovernado e tudo o que era bom voltou-se, de repente, para o nada. Toda aquela plebe ao seu redor deve estar com razão. Ele é mesmo, sem sombra de dúvidas, um alienado mental. Sente que as pernas bambeiam a carcaça. Em derredor de si, coisas, pessoas, casas...giram, e a medida que entram nesse movimento rotatório, as vistas turvam-se por completo e quedam-se, em seguida, em pesadas brumas de solidão.
Está, pois, tolhido,
indefeso,
vencido...vencido e
sem forças para soerguer o nariz, levantar a moral, dar a volta por cima e berrar. Na verdade, quer gritar que está vivo, carente, dependente do amor dessa deusa que enfeitiçou sua alma e, no final das contas, o abandonou ao grotesco mais iracundo do ridículo.
- Te amo, te amo – grita o pobre infeliz olhando para um pequeno retrato três por quatro. - Te amo, porque tu te escondestes de mim?
Seria esse homem um louco?
Como louco? Se o mísero só quer saber onde está a autora dos seus sonhos?
Fonte:
Para Ler e Pensar.
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