sexta-feira, 26 de março de 2010

João Felinto Neto (O Galo)


O galo canta ao azular do céu, de sobressalto eu me acordo. Quantos dias mais terei pela frente com esse madrugador barulhento?

Ele continua lá fora com o seu cocoricó irritante que irá até o sol aquecer suas penas.

Gosto de coisas antigas; sou saudosista. No entanto, em matéria de despertador, prefiro os modelos atuais. Os de corda ou pilha é só arremessá-los contra a parede e os a energia elétrica, desconectá-los da tomada. Contudo, o diabo do galo, só torcendo-lhe o pescoço; só há um pequeno problema, o galo é do vizinho. Resolvi escrever no jornal pedindo conselhos sobre o que devia fazer a respeito.

Recebi diversas correspondências, algumas bem interessantes.

Havia uma, em que o meu conselheiro mandava-me colocar uma venda nos olhos do galo, com isso ele não veria o sol e, portanto, adeus problema.

Outra, me aconselhava extrair da pobre ave, todos os órgãos responsáveis pelo seu canto.

Dê uma raposa de presente ao seu vizinho, dizia uma terceira.
Ponha fone de ouvido e engula um comprimido controlado bastante forte, já que você é o incomodado; eis uma quarta.

Acorde antes que o galo, e dessa forma ele jamais o acordará.

Compre um galo mudo e faça a troca com o do vizinho, ele não perceberá a troca, pelo menos até de madrugada.

Aproveite a oportunidade para ganhar dinheiro, grave o canto do galo e produza um CD com o título “Despertar do campo”, para as pessoas que adoram a vida rural. O seu vizinho, com certeza, compraria um.

Tire todas as penas do galo, ele sentirá tanto frio de madrugada, que não terá coragem de cantar, além do mais, terá vergonha de ficar pelado na frente das galinhas.

Faça um abrigo antinuclear e você não ouvirá o galo cantar; pode não ser uma boa idéia, mas rima.

Implante um chip no cérebro do galo e programe-o para cantar ao por do sol.

Convide o galo para um banho-de-cheiro, em vez da banheira, use uma panela de pressão.

Pelo visto, é apelar para o bom senso do vizinho. E que ele me convide para um almoço de confraternização, onde o cardápio seja galo com tucupi.

Fonte:
João Felinto Neto. Cronicas dispersas. Edição do Autor. 2007.

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