1
Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo ...
- E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo.
2
Pouco me dá que se diga
meu verso fora da moda,
meu verso é apenas cantiga
de cirandas, e de roda ...
3
A saudade é uma andorinha,
que ao morrer do sol a chama,
as asas tristes aninha
no coração de quem ama ...
4
Duvido que alguém no mundo,
olhe sem melancolia,
uma vela no horizonte,
lá longe... no fim do dia...
5
Que tens tu, que és tão sombrio,
e hoje a rir, alegre, assim? ...
- Mal sabem que só me rio,
porque riste para mim .
6
Quem dera que minhas trovas
andassem pelos caminhos,
consolando os desgraçados,
dando pão para os ceguinhos ...
7
Ora a Vida! ... Deixa-a andar,
não queiras da vida ter
o que ela não possa dar,
nem tu possas merecer...
8
Eu vi o rio chorando,
quando te foste banhar,
por não poder, te banhando,
dar-te um abraço, e parar. . .
9
Ninguém se queixe da Sorte,
que Deus de ninguém se esquece.
Cristo nasceu para todos,
cada qual, como o merece...
10
Coração, fonte da Vida,
da vida a própria razão.
- E tanta gente eu conheço,
vivendo sem coração...
11
Trovas, trovas da minha alma!
Da vida quando eu me for,
sede o humilde travesseiro,
do sono de um sonhador.
12
Quando eu morrer, levo à cova
dentro do meu coração,
o suspiro de uma trova,
e o gemer de um violão.
13
Meu coração, pobre tonto,
que eu não entendo sequer,
fazes morrer quem te adora,
morres por quem não te quer!
14
Se eu pintasse minha infância,
pintava: num sol de estio,
a sombra de uma ingazeira,
debruçada sobre um rio.
15
Os búzios guardam das águas
do mar, os fundos gemidos.
- Assim fossem minhas mágoas,
guardadas nos teus ouvidos...
16
Por que, pela humanidade,
só o eu, soa e ressoa? ...
- É que há um sapo agachado,
dentro de cada pessoa.
17
Não quero na minha morte,
nem pompa, nem mausoléu.
Quero uma covinha rasa,
que abra os braços para o céu. . .
18
Na janela do teu quarto,
a luz da manhã transborda.
Bem-te-vis estão gritando:
Preguiçosa, acorda, acorda!
19
A inveja tem seu castigo,
Deus mesmo é quem retribui;
enquanto o invejado cresce,
o invejoso diminui…
20
A luz desse olhar tristonho
dos olhos teus, faz lembrar
essa luz feita de sonho
que a lua deita no mar.
21
A imagem de nossas almas
está nas águas profundas,
quanto mais tristes, mais calmas;
quanto mais calmas, mais fundas.
22
Vivo triste, triste, triste,
que mesmo nem sei dizer.
- Desconfio que é saudade,
que é vontade de te ver.
23
Um cego me disse um dia,
que Poesia, inspiração,
era uma lua nascendo,
de dentro do coração.
24
Sou nesta tarde da vida,
cheio de saudades minhas,
como um telhado de igreja,
todo cheio de andorinhas.
25
É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz.
Quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais
26
Não quero ouvir o teu nome,
nunca mais te quero ver!
- E passo a vida pensando,
a forma de te esquecer.
27
Quando vejo teu sorriso,
tudo se doira e aligeira.
Teu sorriso é na minha alma,
como o sol numa roseira.
28
Neste mundo, a certas vidas,
a morte seria um bem,
mas até a própria morte
se esquece delas também.
29
O laço de fita preta
dos teus cabelos, faceira,
parece uma borboleta
pousada numa roseira...
30
Só peço o dia em que eu morra,
faça uma noite de lua,
todo troveiro descante,
todo violão saia à rua!
31
Dizer adeus nada custa,
alguém me mandou dizer.
Mas quem diz que nada custa,
queira bem e vá dizer.
32
Tu vais passando, orgulhosa!...
Nunca vi soberba assim.
- Ai de ti, por tanto orgulho.
Por tanto amar-te, ai de mim! ...
33
Não se dá regras à trova,
que a trova regras não tem.
A trova é simplicidade,
ela vai, como nos vem...
34
Quem ri do poeta, não sabe,
o consolo que ele tem.
E o dia em que fosse triste,
faria versos também.
35
A morte não é tristeza,
é fim, é destinação.
- Tristeza é ficar vivendo,
depois que os sonhos se vão.
36
As penas em que hoje estou,
disse-as ao Sol, - fez-se triste.
Disse-as à noite - chorou.
Disse-as a ti, e sorriste...
37
Mãe, que meus versos incensam,
quando eu vim do mundo à luz
foi na cruz de tua bênção,
que eu vi a vida uma Cruz.
38
Saudade - doce transporte
da alma adejante e ferida...
- É viver dentro da morte!
- É morrer dentro da vida!
39
Para esquecer-te, outras amo,
mas vejo, por meu castigo,
que qualquer outra que eu ame,
parece sempre contigo.
40
Para definir o Poeta,
só mesmo em verso defino.
- É um homem que fica velho
com o coração de menino
41
Ó meu amor! Ó saudade!
- E eu não sabia que amor
era uma felicidade
disfarçada numa dor.
42
Quanto amor me prometeste!
- Nas tuas cartas, que ardor!
Depois ... tudo isto esqueceste,
- Coisas de cartas de amor...
43
Encerram certos sorrisos
tristeza tão singular,
que, em se vendo tais sorrisos,
dá vontade de chorar...
44
Eu falei da "flor morena"
e entrou a rir quem me ouviu.
- Quem nunca viu flor morena,
foi porque nunca te viu...
45
Quem tiver amor, esconda
faça por muito esconder,
que as coisas da alma da gente,
ninguém carece saber...
46
Todo rio na corrente,
busca um lago, um rio, um mar...
Mas o destino da gente,
quem sabe onde vai parar?
47
Do mundo quando te fores,
mais que outra glória qualquer,
deixa a sombra de tua alma,
num coração de mulher.
48
O perfume do teu lenço
trago comigo na mão.
Mas o cheiro da tua alma,
dentro do meu coração.
49
Grande dia, este meu dia,
dado por Nosso Senhor.
- De manhã, escrevi versos
De noite, vi meu amor.
50
Alguém já disse, e é verdade,
que o sentimento do amor,
ou se faz eternidade,
ou então, não é amor...
51
Proclamas teu amor-próprio,
se alguém te diz minha dor.
- Essa questão de amor-próprio,
é muito imprópria no amor...
52
Amar com ciúme... Quem ama?!...
Quem ama assim, desconfia...
- Mas quem tais coisas proclama,
se amasse, não nas diria.
53
Ó Mundo! Ó Mundo! Ó meu Mestre!
Muito me ensinas viver,
e quanto mais tu me ensinas,
mais eu vejo que aprender!...
54
Tu censuras de minha alma,
este alvoroço, este ardor...
Quem tem amor e tem calma,
tem calma... não tem amor...
55
Onde anda o corpo, é verdade,
vai a sombra pelo chão...
É assim também a saudade,
a sombra do coração.
56
Aos que me foram ingratos,
eu grato lhes hei de ser,
pelo bem que me fizeram
no bem que eu pude fazer.
57
Quando a trova nos transmite
seu feitiço singular,
a gente lê, e repete,
e depois, fica a pensar. .
58
Vou vivendo a minha vida,
como Deus quer e consente.
- Sou como a folha caída
levada pela corrente...
59
Trovas, - cantigas do povo,
alma ingênua dos caminhos
de lavradores. . . cigarras ...
mulheres... e passarinhos ...
60
De amor... Amor é infinito!
Do encanto do seu poder,
tanta coisa se tem dito!...
- E há tanta coisa a dizer...
61
Uma vez que a gente cante
dizendo o que o povo diz,
a trova fica contente,
a trova fica feliz. . .
62
Vi hoje uma árvore velha,
toda coberta de flor...
- E me lembrei de minh'alma,
cheia de sonhos de amor.
63
Que contraste tem a Sorte!
No mundo, que ingrata lida!
- A Vida chorando a Morte
E a Morte rindo da Vida...
64
Não lamento a minha lida,
nem, pobre, choro os meus ais;
- Quem tem um amor na vida,
tem tudo! Para quê mais?
65
Sempre que a felicidade
passa no meu coração,
é como sobre um presídio,
a sombra de um avião.
66
Ardemos na mesma flama,
sofrendo da mesma Dor!...
- E é isso que a gente chama
felicidade de amor...
67
Já lá vai morrendo o dia,
e hoje ainda não te vi.
- O dia em que não te vejo,
é dia que não vivi...
68
Tua mãozinha morena,
se a tomo, tenho a impressão,
de uma rolinha cabocla
dormindo na minha mão
69
Trova que vens novamente
encher o meu coração,
- Sé bendita, luz divina,
amor de consolação.
70
Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos somente.
71
Tristeza! Minha tristeza!
Doce amiga dos meus ais.
Só de ti tenho a certeza
que não me abandonarás...
72
A dor que em prantos rebente,
dói, mas pode consolar...
- Mas a dor que a gente sente
de olhos secos, sem chorar?!
73
Minha camisa velhinha,
lavada à flor de melão,
tira-me o peso da vida,
faz-me leve o coração.
74
Há nos teus olhos escuros,
o escuro da Ave-Maria.
Desconfio que teus olhos,
são os de Santa Luzia...
75
Seria a glória das glórias,
se um dia alguém me dissesse,
ter chorado neste mundo,
lendo um verso que eu fizesse.
76
Nunca vi dizer ser pobre
quem come em paz o seu pão,
quem toca sua viola
sem peso no coração
77
Dos meus avós portugueses,
de certo ninguém duvida,
trouxe este amor pela trova,
que hei de trazer toda a vida.
78
O sol é que faz o trigo;
e o trigo, que faz o pão.
Mas se o trigo se faz hóstia,
faz-se sol no coração ...
79
A Ventura que hei buscado
pela Vida, sempre em vão,
que vezes não tem passado
à altura de minha mão! ...
80
Duvido que alguém se deite,
no embalo que a rede tem,
e pegue logo no sono,
sem pensar em quem quer bem...
81
Sou jardineiro imperfeito,
pois no jardim da amizade,
quando planto um amor-perfeito,
nasce sempre uma saudade. . .
82
Depois que, Mãe, te partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu...
83
Minha viola, meu cavalo,
a lavoura dando flor,
Maria, dentro de casa ...
- Louvado seja o Senhor!
84
Dos desertos deste mundo,
sei do mais desolador
- Uma alma sem esperança?
- Um coração sem amor...
85
Dizem que há mundos lá fora,
que eu nem sonho... Nunca vi...
- Mas que importa todo o mundo,
se o meu mundo é todo aqui?!
86
Teu cego de caridade,
chora não te conhecer,
e a minha infelicidade
foi ter olhos e te ver...
87
Alguém pede que lhe ensine,
a fazer versos também,
viva e sofra, ame e padeça,
e espere que o verso vem...
88
Mesmo nos jardins da vida,
desde a minha meninice,
nunca alcancei uma rosa,
que o espinho não me ferisse.
89
Essa tua boniteza,
não tem, no mundo, rival.
- Pastora da minha Festa,
- Meu presépio de Natal!
90
Depois de mandar-te embora,
foi que - cego! - percebi,
que eras a felicidade,
que eu tinha em mão, e perdi.
91
Lindo luar no céu flutua...
Ao violão, canto os meus fados,
que Deus fez noites de lua
para os que são namorados.
92
Não sei por que, quando canto
por mais alegre a canção,
tem uma gota de pranto,
que vem do meu coração.
93
Ó lindos olhos magoados,
de tanta melancolia.
- Da tristeza desses olhos,
é que vem minha alegria.
94
Sei que amor é sofrimento,
custa a vida querer bem,
mas custa o dobro da vida,
na vida não ter ninguém.
95
Se Cristo nasceu pra todos,
sua luz a todos vem.
Vive o rico na riqueza,
mas vive o pobre também...
96
Não há riqueza que valha
um coração de mulher...
Que eu por um, vivo os meus dias,
e todos que Deus me der.
97
Ó quaresmeira viuvinha,
toda coberta de flor!
Quando a viuvinha se enfeita
é que pressente outro amor.
98
Sempre que alguém abre os braços
para amparar uma dor,
luz nesses braços abertos
a cruz de Nosso Senhor.
99
Os "anjos da guarda" gostam
da rede dos pobrezinhos,
que dormem a sono solto,
ao Deus dará, nos caminhos
100
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita
tão difícil de fazer.
Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo ...
- E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo.
2
Pouco me dá que se diga
meu verso fora da moda,
meu verso é apenas cantiga
de cirandas, e de roda ...
3
A saudade é uma andorinha,
que ao morrer do sol a chama,
as asas tristes aninha
no coração de quem ama ...
4
Duvido que alguém no mundo,
olhe sem melancolia,
uma vela no horizonte,
lá longe... no fim do dia...
5
Que tens tu, que és tão sombrio,
e hoje a rir, alegre, assim? ...
- Mal sabem que só me rio,
porque riste para mim .
6
Quem dera que minhas trovas
andassem pelos caminhos,
consolando os desgraçados,
dando pão para os ceguinhos ...
7
Ora a Vida! ... Deixa-a andar,
não queiras da vida ter
o que ela não possa dar,
nem tu possas merecer...
8
Eu vi o rio chorando,
quando te foste banhar,
por não poder, te banhando,
dar-te um abraço, e parar. . .
9
Ninguém se queixe da Sorte,
que Deus de ninguém se esquece.
Cristo nasceu para todos,
cada qual, como o merece...
10
Coração, fonte da Vida,
da vida a própria razão.
- E tanta gente eu conheço,
vivendo sem coração...
11
Trovas, trovas da minha alma!
Da vida quando eu me for,
sede o humilde travesseiro,
do sono de um sonhador.
12
Quando eu morrer, levo à cova
dentro do meu coração,
o suspiro de uma trova,
e o gemer de um violão.
13
Meu coração, pobre tonto,
que eu não entendo sequer,
fazes morrer quem te adora,
morres por quem não te quer!
14
Se eu pintasse minha infância,
pintava: num sol de estio,
a sombra de uma ingazeira,
debruçada sobre um rio.
15
Os búzios guardam das águas
do mar, os fundos gemidos.
- Assim fossem minhas mágoas,
guardadas nos teus ouvidos...
16
Por que, pela humanidade,
só o eu, soa e ressoa? ...
- É que há um sapo agachado,
dentro de cada pessoa.
17
Não quero na minha morte,
nem pompa, nem mausoléu.
Quero uma covinha rasa,
que abra os braços para o céu. . .
18
Na janela do teu quarto,
a luz da manhã transborda.
Bem-te-vis estão gritando:
Preguiçosa, acorda, acorda!
19
A inveja tem seu castigo,
Deus mesmo é quem retribui;
enquanto o invejado cresce,
o invejoso diminui…
20
A luz desse olhar tristonho
dos olhos teus, faz lembrar
essa luz feita de sonho
que a lua deita no mar.
21
A imagem de nossas almas
está nas águas profundas,
quanto mais tristes, mais calmas;
quanto mais calmas, mais fundas.
22
Vivo triste, triste, triste,
que mesmo nem sei dizer.
- Desconfio que é saudade,
que é vontade de te ver.
23
Um cego me disse um dia,
que Poesia, inspiração,
era uma lua nascendo,
de dentro do coração.
24
Sou nesta tarde da vida,
cheio de saudades minhas,
como um telhado de igreja,
todo cheio de andorinhas.
25
É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz.
Quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais
26
Não quero ouvir o teu nome,
nunca mais te quero ver!
- E passo a vida pensando,
a forma de te esquecer.
27
Quando vejo teu sorriso,
tudo se doira e aligeira.
Teu sorriso é na minha alma,
como o sol numa roseira.
28
Neste mundo, a certas vidas,
a morte seria um bem,
mas até a própria morte
se esquece delas também.
29
O laço de fita preta
dos teus cabelos, faceira,
parece uma borboleta
pousada numa roseira...
30
Só peço o dia em que eu morra,
faça uma noite de lua,
todo troveiro descante,
todo violão saia à rua!
31
Dizer adeus nada custa,
alguém me mandou dizer.
Mas quem diz que nada custa,
queira bem e vá dizer.
32
Tu vais passando, orgulhosa!...
Nunca vi soberba assim.
- Ai de ti, por tanto orgulho.
Por tanto amar-te, ai de mim! ...
33
Não se dá regras à trova,
que a trova regras não tem.
A trova é simplicidade,
ela vai, como nos vem...
34
Quem ri do poeta, não sabe,
o consolo que ele tem.
E o dia em que fosse triste,
faria versos também.
35
A morte não é tristeza,
é fim, é destinação.
- Tristeza é ficar vivendo,
depois que os sonhos se vão.
36
As penas em que hoje estou,
disse-as ao Sol, - fez-se triste.
Disse-as à noite - chorou.
Disse-as a ti, e sorriste...
37
Mãe, que meus versos incensam,
quando eu vim do mundo à luz
foi na cruz de tua bênção,
que eu vi a vida uma Cruz.
38
Saudade - doce transporte
da alma adejante e ferida...
- É viver dentro da morte!
- É morrer dentro da vida!
39
Para esquecer-te, outras amo,
mas vejo, por meu castigo,
que qualquer outra que eu ame,
parece sempre contigo.
40
Para definir o Poeta,
só mesmo em verso defino.
- É um homem que fica velho
com o coração de menino
41
Ó meu amor! Ó saudade!
- E eu não sabia que amor
era uma felicidade
disfarçada numa dor.
42
Quanto amor me prometeste!
- Nas tuas cartas, que ardor!
Depois ... tudo isto esqueceste,
- Coisas de cartas de amor...
43
Encerram certos sorrisos
tristeza tão singular,
que, em se vendo tais sorrisos,
dá vontade de chorar...
44
Eu falei da "flor morena"
e entrou a rir quem me ouviu.
- Quem nunca viu flor morena,
foi porque nunca te viu...
45
Quem tiver amor, esconda
faça por muito esconder,
que as coisas da alma da gente,
ninguém carece saber...
46
Todo rio na corrente,
busca um lago, um rio, um mar...
Mas o destino da gente,
quem sabe onde vai parar?
47
Do mundo quando te fores,
mais que outra glória qualquer,
deixa a sombra de tua alma,
num coração de mulher.
48
O perfume do teu lenço
trago comigo na mão.
Mas o cheiro da tua alma,
dentro do meu coração.
49
Grande dia, este meu dia,
dado por Nosso Senhor.
- De manhã, escrevi versos
De noite, vi meu amor.
50
Alguém já disse, e é verdade,
que o sentimento do amor,
ou se faz eternidade,
ou então, não é amor...
51
Proclamas teu amor-próprio,
se alguém te diz minha dor.
- Essa questão de amor-próprio,
é muito imprópria no amor...
52
Amar com ciúme... Quem ama?!...
Quem ama assim, desconfia...
- Mas quem tais coisas proclama,
se amasse, não nas diria.
53
Ó Mundo! Ó Mundo! Ó meu Mestre!
Muito me ensinas viver,
e quanto mais tu me ensinas,
mais eu vejo que aprender!...
54
Tu censuras de minha alma,
este alvoroço, este ardor...
Quem tem amor e tem calma,
tem calma... não tem amor...
55
Onde anda o corpo, é verdade,
vai a sombra pelo chão...
É assim também a saudade,
a sombra do coração.
56
Aos que me foram ingratos,
eu grato lhes hei de ser,
pelo bem que me fizeram
no bem que eu pude fazer.
57
Quando a trova nos transmite
seu feitiço singular,
a gente lê, e repete,
e depois, fica a pensar. .
58
Vou vivendo a minha vida,
como Deus quer e consente.
- Sou como a folha caída
levada pela corrente...
59
Trovas, - cantigas do povo,
alma ingênua dos caminhos
de lavradores. . . cigarras ...
mulheres... e passarinhos ...
60
De amor... Amor é infinito!
Do encanto do seu poder,
tanta coisa se tem dito!...
- E há tanta coisa a dizer...
61
Uma vez que a gente cante
dizendo o que o povo diz,
a trova fica contente,
a trova fica feliz. . .
62
Vi hoje uma árvore velha,
toda coberta de flor...
- E me lembrei de minh'alma,
cheia de sonhos de amor.
63
Que contraste tem a Sorte!
No mundo, que ingrata lida!
- A Vida chorando a Morte
E a Morte rindo da Vida...
64
Não lamento a minha lida,
nem, pobre, choro os meus ais;
- Quem tem um amor na vida,
tem tudo! Para quê mais?
65
Sempre que a felicidade
passa no meu coração,
é como sobre um presídio,
a sombra de um avião.
66
Ardemos na mesma flama,
sofrendo da mesma Dor!...
- E é isso que a gente chama
felicidade de amor...
67
Já lá vai morrendo o dia,
e hoje ainda não te vi.
- O dia em que não te vejo,
é dia que não vivi...
68
Tua mãozinha morena,
se a tomo, tenho a impressão,
de uma rolinha cabocla
dormindo na minha mão
69
Trova que vens novamente
encher o meu coração,
- Sé bendita, luz divina,
amor de consolação.
70
Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos somente.
71
Tristeza! Minha tristeza!
Doce amiga dos meus ais.
Só de ti tenho a certeza
que não me abandonarás...
72
A dor que em prantos rebente,
dói, mas pode consolar...
- Mas a dor que a gente sente
de olhos secos, sem chorar?!
73
Minha camisa velhinha,
lavada à flor de melão,
tira-me o peso da vida,
faz-me leve o coração.
74
Há nos teus olhos escuros,
o escuro da Ave-Maria.
Desconfio que teus olhos,
são os de Santa Luzia...
75
Seria a glória das glórias,
se um dia alguém me dissesse,
ter chorado neste mundo,
lendo um verso que eu fizesse.
76
Nunca vi dizer ser pobre
quem come em paz o seu pão,
quem toca sua viola
sem peso no coração
77
Dos meus avós portugueses,
de certo ninguém duvida,
trouxe este amor pela trova,
que hei de trazer toda a vida.
78
O sol é que faz o trigo;
e o trigo, que faz o pão.
Mas se o trigo se faz hóstia,
faz-se sol no coração ...
79
A Ventura que hei buscado
pela Vida, sempre em vão,
que vezes não tem passado
à altura de minha mão! ...
80
Duvido que alguém se deite,
no embalo que a rede tem,
e pegue logo no sono,
sem pensar em quem quer bem...
81
Sou jardineiro imperfeito,
pois no jardim da amizade,
quando planto um amor-perfeito,
nasce sempre uma saudade. . .
82
Depois que, Mãe, te partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu...
83
Minha viola, meu cavalo,
a lavoura dando flor,
Maria, dentro de casa ...
- Louvado seja o Senhor!
84
Dos desertos deste mundo,
sei do mais desolador
- Uma alma sem esperança?
- Um coração sem amor...
85
Dizem que há mundos lá fora,
que eu nem sonho... Nunca vi...
- Mas que importa todo o mundo,
se o meu mundo é todo aqui?!
86
Teu cego de caridade,
chora não te conhecer,
e a minha infelicidade
foi ter olhos e te ver...
87
Alguém pede que lhe ensine,
a fazer versos também,
viva e sofra, ame e padeça,
e espere que o verso vem...
88
Mesmo nos jardins da vida,
desde a minha meninice,
nunca alcancei uma rosa,
que o espinho não me ferisse.
89
Essa tua boniteza,
não tem, no mundo, rival.
- Pastora da minha Festa,
- Meu presépio de Natal!
90
Depois de mandar-te embora,
foi que - cego! - percebi,
que eras a felicidade,
que eu tinha em mão, e perdi.
91
Lindo luar no céu flutua...
Ao violão, canto os meus fados,
que Deus fez noites de lua
para os que são namorados.
92
Não sei por que, quando canto
por mais alegre a canção,
tem uma gota de pranto,
que vem do meu coração.
93
Ó lindos olhos magoados,
de tanta melancolia.
- Da tristeza desses olhos,
é que vem minha alegria.
94
Sei que amor é sofrimento,
custa a vida querer bem,
mas custa o dobro da vida,
na vida não ter ninguém.
95
Se Cristo nasceu pra todos,
sua luz a todos vem.
Vive o rico na riqueza,
mas vive o pobre também...
96
Não há riqueza que valha
um coração de mulher...
Que eu por um, vivo os meus dias,
e todos que Deus me der.
97
Ó quaresmeira viuvinha,
toda coberta de flor!
Quando a viuvinha se enfeita
é que pressente outro amor.
98
Sempre que alguém abre os braços
para amparar uma dor,
luz nesses braços abertos
a cruz de Nosso Senhor.
99
Os "anjos da guarda" gostam
da rede dos pobrezinhos,
que dormem a sono solto,
ao Deus dará, nos caminhos
100
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita
tão difícil de fazer.
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Fonte:
JORGE, J. G. de Araujo e OTAVIO, Luiz. 100 trovas de Adelmar Tavares. vol. 5.
JORGE, J. G. de Araujo e OTAVIO, Luiz. 100 trovas de Adelmar Tavares. vol. 5.
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