domingo, 7 de agosto de 2011

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poetas de Ontem e de Hoje IV)


Sino da minha sina
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG


Badala o sino sonoro
Tocando no vilarejo.
Em minha prece eu imploro
E rogo num só lampejo
Que a vida traga de volta
O amor que tanto desejo.

Pulsa, sino, em minha sina,
Ensina-me a entender
Por que a saudade bate
Fazendo a gente sofrer.

Sina, sino, sentimento,
Sonoro som a tanger,
Tristeza, dor e lamento...
No meu peito o sino bate
Louquinho por te querer!

Soneto
FAGUNDES VARELA
1841 / 1875

Desponta a estrela d'alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando, corre.

Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias d'aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!

Porém minh'alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!

Quarenta anos
MÁRIO DE ANDRADE

1893/1945

A vida é para mim, está se vendo,
uma felicidade sem repouso:
eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
só pode ser medido em se sofrendo.

Bem sei que tudo é engano, mas, sabendo
disso, persisto em me enganar... Eu ouso
dizer que a vida foi o bem precioso
que eu adorei. Foi meu pecado... Horrendo

seria, agora que a velhice avança,
que me sinto completo e além da sorte,
me agarrar a esta vida fementida.

Vou fazer do meu fim minha esperança,
ó sono, vem!... Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.

Colar de Carolina
CECÍLIA MEIRELES

1901/1964

Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral

nas colunas da colina.

O Trabalho
REGINA COELI


Trabalha a terra e dela te alimenta
Ou reconhece aquele que madruga
E em sol bem forte a fronte ao suor enxuga
Regando a vida-mãe que a nós sustenta.

Sova com tuas mãos e em ti fermenta
O pão que traz o cheiro de uma ruga
Sulcada ao tempo que o minuto suga,
Cozida em Paz no forno que acalenta...

Faz da palavra artigo de primeira,
Sempre na moda viva da ternura
De dar Amor sem pátria e sem fronteira...

Trabalha a alma em Fé desperta e pura,
Cumpre na lida a parte verdadeira
Que faz sorrir o choro da amargura!

Todos chorarão
PROF. FRANCISCO GARCIA/RN


Se não houver mais flores nos jardins,
se faltar o perfume dos rosais,
sofrerão nossos anjos querubins
ao romper das auroras matinais!

Se faltarem belezas campesinas,
sabiás e os mais lindos rouxinóis,
que serão das auroras tão divinas
sem os cantos que encantam todos nós?

Sem os perfumes virginais dos campos,
sem a voz maviosa das cascatas,
chorarão os poetas pirilampos,
no silêncio final da voz das matas.

Todos nós choraremos de desgosto,
nunca mais os poetas vão cantar,
rolarão muitos prantos pelo rosto,
"as almas dos poetas vão chorar".

Súplica
MARIA NASCIMENTO S. CARVALHO/RJ


Jurei não lhe falar mais de ternura,
nem dar sinais de angústia nem de dor,
mas sinto as cicatrizes da censura
bem menos doloridas que as do amor...

Assim, movida pela desventura,
vivendo um sentimento embriagador,
tento afogar meu sonho na amargura,
e volto a lhe falar do meu amor.

Deixe que eu ame intensa e livremente,
sem censurar o meu comportamento,
sem ter pena das penas que padeço,

que eu sofro, por você, conscientemente,
e, por maior que seja o meu tormento,
estou sofrendo menos que mereço...

Fonte:
A. M. A. Sardenberg

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