Quando a Livraria Freitas Bastos lançou a Coleção Trovas e Trovadores, o nosso Trovador em Foco de hoje já aparecia no vol. 7 com seu Cantiga das horas vagas; e depois publicaria o seu Ao correr das horas. Estou falando de Octávio Babo Filho, ilustre carioca de uma família ilustre.
Ele pertenceu à velha guarda da Trova, com todo o nosso respeito: nasceu em 20 de julho de 1915 e nos oitenta e sete anos bem vividos, foi, não só, o ilustre advogado do Fórum do Rio de Janeiro, mas querido cancioneiro popular, tendo suas músicas entoadas não só no Rio, mas no Brasil.
Quem já não cantou essa valsa natalina:
Botei meu sapatinho
Na janela do quintal.
Papai noel deixou
Meu presente de natal.
Como é que papai noel
Não se esquece de ninguém
Seja rico ou seja pobre
O velhinho sempre vem!
Na janela do quintal.
Papai noel deixou
Meu presente de natal.
Como é que papai noel
Não se esquece de ninguém
Seja rico ou seja pobre
O velhinho sempre vem!
Pois é! Mesmo gozando de grande prestígio, seja como advogado ou como artista, Octávio Babo Filho era, no dizer dos que o conheciam bem, verdadeiramente um simples. E essa simplicidade o impedia muitas vezes de fazer Trova, tarefa que ele considerava das mais difíceis!
Até... que em 1960 desencabulou: foi classificado entre os dez primeiros colocados do I Jogos Florais de Nova Friburgo; e isso lhe abriu o caminho definitivo do sucesso na Trova. Eis a premiada:
Se toda gente soubesse
Como custa querer bem,
Quanta gente gostaria
De não gostar de ninguém.
Como custa querer bem,
Quanta gente gostaria
De não gostar de ninguém.
Ao lermos suas Trovas, podemos constatar que o conteúdo de suas mensagens revela muito de sua vida profissional de cidadão preocupado com a Justiça.
Eu perdi muita amizade,
defendendo injustiçados.
- É que o vento da maldade
sopra de todos os lados.
Por que será que você,
tendo os defeitos que tem,
os seus defeitos não vê,
vendo os dos outros tão bem?
A facilidade imensa
com que os homens são julgados
simboliza bem a crença
de sermos todos culpados.
Nascemos sentenciados:
Os que vierem se vão.
E nem somos informados
do dia da execução...
defendendo injustiçados.
- É que o vento da maldade
sopra de todos os lados.
Por que será que você,
tendo os defeitos que tem,
os seus defeitos não vê,
vendo os dos outros tão bem?
A facilidade imensa
com que os homens são julgados
simboliza bem a crença
de sermos todos culpados.
Nascemos sentenciados:
Os que vierem se vão.
E nem somos informados
do dia da execução...
Mas quando o conteúdo, não há dúvidas que seu tema mais presente é Mulher, a qual reverencia com carinho e algum temor, e também com uma certeira ironia:
Toda mulher tem seu quê,
tem um encanto qualquer.
Não tendo, é o que a gente vê
naquela que a gente quer.
Gosto de moça formosa,
sabendo embora o perigo
- Eu não desprezo uma rosa,
temendo o espinho inimigo...
A mulher sempre as mulheres
na pobre história de um homem:
A primeira me deu vida,
mas as outras me consomem...
tem um encanto qualquer.
Não tendo, é o que a gente vê
naquela que a gente quer.
Gosto de moça formosa,
sabendo embora o perigo
- Eu não desprezo uma rosa,
temendo o espinho inimigo...
A mulher sempre as mulheres
na pobre história de um homem:
A primeira me deu vida,
mas as outras me consomem...
Protegido pelo manto da modéstia, como se pode ver nestas Trovas:
Poeta mau não conheço,
mau poeta ah, isto sim!
Conheço e digo onde mora:
bem aqui... dentro de mim.
Nunca porfia de dois,
eu chego sempre em segundo.
Mas não reclamo depois:
há sempre um lugar no mundo.
mau poeta ah, isto sim!
Conheço e digo onde mora:
bem aqui... dentro de mim.
Nunca porfia de dois,
eu chego sempre em segundo.
Mas não reclamo depois:
há sempre um lugar no mundo.
... o nosso Trovador usa o refúgio do sonho, outro tema bastante presente, e que nos traz essas visões:
Não nos feneçam os sonhos,
deles precisamos tanto!
Mudam pensares tristonhos
e secam fontes de pranto.
Teus encantos, criatura,
mexeram tanto comigo
que eu vivo da desventura
de sonhar sempre contigo...
Dormindo eu me disponho
alcançar o que desejo,
pois sem dormir eu não sonho
e sem sonhar não te beijo.
Penetrei fundo demais
no poço das ambições.
Vejo, agora, o mal que faz
um sonho sem proporções.
deles precisamos tanto!
Mudam pensares tristonhos
e secam fontes de pranto.
Teus encantos, criatura,
mexeram tanto comigo
que eu vivo da desventura
de sonhar sempre contigo...
Dormindo eu me disponho
alcançar o que desejo,
pois sem dormir eu não sonho
e sem sonhar não te beijo.
Penetrei fundo demais
no poço das ambições.
Vejo, agora, o mal que faz
um sonho sem proporções.
Homem religioso, sua Fé se manifesta em Trovas como esta:
Esta Fé que hoje me invade,
traz tanto alento à minha alma
que, dentro da tempestade
sinto a natureza calma!
traz tanto alento à minha alma
que, dentro da tempestade
sinto a natureza calma!
... mas interessante notar que é justamente no tema Fé que encontramos o mais sentimental lírico e apaixonado:
Ao Criador rendo graças,
pela graça, que me deu,
de me sentir, quando passas,
dono do que não é meu.
Os santos de antigamente
só foram santos, porque,
conhecendo tanta gente,
não conheceram você...
Não lhe adivinhando o nome,
batizei-a de Maria.
E o remorso me consome:
nunca vi tanta heresia!
pela graça, que me deu,
de me sentir, quando passas,
dono do que não é meu.
Os santos de antigamente
só foram santos, porque,
conhecendo tanta gente,
não conheceram você...
Não lhe adivinhando o nome,
batizei-a de Maria.
E o remorso me consome:
nunca vi tanta heresia!
Não encontrei Trovas propriamente humorística na obra de Octávio Babo Filho; encontrei sim, um fina ironia ao brincar com temas profundos:
Se a morte nos avisasse
a respeito do seu dia,
não creio que nos matasse:
a gente é que morreria...
Se querer fazer mistério
de coisas tão triviais:
- É na paz do cemitério
que vivem todos em paz...
Enquanto os povos discutem
a teoria da paz,
os mais fracos se desnutrem
e os mais fortes comem mais...
a respeito do seu dia,
não creio que nos matasse:
a gente é que morreria...
Se querer fazer mistério
de coisas tão triviais:
- É na paz do cemitério
que vivem todos em paz...
Enquanto os povos discutem
a teoria da paz,
os mais fracos se desnutrem
e os mais fortes comem mais...
... ironia sábia, a que transparece de um poeta que, acima de tudo, é um homem de bem com a vida:
Quanta alegria semeia
quem vive sempre contente:
- A felicidade alheia
também faz feliz a gente.
As desventuras da vida,
eu não as conto a ninguém,
pois mágoa, que é transmitida,
se multiplica por cem.
quem vive sempre contente:
- A felicidade alheia
também faz feliz a gente.
As desventuras da vida,
eu não as conto a ninguém,
pois mágoa, que é transmitida,
se multiplica por cem.
Escolhi Octávio Babo Filho para resgatar uma característica que muito preza nas Trovas.... a simplicidade, da forma e o dizer o que pensa. Sem dúvida, tarefa difícil, mas não quando se é verdadeiro.
Não é só honetidade,
mas simples sabedoria:
convém fazer da Verdade
o esteio de todo dia.
–––––––––––––––mas simples sabedoria:
convém fazer da Verdade
o esteio de todo dia.
Selma Patti Spinelli é presidente da União Brasileira dos Trovadores/ Seção São Paulo
Fonte:
UBT SP
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