Sou apenas um cidadão provinciano que, levado pelo exercício da literatura, terminou por editar livros, atendendo ao clamor das palavras, que somente ganham alma através da poesia. Muitas vezes imagino que, sem o toque poético, a palavra é simples instrumento de permuta, compra e venda nos balcões do materialismo que se estendem mundo afora.
Meu tempo de viver em cidade grande venceu e eu retornei à minha Santo Antônio do Monte, leito dos meus passos, mirante do qual vejo preocupado crianças e jovens entregues ao âmbito da construção virtual, enormemente potencializado pelo avanço da internet, sinalizando-nos que, em breve, não haverá troca de olhares. Ou seja, as pessoas se encontrarão sem se incomodar nem com nomes nem com qualquer sentimento de afeição, para uma relação sexual casual, na mera condição de corpos.
Assisto, com amargura no peito, ao ser humano exposto, como simples ameba, diante da imensidão de informações que as novas tecnologias lhe possibilitam, sem nenhum esforço na análise de conteúdo ou interesse em se aprofundar naquilo em que apenas correu os olhos. É como se a superficialidade fosse a inconfessável meta a ser alcançada, dentro de uma cultura que toma a reflexão como indesejável fonte de sofrimento.
Num quadro social do futuro, deparar-nos-emos com uma sociedade geradora de cidadãos desprovidos de memória e sem a experiência de saudades no coração, quando então aflorará a incapacidade de extrair e dar sonoridade ou mesmo novas vestes à palavra, que se verá prisioneira dos dicionários amarelecidos e completamente empoeirados pelo contínuo abandono em meio ao deserto de inventiva e criatividade em seu uso como expressão de sentimento esvoaçante, alado e tão-somente tangível pelas mãos da poesia.
Estou para lançar meu 14º livro (o romance "Quando a vez é do mar") e o faço sem vislumbrar patamar de estrondoso sucesso, aos moldes de festejada celebridade, basta-me a sensação de autor bem-sucedido e disposto a fazer da minha literatura um veículo de comunicação com outras mentes. Tanto é verdadeira esta proposição que a maior parte da edição será destinada a bibliotecas comunitárias e escolas rurais. Planejo uma sessão aberta de autógrafos e distribuição gratuita de livros na biblioteca comunitária que leva o meu nome, no Bairro Flávio de Oliveira, em Santo Antônio do Monte, como forma de inserir um pouco de literatura e poesia em um contexto adverso, aonde a arte da palavra escrita raramente chega.
Perdoem-me os que tecem glamour em torno da atividade literária, alçando o autor a uma espécie de "deusinho", a quilômetros de distância do leitor, o que em muitos casos dificulta a criação de hábito, ou melhor, de gosto pela leitura, uma vez que os estudantes jamais ou quase nunca têm a oportunidade de contato pessoal com os autores.
Foram muitas as vezes em que preguei a necessidade de indicação regionalizada de livros de literatura para as instituições de ensino, com o objetivo tanto de facilitar a aproximação entre escritores, poetas e leitores, quanto para favorecer o aumento da edição de livros país afora. Isso sem falar que a maneira regional de se expressar contida em cada obra funcionaria como mecanismo de estímulo aos leitores, que se perceberiam mais próximos e representados na narrativa.
Claro que todo esse enunciado acima descrito é o meu destilar de autor movido, única e exclusivamente, pelo combustível do mais puro idealismo, que usa o seu trabalho literário como ferramenta de conscientização e de luta em prol do soerguimento de um mundo melhor, como declaro no verso de um poema há muito trazido à luz (O ser poetizado), no qual procuro passar a ideia de que história verdadeira cheira a berço e que homem realista tem apreço por estrela, numa tentativa de alertar que a raça humana corre grande risco por estar sob o comando dos não poetas (os maus poetas no meio), dos que menosprezam os milagres divinos que se multiplicam todos os dias, explicitamente, ao nosso redor, tornando cada vez mais verdadeira a assertiva que publiquei no romance "Jardim de Corpos": Quem não acredita em milagre, vive sob o milagre de em nada acreditar.
Fonte:
texto enviado pelo autor
Meu tempo de viver em cidade grande venceu e eu retornei à minha Santo Antônio do Monte, leito dos meus passos, mirante do qual vejo preocupado crianças e jovens entregues ao âmbito da construção virtual, enormemente potencializado pelo avanço da internet, sinalizando-nos que, em breve, não haverá troca de olhares. Ou seja, as pessoas se encontrarão sem se incomodar nem com nomes nem com qualquer sentimento de afeição, para uma relação sexual casual, na mera condição de corpos.
Assisto, com amargura no peito, ao ser humano exposto, como simples ameba, diante da imensidão de informações que as novas tecnologias lhe possibilitam, sem nenhum esforço na análise de conteúdo ou interesse em se aprofundar naquilo em que apenas correu os olhos. É como se a superficialidade fosse a inconfessável meta a ser alcançada, dentro de uma cultura que toma a reflexão como indesejável fonte de sofrimento.
Num quadro social do futuro, deparar-nos-emos com uma sociedade geradora de cidadãos desprovidos de memória e sem a experiência de saudades no coração, quando então aflorará a incapacidade de extrair e dar sonoridade ou mesmo novas vestes à palavra, que se verá prisioneira dos dicionários amarelecidos e completamente empoeirados pelo contínuo abandono em meio ao deserto de inventiva e criatividade em seu uso como expressão de sentimento esvoaçante, alado e tão-somente tangível pelas mãos da poesia.
Estou para lançar meu 14º livro (o romance "Quando a vez é do mar") e o faço sem vislumbrar patamar de estrondoso sucesso, aos moldes de festejada celebridade, basta-me a sensação de autor bem-sucedido e disposto a fazer da minha literatura um veículo de comunicação com outras mentes. Tanto é verdadeira esta proposição que a maior parte da edição será destinada a bibliotecas comunitárias e escolas rurais. Planejo uma sessão aberta de autógrafos e distribuição gratuita de livros na biblioteca comunitária que leva o meu nome, no Bairro Flávio de Oliveira, em Santo Antônio do Monte, como forma de inserir um pouco de literatura e poesia em um contexto adverso, aonde a arte da palavra escrita raramente chega.
Perdoem-me os que tecem glamour em torno da atividade literária, alçando o autor a uma espécie de "deusinho", a quilômetros de distância do leitor, o que em muitos casos dificulta a criação de hábito, ou melhor, de gosto pela leitura, uma vez que os estudantes jamais ou quase nunca têm a oportunidade de contato pessoal com os autores.
Foram muitas as vezes em que preguei a necessidade de indicação regionalizada de livros de literatura para as instituições de ensino, com o objetivo tanto de facilitar a aproximação entre escritores, poetas e leitores, quanto para favorecer o aumento da edição de livros país afora. Isso sem falar que a maneira regional de se expressar contida em cada obra funcionaria como mecanismo de estímulo aos leitores, que se perceberiam mais próximos e representados na narrativa.
Claro que todo esse enunciado acima descrito é o meu destilar de autor movido, única e exclusivamente, pelo combustível do mais puro idealismo, que usa o seu trabalho literário como ferramenta de conscientização e de luta em prol do soerguimento de um mundo melhor, como declaro no verso de um poema há muito trazido à luz (O ser poetizado), no qual procuro passar a ideia de que história verdadeira cheira a berço e que homem realista tem apreço por estrela, numa tentativa de alertar que a raça humana corre grande risco por estar sob o comando dos não poetas (os maus poetas no meio), dos que menosprezam os milagres divinos que se multiplicam todos os dias, explicitamente, ao nosso redor, tornando cada vez mais verdadeira a assertiva que publiquei no romance "Jardim de Corpos": Quem não acredita em milagre, vive sob o milagre de em nada acreditar.
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