segunda-feira, 4 de junho de 2012

Sotero Silveira de Souza (O Trovador da Lira Triste) Parte 3, final


Dizem que a paixão é louca,
E os beijos de ternura,
Como o amor, tem vida pouca,
É eterno enquanto dura!

Os teus seios palpitantes,
Que afago com calor,
São dois coxins odorantes,
Onde durmo com amor!

As aves de grande porte,
Adejam sem sobressalto,
Se elas temessem a morte,
Não voariam tão alto!

Sempre a alma padece,
Quando no amor não há sorte;
tolice, ninguém merece,
O preço de nossa morte!

Agradeço o teu beijo,
Que me deste com calor,
Veio matar o meu desejo,
E aumentar meu amor!

Quisera ser passarinho,
Para bem alto voar,
Depois, pousar no raminho,
De laranjeira e cantar!

O teu corpo delicado,
Que demonstra perfeição,
Foi por Deus emoldurado,
Pra tentar meu coração!

Perdi-me no areal da vida,
Fraco, sedento de amor,
E ao encontrar-te querida,
Tornei-me um trovador!

Eu vi as garças voando,
Caçando junto à lagoa,
O pantanal enfeitando,
Sobressaltadas à toa!

Não sei dizer o que sinto,
Quando vejo o teu olhar,
É uma alegria, não minto,
Que vontade de casar!

Não sei porque tu me deixas,
Com orgulho, com desdém,
Escuta as minhas queixas,
Voltes de novo meu bem!

Diz que o passado não morre,
E não para de passar,
É como o rio que corre,
Tristonho, no rumo do mar!

Setenta e um anos vividos,
Com fé, saudade e amor,
Entre anseios, beijos e gemidos;
Hoje, só, frio, sem calor!

Por que a vida madrasta,
Quando se trata de amor;
O ciúme atroz nos desgasta,
Só fica tristeza de cor!

Para uns a morte é linda,
Para outras é querida,
É uma espera infinda,
pois ela é outra vida!

Recordo-me da cigana,
Que olhou na minha mão,
Olhei-a com tanta gana,
Beijando-a com emoção!

Como Deus, Jesus foi Santo,
sendo assim, jamais pecou;
Como homem, eu garanto,
Que Jesus também amou!

Jesus deve ter amado,
Com mente pura e sadia,
Como um lírio imaculado,
Na virente penedia!

Teus olhos verdes, luzentes,
Que jorram cintilação,
São quais estrelas cadentes,
Na noite de um coração!

Teus olhos verdes vagos,
Que às vezes tento mirar,
Tem o mistério dos lagos,
Na hora de crepuscular!

Teus olhos verdes, fulgentes,
Brilhando na solidão,
São esmeraldas pingentes,
Num rico colar de sultão!

Teus olhos verdes tristonhos,
Que nunca pude sondar,
São dois pedaços de sonhos,
São duas negas de mar!

Não vires as costas pra mim,
Pois o anjo não tem costas,
Quanto mais tu fazes assim,
Eu sei que de mim mais gostas!

Abracei teu corpo lindo,
Quando contigo dançava,
E vi, que estavas sorrindo,
Enquanto eu suspirava!

Eu sei que não mereço,
Mas vou tentar te amar,
Querida, eu te agradeço,
A bondade do teu olhar!

Feliz por te conhecer,
nasceu em mim esperança,
Jamais hei de me esquecer
Do teu corpo naquela dança!

Toda de branco catita,
Com rosa de rubra cor;
Não sei quem é mais bonita,
Se a mulher ou a flor!

Te implorei a vida inteira,
Que me desses um retrato,
Foste bela companheira,
Mas de coração ingrato!

A mãe que trabalha é nobre,
É um fato que consola;
Digna é a mão do pobre,
Aberta, pedindo esmola!

Há muita gente vaidosa,
Que o orgulho se consome;
Chega a sorrir prazerosa,
Vendo o pobre passar fome!

Teu rosto lindo, morena,
E o teu corpo encantador,
Faz-me lembrar de açucena,
Num ramalhete de flor!

Ao ver-te altiva, serena,
Com teu talhe sedutor,
Penso da deusa morena,
Fugida do templo do amor!

O preto velho chorava,
E sorria com emoção,
Ao ver que o neto brincava,
Liberto da escravidão!

É belo assistir nos campos,
A noite amena chegar,
A dança dos pirilampos,
Estrelas mil a brilhar!

Quando passo pela estrada,
Descanso, à sombra do ipê,
Com sua copa dourada,
Que me viu beijar você!

É triste de ouvir na roça,
A pomba rola arrulhar,
No colmo de uma palhoça,
Quando a noite vai chegar!

Mirando o tom azulado,
Dos tão lindos olhos teus,
O céu é mais desbotado,
Que obra prima de Deus!

Que importa se a rima é pobre,
Se o nome termina em ão;
Existe coisa mais nobre,
Que a palavra do coração!

Quando passa o cavaleiro,
Nas picadas do sertão,
O burro trota ligeiro,
Sem medo da escuridão!

Um comentário:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Trovador da Lira Triste é,
quase sempre, um Formidável Trovador.
Tudo muito Belo, do que li...

Parabéns, ao Sotero,
e ao Feldman.
Obrigada, pela partilha.

um abraço,
da Lúcia